Enquanto o Dr. Salles se informa na Internet sobre as
origens e evolução do Bloco de
Esquerda no tablado político nacional, procurei eu informar-me sobre o percurso
de Catarina Martins, no mesmo
tablado, pois não o entendi bem nas suas loas, apesar de eu própria reconhecer nela
uma boa capacidade de expressão, sempre pingando para a mesma banda, de resto,
que irresistivelmente me punham em ascese, tal a bondade – parcial que fosse –
que traduzia, e sempre exigindo mais e mais em prol dos deserdados, sem a
tónica do trabalho como gerador de capital, bla, bla, bla, mais fundado em
justiça na distribuição dos ganhos, bla bla…… De facto não entendi bem a
mensagem do Dr. Salles, procurando
desviar o percurso de Catarina
Martins, num sentido mais para o centro (?), ou mesmo para uma direita (?) em
que poria travão no discurso demagógico de alguns (?), num sentido mais
construtivo, afinal, para uma nação em vias de perdição a curto prazo.
O Dr. Salles lembrou-me Hércules, a desviar o
leito de um rio para satisfazer o rei Áugias, lavando-lhe os estábulos, sujos
de muitos anos, em apenas um dia, e cumprindo assim, um dos seus doze heróicos
trabalhos. Eu nunca teria pensado numa tal solução, de desviar o curso de Catarina Martins – para limpar
- e se limpar - do seu jeito de piedade unilateral, em prol de um esforço
múltiplo, num país que não é só de uns, é também de outros, e sobretudo dos
vindouros, que estamos a desgraçar… Não, não entendi bem o apelo. De bla bla
bla estamos todos cheios. E de virtude palavrosa também.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA A
BEM DA NAÇÃO, 04.02.21
Voz
bem colocada, discurso determinado e calmo, dicção clara, gesto sereno,
estética amiga, tem Vossa Excelência uma bela postura em cena.
Cena
em que o papel desempenhado corresponde à de líder de um conglomerado de
frágil coesão interna a que, por disfarce, chamaram Bloco mas em que o mais
efectivo elemento agregador é o real carisma de Vossa Excelência que não a
homogeneidade genética estratégico-doutrinária da intelectualidade «bloqueada».
E, neste domínio essencial, vou à «biografia autorizada» do Bloco, a Wikipédia,
donde extraio as passagens que me parecem mais esclarecedoras:
«Origens:
O Partido nasceu em 1999 da
aproximação de três forças políticas: a União Democrática Popular
(marxista), o Partido Socialista Revolucionário (trotskista) e a Política XXI (desde marxistas a
sociais-democratas de esquerda), às quais
posteriormente se juntaram vários outros movimentos. Qualquer
uma dessas forças definia-se como resultado de processos de crítica em relação
ao chamado «comunismo» ou «socialismo real», mantendo a referência socialista
através da reflexão e da discussão sobre a actualidade do marxismo. Membro do Secretariado Unificado da IV
Internacional, o PSR herdava a tradição trotskista, oposta ao estalinismo;
a UDP, marxista, apresentava-se como desligada de quaisquer referências no
campo comunista internacional, posicionando-se em ruptura com todas as
experiências de "socialismo real"; a Política XXI resultara da união
de ex-militantes do PCP, pelos herdeiros do MDP-CDE e por independentes. Na
formação do Bloco, juntaram-se ainda pessoas sem filiação anterior, mas que já
haviam mostrado identificar-se com os movimentos indicados, destacando-se, no
grupo inicial, Fernando
Rosas (a sua
antiga filiação no PCTP-MRPP havia acabado há muito).
Desde o início, o Bloco apresentou-se
como uma nova força política que não negava a sua origem nos três Partidos
citados e que tinha uma organização interna democrática, mais baseada na representação dos aderentes do que no equilíbrio partidário. A adesão de novos militantes, sem ligação anterior a
qualquer um dos Partidos originários, contribuiu para esse efeito.
O
Bloco foi incluindo ainda outros grupos e tendências: desde pequenos grupos
políticos, como a Ruptura/FER, até grupos que, não sendo organizações
políticas, são activistas constituídos já dentro do Bloco: feministas,
activistas LGBT, sindicalistas, ambientalistas, etc. O Bloco reivindica a
independência destes grupos em relação à política geral do Partido.
Entretanto, os Partidos constituintes entraram num processo de auto-extinção. A Política XXI tornou-se uma associação de
reflexão política que se exprime numa das revistas da área do Bloco, a
«Manifesto». O PSR também se extinguiu transformando-se numa
associação que se exprime numa revista, a «Combate». A UDP passou de Partido a associação
política e edita uma revista, «A Comuna».
Esta auto-extinção demarcou uma nova maneira de pensar na esquerda europeia e
mundial, visto que evidencia a vontade da construção de um Partido
plural e de acabar com o sectarismo característico deste tipo de pequenos
Partidos de esquerda. O Bloco de Esquerda foi o primeiro Partido com destaque
de Nova Esquerda em Portugal.» * * *
É,
pois, Vossa Excelência a protagonista do papel de «costureira» duma manta de
retalhos, de «editora»
de revistas potencialmente antagónicas, de «maestrina» de aderentes
ideologicamente vinculados e potenciais caudilhos das respectivas ideologias.
Ingrato, o papel que atribuíram a Vossa Excelência nesse lado
norte da cena em que prepondera a inveja,
o nivelamento por baixo até ao fracasso absoluto das instituições e à
frustração das pessoas como a História nos demonstrou sem necessidade de saltar
para fora do século XX.
E
assim é que, papel por papel, também a Vossa Excelência será fácil – mais
fácil, até – manter, como actriz experiente, a sua tradicional compostura, o
seu gesto sóbrio, a clareza da sua dicção, a calma firmeza do seu discurso se
mudar de local na cena migrando para o lado sul da dita cena onde urge
substituir barrigudos e façanhudos de carisma escasso ou nulo na defesa da
harmonia das classes, na virtude do lucro como «pai» do investimento, da
modernização e do progresso, na substituição da função «serviçal» do Estado
pela de regulador-fiscalizador, tudo num processo em que à tributação é
conferida a função principal de redistribuição da riqueza e não como punição do
sucesso. Será muito mais fácil desempenhar
este novo papel que ora lhe sugiro sem as guerras ideológicas que actualmente
lhe adivinho e, pelo contrário, em ambiente de serenidade típica de quem não
inveja o sucesso alheio.
É
que, na banda sul, o carisma que se perfila não me agrada mesmo nada.
Fevereiro de 2021 Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS:
Anónimo 04.02.2021: : Caro Dr. Salles da Fonseca, Perdoe-me a discordância, mas essa de considerar que a distribuição da riqueza é a principal razão de ser dos impostos custa-me a aceitar. De facto, numa leitura precipitada de J. M. Keynes, era isso que se ensinava no ISCEF, hoje ISEG, e, certamente, noutras escolas de economia. Pensar-se-ia, talvez, que estava encontrada a simbiose perfeita entre o "capitalismo" (visto como cada um por si) e a máxima cristã do "de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades". Rapidamente se viu o que sempre esteve à vista de todos: era, apenas, um bom pretexto para extorquir sem remorsos e gastar sem preocupação. Que os impostos implicam sempre a redistribuição de rendimento, é evidente - mas não necessariamente no sentido de atenuar desigualdades. Que, também, levem à redistribuição de riqueza, já é mais duvidoso. Um exemplo, não com impostos fiscais, mas com impostos sociais: as pensões. Hoje, em Portugal, vemos tantos e tantos a financiarem com as suas contribuições pensões de reforma que, eles-próprios, nunca terão. O nosso modelo redistributivo nas pensões é, na realidade, um processo de perpetuação de desigualdades na distribuição do rendimento. Os impostos existem, antes do mais, para financiar as funções de soberania. Com o tempo, a justificação foi estendida ao financiamento das infraestruturas básicas não tarifáveis e, mais recentemente, ao financiamento do combate à pobreza. Ora, só quanto a este último ponto se pode falar de "redistribuição do rendimento", mas com as necessárias cautelas. O combate à pobreza implica a transferência de rendimentos, como facilmente se percebe. Contudo, pode-se transferir rendimentos sem se estar a combater eficazmente a pobreza. É aquilo a que temos assistido nestes últimos quase 100 anos.
Francisco G. de Amorim 04.02.2021: Como o lixo tem uma característica especial: gosta de se agregar. Daí os lixeiros.
Adriano Lima 04.02.2021: Depois do seu relativo sucesso eleitoral, é possível
que o Bloco venha a perder progressivamente a consistência do cimento que por
algum tempo agregou as suas diferentes tendências de inspiração marxista. Será
preciso um factor externo suficientemente motivador para que não se dê o
arrefecimento da energia que alimenta as ilusões e os deslumbramentos
ideológicos dos seus militantes. Creio que a maior ameaça para o Bloco é o
sucesso de uma governação de centro-esquerda que dispense o seu apoio. Ameaça
estará também na clarividência cívica do eleitor que deixe de confiar o seu
voto a forças partidárias que fazem da política mais um festival de
trivialidades circenses que uma via para servir o país.
NOTAS
DA INTERNET: UMA BIOGRAFIA: CATARINA
MARTINS
Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
Catarina
Soares Martins (Porto, 7 de setembro
de 1973)
é uma linguista e política de esquerda portuguesa,
com o cargo de deputada
naAssembleia da República e Coordenadora
Nacional do Bloco de Esquerda.
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