Somos excelsamente generosos, benza-nos Deus.
O brutal Verão de S. Martinho
Que sabia a Procuradora para legitimar
buscas desta envergadura na residência do PM feitas por gente pela qual é
responsável? Onde estavam as armas de destruição maciça que levaram à queda do
governo?
MARIA JOÃO AVILLEZ Jornalista, colunista do Observador
OBSERVADOR, 15 nov. 2023, 00:2215
1Brutal? Hesitei no
adjectivo mas a sucessão de acontecimentos remete para a dureza das palavras.
Lembram-se da história das armas de destruição maciça que levou à invasão do
Iraque? Quando o Iraque foi invadido e não havia armas?
É o que “isto “ me faz lembrar.
2As
investigações não estão concluídas e no que se refere aos casos do Lítio e do
Hidrogénio não se sabe sequer o suficiente. Onde
quero porém chegar é que aconteça o que acontecer, o que já aconteceu não podia
ter acontecido. Com a decisão do juiz da Operação Influencer
e as medidas de coação por ele decretadas ficou
reduzido a nada o que nos fora induzido como tudo ou pelo menos como muito.
Ficámos
a saber que “por agora” é assim: as buscas a que, siderado, o país assistiu há
dias não tinham sustentação. Aguardamos explicações.
E não vale a pena procurar em picardias, lutas internas ou combates
fratricidas no universo da justiça a explicação para o sucedido: o que se
passou é muito mais grave do que isso.
3Melhor rever a matéria, nem ela nem o
caso são para menos.
A magistratura entrou de supetão há dias
na residência oficial do Primeiro-Ministro à procura de armas de destruição
maciça. Buscas na sede do poder? Nunca
aconteceu nem antes nem depois de Abril de 74. Não sei se me lembro de
um “suivi” de episódios desta especifica natureza, servidos por um modus
operandi também nunca visto na democracia portuguesa. A magistratura sai do
coração do poder levando caixotes; há um comunicado indefinido, há detenções no
coração da decisão política, há arguidos no seio do governo; há um Primeiro
Ministro que se demite (porquê?) mas mencionando três ou quatro vezes a
expressão “processo-crime”(a que propósito?) não constando ela de parágrafo algum;
e que de imediato faz convergir tudo sobre si, autocolocando-se voluntária e
decididamente no centro das coisas; há um Executivo com maioria absoluta que
num nevoeiro de coisas por explicar, cai não pelo voto mas por uma entidade não
eleita; há uma viagem do chefe do governo a Belém na quarta-feira de manhã,
para apresentar a sua demissão no que terá sido dissuadido pelo Chefe de
Estado; logo a seguir há uma ida da Procuradora geral da República e logo a
seguir uma segunda ida de António Costa à Presidência: Marcelo aceita a sua
demissão. Porquê? Que lhe disse a Procuradora?
4Ou melhor: que sabe a Procuradora? Que sabia
para, daquela maneira, legitimar a ida de gente sua e pela qual é responsável à
residência do Primeiro Ministro? Só com um altíssimo grau de desconfiança se
permitem e agilizam buscas desta envergadura. De que natureza seriam as
armas de destruição maciça que estariam em S. Bento e não foram encontradas?
Numa palavra, que se passou naquele dia que justificasse a dissolução de um
parlamento com maioria absoluta?
5Sábado negro, o último. O país assistiu à mais abusiva e abusadora encenação
política em cinquenta anos vendo o chefe de governo desistir, em directo e ao
vivo, da decência. Assassinando a ética, o demissionário Primeiro Ministro –
que se demitira para deixar à Justiça o que era da Justiça – invadia sem
remorso o território judicial. Em sua defesa. Friamente e sem escrúpulos
visíveis, atirando ao charco dois homens escolhidos por si, um colaborador de
toda a confiança e um amigo de sempre cuja relação não podia deixar também de
ser fortemente sentimental. E de novo António Costa trazendo ao de cima das
suas palavras (porquê?) a expressão processo-crime. (Nota: relembro que, se não
estou em erro, o PR se referiu sempre a “processo” e não a processo crime.)
Pelo meio três atitudes socialistas
com assinatura dos quais rezará memória : um ex-chefe de gabinete que
acha verosímil guardar na residência oficial do primeiro ministro de Portugal
milhares e milhares de euros como se a casa e a gaveta fossem suas. E que mesmo
que nada tenha a ver com o que originou as buscas, é eloquentíssimo do seu
entendimento do que é servir o Estado.
Um ministro imaturo, birrento e sem serventia que sem remorso e sem
vergonha se vê obrigado a ser chutado à força para fora do poder.
Um governador de um banco central que também acha verosímil ponderar
se vai ou não transitar dali para a chefia de um governo. Acedendo a uma “encomenda” política.
Fazendo um “jeito” a António Costa e um “desenrasca” ao governo. Pelo meio
invocando-se sem pudor e sem legitimidade, o Presidente da República num jornal
estrangeiro. Pior é impossível. É certo que Mário Centeno já deixara meio
(mais de meio?) país de boca aberta com a transição suave, veloz e levezinha
das Finanças que tutelava à custa de cativações sucessivas, para a regência do
Banco de Portugal. Por definição um banco central não pode apenas ser
impolutamente independente. Tem de parecer. Não foi e nunca pareceu. Recorde-se
apenas um recente escrito disfarçado – mal, era com o rabo de fora – de texto
de opinião escorado numa pretensa “análise”-balanço do foro económico
financeiro mas politicamente muito conveniente: aos anseios políticos do
próprio Governador, às narrativas do Governo, ao PS: família que Centeno
gratamente tem servido.
Face ao visto e ouvido, oscila-se entre
a incredulidade, o atordoamento, a indignação: como é possível? Mas foi
possível. Portugal está perigoso.
6Talvez nunca saibamos tudo. Mas há uma
coisa que sabemos: António Costa
escolheu pessoal e politicamente as suas más companhias que não são de hoje.
Todas, uma a uma. Não foi um acaso, uma imposição, uma cunha, uma esmola. Foi
uma vontade. A sua. Só há um responsável por este desastre de consequências
ainda não pesadas, nem medidas: ele próprio.
CRISE
POLÍTICA POLÍTICA GOVERNO ANTÓNIO COSTA
COMENTÁRIOS
JOHN MARTINS: A queda do
Governo Socialista do 1º Costa não aconteceu num dia, nem foi por causa de um
parágrafo a avisar que prosseguiam investigações a Costa, no Supremo já há
algum tempo. O governo caiu indiscutivelmente, devido à incapacidade de Costa
ao longo do tempo de saber formar um governo íntegro, com pessoas com ética e
com a finalidade de servir as instituições e o seu povo. Mas caiu porque
finalmente, as investigações foram feitas em segredo e Costa não foi
capaz de resistir. Um ídolo de pés-de-barro!!!
joão Melo >AdOB: Quem
cabritos vende e cabras não tem, dalgum lado lhe vem. Acho que é mais ou menos
isto. :-)
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