Exigência, como tópico-primeiro, é
bonito de se dizer, mas quase impossível de concretizar, nas condições criadas
para um ensino massificado, que há muito toma a igualdade como ponto de mira… E
a desonestidade como característica que fundamenta a nossa idiossincrasia de timidez
e insegurança, que nos leva a malabarismos tortuosos para a realização pessoal,
de preferência a uma conquista da competência pela via da exigência própria, são
o ponto culminante a que tendemos, com pandemia ou sem ela. Mas pobres dos
professores, condenados a um ensino - presencial ou a distância - sem condições
mínimas para uma real eficácia. Pobres dos alunos, aparentemente conduzidos a
espaços de aprendizagem, que o excesso de indisciplina e, hoje, a situação de
confinamento torna irrisória. Salvo, evidentemente, aqueles alunos que têm
possibilidades materiais e educativas para sanar as suas dificuldades, tudo
parece treta, na questão do estudo por cá.
É por esse motivo que o texto de Paulo Rangel, por muito sério que queira ser, parece
pura teoria sem viabilidade prática, num país onde a mentira se impõe, onde,
para mais, se permite um AO achincalhador da própria língua – e do país
subserviente que o pode ou não utilizar. Ao gosto do freguês, pois.
OPINIÃO
Pandemia, educação, igualdade
A escola tem de ser exigente e não
facilitista e não tem de ter medo do ensino técnico e médio como um elevador
social mais expedito. O nivelamento por baixo só perpetua o efeito reprodutor
das assimetrias culturais e sociais.
PÚBLICO, 16 de Fevereiro
de 2021
1. Se
há debate virtuoso e cheio de virtualidades que a nos trouxe é o debate sobre educação,
igualdade de oportunidades e igualdade em Portugal. Embora arranque de uma
situação muito inquietante, a verdade é que a privação de aulas presenciais põe
a nu muitos dos desafios do nosso sistema educativo. Aquele que mais tem sido
posto em evidência é o da desigualdade e do papel da escola na sua superação. Já há vários
meses deixei aqui um rasgado elogio à intervenção cívica e até pedagógica de Alexandre Homem Cristo, Susana Peralta e Luís Aguiar-Conraria. São eles quem mais tem dado a cara no alerta para
o efeito reprodutor e até amplificador das desigualdades no ensino
à distância. Julgo que vale a pena, porém, olhar para o médio
prazo – para o horizonte pós-pandemia – e voltar a esta discussão. Durante
muitos anos escrevi nestas e noutras páginas e falei também no hemiciclo de S.
Bento sobre a relação entre a escola e a mobilidade social. O presente
contexto, ao dar ainda mais destaque às profundas assimetrias socioculturais
das nossas crianças e dos nossos jovens, mostra bem como é necessário olhar
para o sistema de ensino na óptica da mobilidade sociocultural.
2. A
sociedade portuguesa é ainda profundamente aristocrática, para recorrer à
terminologia clássica. E nesse sentido, bastante avessa e hostil à
mobilidade social e à prevalência do mérito. Não tomemos estudos
sociológicos, nem indagações estatísticas; quedemo-nos pelo “ambiente
envolvente”, pelas percepções que ele nos propicia e pelo modo como as
“interiorizamos”. Considere-se a obsessão com o tratamento por doutor,
engenheiro ou arquitecto para perceber como estão vivos – vivíssimos – os
resquícios da velha nobreza de toga. Ou tomar por referência a cultura
da “cunha” ou do “conhecimento” ou do “empenho”. Esse entorno de
proximidade e afinidade chega mesmo por vezes à velha “linhagem”, que
recentemente ficou bem documentada na multitude de conexões familiares que
grassava em torno do governo de António Costa e do poder socialista. Quando me
reporto aqui ao traço aristocrático – talvez fosse mais exacto dizer “oligárquico”
–, quero porém aludir à estratificação sociocultural que, a despeito das
muitas excepções que todos serão capazes de identificar, permanece basicamente imóvel
e congelada. Não sendo nem de perto nem de longe o único, a educação é
um dos principais instrumentos de superação dessas diferenças estruturais e de
promoção da igualdade de oportunidades. Nada disso, como há anos aqui
insisto, implica um nivelamento do ensino e, muito menos, um nivelamento por
baixo. É, de resto,
necessária a consciência de que desigualdades fundas e resilientes não vão
ser eliminadas de um dia para outro nem todas ao mesmo tempo. Para quem
almeje uma destruição quase revolucionária das injustiças sociais, nenhuma
reforma servirá, pois nenhuma deles realizará mágica ou automaticamente esse
desiderato. Uma sociedade que queira progredir acabará sempre por o fazer
apenas gradualmente, ainda que o deva fazer “aleatoriamente” e, portanto, sem
discriminação.
Uma
coisa tenho por certa: apesar dos muitos progressos que, ao longo de décadas, o
sistema de ensino português fez, ele continua a ser uma instância
reprodutora e até amplificadora das diferenças socioculturais.
3. A pandemia e os seus confinamentos
gerais obrigaram as escolas portuguesas a migrar para aulas à distância. Não vou aqui voltar à incompetência da total
falta de previsão da hipótese de um novo encerramento das escolas, nem à
vergonha das promessas feitas pelo primeiro-ministro e pelo ministro da pasta
sobre a compra de computadores
e, muito menos, à mentira descarada sobre a possibilidade de aulas digitais
durante os primeiros quinze dias de suspensão. Importa,
isso sim, sublinhar o modo como a pandemia e as absolutas insuficiências do
ensino à distância trouxeram de novo para a ribalta as grandes assimetrias socioculturais
que existem entre os nossos alunos. Assimetrias que, por um lado, reflectem as
desigualdades preexistentes, mas que, por outro – e esse é o drama –, as
conservam e até ampliam no futuro.
4. Em
contexto de pandemia, e dada a absoluta falta de preparação do governo, é
evidente que a forma de minimizar e remediar essas insuficiências é regressar
ao ensino presencial, assim que seja possível. Se a educação à distância e a
pandemia agravam desmesuradamente as condições de desigualdade, o certo é que,
mesmo com aulas presenciais a funcionar regularmente, essas condições
subsistem, ainda que menos ostensivamente. Insisto, pois, no ponto inicial:
se há algum efeito virtuoso nos graves malefícios que a pandemia infligiu ao
processo educativo é justamente ter reforçado enormemente a consciência
desta adversidade estrutural.
5. No
curto prazo, esta consciência implica um plano para regressar às aulas
presenciais e para recuperar as aprendizagens perdidas, em especial por parte
dos alunos que, na prática, ficaram apartados das soluções alternativas.
Mas, no médio prazo, temos de voltar a perfilar a mobilidade social (ou sociocultural)
como um dos grandes desígnios da escola. O que significa, desde logo, que a escola
tem de ser exigente e não facilitista – porque o facilitismo favorece sempre os
que dispõem de meios alternativos de aprender – e que a escola não tem de ter
medo do ensino técnico e médio
como um elevador social mais expedito. Muitos
dos mais canoros defensores da escola dita “inclusiva”, mesmo que bem-intencionados,
têm contribuído activamente para um nivelamento por baixo. O nivelamento por baixo só perpetua o efeito
reprodutor das assimetrias culturais e sociais. Há lições preciosas da pandemia
que valem muito para além dela. Oxalá não as esqueçamos.
SIM
e NÃO
SIM Carlos Ferreira de Almeida. Um grande jurista e um grande professor. De rara
inteligência, cultura, rigor e humildade. Um civilista que se atreveu na
filosofia da linguagem. Um cidadão virtuoso à boa maneira romana.
NÃO António
Costa e Marta Temido. Astúcia e duplo padrão. Sempre em propaganda a respeito
da simples administração de vacinas. Já quando se trata das suas, fazem tudo
para esconder e passar discretamente.
Eurodeputado
(PSD)
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EDUCAÇÃO OPINIÃO ESCOLAS ENSINO À DISTÂNCIA CONFINAMENTO DESIGUALDADES CORONAVÍRUS
COMENTÁRIOS:
EXPERIENTE: Diminuir
o número de alunos por turma faria toda a diferença. Isso
permitiria um ensino efectivamente mais centrado no aluno. Pregar preocupações
holísticas e falar na necessidade de adaptar o ensino a cada aluno é lindo mas
irrealista quando, com turmas de 28 alunos, um professor de Português ou
Matemática que dê aulas ao 8º ano pode ter 6 turmas... Um professor de
Geografia pode ter 10 turmas e ainda ter horário incompleto. Querer ensino
centrado no aluno quando um professor tem 200, 300 alunos ou mais não é
realista. Não é por acaso que o Norte da Europa perde menos tempo da
aula a tratar de questões burocráticas ou disciplinares: a Suécia tem
turmas de 15 ou 16 alunos. Se tiverem alunos com problemas ainda são mais
pequenas... O barato (turmas grandes) sai mesmo muito caro...
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