quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Mais uma pesquisa

 

Do Luís, que enviou o texto para o meu G mail.

Depois de ouvir recentemente, no Canal Memória, opiniões de escritoras nossas, justamente bem-amadas, no nosso país bom-amante – de resto, na reciprocidade dos afectos - sobre um Salazar que ambas desamavam - Sophia de Mello Breyner e Natália Correia - o que lhes mereceu prestígio geral pátrio, também por isso - aprouve-me ler este texto de um Homem que me habituara a respeitar, apesar da sua voz aflautada do entardecer da sua vida, da qual apenas colhia as palavras da sua sinceridade amante da sua pátria, tentando olvidar o tom de voz, que, no entanto, ainda hoje evoco com desprazer. Leio, assim, agradada por não ser a única que mantém, hoje, idêntica opinião, pois que o Luís lhe descobre os textos que me envia, postados, decerto, por algum admirador do tal “ditador” que já há tantos anos desenhava o retrato de uma doutrina que se revelaria, posteriormente, por cá, perfeitamente de acordo com o que dela ele escrevera:

 

“A visão de Salazar sobre como combater o comunismo, uma lucidez e

objectividade impressionantes, um grande homem, um grande político, a anos-luz da corja que lhe sucedeu...”:

 

«Quebrar a resistência moral das nações, desorganizar a sua economia,

exercer sobre a máquina do Estado acção paralisante é função atribuída ao

comunismo em toda a parte onde o governo lhe está vedado. A diminuição até

à impotência da força das nações que se lhe entregam é o maior serviço

reclamado pelo país estrangeiro que o inspira, o apoia, o subsidia. De modo

que sofrer um país a acção do comunismo quando no seu seio irrompeu,

devido a causas que não puderam ser dominadas, é uma fatalidade contra que

tem de lutar-se, fazendo apelo a todas as forças de ordem, para neutralizar-se

os efeitos, à espera de melhores dias. Que se dêem possibilidades de

desenvolver e organizar forças tão virulentas e corrosivas do organismo social,

tão contrárias ao espírito da civilização de que somos filhos, onde com atenta

vigilância podem ser mantidas em respeito, senão inteiramente neutralizadas,

parece-nos cegueira que a paixão política pode explicar, mas os interesses da

Nação claramente condenam (11 de Fevereiro de 1949).

[...] Ora, sendo tão graves os perigos, quer de influência externa quer de

subversão social, trazidos pelo comunismo, que processos de defesa se

utilizam para o contrariar?

Se não me engano, na Europa, salvo Portugal, a Espanha e a Suíça (embora

esta última por motivos diferentes dos primeiros), e como na Europa, em quase

todo o mundo, o comunismo goza da liberdade de propaganda e organização,

bastando-lhe - o que não custa nada - declarar-se integrado no plano das

forças políticas nacionais. Por muita parte está representado em assembleias,

em numerosos países faz parte dos governos.

Este modo de proceder não pode deixar de significar ou que se considera o

comunismo tão legítimo como outro qualquer programa partidário e apto à

realização do interesse nacional ou que se espera torná-lo inofensivo num

regime de absoluta liberdade política. Todos aliás temos ouvido dizer que os

grandes remédios contra a doença comunista são: na Europa, a democracia e

o socialismo; na América, a liberdade e o bem-estar geral.

Não me proponho hoje discutir estas teses, sobre as quais tenho naturalmente

as maiores dúvidas; levar-me-ia longe o exame e ser-me-ia embaraçosa a

referência a casos particulares que parecem contrariá-las. Direi apenas que, a

meu ver, há-de ser muito difícil aos diversos Estados manter, partindo de tais

princípios, uma linha rigidamente lógica; alguns que por ela se encaminharam

regressam ao ponto de partida; os que receiam usar da autoridade vêem-se

depois compelidos a empregar a violência e felizes se consideram quando,

como é geralmente o caso, não são subvertidos por ela; sobretudo não há

confiança na terapêutica, pois que os povos vivem receosos e intranquilos. O

Mundo tem medo do comunismo e os sovietes servem-se dele para os seus

fins (25 de Novembro de 1947).

O mundo tem medo do comunismo.

Qual a razão disso?

A principal parece ter sido à volta da ideia e do facto de se tratar de

organização que, integrada no jogo das forças nacionais, recebe do estrangeiro

a súmula doutrinal do seu programa e a orientação efectiva. Mas a mim não me

parece razão bastante.

 

Através da história e ainda nos tempos de hoje, numerosos movimentos se têm

verificado de inspiração estrangeira e muitos apoiados por esta ou aquela

potência, têm infelizmente vingado contra a vontade e os verdadeiros

interesses da nação que os suporta. A história está cheia destes pecados. De

modo que, em face do comunismo, o que sobretudo importa não é saber que é

protegido ou apoiado de fora - mas a essência da sua doutrina e as

verdadeiras intenções da potência inspiradora.

Esta última referência repõe no tabuleiro todo o problema anterior - ou seja a

Rússia na Europa e no Mundo, a sua vida de relação com os mais Estados, o

valor prático para ela e a aceitação voluntária por sua parte daquele conjunto

de princípios e de conceitos (uns pura emanação da moral, outros adquiridos e

fixados pela experiência) sobre que deve viver e prosperar a comunidade

internacional. Quer dizer, independentemente da execução do programa

comunista, um problema continuaria de pé - o de saber-se a constituição da

comunidade de nações por ela chefiada, que é o mesmo que dizer qual o grau

de independência de cada país na gestão dos seus negócios internos e

externos. Uma coisa me parece clara - a existência de pressões suficientes

para se considerarem privilegiados ou preferentes os interesses da potência

que a si própria teria reservado a posição de quase suserana. Já Hitler ou

alguns dos seus sonharam essa construção: não julgo que a Europa no seu

todo se pudesse submeter a semelhante fórmula.

Concebe-se que a Rússia, por amor de um interesse político seu, se alheie,

fora de fronteiras, do comunismo, não como governo, mas como ideologia. O

comunismo, porém, não se desinteressará de si próprio. Salvo o caso de

partido assim etiquetado para usufruir algum prestígio exterior, mas de facto

apostado apenas em conquistar posições de mando, o comunismo, como

doutrina integral que é, tenderá a modelar os homens, as sociedades, as

instituições públicas e privadas segundo as concepções que defende. De modo

que ou se contradiz e se anula no puro jogo de forças políticas concorrentes ou

há-de por todos os meios fazer a sua revolução.

Não cuide alguém que esta se limite a procurar corrigir desmandos, abusos,

ilogismos, desacertos ou injustiças - tanto revela a actual organização social

contra que temos de lutar sem descanso - nem a provocar a transferência do

poder de uma para outra classe ou legitimar a transferência de bens de uns

para outros indivíduos; trata-se de criar um tipo diferente de humanidade, outra

civilização (se é que esta forma de me exprimir se pode considerar correcta).

Pouco importa saber que o não logra, porque, frustrada a revolução, terá pelo

menos conseguido a desordem (25 de Novembro de 1947).

[...] O comunismo é, pois, como movimento revolucionário e expressão de uma

política internacional agressiva, o grande inimigo do momento, e a primeira

contribuição que pode dar-se na ordem externa é contê-lo decisivamente no

interior. É problema vital e urgente definir os meios apropriados.

As potências que se apelidam de democráticas parece descansarem em

demasia no jogo dos partidos políticos e na movimentação eleitoral das

massas, quando arregimentadas e rotuladas em maioria nos chamados

partidos burgueses, nos quais se incluem mesmo os socialistas. Esta atitude,

filha do hábito da luta entre forças concorrentes e por vezes complementares,

passa, porém à margem da verdadeira actuação comunista e não pode, por

isso, ter efeitos decisivos. O comunismo não é necessariamente um partido

nem precisa de dispor de maioria: basta-lhe dispor de uma minoria, movida por

uma fé e servida por uma técnica de proselitismo e de combate, técnica que é

a síntese de tudo quanto a experiência e a psicologia descobriram para

dominar e conduzir massas humanas.

O que se diz do partido político que não pressupõe formação, mas atitude de

simpatia ou passiva concordância com um vago programa da ordem

estabelecida, há-de dizer-se das ligas, das associações, dos congressos que

se organizam para combater o comunismo: toda esta acção se dirige aos que

dispõem já de certa posição de espírito ou se aprontam a tomar certa atitude

de oposição, mas não formam os espíritos nem evitam que o comunismo

deforme as inteligências e as vontades da massa neutra que é a grande

maioria de um País.

Uma tendência generalizada deposita esperanças, também excessivas, na

repressão directa das actividades comunistas, e eu estou longe de julgar essa

repressão dispensável ou indiferente, antes me parece que se vão

aproximando os tempos de mais ampla e severa actuação. Mas a força do

proselitismo comunista exige imperiosamente uma acção intensiva de aliciação

das inteligências à volta de um sistema de ideias que o repilam. Se a

inteligência do século é trabalhada já no sentido da ansiedade e da insatisfação

para aceitar as soluções integrais do comunismo, não se pode descansar na

repressão, como se esta resolvesse todas as dificuldades (12 de Dezembro de

1950)».

Oliveira Salazar (in J. P. D'Assac, «O Pensamento de Salazar extraído dos seus discursos»).

 

 

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