Leituras aprazíveis a respeito do mundo que nos vai.
A terra onde só deveria jorrar
leite e mel
Quando conseguiu finalmente viver décadas de paz,
ignora-se o pesadelo de milhões de pessoas em movimento num continente arrasado
pela guerra que possibilitou esse sonho: uma Europa de estados-nação.
RICARDO DIAS DE SOUSA Convidado
da Oficina da Liberdade
OBSERVADOR, 24
nov. 2023, 00:1716
Em Novembro de 1947, fez agora 76
anos, umas jovens Nações Unidas votaram favoravelmente um plano para o
Mandato Britânico sobre a Palestina que previa a divisão da região em dois
países. Um governado pelos judeus chamado Israel e outro governado pelos Árabes
chamado Palestina. Dos 56 estados
membros presentes 33 votaram a favor e apenas 13 votaram contra,
ultrapassando assim os dois terços necessários para aprovar o plano (excluindo
as abstenções). Os judeus obviamente aceitaram a votação e criaram o Estado de
Israel. Os árabes não reconheceram essa legitimidade e não
criaram o Estado da Palestina.
A questão da legitimidade de um Estado é
antiga. Nunca foi satisfatoriamente resolvida e, provavelmente, nunca será. Afinal
de contas o que é um Estado? Na ordem mundial que se desenhou após a
Segunda Guerra Mundial, esperava-se que as Nações Unidas fossem um fórum para
resolver pacificamente os diferendos internacionais e dar uma resposta a esta
questão. Um estado seria todo aquele governo
sobre um território que o consenso internacional das nações reconhecesse como
tal.
Mas esta forma de dar legitimidade à criação de dois estados na
região do Mandato tinha uma vantagem óbvia e um problema sério. A vantagem óbvia era dar à resolução, caso
fosse aprovada e como depois foi, o apoio de pelo menos dois terços das
chancelarias diplomáticas do planeta naquele momento. O problema
sério foi dar a todos os interesses diplomáticos a mesma importância (1 voto)
quando a questão era muito mais relevante para uns que para outros,
nomeadamente, para os países limítrofes. E não só os árabes (a Grécia e a Turquia também votaram
contra). E assim sucedeu que, apesar da aprovação
do plano pelas Nações Unidas, os países muçulmanos, a Índia (com uma minoria muçulmana
importante), a Grécia e mais surpreendentemente Cuba (13 anos antes de Fidel
Castro tomar o poder) votaram contra. Menos surpreendente foi o início de uma guerra civil na região que
culminou com a invasão pela Liga Árabe (Egipto, Transjordânia, Iraque, Síria,
Líbano, Arábia Saudita e Iémen) do novo Estado de Israel na véspera de este ser
oficialmente proclamado.
Só que, para surpresa de muita gente,
a começar talvez pelos próprios beligerantes, no final do conflito não só
Israel tinha sobrevivido como aumentou os territórios sobre os quais exercia
poder militar e, consequentemente, político. E a coisa deveria ter acabado aqui.
Ou, mesmo senão, depois desta houve mais três guerras – Crise do
Suez em 1956, Seis Dias em 1967 e Yom Kippur em 1973 – sempre com vitória de
Israel, duas delas de novo com tentativas de invasão de países vizinhos, e que
tiveram como consequência novos ganhos territoriais. Senão em 1948, pelo menos em 1973 a lição
já deveria ter sido aprendida. E
de certa forma foi, porque desde então nenhum país da região arriscou um novo
confronto directo. Quem manda no território de Israel, tanto o atribuído
pelas Nações Unidas, como o conquistado depois, é o Estado de Israel.
Desde o ponto de vista militar, a
questão da Palestina está resolvida desde pelo menos 1973. O principal motivo, para não dizer o
único, pelo qual o problema não acabou em 1973 é porque em 1949, finda a
primeira guerra, existiam cerca de 750,000 árabes refugiados nas zonas
limítrofes a Israel sem ter para onde ir que mais tarde, com a expansão
territorial que resultou das guerras subsequentes, passaram a viver em zonas
ocupadas por Israel. O “sem ter para onde ir” talvez não seja a forma mais correcta de
descrever a situação. Porque
sendo certo que não lhes foi proposto um destino alternativo, foram-lhes dadas
as condições mínimas para poder continuar indefinidamente a assumir o papel de
refugiados. Uma situação
caricata, provavelmente única na História Universal. Diz-se
que Moisés vagueou com os judeus durante 40 anos no deserto sem poder entrar na
Terra Prometida. A ser verdade, o êxodo dos palestinianos já tem quase o dobro
do tempo.
A
questão dos refugiados é tão mais caricata quanto, após o conflito de
1948-49 com a vitória de Israel, os judeus deixaram de ser pessoas bem-vindas
nos países de ampla maioria muçulmana e um número muito provavelmente superior
ao de árabes da Palestina, isto é, cerca de 1 milhão de pessoas, abandonou as
suas casas ancestrais, as suas propriedades, as suas vidas nesses países e
nunca mais olharam para trás. Grande parte dos quais estabeleceu-se em Israel,
uns 600 mil, o único país que, por lei, era obrigado a aceitá-los.
E não foram só os judeus. Um pouco
antes da Independência de Israel, 13 milhões de alemães começaram a
voltar do Leste da Europa a uma Alemanha física e economicamente destruída. Voltar é uma forma de falar. Muitos eram
filhos de várias gerações de alemães que jamais tinham vivido a oeste do Oder
ou do Danúbio, espalhados pelos antigos territórios do Império Austríaco, da
Prússia Oriental, e até mesmo das colónias alemãs nos confins da Geórgia. O mesmo
sucedeu no resto da Europa. Em 1945 decidiu-se que, para além da Alemanha e
de uma deslocação da Polónia para Ocidente, as fronteiras políticas ficariam
praticamente iguais e foram as pessoas que foram deportadas. Só com essa
decisão, dois milhões de polacos foram obrigados a abandonar as regiões
entretanto ocupadas pela URSS (hoje em dia na Ucrânia e
Bielorrússia). Mas
houve mais: a Bulgária mandou 160 mil turcos para a Turquia; checoslovacos e
húngaros acordaram trocar 120 mil pessoas entre si e também houve trocas entre
romenos e húngaros, polacos e lituanos, checoslovacos e ucranianos. Cerca de
dois milhões de cidadãos soviéticos voltaram à URSS. Também no Ocidente, dois
milhões de franceses, 700 mil italianos, 350 mil checos, 300 mil holandeses e
300 mil belgas voltaram da Alemanha aos seus países. Isto para não falar dos
quatro milhões de judeus que abandonaram a Europa.
O resultado de todas estas deportações e emigrações foi que a
Alemanha passou a estar povoada por alemães. A Polónia, cuja população era 68%
polaca em 1939, passou a ser essencialmente e apenas polaca. A Checoslováquia,
que antes do Acordo de Munique tinha uma população com 22% de alemães, 5%
húngaros, 3% de ucranianos e 1,5% judeus, era agora constituída exclusivamente
por checos e eslovacos. O resultado foi uma Europa muito mais “arrumada”
etnicamente. Quando se
diz que a partir de 1945 a Europa conseguiu finalmente viver décadas de paz,
ignora-se o pesadelo de milhões de pessoas em movimento num continente arrasado
pela guerra que possibilitou esse sonho: uma Europa
composta por estados-nação. As
excepções eram a Jugoslávia,
a URSS e a Espanha, esta
última a única que ainda não sofreu uma guerra étnica desde então, mas que
acabava de sair de uma em 1939 onde esse componente, não sendo determinante,
também existiu.
Que os países árabes não tenham feito
o mesmo pelos seus irmãos caídos em desgraça é, ou deveria ser, no mínimo
surpreendente. Não que
fosse fácil, como se viu na Jordânia
em 1970 e no Líbano pouco depois, a
partir de 1975. Ter uma grande concentração de árabes palestinianos
foi um foco de instabilidade política, eufemisticamente falando, nos dois
países. Mas uma
grande diáspora, como sucedeu, para além de na Europa, com os judeus, arménios,
hindus ou mesmo muçulmanos noutros locais, teria resolvido o problema.
E não me parece que a especificidade religiosa seja um factor relevante. Por essa
mesma altura, noutro caso que envolveu
muçulmanos, milhões começaram a deslocar-se da Índia para o Paquistão após a
partição do Raj Britânico em 1947 (melhor dito “os paquistães” porque eram
dois – o Paquistão Ocidental e o Oriental, hoje em dia Bangladesh). Ninguém conhece o número certo mas, em 1951, o
censo paquistanês contava 7,2 milhões de muçulmanos oriundos da Índia (e
curiosamente os indianos contaram 7,3 milhões fazendo o caminho inverso).
Pelos
vistos, no Subcontinente Indiano repartir um território de acordo com a maioria
religiosa não era um problema no final da década de 40, só no Médio Oriente. É certo
que, enquanto nas regiões outorgadas à Palestina essa maioria religiosa era
esmagadora (praticamente 100% da população) no lado judeu uma pequena
maioria (55%) foi suficiente para reclamar o território. Mas o problema da tal pequena maioria até
ficou logo resolvido logo em 1948, com a fuga ou expulsão massiva dos árabes
dos territórios controlados pelos judeus e a chegada de judeus oriundos de
países muçulmanos. De 45% da população no plano original, os árabes
passaram a constituir cerca de 20% da população de Israel apesar da expansão
territorial. Esses 20% de árabes e os seus descendentes são, desde então,
cidadãos israelitas. Desde então, facto também ele normalmente esquecido, há
árabes que nasceram, cresceram, viveram e morreram em Israel sem que de aí
tenha surgido um genocídio, conflito étnico ou religioso. Algo extraordinário
se atendermos ao ódio, que se supõe mortal, entre as duas etnias.
O problema, ao contrário do
que nos querem fazer julgar, não é um ódio ancestral. O problema é um ódio
actual, de três gerações que nasceram, cresceram e viveram nas fronteiras da
terra dos seus antepassados, sem que ninguém os acolhesse e cuja utilidade é,
essencialmente, a de carne para canhão das potências da região. É verdade
que ainda existem tensões importantes entre a Índia e o Paquistão, onde a
questão religiosa serve muitas vezes de recurso para o enfrentamento político e
geostratégico entre os dois países, mas, regra
geral, paquistaneses e indianos, não sendo amigos, estão obrigados a
entender-se. Com a passagem do tempo, o ódio ou desaparece ou
encontra um sítio no folclore, como
no caso dos descendentes dos mouriscos expulsos da Península Ibérica há meio
milénio. Em Marraquexe ou Istambul há famílias que ainda conservam as
chaves das casas que se viram forçadas a abandonar em Granada. As casas, essas,
já não existem, nem fazem falta, nem ninguém vai morrer por elas.
A braços com uma Intifada no início
da década de 90, os israelitas perceberam que o problema dos refugiados não ia
desaparecer e entregaram à OLP parte dos territórios ocupados para fazerem o
seu próprio estado, já que nenhum país muçulmano estava disposto a fazer o
mesmo. Em teoria esta era uma solução muito boa. Arafat
tinha sido desterrado em Tunes e a OLP era vista com um misto de desconfiança e
temor pelos vizinhos árabes de Israel desde que tentaram conquistar o poder na
Jordânia e ajudaram a destruir o Líbano. E a OLP até tentou cumprir com o
estabelecido, percebendo que Israel era o único estado que tinha alguma
coisa a ganhar com o seu retorno à região. No ano 2000, quando finalmente se
ia assinar o acordo em Camp
David, que talvez tivesse resolvido o conflito para sempre,
a população palestiniana sublevou-se
e Arafat, tendo que escolher entre assegurar o poder liderando a revolta ou
arriscar-se a perdê-lo para conseguir uma paz que muitos palestinianos afinal
não queriam, escolheu compreensivelmente a primeira opção. Se
em teoria a criação da Palestina por Israel era uma boa solução, na prática
tem-se verificado desastrosa.
Apesar de as opiniões se dividirem, é
unânime a caracterização do conflito como um problema complexo e de difícil
resolução. Pode ser. Mas também é certo que nenhuma simplificação resume o problema
à existência de 5.6 milhões de pessoas, descendentes dos 750,000 originais, numa
terra virtualmente de ninguém, resignados à miséria e sempre disponíveis, uns
voluntariamente outros à força, para servir de escudo humano no conflito. Resolver este problema é mais de meio
caminho para resolver todo o problema. E muita gente não quer reconhecê-lo
porque a solução passará, de uma forma mais ou menos ignominiosa, pelo
desaparecimento desta gente. Gente que, em grande parte, foi mantida nestas
condições pelo apelo à humanidade e à consciência da população do Ocidente.
Primeiro, através das Nações Unidas que, por um lado, têm uma agência de
refugiados, a ACNUR, que se dedica à recolocação de milhões de refugiados no
mundo inteiro e, por outro, a UNRWA, que dedica 1.000 milhões de euros
anualmente (e emprega 30,000 pessoas) essencialmente a manter os palestinianos
onde estão. A estes
juntou-se a União
Europeia que, para
além de financiar 60% do orçamento da UNRWA, é o maior doador directo à
Palestina, com uma ajuda que se estima de cerca de 10.000 milhões de euros
desde a assinatura dos acordos de Oslo em 1993. Juntando
as doações de outros países e organismos governamentais e não-governamentais, o
total de ajudas aos refugiados palestinianos ascende a mais de 2.000 milhões de
euros anuais. Na estimativa mais conservadora, isto são mais de 350 dólares por
cada refugiado que está a
ser utilizado anualmente para não resolver o problema.
Muita gente pensará que é pouco
(especialmente quando o dinheiro é pago por outros) mas, para por a coisa em
perspectiva isto é mais do dobro da ajuda concedida, em média, por refugiado no
resto do mundo. Sendo
que no resto do mundo o dinheiro é gasto com o fim último de realojar as
populações deslocadas. Entre 2015 e 2021 as Nações Unidas conseguiram
realojar 2,1 milhões de refugiados. É
um número provavelmente insignificante quando as próprias Nações Unidas
reconhecem existirem mais de 20 milhões de refugiados no mundo (exceptuando a
Palestina) e quase 95 milhões de pessoas pessoas no total deslocadas por causa
de conflitos armados. De acordo com os mesmos dados, só em 2021, quase 6 milhões de pessoas
regressaram à condição de refugiados ou deslocados, o triplo daquelas que
tinham sido recolocadas, fazendo todo este esforço parecer inglório. Só
que em Gaza esse número foi virtualmente zero porque, durante décadas se quis
pensar que aquilo que existia em Gaza (e que
se está a converter em escombros) podia considerar-se aceitável e definitivo. Isto sucede porque há milhões de pessoas em
todo o mundo com a consciência tranquila porque milhões de pessoas podem
continuar a viver da caridade alheia, encafuadas numa terra de ninguém,
alimentando-se da vã esperança de que algum dia vão ser herdeiras da “terra
onde jorra leite e mel”. Essa promessa também foi feita aos que já lá
estão. E não foi só na Bíblia. Só os mesmos indivíduos que nunca se preocuparam
em encontrar um sítio para os palestinianos longe de Israel é que são capazes
da mesma indiferença quando chegar o dia, se chegar, em que o país dos judeus
for aniquilado porque, no fundo, já estão habituados a subjugar milhões de
pessoas aos seus caprichos. Se de verdade querem resolver a
questão da Palestina comecem por procurar um lugar, ou lugares, para acolher
5,6 milhões de pessoas. Lugares onde estas se possam integrar e prosperar. Até
porque foi exactamente isso o que os judeus fizeram e até ao momento está a
resultar. Israel é um país muito mais livre e próspero que qualquer dos seus
vizinhos. Quanto mais longe de Gaza, maior a possibilidade de que isso também
suceda para os seus inimigos.
Nota editorial: Os pontos de vista expressos pelos
autores dos artigos publicados nesta coluna poderão não ser subscritos na
íntegra pela totalidade dos membros da Oficina
da Liberdade e não reflectem necessariamente uma posição
da Oficina da Liberdade sobre os temas
tratados. Apesar de terem uma maneira comum de ver o Estado, que querem
pequeno, e o mundo, que querem livre, os membros da Oficina
da Liberdade e os seus autores convidados nem sempre concordam,
porém, na melhor forma de lá chegar.
OFICINA DA
LIBERDADE POLÍTICA PALESTINA MUNDO ISRAEL
COMENTÁRIOS:
Pedro: Muito bom. Nem sempre se
aprende a ler sites de notícias. Conhecia o "arrumo" de populações
por estados-nação no pós guerra mas tenho a sensação que quase ninguém hoje em
dia sabe isso, e seria fundamental. Quem não conhece a história... Pedro Marques: O artigo parte de uma premissa
errada (completamente ignorada) pondo em pé de igualdade os habitantes da
Palestina há mais de 1000 anos com os Judeus que chegaram *ilegalmente* durante
o decurso do século XX, com a cumplicidade do Ocidente, naquele que é um projecto
100% colonialista. O direito sobre a terra nunca poderia ser o mesmo, não
só pela recente chegada desse povo mas também pelos números: a grande
maioria da população era (ainda) indígena, dai a expulsão das suas terras. Outra coisa que choca é a ignorância de achar que os países vizinhos tinham
a obrigação de acolher aqueles que viveram na Palestina durante séculos e meter
tudo no mesmo saco. É o mesmo que dizer que Portugueses e Espanhóis são a mesma
coisa e que um devia acolher o outro caso houvesse uma ocupação do seu
território. O artigo ignora, de forma
deliberada ou não, vários factos que levaram a 1948. Factos esses que são
fundamentais para entender o que se passa hoje. Jorge Lopes: Excelente artigo 👏🏻👏🏻! Alfredo
Vieira: Excelente... Lily Lx: Interessante. GateKeeper:
Essa(s)
"terras de leite e mel" feitas nunca existiram, assim como a
"democracia ou o socialismo ou a social-democracia ou, ainda menos, o
comunismo. Embora concorde que Israel,
actualmente é o País dessa zona, que mais se aproxima, embora a uma
larga distância, da utopia 'democrata', acho estranha esta
"capacidade", que as gerações mais recentes têm, de
abraçar utopias que, no fundo, sabem ser, de todo, irrealizáveis, na verdade
nua e crua. Aquilo a que assistimos desde há um século
é, somente, uma dose cavalar de populismo global, muito barato, que se
vende muito bem, mas tem que ser "embrulhado" em papel dourado de
seda, para o efeito, embrulhado diariamente pelo estafado liberalismo-woke e à
sombra, ( ao colinho?!), da " nova-religião oligárquica" do
grande Deus virtual e artificial.
As sociedades
ditas "ocidentais e demagogocratas" estão a cometer um lento, mas
muito 'fashion' , 'seppuku'. Francisco Almeida: Concordando com o comentário de Madalena Colaço,
parece-me que na sua excelente retrospectiva, o autor, desvaloriza realmente a
questão religiosa. Mas a questão religiosa, a superioridade islâmica, tem
especial pertinência nos palestinianos, exactamente por eles serem básicos e
estarem no patamar inferior das sociedades árabes, que os consideram apenas
acima de beduínos e de ciganos. É minha profunda convicção que
racismo e intolerância religiosa, só podem ser superados pela cultura. É assim a responsabilidade
maior da ONU e da UE terem permitido e financiado um sistema escolar que não só
permite mas incute o ódio aos judeus. Nesse sentido, sinto vergonha de ser
europeu. Como aliás sinto vergonha quando oiço o MNE de Israel dizer que o
secretário geral da ONU pode ser o porta-voz do Hamas, porque reconheço-lhe, no
exagero, alguma razão. Acabo, repetindo-me, a louvar a
parceria que o Observador mantem com a Oficina da Liberdade.
bento guerra: Boa e extensa análise. Israel é
a única democracia no Médio Oriente e os únicos árabes que a praticam são os
sujeitos à sua administração. Houve um bando de assassinos que se organizou
para explorar os próprios palestinianos, pago por estados islâmicos, cujo objectivo
que os une é a destruição de Israel. Esse bando foi atacar gente pacífica e
roubou mulheres e crianças, que usa como moeda de troca de prisioneiros. Escondem-se
em túneis subterrâneos, o que obriga a fortes bombardeamentos. No mundo
ocidental, suposto cristão e civilizado, há quem os suporte João Amorim: O melhor texto que já li sobre
o tema. madalena colaço: O ódio como diz não é ancestral. Faisal, ao qual os ingleses prometeram
liderar a Liga Árabe da Grande Síria, com capital em Damasco, assinou o acordo,
que reconhecia os judeus nessa terra da Grande Síria. Faisal ajudou os
ingleses a expulsarem os otomanos dessas terras mas, secretamente os ingleses e
franceses já repartiam essa Grande Síria a régua e esquadro no acordo
Sykes-Picot assinado em 1916. A traição constante dos ingleses, quer para com
os judeus quer para com os árabes, leva-nos à situação actual de ódio mútuo.
Em 1917 a declaração Balfour permitia aos judeus sonhar com um lar, mas em
1937, no seu livro branco os ingleses negavam aos judeus um lar e prometiam aos
palestinianos que não deixariam nem mais um judeu entrar na palestina. Proclamar, como todos proclamam o reconhecimento de dois Estados para
que a paz regresse aquela região é uma ilusão, e todos sabem, mas politicamente
é correcto dizê-lo, prova reveladora da hipocrisia do mundo e dos
políticos que hoje nos governam.
Questões como: porque não aceitaram os palestinianos o
livro branco dos ingleses onde tinham todas as vantagens para a constituição de
um Estado? Porque não aceitaram os palestinianos o estado proposto pela ONU em
1947? Sem perceber as razões porque os palestinianos rejeitaram constantemente
a constituição de um Estado Palestino, a paz vai ser difícil nessa região. As
razões não são políticas mas religiosas. Para os palestinianos,
religiosamente falando, é inaceitável que os judeus tenham os mesmos direitos.
Segundo o Corão, eles são superiores aos judeus e cristãos, e por isso
inadmissível a constituição de dois estados. A paz só regressará à região se
for tratada em termos meramente políticos, deixando a religião de fora. José
Carvalho > madalena colaço: Subscrevo o que comenta, em
particular os três últimos parágrafos. Os palestinianos não quiseram
formar um estado, porque isso seria uma forma de reconhecer Israel. Se em 1948
isto era uma obsessão com alguma lógica, hoje, com o êxito de Israel, é um
disparate. E a um povo (cujos dirigentes são) assim, e que nem os
outros árabes querem, só há que esperar que se cure. Tim do Á: A Europa não é possível. É uma utopia. Os países pouco têm em comum. Língua,
interesses, cultura, rivalidades, economia, hábitos, temperamento, geografia,
etc. O resultado é que com a UE a Europa deixou de crescer e desapareceu do
mapa político relevante. Já não conta nada. A Europa tornou-se num
protectorado dos EUA, num mundo em que só contam os EUA, a China e a Rússia. Lourenço de
Almeida > Tim do Á: Compare com aquilo que valia a
Europa antes da CEE/EFTA. Uma série de países semidestruídos, que só foram
pacificados com a colaboração de milhões de dólares e de soldados americanos e
dos Dominions do Império Britânico (que deixou de existir e já na altura era
não europeu), e mais de metade do continente nas mãos da União Soviética. Se a
Alemanha e a França é que seriam as potências europeias fortes fora da UE, com
a UE têm mais peso ainda no mundo. A língua é o inglês e a base cultural são os
valores judaico/cristãos, nomeadamente a liberdade individual que as elites
tentam afogar em multiculturalismos mas que são aquilo que a Europa realmente é
e o que faz com que seja, juntamente com os USA, o sítio para onde toda a gente
quer ir. Nós vemos as rivalidades internas mas quem é de fora ou vive fora -
como eu que vivo em África - vê bem qual é a cola da Europa. Enchê-la de
muçulmanos não vai ajudar a manter essa cola. Nuno Wahnon
Martins > Tim do Á: Excelente artigo Tim do Á > Lourenço de
Almeida: A Europa ainda é rica, bem mais rica do que o Paquistão ou o Senegal, por
isso é destino das gentes desses países. Mas está estagnada há décadas. Cresce
muito menos do que os EUA, a China ou a Índia. Está a empobrecer atolada em
burocracia e assistencialismo exagerado. No plano político deixou de existir.
Não conta nada. A falta de concorrência entre países está a definhar a
Europa. No plano militar é um protectorado dos EUA. Dificilmente se
defenderá numa guerra sem apoio dos EUA. Ademais está endividada como
nunca. Ainda com as políticas da UE está a sofrer uma invasão muçulmana que
poderá de desencadear no futuro guerras civis dentro dos países mais afectados.
As desordens e a insegurança dos cidadãos também têm aumentado muito com as
políticas da UE. Por tudo isto a Europa estaria bem melhor sem a UE que
serve apenas para distribuir tachos milionários às elites de burocratas e a
países parasitas como Portugal que gostam de viver à conta dos outros. S Belo:
Muito informativo
e esclarecedor.
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