domingo, 9 de março de 2025

Nem a Igreja escapa


Aos assaltos graciosos aos princípios conservadores que desde sempre foram sua referência, como é, aliás, sua obrigação para com os chamados “fiéis” ou seguidores. Tudo se permite hoje em dia em termos de humor, desde que os humoristas pertençam à camada modernista destruidora do preconceito aburguesado, mesmo que apoiado na racionalidade clássica. JAIME NOGUEIRA PINTO não deixou escapar mais este exemplo da “espiritualidade” destes tempos de desordem mental, a merecer espanto.

A política do conclave

A eleição de um papa hermafrodita a surgir como inesperada manifestação do “Espírito” por puro oportunismo político-ideológico é toda uma outra (e demagógica) coisa. Não lembraria ao próprio Mafarrico

JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do Observador

OBSERVADOR, 08 mar. 2025, 00:1919

Nos Óscares, o “conclave” da Academia, nunca é a dúvida que faz a unidade, mas a certeza. Sabemos, à partida, que Hollywood, num ritual bem coreografado, irá de alguma forma celebrar a moral oficial e o pensamento correcto do momento, deixando escapar uma ou duas graças que dêem a todos a sensação de que comungam, não da unanimidade “liberal” da classe, mas de um certo activismo subversivo, sinal de progresso, de inteligência informada, sinal de que ali ainda se vai rugindo, qual leão da Metro-Goldwyn-Mayer, contra “a ignorância, o conservadorismo e as convenções”.

Mas, este ano, os filmes Conclave e Emilia Perez,que tinham uma orquestração mediática a empurrá-los para o sucesso (talvez por incluírem a causa da moda, com a eleição de um Papa hermafrodita, em Conclave, e a redenção de um assassino mafioso transsexuado numa santa mulher, em Emilia Perez), só tiveram um Óscar cada um: o de melhor actriz secundária para Zoë Saldaña, em Emilia Perez, e o de melhor argumento adaptado, para Conclave.

Num momento tão tenso para a América e para o mundo, esperava-se mais de Hollywood do que esta ténue derrota do patriarcado tóxico em dois dos seus “antros” – o coração da Igreja Católica e a máfia mexicana. Ou do que o comentário do apresentador, Conan O’Brien, para dar conta do sucesso do grande vencedor da noite, o filme Anora (à volta do romance entre uma “trabalhadora do sexo” russo-americana de Brooklyn e o filho de um oligarca russo): “Calculo que os americanos se entusiasmem ao verem finalmente alguém fazer frente a um russo poderoso”.

Do conclave anual da Academia ao filme propriamente dito

A história do Conclave baseia-se no livro homónimo de Robert Harris, um mais que bem-sucedido autor de best-sellers. Harris foi o autor de Fatherland (1992) e, mais recentemente, da trilogia Imperium, uma ficção baseada na história de Roma, na crise da República para o Principado. Fatherland, que li quando saiu, era um cenário de contra-história, em que a Alemanha de Hitler ganhava a guerra.

Na narrativa de Harris, Conclave começa com a morte de um Papa, talvez o actual Sumo Pontífice, já que o papa ficcionado de Harris morre na Domus Sancta Marta, uma residência para hóspedes do Vaticano, onde o Papa Francisco quis viver desde a sua eleição e onde mais nenhum papa tinha vivido.

Conclave é uma dessas fitas bem cenografadas e coreografadas, que nos transmitem um sentido de fidelidade àquilo que não vimos, mas imaginamos: é como o último baile de Il Gatopardo, de Visconti, ou a operática chacina dos trabalhadores grevistas na Greve, de Eisenstein, ou a carga de cavalaria em She Wore a Yellow Ribbon ,de John Ford. Os pátios e claustros de S. Pedro e do Vaticano, as portas a fecharem-se, as irmãs da caridade a precipitarem-se para o serviço, tudo tem um sentido ritual de certeza e de fidelidade ao que é ou ao que tem sido. É uma das forças do filme.

Outra das forças do filme é o deus ex machina do conclave, o cardeal-decano Lawrence, magnificamente interpretado por Ralph Fiennes, o do Paciente Inglês. Aqui Fiennes toma conta de tudo, da logística, claro, mas também dos problemas críticos que vão surgindo ao longo destes dias decisivos em que, para os que somos crentes, o Espírito Santo, através do colégio dos cardeais, escolhe o representante de Cristo neste mundo.

O Papa São João Paulo II, no seu pontificado, emitiu um regulamento actualizando as regras do conclave – a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, de Fevereiro de 1996, podendo os cardeais falar entre si do que quiserem, não lhes é permitido fazer lobby, influenciar os outros, dizer-lhes em quem votar. Neste Conclave não se respeitam essas regras. Não se faz outra coisa senão conspirar, enquanto Lawrence conduz, com eficácia e decisão, os trabalhos. Nesse aspecto, a forma é excelente para dar a temperatura do acontecimento e o suspense em relação ao resultado.

Nada disto impede que a intenção do filme não seja claramente ideológica, que o é, e maniqueísta, que também o é, com os esperados “maus” e “bons”. Os maus são os “conservadores”, o grupo de cardeais que, se conseguirem eleger o seu candidato, vão “atirar a Igreja para 60 anos atrás”. Os “bons” são os “liberais”.

Um dos conservadores é um cardeal africano que, a dado momento, fica à frente na votação. Mas abre-se uma mini-crise, quando uma das irmãs da caridade que presta serviço no conclave aparece profundamente perturbada, a ponto de deixar cair uma travessa na casa de jantar.

Lawrence investiga e obriga a renitente superiora (Isabella Rosselini) a facilitar-lhe acesso à raiz do drama envolvendo a freira; e descobre que o cardeal africano (africano mas conservador, logo, mostrando pouca caridade pelos seus irmãos “homossexuais” e “predador”) tinha tido, quando sacerdote, uma relação com a referida freira, da qual nascera uma criança. Lawrence confronta o cardeal e leva-o, renitente, a desistir do papado.

Com o conservador “moderado” fora da corrida, e um outro conservador – desmedidamente ambicioso, ardiloso, mentiroso e manipulador, como só os conservadores sabem ser – desmascarado, faltava o verdadeiro conservador, aquele que os “bons” tinham a certeza absoluta que não podia ser Papa  (sendo que esta certeza, como todas as certezas dos “bons” da fita, não se inclui na certeza má, contra a qual fala o decano como a maior inimiga da unidade). O cardeal italiano, de Veneza, o cardeal Tedesco (Sergio Castellito) é então esse conservador de caricatura. É um energúmeno que quer fazer a guerra aos muçulmanos, a quem chama animais, queimar as mesquitas, e expulsar os infiéis; e aparece sempre despenteado, descomposto e a fumar charuto. É um conservador imaginado pela Esquerda, como também podia ser um progressista imaginado pela Direita roncante.

Enfim, a orientação política do autor do livro é conhecida, bem como a sua ideia de que a política e o poder dominam tudo, mesmo uma assembleia dos mais ilustres prelados da catolicidade.

Vem depois a principal nota ideológica do filme – a certeza de que a dúvida é o grande sinal de fé e que a certeza é o grande pecado e o grande inimigo da “unidade”.

Ora a dúvida, a dúvida crítica, a dúvida e discussão do acidental, não há cristão que não a tenha ou possa ter, e até a dúvida de fé. Dúvida e fé, como escrevia Bento XVI, são realidades em que tanto “o crente como o não crente participam, cada um à sua maneira”, impedindo-os de “se fecharem totalmente em si mesmos”; e como alguém também diz no filme, o próprio Jesus Cristo, teve, como homem, essa angústia e essa dúvida na agonia na cruz. Porém, condenar a certeza como o grande inimigo da unidade, da santidade e da perfeição é já outra coisa.

A eleição de um papa hermafrodita a aparecer como inesperada manifestação do “Espírito” por razões de puro oportunismo político-ideológico é também toda uma outra – e demagógica – coisa. A narrativa, que até aí seguia uma agenda subliminar de propaganda, equilibrada pela forma e pela acção (mais de thriller político-policial do que de conclave) deixa de ser subliminar. Ir arranjar um papa hermafrodita (condição percentualmente raríssima) não lembraria ao próprio MafarricoMas fica a dúvida.

A Sexta Coluna      História      Cultura      Cinema

COMENTÁRIOS (de 19):19

Isabel Amorim: Muito boa análise como sempre de JNP. Vi o filme e a certa altura desconfiei que trazia água no bico, pensei é que seria um transexual. Cenários e actores bons mas previsível. Não acho piada a filmes que querem surpreender mas que acabam por ser previsíveis. Um flop... Mais do mesmo. Cansativo. Curioso não fazerem produção deste estilo com a religião muçulmana para variar, parece que só existe uma religião, a católica (ou cristã) ou então até se percebe a esta hora a probabilidade de começarem a explodir salas de cinema aleatoriamente seria também previsível e incómodo....            Miguel Seabra: Para ganharem o Óscar o papa tinha mesmo de ser transsexual, hermafrodita não chega….fica pra próxima….             António Fernandes: Acho piada não brincarem com outras religiões ou será por não quererem as 100 virgens no céu?        Luís Rodrigues: Do Conclave e de Anora vi recentemente cerca de metade da duração. Nos dois casos apercebi-me de que estava a desperdiçar esse bem precioso que é o tempo, e desisti de ver o restante. Embora o primeiro seja um produto mais bem confeccionado que o segundo, ambos ilustram a decadência do cinema, seja pelo seguidismo das modas ou pela simples inépcia.         Maria Emília Ranhada Santos: Muito importante artigo, pois o grande ataque neste momento é sem sombra de dúvida à Igreja Católica! Tudo serve para a tentar destruir, mas isso nunca vai acontecer e esta é uma certeza absoluta, porque foi o próprio Jesus Cristo quem o disse! Quem domina a CS em todas as esferas é o poder financeiro, está tudo dito! Há tempos li algo, já não sei onde foi, a dizer que o chefão dos maçons, tinha ido ter uma reunião com certos cardeais do Vaticano, para acordarem uma união entre as duas comunidades! Não sei se é verdade, mas a sê-lo, o que podemos mais esperar? Mas eleger um papa hermafrodita significa que é mesmo essa seta maçónica que está por detrás! Não é esse "papa" que certamente os cristãos verdadeiros vão seguir!      Jose Marques > Ruço Cascais: Vai de retro fedorento!

 

sábado, 8 de março de 2025

Como sempre

 

O dedo nas feridas, uma ironia de AG sem tréguas, demonstradora de uma profunda sabedoria humana, acompanhada de infindável liberdade crítica, de quem talvez, se inclua a si próprio nessa reflexão feroz e certeira sobre todos nós, comensais esperando sorrateiramente e indefinidamente o milagre da multiplicação dos pães.

A Europa armada em boa

Os estadistas que iluminam a Europa percebem que, por incrível que pareça, é preferível aliviarem-se de palavras de apoio a Kiev do que aguentarem com as consequências de um apoio real.

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

OBSERVADOR, 08 mar. 2025, 00:2015

Apesar da ajuda militar, financeira e humanitária dos EUA e da Europa, a Ucrânia está há três anos a resistir à Rússia sem grandes avanços no que toca a expulsá-la dos territórios invadidos. Alguns peritos defendem o desgaste do regime russo por esta via, embora não cheguem a acordo quanto à duração do processo, que em teoria pode ir dos seis aos trinta anos. O carácter vago do projecto não admira: por regra, trata-se dos exactos peritos que às quartas-feiras garantem que a capacidade russa está por um fio e aos sábados juram que, ou nos acautelamos, ou os russos atravessam os Pirenéus e entram por Vilar Formoso não tarda. No mínimo, a situação é pouco clara.

O que é claríssimo é a nova administração americana não pretender continuar a financiar ou a proteger a Ucrânia, pelo menos de forma activa e directa. Talvez isto se deva à suspeita, confirmada em numerosas cabeças, de que Trump é um agente ou um parceiro de Putin. Ou então Trump sonha, e bem pode sonhar, aliar-se a Putin para contrabalançar a influência da China. Ou Trump apenas se ajusta ao interesse do seu eleitorado, que não se interessa por despejar fundos avantajados num conflito a nove mil quilómetros de Washington. Ou outra hipótese qualquer. Ao contrário de tantos, não sei a resposta.

Sei é que, daqui em diante, a Ucrânia – ou, para ser rigoroso, a Rússia – ameaça ser uma preocupação exclusiva da Europa, o que, se formalmente é um golpe na tradição de os EUA nos salvarem do abismo e pagarem boa parte das contas, geograficamente nem é disparatado. Assim, após décadas de sono relaxado, os senhores que mandam na UE e em meia-dúzia de países passaram à acção.Acção” é maneira de dizer. Em voz alta, lançam frases bombásticas e, cada um por si para exibir coesão, produzem planos a um ritmo diário (por enquanto, vão em três: Europe Plus, Coalition of the Willing e, por meros 800 mil milhões, ReArm Europe; para a semana alguém deve engendrar um quarto e um quinto). Em voz baixa, rezam para que a América acabe por se envolver no assunto de alguma maneira e os livre de trapalhadas.

Donos de mentes privilegiadas, os estadistas que iluminam a Europa percebem que, por incrível que pareça, é preferível aliviarem-se de palavras de apoio a Kiev do que aguentarem com as consequências de um apoio real. O apoio real tem custos, materiais e, no limite, humanos. Sobretudo seria complicado conciliar os prometidos aumentos nos gastos da defesa com o conforto assistencialista a que nos habituámos. E mais complicado seria convencerem as populações a aceitarem a austeridade com a leveza com que partilham fotografias de Zelensky no Instagram. E suponho a impossibilidade de enviar para a frente de combate jovens que não esperneiem. ReArm Europe? Em 2024, as verbas que a Europa despejou na Rússia para compra de combustíveis superaram a ajuda à Ucrânia: os tropas do teclado são valentes, mas é escusado passar frio.

Não tenho certezas sobre a actuação de Trump, e os eventuais resultados da actuação de Trump, que com típica bravata jurou terminar num dia uma guerra que prossegue dois meses depois da tomada de posse. Tenho a certeza de que não devemos confiar cegamente nas boas intenções de criaturas que estilhaçaram cultural e socialmente o continente, que prendem ou ambicionam poder prender cidadãos por opiniões “on line”, que aceitam ou impõem a crença em 72 “géneros” como os mártires do Islão crêem nas 72 virgens, que sustentam a “Palestina” e ignoram ou partilham o anti-semitismo. E que, com espectacular coerência, passaram o primeiro quartel do século a armar, patrocinar e “apaziguar” Putin, tão apaziguado que nos intervalos das negociatas só invadiu a Geórgia e a Crimeia, além de assassinar opositores em Moscovo ou Londres.

É triste constatar que, enquanto a euforia épica não lhes sai do bolso e não os obrigam a pegar em armas e sair do sofá, milhões de entusiastas afirmam-se preparados para, em nome da liberdade, seguir criaturas cujos pergaminhos na matéria são algo escassos. A nossa sorte é que não devem ir longe: sob a neblina da bazófia, que possui em abundância, a Europa não tem união, não tem vontade, não tem dinheiro e não tem jovens. O que a Europa tem, e o Ocidente em peso também, é a tradição recente (tosse) de os governos domesticarem as massas com apocalipses sortidos, sejam climáticos, gripais ou, lá está, bélicos. O exercício “legitima” a crescente concentração de poder e, em simultâneo, distrai das humilhações a que essa concentração nos sujeita.

O provável é que o futuro avance por um de dois caminhos. Ou os EUA e a rudeza de Trump cozinham uma paz precária e injusta na Ucrânia, a repetição de um precedente arriscado na medida em que premeia o agressor como o premiaram em 2008 e 2014, ou por catastrófico milagre a Europa resolve mesmo enfrentar até ao limite uma potência nuclear. No primeiro caso, estaremos em perigo. No segundo, estaremos desgraçados. Ambos são caminhos escuros, e não foi Trump que nos deixou na encruzilhada.

GUERRA NA UCRÂNIA      UCRÂNIA      EUROPA      MUNDO      DONALD TRUMP      ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA      AMÉRICA      VLADIMIR PUTIN      RÚSSIA

COMENTÁRIOS (de 15)

José Paulo Castro: E algures lá pelo meio, AG menciona a raiz do mal europeu que é o seu - único no Mundo - modelo social assistencialista. Não tivessem criado esse 'progresso' insustentável em qualquer outra parte do mundo e poderiam estar a enfrentar os seus problemas. Assim, para o manter e aos votos que sustentam os líderes, continuam a criar novos problemas sem resolver os que já têm: demografia, insegurança, declínio económico.

Tristezas não pagam dívidas?


Julgo que sim, que pagariam se PASSOS COELHO, que é PEDRO, como o primeiro Apóstolo, escutasse a voz triste do povo, que dizem ser a voz de Deus, o que GIANLUCA LUBRANO Consultor, mestrando em economia da empresa e da concorrência no ISCTE Business School demonstra ser imprescindível, como único ser português que deu provas de capacidade – quer intelectual quer moral quer financeira, quer executiva em suma, de levar um plano de salvação económica e espiritual a bom porto, como fizera em tempos. Os portugueses precisam dele hoje, precisam desse seu sacrifício, Zelensky estrangeiro ou Nun’Álvares Pereira, nacional, patriota e arrojado e definitivamente despojado de um egoísmo - compreensível num ser comum, mas incompreensível num verdadeiro herói, como ele já demonstrou ser. PRECISAMOS DE PEDRO PASSOS COELHO, herói como os tais citados, amantes da sua PÁTRIA RESPECTIVA - PARA TIRAR PORTUGAL DA FOSSA EM QUE VEGETA… OU PURAMENTE SE ATOLA.

 

Pedro Passos Coelho? É Agora ou Nunca!

O legado de Passos Coelho prova que é possível reverter a trajetória de um país à beira da decadência. Portugal está disposto a encarar a realidade e apostar numa liderança competente?

GIANLUCA LUBRANO Consultor, mestrando em economia da empresa e da concorrência no ISCTE Business School

OBSERVADOR, 08 MAR. 2025, 00:13

Num momento em que uma crise política assola o país, com a iminente dissolução do parlamento nacional e eleições legislativas antecipadas para maio de 2025, torna-se imperativo reflectir sobre o modelo de gestão capaz de assegurar o resgate do país.

O actual panorama político, caracterizado pela fragmentação partidária, polarizações ideológicas e falta de reformas estruturais, exige uma liderança experiente, com visão e capacidade de decisão. A história recente demonstra-nos que um líder com esse perfil não é nada mais, nada menos, do que o antigo primeiro-ministro PEDRO PASSOS COELHO.

O Actual Contexto Económico e Fiscal de Extremada Pressão

Dados do Eurostat apontam que, em 2023, a carga fiscal de Portugal, sob o governo chefiado por António Costa, atingiu os 38% do PIB – um patamar significativamente superior aos 32%–33% registados na época de Passos Coelho. Este aumento reflecte uma dependência crescente do Estado sobre a actividade económica do país, sem que isso se tenha materializado em melhorias estruturais.

Actualmente, a Parpública (sociedade de capitais públicos) gere participações em 19 empresas presentes em diversos sectores de actividade, como o agropecuário e os transportes, que tradicionalmente apresentam margens reduzidas e pouca inovação. Entre as participações mais relevantes destacam-se os 100% do capital social da Companhia das Lezíriasuma exploração florestal e agropecuária – e 1% do equity da TAP, companhia aérea que tem sido financeiramente instável.

O legado do governo de José Sócrates é um país à beira da bancarrota, com a dívida pública a rondar os 120% do PIB e um défice orçamental próximo dos 10%, o que levou à necessidade de assistência financeira externa por parte da Troika de credores, do BCE e do FMI, num pacote de empréstimos totalizando 78 mil milhões de euros.

Perante este cenário, Passos Coelho foi compelido a implementar um programa austero e a cortar com as gorduras do Estado, promovendo reformas estruturais que incluíram a privatização de activos públicos e uma reestruturação da administração pública – incluindo o congelamento dos salários dos políticos.

Reformas Estruturais versus Medidas de Curto Prazo

Ao contrário do governo de António Costa, que apostou em medidas ad hoc e de efeito imediato – como a retirada de 80 milhões de euros do INEM para amortizar a dívida pública, numa altura em que o SNS atravessava uma crise severaa governação de PASSOS COELHO focou-se na sustentabilidade a longo prazo.

Mesmo em contexto de ajuste financeiro, houve aposta na racionalização dos gastos públicos e na criação de um ambiente mais favorável ao investimento, o que permitiu um crescimento das exportações e da competitividade económica.

Medidas de Estímulo ao Investimento e Competitividade

Entre as principais reformas adoptadas pelo seu governo destacam-se:

Privatização da EDP e da RENEm 2011, o Estado vendeu a sua participação na EDP à China Three Gorges Corporation por 2,7 mil milhões de euros, e a sua posição na REN a investidores internacionais. Essas privatizações, embora controversas, foram justificadas como forma de reduzir o endividamento público e melhorar a eficiência do sector energético. Em 2010, a EDP apresentou um EBITDA de €3.285 milhões e, em 2013, esse indicador registou uma melhoria, alcançando €3.672 milhões – sugerindo que a empresa se tornou operacionalmente mais eficiente e rentável após a privatização.

Reformas no Sector FinanceiroA privatização do Banco Português de Negócios procurou corrigir um dos maiores escândalos financeiros do país e trazer mais transparência ao sistema bancário.

Liberalização do MercadoA eliminação das Golden Shares na Portugal Telecom, na EDP e na Galp Energia permitiu um mercado mais competitivo e alinhado com as exigências da União Europeia.

Ajustes no IVAA taxa normal do IVA foi aumentada de 21% para 23% em serviços desportivos e culturais; A taxa intermédia subiu de 13% para 23% em sectores como a restauração. Já a taxa reduzida manteve-se nos 6% em bens essenciais, como medicamentos, garantindo a protecção dos consumidores.

Investimento em InfraestruturasA modernização do Porto de Sines impulsionou as exportações e reforçou a integração de Portugal nas cadeias de valor globais, sobretudo nos mercados da África lusófona e da América Latina;

Estas reformas foram decisivas para aumentar o peso das exportações no PIB, que passou de 29% em 2009 para mais de 40% em 2013, robustecendo o Export Growth Rate

Impacto da Consolidação Fiscal (Redução do Risco-país e Taxa de Juro da Dívida)

Durante o governo de PASSOS COELHO, o rendimento das obrigações do Tesouro a 10 anos caiu de valores acima dos 13% (em 2012) para cerca de 3% em 2015, sugerindo uma redução do risco-país e reflectindo a melhoria da credibilidade externa.

A relação Dívida Pública/PIB começou a cair a partir de 2014, reflectindo o impacto positivo das medidas de consolidação tributária.

Em suma, apesar dos elevados custos sociais, as reformas de PEDRO PASSOS COELHO foram essenciais para o reequilíbrio das contas públicas e para o reforço de sectores estratégicos, assegurando níveis de investimento público no sector da educação superiores aos dos governos sucessores, mesmo em tempos de crise.

Em contraste, os governos posteriores adoptaram medidas populistas, reduziram o investimento no parque habitacional público – mesmo com Portugal a registar a maior carga fiscal de sempre em percentagem do produto interno bruto – e impuseram uma austeridade que não foi acompanhada por reformas estruturais.

Visão, Segurança e Integridade

PASSOS COELHO destacou-se pela sua visão pragmática e capacidade de antecipar desafios. Desde 2016, alertava para a necessidade de um controlo mais eficiente da imigração, de forma a garantir a estabilidade social e económica do país – uma questão que hoje assume maior relevância.

Esse perfil contrasta com a liderança actual dos social-democratas, que se tem mostrado hesitante em assumir um posicionamento firme em questões estruturais.

Ademais, durante a sua legislatura, PASSOS COELHO manteve uma conduta ilibada, sem se envolver em escândalos, diferentemente dos episódios de suspeitas de corrupção e tráfico de influência que marcaram a queda dos governos de Sócrates e António Costa.

Após o seu mandato, PASSOS COELHO deixou a política para se dedicar à docência e funções académicas, ganhando credibilidade em contraste com os políticos que encaram a carreira política como vitalícia.

Num contexto político marcado por instabilidade e incerteza quanto ao futuro, o escândalo recente que envolve o primeiro-ministro Luís Montenegro e a Spinumviva – que culminou no chumbo de uma moção de confiança – ilustra de forma contundente a fragilidade que hoje domina a política em Portugal.

Adicionalmente, dados recentes divulgados pelo Tribunal de Contas revelam que a diferença entre as receitas futuras e as responsabilidades do sistema de pensões ultrapassa os 228 mil milhões de euros, ameaçando a sua sustentabilidade nas próximas décadas – fruto de anos de políticas socialistas que privilegiaram medidas populistas em detrimento da sustentabilidade fiscal.

Importa frisar que PASSOS COELHO procedeu a cortes nas pensões devido às imposições da Troika, enquanto o PS contribuiu para arruinar as contas da segurança social por via do populismo e de soluções de curto prazo, como a aposta excessiva em sectores de baixo valor acrescentado – tais como o turismo e a hotelaria, que, embora sejam importantes na captação de divisas, não promovem o desenvolvimento económico a longo prazo –, o que justifica, em parte, os meros 25.280€ do nosso PIB per capita no ano de 2024.

Desafios Futuros e o Cenário Improvável

Não obstante a experiência de PASSOS COELHO seja um exemplo de resiliência e de capacidade de resgatar um país à beira da falência, o seu retorno é bastante improvável, dada a proximidade das eleições e a dinâmica interna do PSD. Contudo, o debate sobre o modelo de governação de Portugal continua a ser urgente.

A seriedade de Passos Coelho é imprescindível nestes tempos de crise, pois ele reúne as competências indispensáveis para o resgate do país. Se Portugal pretende promover um futuro seguro e próspero, é imprescindível abandonar as soluções populistas e adoptar uma visão estratégica baseada na austeridade responsável.

O legado de Passos Coelho prova que é possível reverter a trajectória de um país à beira da decadência. A questão que se impõe é: Portugal está disposto a encarar a realidade e apostar numa liderança competente ou continuará refém de soluções de curto prazo?

A ausência de uma estratégia que assegure a criação de riqueza fará com que, assim que o superavit orçamental se esgote, sejamos forçados a recorrer às soluções do passado: aumentar impostos ou contrair dívida pública.

PEDRO PASSOS COELHO      POLÍTICA

sexta-feira, 7 de março de 2025

Amai-vos uns aos outros

 

A banha da cobra em definição blandiciosa, não para inglês ver, mas para prováveis alianças futuras do PS com os herdeiros desse comunismo antigo, para fortalecimento numérico eleitoral em caso de necessidade, sem preocupações de repúdio ideológico desmistificador. MARGARIDA BENTES PENEDO ousadamente refere os tais discursos angariadores da justa expressão numérica eleitoral, sem tibiezas preconceituosas inibidoras. Ou a democracia seria uma batata, caso não houvesse os ajustamentos definidores e tranquilizadores do savoir vivre ou do savoir faire habituais.

Não há simetria

PCP, Bloco e Livre reconhecem-se como herdeiros do comunismo. Não existe à direita nenhum partido que se reconheça a si próprio como herdeiro de intelectuais, forças ou regimes anti-democráticos.

MARGARIDA BENTES PENEDO Arquitecta e deputada municipal

OBSERVADOR, 06 mar. 2025, 00:1946

De novo a democracia. O Voto de Saudação ao Dia Mundial da Rádio apresentado pelo PS, e debatido a semana passada na Assembleia Municipal de Lisboa, deu uma discussão feia. Comemorada a 13 de Fevereiro (uma celebração recente, desde apenas 2012), a rádio teve e tem um papel importante nas sociedades e foi fundamental em vários momentos do passado, até para defender a democracia. O documento do PS era extenso, bastante completo, descrevia a história da rádio e o papel dela ao longo do tempo e dos regimes. Acabava mal. A chegar ao fim, glorificava o Partido Comunista.

Dizia assim o tal parágrafo:A Rádio Portugal Livre (RPL) foi outra emissora de rádio em português, criada em 1962. Emitia em onda curta a partir de Bucareste, durante o Estado Novo, funcionando como antena do Partido Comunista Português e de outros democratas”.

Magnífico. O PC “e outros democratas”. Um deputado reparou nisto e criticou. O PS respondeu explicando que quando escreve um documento, para o submeter a votação na Assembleia, tenta formular a prosa de modo a conseguir aprová-lo por unanimidade. Mas que, ainda assim, dispensa o voto favorável de partidos anti-democráticos, que considera “uma medalha”.

O PS felicitou como combatentes do Estado Novo alguém que pretendia instalar em Portugal outro regime igualmente repressivo, com as mesmas intenções autoritárias e totalitárias. Era com esta glorificação do PCP que o PS pretendia conseguir a unanimidade na aprovação do documento.

Chega a ser fascinante. O PS está convencido de que todos os partidos concordam com o engrandecimento do PCP. Significa que o PS está imperturbavelmente alheado do verdadeiro papel do PCP ao longo da história. Uma falsificação grave. Porque os eleitos e dirigentes do PS aliam-se com o PCP na Assembleia da República para constituir governos; e aliam-se com o PCP na Câmara para governar Lisboa (durante anos a fio); e continuam a considerar que as alianças com o PCP são favoráveis ao país. Mais. Os ilustres filósofos do PS pensam que as pessoas todas (excepto as anti-democráticas, mas essas não são propriamente “pessoas”) aprovam alianças com o PCP; e que o PCP é um partido mais democrático do que qualquer partido da direita. O PS está nisto e é pena, porque tem obrigações.

A certa altura, para se defender, o deputado do PS dizia que o comunismo tinha “cometido erros”. Os “erros” foram genocídios, como o Holodomor e outros; foram o Grande Terror de 1936-38 e os julgamentos de Moscovo; foi o massacre na floresta de Katyn, com a execução de polícias, oficiais polacos, intelectuais, e cidadãos comuns acusados de espionagem e subversão; foi a campanha anti-semita que prendeu, torturou, e matou médicos judeus, acusados de “cabala sionista” contra os dirigentes soviéticos. Foi o homicídio de Trotsky, com uma picareta enterrada no cérebro por Ramón Marcader, enviado pelo governo de Stalin; Trotsky, responsável pelo massacre dos marinheiros de Kronstadt, tornou-se depois “cúmplice do fascismo”, desde que Stalin passou a viver na sua rivalidade pelo poder russo. Não foram erros, foram assassinatos, foram milhões e milhões de mortes que o comunismo tem às costas e continua a ter, em vários países do mundo. Se o PS lhes quiser continuar a chamar “erros” está no seu direito, mas os eufemismos são para as crianças.

No fim destas medições manhosas sobre as credenciais democráticas dos partidos, é preciso dizer em voz alta uma verdade simples que o regime em peso finge não compreender. O PCP, o Bloco, e o Livre, pelo menos, reconhecem-se como herdeiros do comunismo, e herdeiros orgulhosos dos grandes intelectuais que inspiraram o comunismo (Lenin, Trotsky, Marx, Mao, e outros “democratas”). Em compensação, não existe à direita nenhum partido que se reconheça a si próprio como herdeiro de intelectuais, forças, governantes, movimentos, ou regimes anti-democráticos. Convém dar atenção ao que é importante. Tornou-se um mau hábito fazer uma simetria entre esquerda e direita que na realidade não existe.

COMUNISMO     POLÍTICA     EXTREMA ESQUERDA     PS     DEMOCRACIA     SOCIEDADE

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Ana Luís da Silva: Excelente artigo de Margarida Bentes Penedo! É salutar avivar a memória sobre o real significado histórico e político do PCP, assim como lembrar que o BE, o Livre e o próprio PCP são herdeiros das ideias responsáveis pelo genocídio de milhões de pessoas nos países onde a ideologia comunista chegou a ser implementada de facto. Erros catastróficos que a Humanidade fará bem em não querer repetir.                     Maria Paula Silva: Muito bom, MBP. Só há 2 hipóteses: ou são muito ignorantes ou muito desonestos. mesmo que não saibam História e o que se passou pelo mundo, era bom que soubessem ao menos o que se passou em Portugal desde abril 1974 até Novembro 1975: foram quase 2 anos de terror, que nada tiveram de democrático, em que se cometeram mais atrocidades do que em 40 anos de Salazarismo. Gente ignorante não devia ocupar cargos públicos.                    João Floriano: Muito bom! Se no CDS houvesse mais gente como Margarida Bentes Penedo, o partido não estaria na situação de irrelevância em que se encontra.    Jose Pires: Sem dúvida! Esta cultura de "receio" de dizer a verdade sobre a esquerda e sobre o real papel do PCP, que queria nada menos que impor o regime da URSS em Portugal, tem de ser finalmente denunciada até que as pessoas percebam o que está em causa com aquele partido e como o BE e Livre! Nada menos, que partidos fascistas/comunistas que glorificam ditaduras.             João Bilé Serra: Muito bem e muito bem escrito. Eufemismos são para as crianças. Sim, mas não só, nem na maioria dos casos. Para os mentirosos disfarçados também. E evito perder tempo ao elencar todos os psico de esquerda que o são. Nota: o PSD(ois) é de esquerda, "social-democracia" é uma das flores do comunismo.                 GateKeeper: Top 10. Gostei, pois conheço mal esse "mundo radió - fónico das " notícias" a granel. Para mim rádio era, é e será sempre música. Quanto às "comunidades" Esquerdalhó-wokes & liberalecas "de fio e cordel", a História tem sempre e só um sentido : o passado até à exaustão presente. Desde finais do século XIX que Portugal foi "entregue" a várias cliques, claques e clubes, das quais se aproveitaram nem meia dúzia em NOSSO proveito. Excelente crónica, como "de costume".                  Isabel Amorim: É destes exercícios de memória que MBR expôs muitíssimo bem que são precisos e urgentes, visto que a esquerda toda incluindo e sobretudo o PS encobre. Deveria ser obrigatório na escola saberem, mas sobretudo o PS insiste em remeter como se nada se tivesse passado, só se focando nos horrores do Nacional-Socialismo. Muitos dos actuais ditos socialistas transitarem dos partidos radicais de esquerda para o PS e não foi inocente a "suavização" como por exemplo o sinistro do Santos Silva. Sabem muito bem a história feia do que se fez mas catapultaram-se para cenários supostamente mais brandos para inglês ver. Na essência o que há de pior a sangue frio está lá. Sonham um dia poderem controlar o povinho todo à força bruta como viram os seus heróis fazerem no passado. Corja!                    Manuel Teixeira: Excelente.      Carlos Gonçalves: Muito bom.                     José Martins de Carvalho: Muito bem! O comunismo não "cometeu erros", praticou a violência que entende conveniente para atingir os seus objectivos, com absoluto desprezo pela vida e pelos direitos humanos. E, sempre que possam, os comunistas continuarão a fuzilar até à vitória final. Mesmo que se chamem "democratas" e até "livres".    Miguel Sanches: Clarinho como água. Muito bem.                 D. Garcia: Excelente artigo MBR ! Muito Obrigado pelas suas palavras que, isso sim, deviam figurar obrigatoriamente e de forma clara no ensino de História, mas possivelmente está enevoada. Ou até no de Cidadania para que as crianças e jovens possam ter a oportunidade de reconhecer sinais do que lhes pode trazer o futuro se não se precaverem daquele horrendo passado! Conhecer que afinal de contas Nazismo e Comunismo são duas faces da mesma moeda.           Coxinho: Muito bom, como habitual.

 

quinta-feira, 6 de março de 2025

Claro que não

 

Nem o Canadá, nem… Mas nunca se sabe bem, nestas coisas dos petróleos, já mais vezes o víramos, mesmo sem trumps a comandar então, mas outros idênticos, embora sem tanto aplomb. Basta que haja forças armadas a cederem as suas armações a esses tais, ou a quem mais ordenar, e o mundo muda, todo o mundo é composto de mudança ainda que sem ser como soía, mas sempre parecido, afinal. Daí que talvez o Canadá também, um destes dias

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Gronelândia

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Gronelândia não está à venda nem quer ser americana

"A Gronelândia é nossa. Não queremos ser americanos, não queremos ser dinamarqueses, somos gronelandeses", escreveu o chefe do governo regional após Trump ter feito um apelo directo aos gronelandeses.

AGÊNCIA LUSA: Texto

05 mar. 2025, 13:36 6 

Trump convidou o povo da Gronelândia a juntar-se aos Estados Unidos, alegando razões de segurança internacional, e afirmou que isso acontecerá "de um forma ou de outra"

MADS CLAUS RASMUSSEN/EPA

O chefe do governo regional da Gronelândia afirmou nesta quarta-feira que o território não está à venda nem quer fazer parte dos Estados Unidos, em resposta ao interesse na ilha dinamarquesa reiterado pelo Presidente Donald Trump.

“A Gronelândia é nossa. Não queremos ser americanos, não queremos ser dinamarqueses, somos gronelandeses”, escreveu Múte Bourup Egede nas redes sociais, citado pela agência espanhola EFE.

A mensagem de Egede surge horas depois de Trump ter feito um apelo directo aos gronelandeses num discurso no Congresso na terça-feira, uma semana antes de os habitantes da ilha irem às urnas para as eleições legislativas.

Trump convidou o povo da Gronelândia a juntar-se aos Estados Unidos, alegando razões de segurança internacional, e afirmou que isso acontecerá “de um forma ou de outra”.

Manter-vos-emos seguros, enriquecer-vos-emos e, juntos, levaremos a Gronelândia a patamares que nunca imaginaram ser possíveis”, prometeu.

Em resposta, Egede afirmou que os gronelandeses não estão à venda e decidem o próprio futuro na Gronelândia.

“Os americanos e o seu líder têm de compreender isso. Não estamos à venda e eles não nos podem comprar, porque o nosso futuro é decidido por nós na Gronelândia”, acrescentou Egede.

Desde 2009, a Gronelândia tem um novo estatuto que reconhece o direito à autodeterminação.

A reacção de Egede está em linha com declarações feitas nos últimos meses, desde que Trump tornou pública a intenção de conquistar a ilha e ameaçou a Dinamarca com medidas coercivas se não acedesse aos seus desejos.

As eleições legislativas na Gronelândia, a maior ilha do Árctico, estão marcadas para 11 de março.

O Governo dinamarquês também reagiu nesta quarta-feira às declarações de Trump, rejeitando a sua pretensão de incorporar a Gronelândia nos Estados Unidos.

“Isso não vai acontecer”, disse o ministro da Defesa, Troels Lund Poulsen, à emissora pública dinamarquesa DR, segundo a agência francesa AFP.

“A direcção que a Gronelândia quer tomar caberá aos gronelandeses escolher”, acrescentou.

De visita à Finlândia, o ministro dos Negócios Estrangeiro dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen, disse não acreditar que a Gronelândia venha a fazer parte dos Estados Unidos.

Rasmussen afirmou estar “muito optimista” quanto à decisão que os gronelandeses vão tomar em relação à Dinamarca e desvalorizou a afirmação de Trump de que a incorporação da Gronelândia acontecerá de uma forma ou de outra.

 “Estamos conscientes de que a Gronelândia, a Dinamarca e os Estados Unidos têm interesses comuns no que diz respeito à segurança no Extremo Norte e no Árctico e estamos dispostos a trabalhar com os nossos amigos americanos para alcançar este objectivo”, afirmou.

“Mas, claro, com base no facto de termos um reino dinamarquês”, sublinhou Rasmussen durante uma conferência de imprensa com a homóloga finlandesa, Elina Valtonen.

Trump disse pela primeira vez que queria comprar a Gronelândia em 2019, durante o primeiro mandato na Casa Branca (presidência), uma oferta que tanto o território autónomo como a Dinamarca rejeitaram.

A ilha árctica com dois milhões de quilómetros quadrados (80% dos quais cobertos de gelo) tem uma população de apenas 56 mil habitantes.

Os Estados Unidos mantêm uma base militar no norte da Gronelândia ao abrigo de um amplo acordo de defesa assinado em 1951 entre Copenhaga e Washington.

Além da localização estratégica no Árctico, a Gronelândia possui minerais de terras raras presos sob o gelo, necessários para as telecomunicações, e milhares de milhões de barris de petróleo por explorar, segundo a agência norte-americana AP.

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COMENTÁRIOS

J. Gabriel: Já não bastava PUTIN , agora também a América de TRUMP, a serem ladrões , É POR ISSO QUE TRUMP Defende PUTIN , SÃO IGUAIS

Liberales Semper Erexitque: Rejeitar a "oferta" americana é correcto, armar-se em independente da Europa é mesmo muito discutível, ainda-por cima com 50.000 caramelos numa ilha mais de vinte vezes maior do que Portugal. Não fazem nação nem país, não têm legitimidade para isso, e os dinamarqueses não deveriam ter cometido a tolice de lhes oferecer essa possibilidade. No limite, se houvesse lá uma família a viver, poderia afirmar que a ilha era sua!

Luis Silva: Os dinamarqueses, que nunca fizeram nada pelo território, devem começar por perguntar aos locais se querem a independência. O Trump trata do resto, pode oferecer 1 milhão de USD a cada nativo e ficam todos ricos.

Liberales Semper Erexitque > Luis Silva: Nos dias de hoje ninguém é rico com um milhão de dólares... Se fosse mandatado para vender a Gronelândia, vendê-la-ia muito mais caro do que isso.

luis doria: O Trump quer conquistar a Gronelândia e o Canadá (e o que se seguirá), tal como o seu amigo Putin quer conquistar a Ucrânia (e o que se seguirá).

Luis Silva > luis doria: Falar à toa. Não me lembro de Putin dizer alguma vez que queria conquistar a Ucrânia, depois das negociações de Istambul, quem disse que assinava o acordo e depois não assinou foi a Ucrânia. Desde daí já perdeu muito mais território.

Eduardo Costa: Este senhor já repetiu esta verdade mais de n vezes. Mas o Palhaço-Mor Donald Trump ainda não percebeu a mensagem.