Muitas vezes a denúncia obedece a um
propósito de vil subserviência perante o ilustre ou mesmo o sistema. Também pode
resultar de maldade, de gosto em lixar o parceiro, quando não é finta
exibicionista para mostrar zelo participativo ou subserviente. Mas parte de uma
característica positiva, que é a curiosidade pelo que nos cerca, e vá de
mostrar o resultado das nossas pesquisas. Há quem ganhe dinheiro com a sua
espionagem, mas é na espionagem de superior categoria, que o risco é maior, sem
dúvida. Nós, por aqui, fazemo-lo, de preferência, pela calada. Para não
ficarmos mal vistos. Mas Alberto
Gonçalves não perdoa, justiceiro que é, e agoniado como está, apontando os
exemplos da sua curiosidade denunciante, de férula moralizadora.
Os velhos pides da nova DGS /premium
Sinto-me mais unido a uma zebra ou a um busca-pólos do
que aos meus compatriotas que se deleitam na arte da bufaria. É mau ser nazi,
comunista, ladrão, violador ou fã dos Trovante. É pior ser bufo.
ALBERTO GONÇALVES,
Colunista do Observador
OBSERVADOR, 06 fev 2021
Aconteceu
há dias um daqueles escândalos que duram duas horas e se esquecem em dois
minutos. Um sujeito que acabara de assinar um artigo a condenar a participação
em festas e ajuntamentos, particularmente na passagem de ano, foi apanhado a
participar numa festa ou ajuntamento, precisamente na passagem de ano. Ao que
li algures, o sujeito é “humorista” e “activista” LGBT, um manifesto pleonasmo.
Mas a identidade dele não me interessa. Interessa a rapidez com que o
denunciante se viu denunciado, quase uma inevitabilidade para quem se dedica a
tão reles exercício.
Uma das manias repugnantes
alimentadas pela Covid é a conversa de que sairemos “mais unidos” desta
provação. Primeiro, não há garantia de
que alguma vez possamos sair da opressão e da arbitrariedade que o governo
aproveitou para impor a pretexto do vírus. Depois, há garantia de que, ainda
que passe, toda a história deixará um rasto de desconfiança. E de nojo. E, se
tivermos sorte, de vergonha. Por mim, sinto-me mais unido a uma zebra ou a um
busca-pólos do que aos meus compatriotas que se deleitam na velha arte da
bufaria. É mau ser nazi, comunista, ladrão, violador ou fã dos Trovante. É pior
ser bufo.
Infelizmente, a Covid mostra-nos que há bufos em toda a parte. E em
toda a parte há medo dos bufos. É o
senhor do café que não serve café com pavor de que alguém vá “abrir a boca”. É
a senhora da loja que vende a tremer um par de peúgas “por causa das queixas”.
É o casal que, à cautela, não recebe os amigos em casa nem é recebido por eles.
É o dono do restaurante que é multado por servir três moços numa sala vazia. É
o homem que passeia sozinho na praia deserta e num ápice se vê rodeado por uma
brigada policial. E são todos os que delatam os desgraçados acima. E todos os
que, quando não conseguem delatar, seguem para as “caixas” de comentários a
reclamar punições exemplares – e até sangue – dos bandalhos recalcitrantes que
não “cumprem” a “lei”.
A “lei”. Enquanto
secam a espuma no canto da boca, os bufos fingem que a “lei” em questão possui
origem divina. Não possui. A “lei” a que se referem é apenas o rol de
delírios produzidos a cada manhã pela peculiar cabeça do dr. Costa, embalado
pelo indivíduo que ocupa Belém e “legitimado” pelos matraquilhos com que reúne
no Infarmed. Não há aqui vestígio de racionalidade (a não ser, por exemplo, que
a abolição da venda de água em “take away” ou a manutenção dos transportes
públicos sejam actos racionais): há prepotência, e é a
prepotência que os bufos se esforçam por ajudar a aplicar.
É,
aliás, um esforço a que se dedicam com evidente prazer. O bufo não é movido
por dinheiro, já que, embora as “autoridades”, da DGS à PSP, instiguem a
denúncia, que eu saiba ainda não a remuneram. O bufo não é movido por receio
do vírus, já que óbvia e coerentemente cumpre a lei e a infalibilidade
desta retira-lhe qualquer risco de se expor à doença. O bufo não é movido
pela devoção à saúde pública, já que não lamenta o brutal excesso de mortos
à conta de doenças um pouquinho mais graves que a Covid. O bufo não é movido
pelo amor ao bem-comum, já que não se oferece para partilhar o salário, que
julga garantido, com aqueles que empurra para a falência certa. O
bufo denuncia pelo simples gozo de acusar o próximo, a oportunidade dos
pelintras para exercer poder e achincalhar. O bufo e o regime em que o bufo
prospera têm objectivos comuns.
Não
vale a pena decidir se as ditaduras propiciam o surgimento de bufos ou se a
abundância de cidadãos desprovidos de carácter é indispensável ao advento de
tiranetes. O provável
é ambas as chagas se estimularem mutuamente. O facto é que o dr. Costa não
existiria sem uma vasta quantidade de pessoas que, após a gestão criminosa da
epidemia, a gestão ruinosa da economia e a gestão mentirosa da política,
continuam dispostas a servi-lo, através do voto e da delação. E essas pessoas
não espraiariam os seus baixíssimos instintos sem um “ambiente” propenso à
velhacaria. As “autoridades” e os bufos estão bem uns para os outros.
Mal
estamos nós. É claro que, um belo dia, os denunciantes acabarão denunciados e,
idealmente, enxovalhados e pobres e doentes como aqueles que perseguiram. É,
porém, um consolo fraquito. Entretanto, a tragédia de que foram cúmplices terá
causado uma miséria sem regresso nem remédio. Não falo só da miséria sanitária
ou material: mesmo que, por milagre, as coisas voltem ao velho “normal”,
sobrará sempre um desconforto, uma repulsa por partilharmos o país e o tempo
com criaturas profundamente deploráveis. Afinal, amanhã vamos cruzar-nos na rua
com os bufos de hoje. A menos que os bufos sigam o próprio conselho e fiquem em
casa até à eternidade.
CORONAVÍRUS SAÚDE PÚBLICA SAÚDE POLÍTICA
COMENTÁRIOS:
Olho Vivo:Viva os prevaricadores. Esses e que merecem consideração, com alguma sorte
acabam eles nos contentores mortuários nas portas dos hospitais e não os
bufos... abc def: Excelente artigo! Até doi ver
os nossos filhos crescerem neste ambiente doentio. As pessoas, perderam completamente
a noção da diferença entre o que é a obrigação moral de denunciar a injustiça,
crimes, etc, e a bufaria fomentada pela inveja e vontade sádica de prejudicar o
próximo. E esta perturbação na atitude dos portugueses têm vindo a ser
implantada já à algum tempo. Pelo nosso bem e sobretudo dos nossos filhos temos
que resistir, estar atentos.
Liberal Sempre em Pé: Certamente que levado pela emoção que nos despertam aquelas criaturas que mostram
uma vocação indómita para queixinhas ou bufos, Alberto Gonçalves comete alguns
erros no seu texto. O bufo, por norma, prefere evitar mostrar-se, e assim sendo, aqueles que
agora se dedicam apaixonadamente a denunciar os hediondos "crimes"
que Alberto Gonçalves tão bem descreve, não serão conhecidos em tempos
pós-covinhas. O mal-estar ficará, a figura do bufo desconhecido, ao qual,
naturalmente, não será erguida nenhuma estátua. Também não acerta completamente
D. Alberto quando afirma que "O bufo denuncia pelo simples gozo de acusar
o próximo, a oportunidade dos pelintras para exercer poder e achincalhar".
O bufo pretende de facto prejudicar o próximo, não apenas para exercer esse
poder, que pode sempre exercer de outras maneiras, mas para se ver a si mesmo
como participante de um poder do qual, de facto, objectivamente,
ele está excluído. Ele é um impotente que procura dessa forma, no poder grupal,
aquilo que não consegue de outra forma. Não é por acaso que essas pessoas
pululam nos regimes totalitários, é porque nesses regimes lhes é oferecida a
possibilidade de participarem. Muito do lastro fascista que segue agora o
deputado André fá-lo porque acredita que assim poderá participar num poder
factivo que não tem. É um triste erro, com os resultados históricos que nunca
param de nos surpreender. Ainda gostaria de acrescentar que a paixão de Alberto Gonçalves, como é
normal nas paixões, vai longe demais numa rejeição em bloco da denúncia e da
autoridade. Não é a denúncia que faz o bufo, é a vocação para ela, não é a
autoridade que faz o autoritarismo, é o abuso. Disso temos tido com fartura,
pensando apenas neste último ano. JP Miranda: Aos poucos vamos reunindo os
preceitos para termos uma república socialista, a bufaria, a delação é mais
uma. Nesses paraísos na Terra encorajavam-se filhos a denunciar os pais pois
Pai é o todo-poderoso e magnânimo Estado Hipátia Alexandrina: É nas situações difíceis, ou
pelo menos naquelas fora do comum, que o melhor e o pior de cada um se
manifesta e é nessas situações que o savandija típico floresce, resplandece e
medra. Depois da situação passada a "história" tende a ser
convenientemente maquilhada e acabam todos como heróis salvo meia dúzia dos
usuais bodes expiatórios - a título de exemplo temos o gigantesco
colaboracionismo em França, durante a Guerra, que deu lugar a fervorosos
"resistentes" e "anti-fascistas" brotando como cogumelos a
partir de 1944. Pessoalmente, já vi isso na Guerra Colonial, já vi isso durante o PREC,
volto a ver isso agora. Uma pessoa que eu respeitava há décadas como amiga - e
eu tenho cara de poucos amigos e o proveito de serem mesmo poucos, mas bons e
criteriosamente seleccionados - surpreendeu-me há dias quando soube que ela
tinha ligado para a polícia porque, da janela, viu quatro ou cinco pessoas sem
máscara e a divertir-se na rua. Parece que, para indignação dela, os polícias
não ligaram muito - terão certamente coisas mais importantes para se preocupar.
Fiz um corte na já curta lista, é claro. Entretanto, se este pântano não
se converter inexoravelmente numa distopia cavernosa e lodacenta, numa
Costolândia ou pior, espero para ouvir as "memórias gloriosas" dos
tempos do COVID. Liberal
Sempre em Pé > Hipátia Alexandrina: Há aquele velho clássico,
segundo o qual é nos momentos difíceis que realmente descobrimos os nossos
amigos. Por vezes há surpresas! Ursa Urso: Desobedecer é a única atitude
moral!!! Chega! Júlio
Vaz de Carvalho: Bufaria e lambe botas são algo endémico... Cipião Numantino: Infelizmente, caro AG, os bufos
não vão ficar em casa. Quanto mais não seja porque “rebentariam” se não puderem
exercer o seu mister que entremearão com a outra chaga nacional paralela que é
o culto da maledicência. Ou “clube de corte e costura” como muitos gostam de
chamar. Li algo sobre o aludido bufo. Que como esquerdista que é, reunirá muitas
das desgraças que tão gravemente particularizam alguns dos nossos concidadãos.
Mas não conhecendo o fulano em questão tenho algum pudor em exercer juízos de
valor. Não obstante se é o que aparenta, então, garantiria que estamos
conversados. Sem emitir tais juízos (afinal trata-se de um zé ninguém convencido
provavelmente que tem os olhos rasgados até ao fiofó), preferirei emitir alguns
pensamentos sobre alguns dos figurões que pontificam a outro nível e bem mais
nefastos do que ele. Provenientes da mesma tralha psicológica onde o dito cujo
se enquadra mas, convenhamos, com bastante mais “poder de fogo”. Ouvi por mero acaso
transcrições das escutas telefónicas sobre o bem conhecido processo Casa Tia e
que, à época, não me mereceram tanta atenção como agora. Pois bem, o que me
prendeu mais a atenção foi, sem dúvidas, as pretensas conversas entre duas das
principais e actuais figuras do estado. Ou seja, perante o aperto que a justiça
estava a fazer ao Dr. Pedrosinho, a imediata reacção de tipo gangue que essas
figuras exerceram. Assim, eloquentes telefonemas de alta aflição se
desenrolaram entre o Dr. Kostakovich, o Dr. Ferroso Rodrigão e outros, onde se
poderá ouvir aquele poema lírico que vai ficar nos anais da poesia portuguesa
do “tou-me kaggando para o segredo de justiça”. Pelo meio podem escutar-se
outras aparentes manigâncias com indicação para se accionar as influências de
um tal Dr. Guerroso (procuratore) que é, nem mais nem menos, um dos três irmãos
Metralha com que aparentemente contavam para raides (como se viu recentemente
parece que ainda contam) para controlo de danos judiciais ou projecção de
planos rocambolescos. Espantoso! Aconselho às pessoas que me lêem a procurarem no youtube essas
gravações, já que seria difícil historiar tudo isso aqui em pormenor e, de
resto, não me apetece lá muito ficar outra vez com os poucos cabelos em pé que
me restam ou suportar mais uma vez tamanha javardice. Ainda assim tiro à laia de
conclusão uma premissa e pergunto “Quo vadis Portugal”? Em síntese, temos pessoas ao
leme do estado que cometeram, aparentemente, algumas tipificações de crimes de
delito comum ou até contra o próprio estado de direito. No limite, deveriam
estar a ver o sol aos quadradinhos e de preferência que alguém atirasse as
chaves das respectivas celas fora. Como alternativa que, pelo menos, nem os deixassem
aproximar das entradas de uma simples repartição do estado, quando nem sequer
terão carácter para se tornarem confiáveis para simples administradores dos
condomínios dos prédios onde moram. Mas não! Aí os temos a mandar nesta cegada. Cheios e
ufanos de si próprios como é tão apropriado dos malandros ou trafulhas!
Isto vai de mal a pior e penso
mesmo que esta pandemia é dos males mais simples que aparentemente nos afligem.
Trágico! E além de trágico é
sordidamente asqueroso! A raiz do mal é o povão brutinho e distraído, estranhamente, lhes dar a sua
confiança. Mas pensando bem acho que estão bem uns para os outros!... Dr. Feelgood: O " coiso ", o Cipriano Numastício, está
atrasado..... Estará a namoriscadar ou já estará infectadado ? É sempre dos primeiros a verter
a verve repetitiva sensaborona.... Eduardo Fernandes > Dr. Feelgood: Lave essa cloaca antes de proferir o nome do mestre
Cipião. Inveja-lhe a qualidade, a sabedoria e a elevação. Leio com igual prazer
Alberto Gonçalves e Cipião Numantino. Espero pelas 6 feiras para ler 1 e outro.
Um privilégio que por si só vale a assinatura do Observador. Liberal Sempre em Pé
> Eduardo Fernandes: Ele queixa-se, mas está
doidinho à espera de poder ler o "Cipriano Numastício"! Lítio
Hidrogénio: Estes bufos que
se multiplicam por aí, são daquele tipo de sujeitos que telefonam à Polícia, se
por acaso vêem um cidadão a passear à beira-mar ou se descobrem algures um
grupo de jovens a divertir-se. Contudo se por acaso vêem um meliante a roubar
uma velhinha ou alguém indefeso a ser agredido, olham para o lado e não é nada
com eles. Pereira
Santos: Excelente.
Bufos e lambe-botas do poder é
o que mais se vê por aí. josé
maria: Mas o Alberto
Gonçalves convive muito bem com a moderação e eliminação dos comentários aqui
no Observador... Como acontecia no tempo dos bufos e dos pides... Ainda hoje me retiraram dois,
em que comparei as supostas "inspirações divinas" do AV e do Hitler e
aludi ao genocídio dos ciganos...
Liberdade Lusitana > josé maria: Acha, mesmo, que o Alberto Gonçalves tem alguma noção
das idiotices que os desocupados do costume vão escrevendo por aqui, o que é
que o algoritmo do jornal faz com elas e quem é o José Maria? josé maria > Liberdade
Lusitana: Algoritmo? A rejeitar selectivamente os comentários que lhe desagradem? Não
sabia que a algoritmia estava tão evoluída, se calhar pouco falta para que o
António Damásio venha dizer-nos que se transformou numa mente consciente. Dr.
Feelgood > Liberdade Lusitana: " descerebrados ",
descerebrados é a palavra d'ordem da " maria " quando escreve em
frente ao espelho. É um / uma triste vazia e carente de atenção, até se chora pela eliminação
- que deveria ser perpétua - dos seus " cu-mentários ".
Uma lástima que
temos que aturar tal como aos seus patrocinadores que ocupam as cadeiras do
poder.
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