Apesar dos orgulhos provavelmente feridos,
pelo muito que deram e não foi reconhecido, era o pensamento num País em vias
de ruína – moral, sobretudo – que deveria orientar as ambições desses partidos
de direita, mais equilibrados.
No toque a rebate de Melo, Portas define
regra para aliança com PSD: disponíveis, não obcecados
Melo reuniu pesos pesados do partido e
discutiu a estratégia. À porta fechada, Portas traçou fronteira, que é ténue:
até ao momento da decisão, partido deve mostrar-se disponível, mas não
desesperado.
MIGUEL SANTOS
CARRAPATOSO: Texto
OBSERVADOR, 28 nov. 2023, 02:575
Há muito que o Largo do Caldas
não via uma coisa assim. Naquele que foi o tiro de arranque para as próximas
legislativas, Nuno Melo conseguiu reunir na sede do CDS em Lisboa algumas das
principais figuras da história mais e menos recente do partido, incluindo os
seus dois líderes (outrora desavindos) mais carismáticos: Manuel Monteiro e Paulo Portas. O objectivo
do eurodeputado era ouvir a consciência crítica do CDS e definir a estratégia
para o combate eleitoral, sendo certo que o elefante na sala — ir ou não
coligado com o PSD — foi domado da única maneira possível: assumir
que a solução era útil, mas desdramatizar a aparente indisponibilidade dos
sociais-democratas em ter o CDS como aliado.
Apesar de a reunião ter decorrido
à porta fechada — só foi possível captar brevemente algumas imagens
do friso de personalidade que se dispunha na mesa em forma de ‘u’, com Portas à
direita e Monteiro à esquerda de Melo – o Observador sabe que o tom
geral das várias intervenções foi no sentido de que o partido se deve focar em
falar para o eleitorado que o conhece e que porventura sentirá falta de um CDS
que sempre se apresentou como parceiro sensato e moderado, por
oposição aos partidos que entretanto nasceram à direita.
Por isso, e se é verdade que o Chega é, desde o início, um alvo
privilegiado do CDS, os democratas-cristãos perceberam que terão
muito a ganhar se tentarem e conseguirem demonstrar por “a mais b” que a Iniciativa Liberal só tem dado provas de não ter maturidade para
fazer parte da solução.
Aliás, os exemplos mais citados — e que serão levados para a campanha
eleitoral — são os dos Açores, em
que os liberais contribuíram activamente para o chumbo do Orçamento apresentado
pelo Governo Regional PSD/CDS, e do que aconteceu em Lisboa, nas
autárquicas de 2021, em que a recusa em fazer parte da grande frente
protagonizada por Carlos Moedas impediu que o executivo camarário tenha maioria
de vereadores e redundou na não eleição de qualquer elemento dos liberais.
Portas conduz a reunião.
Com estes dados, Melo tentará
fazer uma espécie de apelo ao voto útil entre os eleitores à direita
do PSD: só um voto no CDS servirá para reforçar um parceiro que entra de facto
nas contas dos sociais-democratas (e o Chega não entra) e que, entrando nessas
contas futuras, dá garantias de poder demonstrar maturidade, responsabilidade e
moderação (coisa que, alega o CDS, os liberais não garantem).
Isto, claro, se falhar o plano A. Os
democratas-cristãos não escondem que a sua opção preferencial é
entrar numa coligação pré-eleitoral com CDS, mesmo sabendo que Luís Montenegro
está pouco inclinado para o fazer. Cá fora, aos jornalistas, Nuno Melo,
primeiro, António Lobo Xavier, Cecília Meireles e Manuel Monteiro,
repetiram isso mesmo: uma aliança pré-eleitoral entre PSD e CDS faria todo o
sentido.
“Por lucidez estratégica, haveria vantagem numa coligação
pré-eleitoral”, argumentou o líder do partido. “Pensamos que seria mais útil,
em geral, para todo o setor não socialista, que houvesse um entendimento entre
o PSD e o CDS”, concordou Lobo Xavier. “Acho que tem óbvias vantagens”,
assinalou Cecília Meireles. “Como português, como pessoa direita, como pessoa
conservadora, que quer uma alternativa positiva, válida, se isso não acontecer,
pessoalmente lamento”, reforçou Monteiro.
Ora,
a questão é que, mesmo desejando essa coligação pré-eleitoral, o partido, já
bastante enfraquecido depois de ter sido varrido da Assembleia da República,
não pode dar sinais de desespero, sob pena de perder ainda maior valor facial
para os eleitores que até estariam disponíveis para voltar a confiar nos
democratas-cristãos. Lá dentro, Paulo Portas, apurou o Observador, traçou a
fronteira, que é ténue: até ao
momento da decisão, o partido deve mostrar-se disponível, mas não desesperado.
Cá
fora, aos jornalistas, Melo, Lobo Xavier, Cecília e Monteiro repetiriam a mesma
ideia: “A mim nunca me verão nem na pedinchice, nem a dizer que o CDS
trabalha em estado de necessidade” (Melo); “O CDS não vai fazer campanha a pedir, por
amor de Deus, uma coligação (Lobo Xavier); “O CDS está completamente preparado
para ir sozinho às eleições (Cecília Meireles); “Os portugueses têm
que saber que se amanhã essa alternativa não existir, a culpa não é
seguramente do CDS” (Manuel Monteiro).
Resta saber o que fará o CDS num cenário
em que tenha de tentar regressar sozinho ao Parlamento. Ao longo da reunião,
que demorou sensivelmente três horas, foram várias as ideias deixadas, embora
não necessariamente irreconciliáveis. Portas, que, segundo fontes presentes, se comportou como o verdadeiro
líder da sessão, com uma grande naturalidade, a chamar as pessoas que se
iam inscrevendo, defendeu que o partido devia falar para o eleitorado mais
velho e sobre o estado da Saúde, uma forma de captar o eleitorado que mais
facilmente (se) reconhece na marca CDS.
Monteiro também elegeu os temas da
Saúde e Produção Nacional como prioritários para o país. Terá sugerido que o CDS deve responder ao
sentimento de revolta com discurso centrado na esperança de um futuro melhor
para o país. Igualmente mais programática, Cecília Meireles argumentou que o
partido deve ter uma agenda em função daquilo que considera ser justo e certo,
esquecendo os discursos profundamente ideológicos sobre o que é e para que
serve o partido. “O CDS, além de saber falar, sabe fazer. E é
isso que temos de mostrar“, terá dito no encontro.
Houve, também, quem fizesse uma análise
mais focada na táctica eleitoral. Adolfo
Mesquita Nunes, antigo secretário de Estado do Turismo e ex-vice de Cristas,
que se desfiliou do partido durante a liderança de Francisco Rodrigues dos
Santos (que não acedeu ao convite de Melo, tal como Ribeiro e Castro), defendeu
que o CDS dificilmente vai recuperar os eleitores
que foram para o Chega e, como tal, deve tentar provar que é um parceiro capaz,
sensato e responsável.
Lobo Xavier pede empenho dos
notáveis
Francisco Mendes da Silva, que se desfiliou por motivos idênticos, foi ainda
mais longe: o partido deve focar-se nos círculos eleitorais onde têm
possibilidade de eleger (sobretudo Lisboa) e ter uma narrativa sobre a
competência dos seus quadros, que os outros partidos concorrentes não têm, e
falar pouco de temas ou bandeiras — até porque não há tempo até às
eleições.
Numa sala onde estavam Nuno
Melo, Paulo Portas, Manuel Monteiro, Cecília Meireles, Nuno Magalhães, Isabel
Galriça Neto, João Almeida, Adolfo Mesquita Nunes Francisco Mendes da
Silva e Ana Rita Bessa, e a que se vão juntar, na quarta-feira, Assunção
Cristas, Mota Soares, Telmo Correia ou Diogo Feio, a intervenção de Lobo
Xavier causou particular interesse: em linha com o que defendera Mendes da
Silva — a principal marca do CDS é ser um partido de quadros.
Na sua intervenção ,o conselheiro de
Estado argumentou que essas figuras com notoriedade tinham de dar o exemplo e
demonstrar disponibilidade para integrar as listas de candidatos, uma ideia que
foi percepcionada por alguns como sendo a assumpção da sua própria disponibilidade para
o fazer.
De
resto, João Almeida, antigo deputado, ex-secretário de Estado da
Administração Interna e candidato derrotado nas eleições que deram a vitória a
Francisco Rodrigues dos Santos, disse mesmo que estava disponível para dar a
cara nos círculos eleitorais onde não fizesse sentido a Nuno Melo investir
tempo, atendendo à dificuldade para eleger um deputado. Resta saber se a
disponibilidade para ajudar será ou não concretizável e como. Para já, este foi
o momento para tentar relançar o partido.
CRISE
POLÍTICA POLÍTICA CDS-PP PSD PARTIDO CHEGA
COMENTÁRIOS:
Cisca Impllit: MMonteiro estava muito mais e bem arrumadinho no CH,
até tem lá o seu ideólogo, DiogoPAmorim: Bem faz , afinal, a IL não querer coligações destas. Lamento por pessoas como a Cecília Meireles, Lobo
Xavier, até por Paulo Portas, por exemplo, estes descaminhos pertinaz > Cisca Impllit: Onde foi
inventar essa do Monteiro??? JOHN MARTINS: Obviamente,
que faz todo o sentido estratégico e de contabilidade de todos os votos, num
saco comum.Só vantagens. E permitam-me que sugira, desde já, Cristas por Lisboa
em lugar de eleição e Cecilia Meireles no Porto também em lugar elegível. Não
sendo momento para vacilar, a coligação pré-eleitoral devia ser alargada a
independentes de renome e provas dadas na sociedade civil. P S D +
CDS + INDEPENDENTES [ X ]... ruijomarques47: É realmente um mistério da política como um partido
com tão bons quadros elegeu para lider o Chicão. Pertinaz > ruijomarques47: Parece-me que o chicão era o melhor deles… destruíram
o partido só para ficar com os cacos…
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