Ou seja, este meu blog. Textos esquecidos, para completar um livro que em
tempos escrevi, livro de memórias – “Melodias
do passado” – que a Editora online “Sinapses” publicou, mas entretanto, eliminou da Internet e que
mereceu um comentário de Sandra
Machado, no seu facebook, em 18/10/2010,
(onde se define do seguinte modo: “Sou,
simplesmente, alguém simples”) e que sobre esse meu livro escreveu o seguinte,
encimado pela capa do livro:
«Um passeio de 77 páginas por um
Portugal não muito distante. Um olhar saudoso por uma época, onde havia mais vagares.
Um tempo desconhecido para muitos de nós e relembrado ainda por outros tantos.
Época anterior ao 25 de Abril. As colónias portuguesas, os portugueses aí
cativos, as saudades que ficam desses lugares. A autora leva-nos por
simplicidades, alegrias, alguma tristeza (como a morte do seu pai).
Para mim foi o conhecer um pouco
mais de um tempo anterior ao meu nascimento. Uma leitura que prende, onde
descansamos somente depois de ler toda a narração.»
(Texto encimado por foto retirada do site da editora do livro: “Sinapses”).
Nem sei mesmo se já referi esse facto, mas como repego no tema primeiro
desse meu livro, exposto no seu Prefácio
– de admiração no reconhecimento das qualidades morais e intelectuais do meu
Pai, que a sua modéstia sempre desejou apagadas – e por isso rasgou tudo o que
escrevera e lhe merecera, entre outras conquistas do seu talento, nesse nosso
viver simples, os primeiros prémios em dois concursos de quadras a marcas de
cigarros, em Lourenço Marques, com pena minha, que transcrevi alguns de cor,
nesse meu livro.
Nele, transcrevi também versos que o meu pai nos enviava
frequentemente, quer em forma de carta quer como prendas de anos – da minha
irmã e meus – que a minha irmã reuniu em um dossier, (juntamente com as cartas
em prosa e textos nossos escolares que enviávamos para o meu Pai), com que ele ia
acompanhando a nossa formação, lá de Moçambique, para onde regressara sozinho,
em 38, depois da licença na Metrópole, por a minha Mãe se sentir com anemia - e
entretanto a guerra ter impossibilitado o nosso regresso mais precoce, pelo
medo do meu Pai de que o nosso barco fosse apanhado por algum submarino alemão.
Voltámos só em 44 para África, já na nossa 4ª classe, numa ausência de seis
anos, em que o meu pai nos ia acompanhando de longe – cartas bem amorosas e
orientadoras na formação das suas filhas, que reli há pouco, por a minha irmã
as ter organizado em dossier que reencontrei nas minhas arrumações, pois mo
oferecera, talvez para poder corroborar lembranças desses afectos, cujos versos
eu levara para Coimbra, quando vim para cá estudar, companheiras nas horas de
saudades da nossa casa lourençomarquina.
Ao reler esses textos, encontrei mais dois poemas, que gostaria de ter
acrescentado ao meu livro “Melodias do Passado”, e faço-o hoje, no meu blog,
como post scriptum perdido de uma lembrança jamais esmorecida, de que não raras
vezes o café de domingo nos ocupa, à minha irmã e a mim, antes de chegarem os companheiros
desse café do nosso entardecer - descendentes tardios, com as suas próprias
memórias, mais libertas, por enquanto – e talvez para sempre – dessas nossas pieguices
rememorativas.
Eis os versos do meu Pai: versos formais, talvez, um tanto piegas, inspirados no modelo ultrarromântico de alguns dos livros da sua estante, mas versos sinceros, que poderiam servir de exemplo para um acompanhamento de muitas crianças ainda, em que esses modelos de sentimentos pátrios, sobretudo, ou de modelos esmoleres, vão sendo paulatinamente apagados, como ridículos fantasmas cada vez menos identificáveis - pese embora os gestos de fraterna ajuda social, hoje pateticamente disseminados, a contrariar, não com a ponderação sobre as tais paridades sociais tão declamadas, mas bem à nossa maneira da caridadezinha, decididamente imprescindível, com tantos “sem abrigo”, entre outros desabrigados, da nossa pequenez definitiva:
1º Texto, 1944:
«PORTUGAL!»
(para a Nandita)
«Que
mais lindo pode haver
Que esta
minha terra amada,
Que este
lindo Portugal?
Nada!
Se
até Deus, com seu poder
Omnipotente
e profundo,
Não
pôde fazer no mundo
Um outro
cantinho igual!...
Portugal,
meu berço amado,
Ai quanta beleza encerras!
Torrão
belo, delicado!
És a
rainha das terras!
Deitado
à beira do mar
És um
manto de princesa
Que o
mar bordou com encanto…
E quem olhar ao
luar
Esse tão
formoso manto,
Verá,
de prata, um tesouro.
Mas quem
o olhar de dia,
Vê-lo-á
bordado em ouro!
E a
cor do céu?! Que subtil!
Onde
existe um céu igual
Ao
céu do meu Portugal,
Um céu
de tão lindo anil?
……………………………………..
………………………………………..
Portugal
dos meus amores
De
beleza peregrina!
És um
Poema de Flores
Nascido
da mão divina
Numa
aguarela de cores!
«Que
mais lindo pode haver
Que esta
minha terra amada,
Que este
lindo Portugal?
Nada!
Se
até Deus, com seu poder
Omnipotente
e profundo,
Não
pôde fazer no mundo
Um outro
cantinho igual!...»
2º Texto, 1944:
«O TRISTE SONHO DA LILI»
(para a Berta)
Lili
«Esta noite tive um sonho...
Que triste sonho, mãezinha!
Sonhei que era pobrezinha
E no meu viver tristonho,
Só no mundo e sem ter pão,
Rogara uma esmola a alguém...
Mãe
E depois, meu doce bem?
Lili
E depois... que decepção!...
Esse alguém disse que não.
Não me podia valer!
Se visses o meu sofrer!
A minha angústia! Oh! Que dor!
Mãe
Talvez a quem tu pediste,
Igual a ti fosse um triste
Pobrezinho?
Lili
Minha mãe!
Lembre que Nosso Senhor
Foi pobrezinho também,
E repartiu seu amor
Quando mais nada podia...
Eu, por mim, se alguém viesse
Uma esmola mendigar,
Teria prazer em dar
Um pão, um beijo, um carinho...
Mãe
Que santo coraçãozinho
Tu tens, filhinha adorada!
Tão cheio de encanto e luz,
Coração de oiro! De fada!
Tal como tu, foi Jesus,
Que o Bem, o Amor pregou.
E porque o Bem praticou,
Morreu pregado na cruz!
Segue do Bem a doutrina
E dessa maneira pensa
Que terás a recompensa
Que aos humildes Deus destina;
Pois aqueles, meu amor,
Que tal qual o Salvador,
Pregam amor e bondade,
Jamais morrem. Viverão
No peito da Humanidade!»
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