Uma
data que passou ontem. Ilustrada pelo saber e a memória brilhante de Jaime Nogueira Pinto com alguns comentadores evocando, ou mesmo, talvez, tergiversando, a pedir
debate esclarecedor.
Há 48 anos
Os verdadeiros protagonistas do 25 de
Novembro foram os militares do Batalhão de Comandos, mas o centrão acabou por
ser o herdeiro do Thermidor português.
JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 25
nov. 2023, 00:2044
É curioso que quando se fala do 25 de Novembro se fale
de toda a gente – de Costa
Gomes, de Sá Carneiro, de Mário Soares, de Ramalho Eanes, de Melo Antunes, do
Grupo dos Nove – menos de quem esteve no terreno nas confrontações desse dia, há 48 anos:
o pessoal do Batalhão de
Comandos e, muito especialmente, os 260 “convocados”.
O papel destes
“convocados” foi recentemente lembrado por um deles, o então capitão Manuel Sampaio Faria, que comandou uma das quatro
companhias que intervieram no 25 de Novembro. No plano de resposta ao golpe esquerdista, a prioridade foi dada à
tomada e controle do Comando da Região Aérea e da DGACI em Monsanto, onde
estavam presos pela tropa revolucionária o general Pinho Freire e outros oficiais. Por isso para aí seguiram, na tarde do dia 25, as duas companhias de “convocados” que tinham
experiência de guerra. A Polícia Militar, em Lanceiros 2, na Calçada da Ajuda, onde tinham sido detidos e
torturados alguns “fascistas” e “reaccionários”, ficou para o pessoal
das companhias “normais”, a 112 e a 113, no dia seguinte.
Tive o
privilégio de ser amigo de alguns destes operacionais, entre todos e acima de
todos do Victor Ribeiro, alferes-comando da 2ª
Companhia de Comandos em Moçambique, comandada pelo então capitão Jaime Neves, routier e “homem de guerra”. O Victor
e o tenente coronel Caçorino Dias foram
decisivos na formação da Associação de Comandos e na mobilização de muitos dos
“convocados”.
Os grandes protagonistas do 25 de Novembro foram eles
e o pessoal das quatro companhias do então Batalhão
de Comandos da Amadora, comandado por Jaime Neves, que chegara
a ser saneado quando a febre esquerdista acometera a unidade. De resto, no período mais
quente de 1975, o delírio revolucionário e a indisciplina que invadiram a tropa
tinham levado à constituição do AMI (Agrupamento Militar de Intervenção), que originalmente previa uma força
especial de três companhias de Comandos, três de Paraquedistas e três
destacamentos de Fuzileiros. Destes, os
únicos a formarem-se e a actuar em tempo útil foram os Comandos, com as
companhias 121 (comandada pelo capitão Gonçalves) e 122 (comandada pelo capitão
Sampaio Faria).
Foram eles – juntamente com a Força Aérea, também decisiva na contenção do
golpe esquerdista – os esquecidos protagonistas do contra-golpe de 25 de
Novembro. Eles e, na preparação, o
chamado “povo do Norte” que nesses meses críticos e
quentes vinha fazendo no terreno aos comunistas e esquerdistas o que eles
faziam aos “reaccionários” e aos “fascistas” onde podiam e enquanto puderam.
Nas vésperas, os agricultores de Rio Maior encarregaram-se de bloquear as
estradas. Também na resistência
ao PREC estivera, na Marinha, o chamado “Grupo dos Oitenta”.
Esquecer estes protagonistas do 25 de Novembro é como,
a propósito do 25 de Abril, falar de Álvaro Cunhal, de Mário Soares e de todos
os “resistentes antifascistas” e não falar de Otelo Saraiva de Carvalho e de Salgueiro Maia. Mas como a História é escrita pelos vencedores, com o aproximar do
cinquentenário, com os meios mobilizados pelo Regime e pela Esquerda para a
propaganda, é bom que preparemos a razão e o coração para aguentar, com cabeça
fria e caridade cristã, o que aí vem – que, a avaliar pelos “Não podias”, pelo
teor da Agenda celebrativa e pela produção editorial altamente inflacionada e
orientada, promete.
Com o governo em
gestão, os sinais de corrupção e má gestão a tornarem-se públicos e a convergirem
com as zangas das comadres na classe política tudo se encaminha para uma
“tempestade perfeita” em Março-Abril de 2024. E ao mesmo tempo há uma Europa
que, de Madrid a Budapeste e de Roma a Haia resiste e diz não às novas
esquerdas e aos “antifascistas” de serviço.
O Thermidor da revolução portuguesa
O 25 de Novembro foi o
Thermidor da Revolução portuguesa. Usando um
esquema interpretativo que o historiador norte-americano Crane Brinton tornou clássico para analisar “revoluções”, no seu
livro The Anatomy of Revolution (1938), podemos fazer o
paralelo entre as etapas da Revolução Francesa e a Revolução de 25 de Abril,
até ao 25 de Novembro.
A partir da
ruptura com o Ancien Régime no 14 de Julho de 1789 há um Tempo dos Moderados, um Tempo do Terror e, depois, o Thermidor. O
nosso Ancien Régime foi o Estado
Novo de Marcelo Caetano, sucessor de Salazar, um regime que estava tão
feito à medida do seu criador que dificilmente lhe podia sobreviver. Um regime nacional-conservador e
autoritário, “exótico” numa Europa Ocidental onde, em 1974, só a Espanha
franquista e a Grécia dos coronéis não eram democracias partidárias. Um regime que, com o início da guerra de
África, em 1961, recuperou alguma base popular de apoio, mas também renovou a
dependência em relação aos militares.
Esse autoritarismo
institucional do regime tivera antecedentes no autoritarismo real da Primeira
República que, como bem o demonstram Jesus
Pabón, Vasco Pulido Valente e Rui Ramos, foi bastante iliberal, ou foi uma
autocracia democrática com muito pouca liberdade para os “inimigos da liberdade”.
Depois de um
período inicial correspondente ao tempo dos moderados de Brinton e sob o pretexto de se defender contra o
“regresso do fascismo”, também a Terceira República iniciou uma fase repressiva.
Sob a tutela de um MFA obcecado pela descolonização a qualquer custo e
pressionado pelo Partido Comunista, que se tornara o seu “brains trust”,
promoveu a liquidação pela força da Direita, recorrendo à intoxicação
informativa e à provocação. Fê-lo por medo dos partidos que se estavam então a afirmar, democraticamente,
no terreno, como o Partido do Progresso. Para tal
provocou e usou dois momentos críticos – o 28 de Setembro
de 1974 e o 11 de Março de 1975. No 28 de Setembro de 74 o COPCON evitou a manifestação dita da Maioria Silenciosa, prendendo duas centenas de “fascistas”
ou de “malfeitores associados” (e conseguindo assim que, cinco meses depois do 25
de Abril, houvesse “em democracia” mais presos políticos do que no dia 25 de
Abril). No 11 de Março de 75,
recorrendo também a uma manobra de intoxicação – e à estupidez de uma
direita crédula que se deixou intoxicar – inventou uma “matança de Páscoa”, em que seriam assassinados centenas de
oficiais “moderados”. Com isso, no
momento em que, na oficialidade, com a eleição dos Conselhos das Armas, começava a manifestar-se uma maioria
conservadora, fez sair e abortar o movimento do 11 de Março. E se no 28 de Setembro se abriu o caminho para a
descolonização, que custaria o êxodo de um milhão de portugueses de África
e não se sabe quantas centenas de milhares de vítimas nas guerras civis em
Angola e Moçambique, depois do 11 de Março pode proceder-se à socialização da
economia nacional, abrindo caminho à indigência económica que nos conduziu aos
dias de hoje, com a ausência de bancos
privados ou de grandes grupos empresariais portugueses.
A historiografia
oficial qualifica o “capitalismo do Estado Novo” como uma “oligarquia de
famílias” feita de “amiguismo e compadrio”. Sem discutir um modelo que,
nos anos finais, permitiu o maior crescimento económico português de sempre e
olhando para hoje, podemos pelo menos dizer que os antigos “oligarcas” eram
portugueses. Hoje os oligarcas são estrangeiros e os compadres são os políticos
que lhes facilitam a vida.
Nestas manobras
a Esquerda também contou com a cumplicidade de uma direita sociológica
despolitizada e assustada com a passagem do Estado para a demagogia
gonçalvista; e, no susto, pronta a tornar-se cúmplice de quase tudo, pelo preço
da sobrevivência. Faziam o que outras elites sociais tinham feito
e fariam ao longo dos séculos XIX e XX: adaptavam-se aos regimes que iam
chegando, abandonando valores e princípios para manter o estatuto social e os
privilégios económicos. Aqui
perderam-se princípios, estatutos e privilégios: houve alguns sobreviventes que
passaram a fazer parte da classe política do novo regime, tal como tinham feito
parte da classe política do Estado Novo, como também houve os que corajosamente
sofreram prisões e exílios.
Com certeza que temos hoje, formal e
constitucionalmente, liberdades públicas e direitos políticos que não existiam
no regime anterior, um regime que não tinha condições de sobreviver ao seu
fundador e a um outro tempo nacional e internacional. Só que o preço do golpe de Estado militar e da
anarquia revolucionária que se seguiu, além da perda de poder nacional, foi um
marasmo económico e social que as compensações
da integração e dos dinheiros europeus conseguiram disfarçar, mas não
evitar. Marasmo que hoje está à vista, na desnacionalização da Economia e no
empobrecimento relativo dos portugueses. Mas os responsáveis políticos, na sua
função de gerentes e capatazes de interesses estrangeiros, continuam como se
nada fosse a assistir à deterioração da vida e das condições de vida dos portugueses.
Agora, preparam-se para comemorar, com grande pompa e circunstância, os
cinquenta anos de Abril; mas o que antes seriam os cinquenta anos de
“socialismo em liberdade” inaugurados pelo 25 de Novembro, ou a usurpação
da titularidade do 25 de Novembro pelo centro socialista, tende agora a ser
ignorado ou rejeitado em nome de uma qualquer consensualidade à esquerda,
vá-se lá a saber porquê.
A ascensão e permanência do centrão
Em Novembro de
75, a conjuntura internacional foi também decisiva para aquele princípio
do fim do PREC. Vigoraram ainda os Acordos de Ialta e a União Soviética não queria
uma Cuba na Europa Ocidental e na Península Ibérica. Com o general Franco
prestes a desaparecer, um Portugal comunista seria um obstáculo à
democratização e transição espanhola, onde havia ainda a memória da Guerra
Civil e a realidade do fim, pelo menos em termos sociais, das duas Espanhas,
conseguida pelo autoritarismo franquista.
E por cá, o Dr. Cunhal e as
cúpulas do Partido, além da reverência e solidariedade para com Moscovo, sabiam
bem que, a haver uma guerra civil, a perderiam. Também por isso, no 25 de
Novembro, os fuzileiros,
que hipoteticamente seriam a força de choque para equilibrar os Comandos, não saíram. E assim pôde Melo Antunes vir a terreno salvar
o PCP; e pôde o centrão usurpar os louros da vitória. Em 11 de Novembro, com a
independência de Angola, Portugal voltava à dimensão de pequeno país europeu. Os soviéticos estavam
contentes com o alargamento da sua esfera de influência na África Subtropical,
com os despojos da descolonização. Os
ocidentais, americanos e europeus, queriam acima de tudo evitar que Portugal se
transformasse numa República de Weimar, com uma reacção à direita que
aproveitasse o impulso do contra-golpe do 25 de Novembro e do “povo da direita”
que estivera na primeira linha do combate nessa Primavera-Verão de 75.
Iriam, por isso, actuar no sentido da contenção: o centrão servia-lhes
perfeitamente. E, tal como o regime anterior, cá ficou por 48 anos. A “alvorada” começa a ser mais longa que
a “longa noite”.
A SEXTA
COLUNA HISTÓRIA CULTURA 25 DE NOVEMBRO
COMENTÁRIOS (de 44):
José Pinto de Sá: E não esqueçamos
que a liberdade conquistada no 25 de Novembro custou a vida de dois comandos,
as do tenente José Coimbra e do furriel Joaquim Pires, que nem uma rua
com o seu nome numa cidade mereceram do país!... Rui Lima: Um bem haja para
o Jaime Nogueira Pinto por lembrar os esquecidos da História e mais grave
esquecidos de quase todos não tiverem comendas nem benefícios pessoais por
terem prestado a Portugal um serviço maior, isto ainda podia estar muito pior
se essa esquerda tem tomado conta do país. Fernando Cascais: É
um enorme prazer começar os sábados a ler as crónicas de Jaime Nogueira Pinto.
Fernando CE: A verdade nua e crua. Muito bem,
professor. MCMCA A: JNP narra os
factos que a historiografia oficial esconde. Mas, o 25 de Novembro foi o
epílogo da descolonização. Para o capitalismo americano e europeu assim como
para a URSS Portugal só interessava pelas “colónias” particularmente Angola e
Moçambique. Feita a descolonização, interessava uma Espanha não comunista, logo
Portugal não podia ser “Cuba” ou seja uma plataforma comunista vizinha de
Espanha. E Cunhal , por esse motivo, sabia que ia perder o enfrentamento e
evitou a guerra civil. Parabéns JNP O ÚNICO, que luta sem medo para repor a
verdade…
Carlos Chaves: Que magistral lição,
está aqui tudo, obrigado Jaime Nogueira Pinto. Obrigado também aos heróis que
nos deram a conhecer e aos que tentaram esconder e que nos garantiram a
“democracia” a 25 de Novembro de 1975, apesar dos resultados desta “democracia”
deixarem muito a desejar! Não por culpa
deles, mas por culpa da uma esquerda criminosa e totalitária, que ainda hoje
continua activa com a preciosa ajuda dos que querem manter o status quo! Em março
próximo teremos a oportunidade de após quase cinco décadas construirmos uma
nova e verdadeira alvorada, assim os Portugueses o queiram! Tim do Á: O último
parágrafo diz tudo. A guardar e reter. Jose Lima: Valha-nos
o Jaime Nogueira Pinto! António
Dias: Artigo pedagógico para memória futura. Valha-nos Jaime Nogueira pinto , e
Jaime Neves o operacional que nas ruas conquistou a democracia . Ainda muito
jovem tive o privilégio de conhecer Jaime Neves, como diz o artigo um homem de
Guerra. Apresentava -se (nos seus cartões) como resistente
anti-comunista, o que o prejudicou na sua carreira militar por pressões dos
marxistas que nunca deixaram de influenciar as decisões em todos os sectores da
sociedade portuguesa. Jaime Neves , valia 3 vezes o terrorista Otelo Saraiva de
Carvalho (o mentor dos assassinos das FP25) Jaime Neves é um herói nascido em
Vila Real . Será justo erguer-se um estátua na cidade onde viveu na
adolescência, para perpetuar o dia da conquista da democracia em Portugal.
Seria bom organizar-se uma subscrição pública para os democratas angariar o
valor necessário ao monumento nacional Vila Real, é a terra de Pedro Passos
Coelho , o estadista que salvou portugal da banca rota e devolveu a portugal a
dignidade internacional . A seu tempo, após a sua morte ,( daqui a 50 anos)
os vindouros far-lhe-ão a homenagem devida Francisco
Almeida: Como Melo Antunes - o cérebro e o grande
vencedor do 25 de Novembro - declarou pouco antes a um jornal francês, Portugal
estava à beira de uma guerra civil. O 25 de Novembro teve esse mérito. Evitou
uma guerra civil. Mas também assegurou a imunidade de toda a extrema-esquerda
(incluindo PCP) que não foi responsabilizada pelos crimes no PREC, e a
recuperação política do PCP, eximido de pagar o custo político das desgraças
que foram as nacionalizações e a reforma agrária. Também afastou a direita da
luta política. Quer pelo Pacto MFA-Partidos que logo balizou a futura
constituição a caminho do socialismo, com ainda antes da pela comunicação
televisiva, de Melo Antunes ao país. Curioso que essa importantíssima
comunicação, de facto um guia para o futuro, não tenha sido feita na presença
do chefe de Estado, Costa Gomes, nem do chefe do estado-maior, Ramalho Eanes,
nem do comandante militar, Jaime Neves (*). De facto, o beneficiário
político do 25 de Novembro foi o socialismo. É assim absolutamente
extraordinário que o 25 de Novembro ainda hoje seja visto por muitos como uma
acção da direita. E ainda mais extraordinário que seja hoje repudiado
pelo PS, o seu principal beneficiário. Artigos como este de JNP são utilíssimos
para ir repondo a verdade mas, infelizmente, com divulgação muito limitada.
(*) Jaime Neves, que seria expectável receber as honras de vencedor, pediu a
passagem à reserva e retirou-se para Trás-os-Montes (receberia, anos depois, de
Mário Soares, a Torre-e-Espada). Não sei nem posso afirmá-lo, mas admito
que tenha sido surpreendido pela comunicação de Melo Antunes, sobretudo na
parte que referia o PCP. Só posso afirmar o que aconteceu comigo: senti-me
traído. Ana
Luís da Silva: Excelente como sempre. A História
ensina-nos que a coragem de uns tantos é necessária para inverter o rumo para o
abismo (socialista ou comunista). Onde está a coragem hoje em dia? Maria Nunes: Muito bem, JNP.
Bem haja.
Madalena Sa: Mais uma boa aula de história! So JNP o
sabe fazer! Carlos
Costa: Excelente artigo, com alguns pormenores que
desconhecia. Não admira a esquerda não querer festejar. afonso
moreira: Felizmente hoje há outros meios para evitar que a
História seja roubada ao povo, por isso, obrigado a JNP. Ainda hoje, os
relatos que as TV's dos avençados da esquerda no poder, fizeram sobre as
comemorações feitas pelo Carlos Moedas, em Lisboa, são bem elucidativas da
história que eles querem que o povo saiba, pelo receio que o povo escolha
outros que lhes venham retirar essas avenças. Nunca quiseram saber da
verdadeira liberdade, apenas a que mais lhes convém. Francisco
R Ferreira: Obrigado Jaime por este artigo que bem merece
ser divulgado nas escolas e junto de todos os que cresceram já nesta III
República, onde a ilusão eurofederalista campeia, a par da corrupção e do
neo-sucialismo . José
Miranda: Que grande crónica! Finalmente começam a chamar-se os
bois pelos nomes. Joaquim
Rodrigues: A verdadeira história do 25 de Novembro ainda está por
fazer. Mas, daquilo que verdadeiramente já se conhece tudo
aponta para que, o 25 de Novembro, tenha sido um "Golpe de Teatro",
montado pelo Cunhal, com a conivência e colaboração de outros actores,
designadamente, do Grupo dos 9. Difícil será saber, de entre os intervenientes,
quais os que sabiam estar a colaborar numa farsa e quais os que julgavam estar
a participar num evento real. Cunhal, após assegurada a hegemonia do MPLA em
Angola, foi informado, por Moscovo, que estaria fora de questão a instauração
de uma “Cuba” em Portugal. Nessa altura, já o PCP estava a perder o controlo do
movimento popular nas ruas de Lisboa, para a extrema esquerda e a perder o
controlo sobre os seus próprios militantes e simpatizantes sendo que, por outro
lado, era cada vez maior o risco de que o Partido pudesse vir a ser destruído e
ilegalizado, face à crescente organização e mobilização das forças da
“Democracia Liberal”. Cunhal, face às espectativas que tinha criado, para
não ficar na história como um “traidor” ao movimento popular, encenou um Golpe
de Teatro, que teve como actor principal o Sr. Rosa Coutinho e, como objectivo,
pôr o “Tio Eanes” a explicar aos “seus meninos” que, a partir dali, já não
podiam mais “brincar” com “espingardas” às “Revoluções”, mas apenas com
“cartazes e grandoladas” às “Manifestações” e às “Eleições”. Cunhal sabia
que, se fosse ele a explicar aos militantes e simpatizantes que, a partir dali,
tinham de cumprir as regras mínimas daquilo a que ele chamava de “democracia
burguesa”, o PCP, pressionado pela extrema-esquerda, corria o risco de
desaparecer, ficando sem aquilo que era a sua primeira “condição de
sobrevivência”: os seus militantes, simpatizantes e seguidores. É o
“compromisso” então negociado entre Cunhal e o Grupo dos Nove que representa a
“essência” do 25 de Novembro do qual ainda hoje estamos a sofrer as
consequências, com ou sem Geringonças. No dia 26 de Novembro, concluído o
"Golpe de Teatro", dizia Melo Antunes com quem Cunhal tinha negociado
na véspera: "...nós, não somos, nem socialistas de Leste, nem
sociais-democratas de Oeste …" e “… nós precisamos do PCP, queremos o PCP,
mas um PCP que cumpra com as regras da democracia…”. Para quem quiser,
percebe-se daqui a natureza do 25 de Novembro, o quão longe ele estava da
verdadeira “Democracia Liberal” e uma das razões por que ainda hoje estamos
como estamos. Francisco Sá Carneiro, recusou-se a assinar, pessoalmente, os
compromissos resultantes do 25 de Novembro, longe de respeitarem os princípios
de uma democracia plena e, até ser assassinado, continuou a clamar por uma
verdadeira "democracia liberal" em Portugal (que, verdadeiramente,
ainda não temos) e pela “libertação da sociedade civil”. Henrique
Nobre: Caro Jaime Nogueira Pinto. Em meu nome, e de
quem como eu, viveu este dia, Muito Obrigado! Aos Comandos do Coronel
Jaime Neves, honrados, corajosos, fiéis ao juramento de defender a Pátria,
mesmo com a sua vida, Honra, Orgulho, e uma Eterna Gratidão. Cisca Impllit: Vivemos
essa época. Não podemos esquecer
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