No fundo, todos os países impuseram
regras de confinamento. Caso o nosso governo não tivesse feito o mesmo, seria
acusado de levar os cidadãos à hecatombe mortífera. Assim, será acusado de os
levar, sobretudo, à hecatombe económica, apesar da mortífera. É certo que os
outros países têm outra estrutura produtiva e de submissão a regras de
responsabilidade pessoal e cívica que os fará erguerem-se mais rapidamente, já
que a nós nos falham as regras. É compreensível o desespero de AG, que sobretudo anota os absurdos das
imposições contraditórias, e tem razão nisso, mas não temos a certeza de que
outros governantes fariam muito melhor, contra uma doença proveniente de um vírus
invisível que deixará, talvez, marcas bem visíveis de degradação nos corpos e
nas almas. Mas é bom que existam escritores como Alberto
Gonçalves, que contribui para manter a chama de alguma inteligência nisto tudo.
Crónica aberta aos campeões do confinamento /premium
Nas democracias, a liberdade não é
condicional, nem ao pavor irracional de cidadãos, nem à cobardia inata de
políticos. Não admira que aqueles elejam estes, nem que gente tão fraca se
valha da força.
ALBERTO GONÇALVES,
Colunista do Observador OBSERVADOR,
20 fev 2021
Vamos
imaginar, como pedia o Lennon na época em que se disfarçava de faquir? Vamos
a isso. Imaginem que o governo conseguia acertar na maneira de combater uma
pandemia (embora a inépcia destes laparotos os torne incapazes
de resolver um surto de resfriado, e a desonestidade os convencesse a
açambarcar o paracetamol). Imaginem
que os confinamentos intermináveis e intermitentes eram a única forma de conter
a disseminação do vírus (embora, por engenho ou acaso, alguns países e territórios
com restrições muito menores o tenham “contido” muito melhor). Imaginem que os pormenores do estado de
emergência faziam sentido (embora prossigam misteriosos os
motivos de os transportes públicos ou as raspadinhas não contagiarem ninguém e
o comércio de água, livros ou peúgas sim).
Imaginem que a ciência estava realmente por trás das decisões tomadas e
impostas (embora eu desconheça o estudo científico que prova os
malefícios da vitamina D e as vantagens de atropelar a Constituição encerrando
as fronteiras aos autóctones). Imaginem
que os lares de velhos não existiam (embora existam, sejam a
origem de larga percentagem das vítimas mortais e permaneçam ao abandono sempre
que não são visitados por um governante em acção folclórica). Imaginem que a “informação” transmitida pelos
noticiários é uma cópia fiel da realidade (embora de facto
hesite entre a propaganda e o pânico, isto se houver distinção). Imaginem que havia lógica nos apelos para evitar
o famoso colapso do SNS (embora, por obra das “cativações” e do
genuíno amor do PS à coisa pública, o SNS tivesse colapsado muito antes da
Covid). Imaginem que as medidas de
controlo do vírus não causavam danos adicionais (embora causem,
e esses danos se traduzam em milhares de falências, por via do fecho parcial da
economia, e milhares de mortos por via do fecho parcial da saúde pública). Imaginem que o único empecilho ao sucesso das
ponderadas regras do dr. Costa seriam os delinquentes que teimam em
infringi-las (embora
só se contaminem entre si e nunca os cidadãos cumpridores, devidamente
enclausurados há semanas, meses ou quiçá anos).
Imaginem, afinal, que o derradeiro obstáculo à felicidade dos portugueses em
geral são alguns portugueses, os “negacionistas” e os desordeiros que mereciam
cadeia, precedida de espancamento firme.
Imaginem então os disparates que
quiserem, que eu faço o favor de, durante cinco minutos, fingir que vocês têm
razão. E se
vocês têm razão nas palermices acima (é a fingir, lembram-se?), também supõem
tê-la na consequência que mais vos interessa: a possibilidade de exercitarem o
pequenino poder típico dos frustrados e desatarem a insultar, denunciar e
idealmente punir os “irresponsáveis” que negam ou desafiam a sapiência dos
nossos governantes. É por causa dos “irresponsáveis” que estamos todos nesta
situação, não é? Por uns, pagam todos, não é?
Meus amigos (continuo a fingir, não se esqueçam), a vida em sociedade é
assim: as escolhas de alguns suscitam o transtorno, e frequentemente a
desgraça, dos demais. Ainda que
houvesse uma gota de razoabilidade em atribuir o desastre vigente às violações
do confinamento, apenas vos posso desejar saúde e bichas. Neste e nos restantes
desastres em que somos pródigos, nunca foi de maneira diferente. Um exemplo? De cada vez que alguém vota no PS ou nas
respectivas muletas de extrema-esquerda está a condenar o país à bancarrota e
uma data de inocentes a pagá-la sabe-se lá com que sacrifícios. Três quartos dos portugueses, pois, sofrem
sazonalmente na pele a irresponsabilidade do quarto de “negacionistas” que, à
semelhança das vacinas, sobra. E não se queixam. Ou melhor, queixam-se em vão,
porque, por absurdo que pareça (mas não é), as pessoas são livres de votar na
corrupção socialista e na demência comunista. Em
contrapartida, por absurdo que pareça (e é), em matéria de Covid as pessoas não
são livres de decidirem a sua existência à revelia dos palpites que saltitam
nos cerebelos do dr. Costa, da ministra da Saúde, da orquídea da DGS e dos
“especialistas” de serviço. E, se
comparamos os danos directos que provoca, em última instância a Covid é uma
brincadeira perante o rastro de destruição que fica quando o PS sai do poder
para ganhar fôlego e esperar que alguém limpe o esterco – e nem falo do governo
actual, cujo esterco será indelével. Em
suma, um sujeito saudável não pode abrir o negócio para vender café ou camisas
que logo lhe soltam os cães e a polícia em cima. Porém, um sujeito,
evidentemente desequilibrado, pode optar pelo eng. Costa ou pelo arq. Costa
para estraçalhar Portugal que tudo o que lhe acontece é receber um aplauso pelo
zelo cívico. É isto uma democracia?
Em democracia, eu não tenho o direito
de limitar o vosso voto, por prejudicial que comprovadamente seja. Mas vocês
também não têm o direito de limitar os meus movimentos, o meu trabalho e os
meus dias, por prejudiciais que discutivelmente os julguem. O problema é que os
meus limites continuam em vigor, e os vossos não. O problema é que isto já não é uma
democracia. Nas
democracias, a liberdade não é condicional, nem ao pavor irracional de
cidadãos, nem à cobardia inata de políticos. Não admira que aqueles elejam
estes, nem admira que gente tão fraca se valha da força. Sucede que o recurso
cego à força não define um regime minimamente civilizado: decreta o fim do que
tínhamos. CORONAVÍRUS SAÚDE PÚBLICA SAÚDE PANDEMIA
COMENTÁRIOS:
JB Dias: Nunca antes em lado algum se encontrou anarquista tão dogmáticamente
situacionista ... não admira que se afirme "inconformado"! Anarquista Inconformado: Parabéns A.G., conseguiste alcançar o patamar do
Ascenso. Reconheço que não é fácil mas tu chegaste lá. Cipião Numantino: Eheheheh! Soltei umas boas gargalhadas! E “acarditem”
que não é caso para menos. Coitados dos xuxualeiros e apêndices ao ler esta
divinal prosa do AG. Por mim acho mesmo que vão ficar a bater mal! O maior
dramaturgo brasileiro, Nelson Rodrigues, postulava “que a maior desgraça da
democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são a
maioria da humanidade”. Seja assim ou não, fica-se a pensar que por muita força
que a nossa ética democrática exerça, sempre nos resta um sabor amargo em que
acabamos por ser exasperantes vítimas de uma imensidão de imbecis. Certamente
já aconteceu a muitos dos que me lêem, sempre que trocam impressões com alguns
dos seus concidadãos, pensar para com os seus botões: pooorra, este gajo é um
completo imbecil, e não é que o voto dele vale tanto como o meu? Não me estico
mais quanto a este ponto, sob pena de vir imediatamente a ser atacado pelas
“vespas” xuxas e comunas chamando-me um abjecto “fachista” e outras coisas mais
que Maomé não se atreveria a chamar ao toucinho. Por isso, calmex pessoal. Não
se ofendam as virgens vestais esquerdosas, já que se tratou de uma boutade
minha que não passa para além de um mero desabafo, entendido? Seja como for, é
um pouco frustrante. E talvez ainda nos frustre bem mais vivermos no meio de
tanto retardado mental, ser obrigado ainda a compreender e aceitar os seus
ditames e, como corolário disto tudo, sermos para mal dos nossos pecados, governados
por gente ainda mais imbecil do que quem votou neles! Enfim, é o que temos nas
sociedades ocidentais que, do mal o menos, sempre será melhor que a piolheira
cubana ou da folclórica Venezuela. Mas que se torna bem assustador,
convenhamos, quando vemos alguns outrora bastiões da democracia, resvalarem em
direcção a estes perigosos engodos. E estou até convencido (talvez ainda seja durante
a minha vida) que teremos como “faróis civilizacionais” a actual Venezuela, a
Venezuela do Sul (Argentina) e a Venezuela do Norte (E. U. A.), numa espécie de
tríplice aliança que irá proporcionar uma espécie de “cloaca máxima”
ideológica, social e cultural, com uma pestilência ética e moral de tal ordem,
que ainda vamos ter imensas saudadinhas das desgraças atontadas emanadas do
Largo da Rataria. É isto. O OBS parece que não quer comentários longos e estão
no seu pleno direito. Conquanto nos vão permitindo deliciar-nos com os artigos
do AG e mais uns quantos, já não é mau de todo. PS- Os xuxarecos não param de
nos surpreender. São uma espécie de cucos que adoram colocar os seus ovos em
todo o tipo de ninhos e, posteriomente, claro derrubar os ovos dos outros. Um
laparoto que responde pelo nome de Ascención Simonetes, alvitrou que se deveria
derrubar o padrão dos Descobrimentos. Minha gente, vão por mim. É mister
derrubar esta gentalha antes que eles nos derrubem a todos nós!... Anarquista Inconformado > Cipião Numantino: Tu há muito, que atingiste o patamar do Ascenso.
Mas tens uma diferença notória, és chato
e comprido como o peixe-espada, E os assuntos que tratas são apenas uma forma
de passares o tempo a escrever umas lérias ocas e sem préstimo. Obrigado pelo
divertimento, revolucionário de sofá da banda direita.
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