terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Nada mau, se assim for


Para nós, portugueses, que por sistema nos acolitamos sob uma bênção qualquer, distribuidora de benesses, desde o Messias, responsável pelo milagre de Ourique, ao D. Sebastião, em cujo regresso se acreditou, nem percebo porquê, que afinal ele é que nos levou ao desastre, à Nossa Senhora de Fátima, e até ao Santo António para a protecção de Lisboa, e dos casais sob a sua égide… Cá por mim, bem posso dizer que vivi muito da dívida, que antecipava a realização dos meus sonhos, quer nas livrarias, quer nos móveis da casa e das máquinas ajudantes do meu conforto, além do carro. Mas, mensalmente, pagava as prestações dos débitos, escrupulosamente. Jamais me passou pela cabeça falhar nos compromissos. Por isso estas teorias, expendidas por Helena Garrido me causam repulsa. Amo o meu país, e desejo vê-lo sempre de "cabeça" erguida, pagando o que deve, como se fez no tempo de Passos Coelho.

Tempos em que regras prejudicam a recuperação/premium

As regras para a política económica estão desenhadas para tempos normais. O ambiente em que vivemos exige discricionariedade. O debate já começou em Berlim, Paris e na carta de mais de cem economistas

HELENA GARRIDO

OBSERVADOR, 08 fev 2021

Países como a Alemanha e a França começam a discutir as regras orçamentais e economistas desafiam o BCE a perdoar dívida. Sim, todo o projecto europeu é construído, e bem, em cima de regras. Mas no debate que opõe os defensores das regras e os da discricionariedade nas políticas económicas há um aspecto fundamental: as regras só garantem prosperidade em tempos normais. E nós vivemos em tempos excepcionais, de incerteza extrema, que aconselham liberdade de acção. As regras podem regressar depois quando reconquistarmos a nossa vida pré-pandemia em crescimento económico.

A recuperação europeia, tal como a portuguesa, não será em V. Na melhor das hipóteses será em W, com a quebra registada no último trimestre de 2020 a agravar-se nos primeiros três meses deste ano, já que boa parte dos países europeus continuam em confinamento mais ou menos estrito. A presidente do BCE, Christine Lagarde, na entrevista dada durante o fim-de-semana, considera que estamos apenas perante um atraso na recuperação e não face a uma ameaça, indiciando que a instituição poderá manter a sua previsão de um crescimento de 3,9% na Zona Euro, este ano, quando fizer a revisão agendada para o próximo mês. Embora tudo dependa do ritmo de vacinação que se vai verificar.

Uma das recomendações de Lagarde é que se retirem os apoios à economia gradualmente, o que é obviamente sensato. As empresas e as famílias têm estado ligadas à máquina dos apoios públicos e sua retirada precoce ou súbita vai gerar inevitavelmente um novo mergulho da economia. Diga-se, aliás, que mesmo que os apoios sejam retirados lentamente, não é certo que não se assista a uma quebra da actividade económica, com a declaração de falências e desemprego, assim que voltarmos à normalidade. Do que estamos a falar, quando se defende que os apoios sejam retirados gradualmente, é de moderar a dimensão do novo mergulho.

Neste momento, apenas a quebra do PIB se aproxima do que se está a passar na economia. As estatísticas do desemprego não nos dão qualquer retrato da destruição de postos de trabalho, quer pela definição estatística de desempregado – é preciso, por exemplo, ter procurado activamente emprego – quer porque muitas empresas estão artificialmente vivas sem a certeza de conseguirem sobreviver.

A recomendação da presidente do BCE entra contudo em conflito directo com as regras europeias, e até nacionais em países como a Alemanha, que limitam a margem de actuação dos governos. Estamos a falar de regras para as finanças públicas mas também das regras europeias para as ajudas de Estado. Mas podemos igualmente pensar na regra que proíbe o financiamento monetário da dívida – que impede que o BCE limpe a dívida dos Estados que tem no seu balanço e que Lagarde recusa aceitar por violar os tratados.

O Pacto de Estabilidade, com limites para o défice público e para a dívida, embora suspenso também para 2021 e possa ser estendido para 2022, mantém-se como uma ameaça para países como Portugal. Uma das razões para a reduzida generosidade dos apoios do Governo português pode estar no receio de, no próximo ano, ter de voltar à disciplina do Pacto – o que levou até ao absurdo de se ter gasto menos em 2020 do que o previsto quando se fez o Orçamento em 2019, sem se saber que havia pandemia. Podemos considerar que o Governo foi excessivo na sua “forretice”, mas temos de admitir que foi prudente ao olhar para o que pode ser 2022 – um cenário de terror, agora financeiro, e semelhante ao de 2011 se, de repente, regressassem as regras das finanças públicas. Na Alemanha as regras são ainda mais estritas de equilíbrio orçamental e limites ao endividamento.

O debate sobre a necessidade de flexibilizar essas regras, nestes tempos excepcionais, já começou. Em finais de Janeiro, o ministro francês das Finanças, Bruno Le Maire, defendeu que as regras do Pacto de Estabilidade, embora sejam importantes para os 19 do euro, “devem ser reavaliadas para terem em conta a realidade – uma realidade de elevados níveis de dívida, as mais baixas taxas de juro da nossa história e as mais elevadas necessidades de investimento da história”.

Praticamente na mesma altura o ex-ministro alemão das Finanças Wolfgang Schäuble disse, numa entrevista ao Financial Times, simpatizar com os que defendem que as regras do Pacto de Estabilidade devem ser revistas antes de voltarem a ser reintroduzidas. “Depois da pandemia muitas coisas serão completamente diferentes do que eram”, afirmou. E não foi o único. O chefe de gabinete de Angela Merkel já se atreveu a defender que fossem suspensas as regras constitucionais alemãs que limitam a dívida e o défice.

A linha de defesa da alteração das regras orçamentais vem também do FMI. Nesta entrevista ao Financial Times, Vítor Gaspar o ex-ministro das Finanças em Portugal e actual responsável pelo departamento de finanças públicas do Fundo defende que as “circunstâncias mudaram de uma forma que justificam que se repensem as regras orçamentais”.

Está assim aberta a possibilidade de reavaliação das regras do Pacto de Estabilidade e o debate na Alemanha, como se defende aqui também no Financial Times, é importante para perceber em que sentido iremos.

Do ponto de vista dos interesses portugueses, seria importante que essas novas regras fossem conhecidas rapidamente para que tenhamos a mesma margem de manobra na política orçamental, sem medo de, daqui a um ano ou dois, sermos apanhados pela disciplina dos mercados financeiros, por sermos classificados como orçamentalmente indisciplinados.

Uma outra regra, que está a limitar a margem de actuação dos governos, é a das ajudas de Estado. A política europeia de concorrência, bem o sabemos pela experiência que tivemos nos anos da ajuda financeira com efeitos no sector bancário, é uma das mais poderosas e tecnocratas da União Europeia. Mas também nestes tempos excepcionais, as excepções criadas até agora parecem insuficientes para que se concretizem as recomendações de retirada gradual dos apoios e até do seu reforço.

Num artigo publicado no Financial Times, a Dinamarca, a República Checa e a Áustria pedem que a União Europeia eleve os limites máximos para subsídios (800 mil euros) e apoios a custos fixos (3 milhões de euros). Um apelo feito para ter em conta os efeitos da terceira vaga da pandemia.

Finalmente, não menos importante, a regra que proíbe o financiamento monetário da dívida e que impede o BCE de anular os empréstimos aos Estados que tem no seu balanço. Na última semana, um grupo de mais de cem economistas de 13 países europeus assinam uma carta abertade Portugal é assinada por Francisco Louçãapelando a que o BCE anule a dívida que detém dos Estados-membros no seu balanço, para se financiar um plano de investimento europeu.

Claro que o BCE já veio dizer que o financiamento da dívida é proibido pelos tratados. Lagarde considera que afecta a credibilidade do euro. Mas este será também um tema que se manterá na agenda e ninguém se surpreenderá se o que se diz hoje como impossível acabe por acontecer. É igualmente interessante verificar que a presidente do BCE, ao pedir aos países gradualismo na eliminação das medidas de apoio, está implicitamente a dizer-lhes para não respeitarem as regras orçamentais, para se endividarem. O que põe em causa o futuro das regras europeias para as finanças públicas.

Toda a arquitectura europeia está pensada e construída sobre regras que têm como objectivo fundamental impedir que existam almoços grátis. Obviamente que as regras, mesmo sem ser na complexa construção europeia, são importantes em política económica.

Na política monetária, a par da independência dos bancos centrais, as regras permitiram acabar com o flagelo da inflação de finais do século XX. Na política orçamental, além de impedirem (ou tentarem) os almoços grátis no clube europeu, ao nível nacional combatem o enviesamento para gerar défices públicos que os governos têm, por via da sua perspectiva de gestão de curto prazo.

Numa conjuntura normal, uma política económica e financeira submetida a regras tende a gerar melhores resultados em matéria de crescimento. Mas quando vivemos num ambiente de incerteza total, como se estivéssemos no meio de uma tempestade com ventos erráticos, a discricionariedade, o poder de olhar para o problema e tomar a melhor decisão da altura para o resolver sem regras, acaba por ser a melhor solução.

Parece óbvio que quer a eliminação da dívida pública quer a flexibilização das regras orçamentais seriam um contributo importante para uma recuperação mais rápida e segura da economia europeia. O ideal seria que se tomassem decisões definindo desde já as novas regras. Tal seria especialmente útil para países como Portugal, que não se pode dar ao luxo de ter a política que devia, com medo do que possam ser as regras a seguir e, especialmente, sem saber se já estará em condições de as cumprir no pós-pandemia.

O que se defende não é o fim das regras nas políticas públicas, mas sim a sua significativa flexibilização até que os países saiam seguramente da pandemia e dos seus efeitos. As regras regressariam a seguir, quando a incerteza desaparecesse, mas, entretanto, garantia-se a recuperação e a prosperidade da Zona Euro. Sem pragmatismo e total liberdade de acção, a União Europeia corre o sério risco de ter uns anos largos de crescimento medíocre com efeitos não apenas sociais mas também políticos. No limite, pode colocar em perigo o próprio projecto europeu.

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COMENTÁRIOS:

Francisco Correia: Ora deixa lá ver como vamos resolver este assunto... Ah, já sei! Vamos fazer como os alemães nos anos 20 do século XX, que tinham uma dívida que chegava ao tecto por causa de terem perdido a Grande Guerra (nome à época) e vamos começar a imprimir Marcos, perdão, Euros como se não houvesse amanhã. O mercado, não acreditando na marmelada fará disparar a inflação e... O resto é História. É uma ilusão acreditar que há almoços grátis. Mais tarde ou mais cedo o mercado acabará sempre por impor a sua Lei. Andrade QB: Boa altura de trocar Euros por USD ou comprar ouro. Se o BCE vier a imprimir o papel necessário para cobrir toda a divida, mesmo que consiga que alguns dos credores engulam o pagamento em Euro, o Euro virá por aí-abaixo.         Paulo Guerra: A Alemanha depois de todo o mal que fez ao Mundo na WW II beneficiou de um perdão de dois terços da sua dívida pública, o que lhe permitiu voltar à prosperidade e assegurar o seu futuro, no espaço europeu.          Liberal Sempre em Pé > Paulo Guerra: Ih, não, outra vez essa treta... Há histórias infantis de tão boa qualidade, para quê escolher essa?         Paulo Guerra: Mesmo partindo de um princípio um bocado irracional que a UE não tinha aprendido nada com a última crise, desta vez estão em causa 4 das 5 maiores economias do euro. O que torna completamente impossível que só algumas das maiores economias, como a França e só para citar um exemplo, continuem a violar sistematicamente as regras, por baixo da mesa. Daí o tema flexibilização desta vez e dos sítios menos prováveis. Caso contrário era a desagregação total e, a posteriori capitulação do euro. E levando em linha de conta o impacto da pandemia em toda a Europa, com uma UE que não existia durante as grandes guerras e ainda assim surgiram vários planos económicos, mal era se desta vez não surgisse um grande plano de investimento europeu pós pandemia. Muito além da bazuca que não vai cobrir sequer os custos totais da pandemia. Ainda por cima, quando a UE se financia ao preço que se financia nos mercados como se viu com a primeira emissão de divida comum para financiar o programa europeu de auxílio ao desemprego o ano passado. Quem não se pode financiar são os países, cada um por si. A UE só sai de um buraco desta magnitude se sairmos todos juntos. E quem diz a UE diz as maiores economias do euro. O mercado comum europeu ainda é o mercado comum europeu.          Joaquim Moreira: Confesso que não li com muita atenção, esta crónica sobre os "Tempos em que as regras prejudicam a recuperação"! Mas julgo que percebi o essencial, para emitir uma opinião. Um dos grandes problemas da UE, não são as regras, são a sua diferente interpretação. O que, desde logo cria um problema, que é diferente de Nação para Nação. No entanto, até compreendo que perante esta específica situação, "as regras possam prejudicar a recuperação". Admito, portanto, que possam ser revistas estas regras, mas não a sua eliminação. Ou seja, que sejam feitas regras específicas para esta pandemia, e não para resolver problemas anteriores de cada economia. De forma a que não sejam beneficiados os infractores dos tratados. Ou seja, daqueles que andam sempre a ver se são apoiados, mas que não cuidam de cumprir muitos dos resultados acordados. Para que não haja na UE, os que apoiam e o que são apoiados. O que é diferente de serem ajudados, para conseguirem os resultados acordados. Para não serem acusados de serem os eternos beneficiados! Pelos que são chamados de frugais, avarentos ou os mais poupados! Paulo Guerra > Joaquim Moreira: O BCE depois manda uma fotografia dos títulos da dívida de cada país para todos os cidadãos europeus. E até podem escolher o período. Como por exemplo, alguns podem estar só interessados no período em que alguns privados malvados nos levaram quase à bancarrota como dizia o Massamolas. O Francisco Ramos é que vos topou bem.             António Duarte: A Europa deve aproveitar para atacar de vez a questão das regras financeiras que regem a União, centralizar os orçamentos, acabar com metade dos funcionários estaduais e 3/4 dos comunitários e instituir uma língua única de trabalho, consequências sérias para quem não cumprir (e ressalvar os casos em que isso pode ser feito) e que passariam necessariamente pela perda imediata da (remanescente soberania financeira) e, fundamental, a instituiu-se um sistema tributário europeu, deixando no máximo aos estados membros 20% da receita para decidirem como e onde gastarem. De outra modo, não acredito que os estados a sério (Alemanha, Holanda, Áustria, etc.) aceitem perdoar a dívida que e sobretudos dos países do Sul.             Liberal Sempre em Pé > António Duarte: Se não há soberania financeira, não há qualquer soberania. Esse será provavelmente o destino de Portugal, perder a independência.            Liberal Sempre em Pé: Boa piada! Discricionariedade é o que tem havido, e com fartura. O que a dama pretende é apenas MAIS discricionariedade! Típico xuxa.                Mario Areias: Será com certeza uma boa notícia o perdão da dívida sobretudo para Portugal. Haveria muito mais dinheiro para enterrar na TAP, muito maiores aumentos na função pública, RSI, pensões e aumento de todo o tipo de subsídios, porque é aí que estão os votos. Uma linha TGV para o Algarve, além da já prevista para o Norte, dois projectos de hidrogénio, um para Sines e outro para Matosinhos e ainda mais uns quantos projectos megalómanos para quaisquer autarquias socialistas que estejam em riscos de perder as eleições. Como disse uma vez uma ex-ministra da educação "era uma festa".               Clarisse Seca > Mario Areias: Este governo não tem emenda. Que passem as passas do diabo porque Sócrates estragou tudo, fez o que quis e ainda culpou os que vieram a seguir, da mesma forma que Costa culpou Passos Coelho com toda a lata! Agora que aguentem. Se houver algum pingo de brio nos Portugueses nunca mais votarão neste partido, nem nos geringonços que perderam eleições e usurparam o poder, justamente para se beneficiarem do poder à custa da desgraça dos Portugueses.      advoga diabo: Muito custa ao beatismo judaico cristão aliviar, e aliviar-se, do sentimento de culpa que os persegue! Está claro que, ao menos agora! este é o tempo de pensar muito mais no bem comum que no individual.    Maria Augusta > advoga diabo: Nos sabemos camarada xuxareco. Se há coisa que não apoquenta o gang é o sentimento de culpa. A cambada pode matar milhares de portugueses sem que isso lhes tire o sono. Para um xuxareco, a culpa é sempre dos outros!           josé maria: Foram sempre os keynesianos a recuperar os países das crises financeiras, económicas e sociais do liberalismo económico desbragado.         Francisco Tavares de Almeida > josé maria: O senhor terá noção dos disparates que afirmou?            Carlos Monteiro > Francisco Tavares de Almeida: São normais.           Alexandre Areias: Fala-se da eliminação da dívida como se a dívida fosse uma entidade abstracta sem existência própria e como se não existissem credores. Ignora com certeza esta senhora que, entre os principais credores dos Estados (e dos bancos que os financiam) estamos todos através das nossas poupanças e descontos para a reforma. É duma inconsciência e ignorância gritante achar que a eliminação da dívida, assim como é proposta com toda esta leviandade, não tivesse consequências brutais na economia que se diz pretender salvar. É exactamente o tipo de receita que a Argentina e outros como tal vêm seguindo (socialização das perdas do Estado) como os brilhantes resultados que se conhecem. Algo deste género iria ter enormes repercussões também do ponto vista social com muito do eleitorado em países “credores” como a Alemanha a virar-se para partidos que prometam o fim das transferências intra-europeias. Isto é, ironicamente, seria o passo certo para acabar com os princípios de integração e solidariedade europeia que têm sido a pedra basilar do projecto europeu.             Portugal, que Futuro > Alexandre Areias:  "inconsciência e ignorância gritante" é o que você escreveu. Isto não tem nada que ver com "as nossas poupanças e descontos para a reforma" ou com "países credores como a Alemanha a virar-se para partidos que prometam o fim das transferências intra-europeias". Se você tivesse lido o que Helena Garrido escreveu, o que manifestamente NÃO aconteceu, perceberia que o BCE é detentor de 25% da dívida pública emitida pelos diferentes Estados-Membros (Portugal, Alemanha, Holanda, Grécia, Itália, etc) e o que é agora proposto é o BCE entregar esses títulos de dívida a cada um dos países sem lhes cobrar por isso. Dada a sua COMPLETA IGNORÂNCIA nesta matéria - talvez fizesse melhor em optar por escrever sobre descascar batatas - não é seguramente redundante escrever que esta dívida nem sequer foi comprada aos diferentes Estados-Membros em mercado primário mas sim a outros participantes de mercado (investidores, etc) em mercado secundário ou que o BCE depois aumentaria o seu balanço com nova impressão de moeda como fizeram os EUA ao longo da sua História com a criação de bad banks para salvar bancos privados e outras empresas não financeiras.           Alexandre Areias > Portugal, que Futuro: Realmente sou muito ignorante mas ainda bem que temos gente inteligente, elegante instruída de quem podemos beber a sua imensa sabedoria. Já agora, porque eu sou um bocado lento nestas coisas nem tive a mesma oportunidade de aprender com os sábios, o que é isso de “devolver a dívida aos países sem custos”? Das duas uma, ou a dívida é pura e simplesmente cancelada (isto é os credores abdicam de receber os montantes de capital e juros que têm a receber), ou continua a existir e, como tal, a gerar custos e obrigações de pagamento. Ou será que a brilhante solução aqui proposta é o Estado do português ser credor de si próprio e pagar a dívida e respectivos juros a si próprio. Realmente brilhante, não sei como tal não nos tinha ocorrido!! Já agora, também, que quero aproveitar esta oportunidade única para me instruir, que diferença faz para o devedor e para a sua dívida e obrigações inerentes esta ter sido adquirida pelo actual credor no mercado secundário em vez de directamente no mercado primário? Continua a ser a mesma dívida e a acarretar exactamente os mesmos custos e obrigações a não ser que o credor abdique delas         João Paulo Silva > Alexandre Areias: Se quem detém a dívida é o BCE, esta encontra-se no seu balanço como um activo. A haver remissão da dívida (perdão), esse activo seria eliminado contra gastos e perdas no Balanço do BCE. Logo este teria menos lucros para entregar aos seus accionistas. O problema é que o país que é o maior accionista (Alemanha), com mais de 50% de capital não quer suportar o prejuízo desse perdão e deixar de receber dividendos. Na prática, estamos a viver choques assimétricos entre políticas monetárias que são antagónicas para países que necessitam de um euro fraco ao dólar (como Portugal para embaratecer as nossas exportações) e países que querem um euro forte (Alemanha), dado que as suas exportações, por serem de alto valor acrescentado, são menos sensíveis à valorização cambial (quem quer um Mercedes, compra um Mercedes). Esta operação desvaloriza o Euro, dado que, quanto à mecânica da execução, vão ser emitidos euros para compensar essa perda do perdão, retirando valor ao euro nos mercados cambiais. Resta saber se essa emissão não será do Euro digital. Agora uma coisa é certa, se os países pobres como Portugal insistem na solidariedade europeia (querendo na prática a mesma solução, mas por via do subsídio), tais países não saem do ciclo de dependência, pois quem está a financiar quer receber as contrapartidas e só estamos a empurrar o problema com a barriga para a frente. E não há estado social, sem haver dinheiro para o financiar. Com a indústria europeia deslocada para a Ásia e não estando a Europa na liderança tecnológica, não estou a ver onde se possa criar riqueza para sustentar essa utopia.         bento guerra > João Paulo Silva: Nem mais. Mas ,vivemos em tempos de infantilização (manipulação) do pensamento         João Paulo Silva,: O seu comentário merece ser respondido. Sem prejuízo do que eu possa acrescentar mais tarde, quando o tempo mo permitir, permita que escreva para já o seguinte. Os "accionistas" (note as aspas) do BCE são os Bancos Centrais da Zona Euro e NÃO os países (Portugal, Alemanha, etc). Desde a última revisão, em Dezembro de 2020, o Banco Central Alemão é detentor de 21,44% do capital do BCE e não dos mais de 50% que escreveu, o francês tem 16,61%, o italiano 13,82%, etc. Ou seja, a vontade do Banco Central Alemão pode ser contrariada, por exemplo, pelo voto conjunto em sentido oposto de França e Itália.       Mario Silva > Portugal, que Futuro: "Ou seja, a vontade do Banco Central Alemão pode ser contrariada, por exemplo, pelo voto conjunto em sentido oposto de França e Itália." Sim e não. Numa simples perspectiva de direitos de voto pode ser contrariada mas como a HG refere no texto há outras questões a considerar, nomeadamente os limites constitucionais que alguns países têm. Vamos assumir que a França, Itália e alguns países têm os direitos de voto para "contrariar" a Alemanha e os outros "frugais". Se essa decisão vai contra a constituição Alemã, como se resolve o impasse? Força-se a Alemanha a violar a sua principal Lei? É que ao contrário de alguns países como o nosso, violar a constituição tem consequências a nível legal, político, etc. Se fosse tão fácil como diz no seu comentário a crise de 2011-2012 teria sido resolvida de forma mais simples e célere, não acha? Como a Islândia fez, por ex.         bento guerra: Correu por aí e ainda está na net, uma entrevista a Mervin King ex-governador do Bank of England, sobre o que o Durão Barroso chamou "orgia financeira", que é a ideia de que a falta de dinheiro é só um problema de impressora. Os "Recovery Fund" vão aparecer a contento dos que estão agora no poder e que inventam necessidades pós-pandemia ,coisas como uma nova linha Lisboa-Porto, ou a nova ponte sobre o estreito de Messina, no caso dos irresponsáveis italianos. As poupanças serão corroídas         Manuel Magalhães: Segundo o que aqui se propõe isso é música celestial para os ouvidos de A. Costa e seus “compagnons de route” e nada admira que a tal carta tenha sido assinada pelo pendura Louçã, só que essa solução suporia que tivéssemos um governo responsável, coisa que neste momento não existe, isto iria permitir ao governo continuar com a sua propaganda e ao PS eternizar-se no poder com consequências inequivocamente más para o país, alguma flexibilização das regras e durante um determinado período, justifica-se, agora perdão de dívida nunca, além de que poderia provocar uma séria cisão dentro da UE entre os frugais e os irresponsáveis como nós....           Adelino Lopes: Almoços grátis? Isso já foi. E pelo que se vê não era o pior. Hoje temos almoços que ninguém come e irão para o lixo; por exemplo os pavilhões e as piscinas por esse país fora que ninguém utilizava antes da pandemia (não existem pessoas). E temos almoços que ninguém vê nem são controlados; por exemplo os empregados com cartão do partido nessas instituições públicas. Tudo isto implica muito dinheirinho desperdiçado. E depois temos défice e dívida. E a seguir ouvimos alguém clamar por “reavaliação do pacto de estabilidade”, “eliminação da dívida pública”, etc. Pergunta-se: para quê? “seriam um contributo importante para uma recuperação mais rápida e segura da economia europeia.”? Para mim, confirmado que está desde há 25 anos a esta parte, seriam um contributo importante para uma recuperação mais rápida e segura da incompetência dos políticos para voltarem com uma dose maior. Só isso. Portugal, que Futuro > Adelino Lopes: Equacione a possibilidade de poder aceder e ler o texto da Drª Helena Garrido na íntegra - seja qual for o meio que decidir utilizar - antes de escrever tantos disparates juntos num comentário tão pequeno. Claro que saber o que é o défice orçamental, o que é a dívida pública ou o que é o pacto de estabilidade europeu também ajudaria, mas para isso teria de entrar e estudar numa universidade algo que nunca fez ou nunca teve oportunidade de fazer.         João Alves > Portugal, que Futuro: Tanta arrogância. Na questão em debate não me intrometo, por não ser um especialista. Faço, apenas, uma nota de bom senso: qualquer dívida tem subjacente uma relação entre credores e devedores, cuja extinção normal resulta do pagamento. A remissão é, objectivamente, uma desculpa de mau pagador.          Adelino Lopes > Portugal, que Futuro: Vamos ver se percebi, porque nestas coisas, existe sempre um ponto de interrogação. Portanto, não li o artigo, não sei o que é o défice orçamental, nem o que é a dívida pública, nem o que é o pacto de estabilidade, nem nunca tive a oportunidade de entrar numa universidade, nem de estudar numa universidade. E sou eu que escrevo tantos disparates num pequeno comentário? Estamos bem. Às vezes quando a esmola é muita, desconfiamos. Neste caso, se te conhecesse, oferecia-te uma vela.         Nuno W: Mais um excelente texto , a dimensão da recessão, o afunilamento económico e das dívidas exigirão uma nova abordagem inovadora e pioneira. O bom senso e a racionalidade o exigem ...         Maria Oliveira: O perdão de dívida pelo BCE não vai acontecer, nem pode ter lugar face aos tratados europeus. Convirá a este propósito ler o que disse Christine Lagarde in L'annulation de la dette Covid est «inenvisageable» (lefigaro.fr). Pensem antes na correcta e rigorosa utilização do dinheiro que aí virá.       Luisa Lourenço: Mas que texto ... já agora eliminar as dívidas dos privados para eu me sentir realmente idiota por só comprar o que podia pagar e cumprir...é que eu, estranhamente, também estou a atravessar a pandemia ou será que se está a propor que a mim (e aos muitos como eu) depois devolvem o que pagamos para honrar os compromissos? Ou vão oferecer-nos as férias de sonho? E o carro fabuloso? Também vem? Ou vamos ser os parcos que pagaram. Esta proposta basicamente é a história das vacinas... os “espertos” é que a sabem toda... francamente!          Maria OliveiraLuisa Lourenço: É isso mesmo. O título do artigo diz tudo "... regras prejudicam a recuperação". Vamos todos ficar a dever aos nossos credores individuais: não pagamos as contas, etc.

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