segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

“NÓS”

 

Já era assim, no tempo de Cesário Verde, o “terror de lebre”. Só que hoje é mais sofisticado. Temos as vacinas da importação, a prevenir, mau grado as trapaças. Além de que já não há para onde fugir, também o campo está contaminado. Mas idêntico é, sem dúvida, o “terror de lebre”, que, ao contrário da fuga de outrora, nos confina e se reduz às previsões do futuro:

Foi quando em dois verões, seguidamente, a Febre
E o Cólera também andaram na cidade,
Que esta população, com um terror de lebre,
Fugiu da capital como da tempestade.

Helena Garrido não perdoa, (e assim os seus comentadores) que assim revelam o estado da nação, a que chegámos, de descontrole material e moral, mas no confinamento… de tartaruga… Embora, e voltando a Cesário, talvez possamos ainda pensar como ele, indiferentes e atrevidos, ou para não soçobrarmos já… Ele, sim, soçobrou, na sua juventude já não sadia... fisicamente falando:

E engelhem, muito embora, os fracos, os tolhidos,

Eu tudo encontro alegremente exacto…

À beira do precipício /premium

Estamos em colapso na saúde e a caminho da derrocada económica e do declínio moral. Nunca se imaginou o pesadelo que foi o mês de Janeiro. Sem que se veja coragem ou competência para corrigir os erros

HELENA GARRIDO

OBSERVADOR,01 fev 2021

A Alemanha vai enviar militares e a Áustria vai receber doentes para nos ajudarem a combater a pandemia, numa altura em que os profissionais de saúde e os próprios equipamentos hospitalares entram em colapso. Internacionalmente somos notícia por sermos agora os piores em novos casos e mortalidade por Covid-19, como nesta reportagem na CNN. Em Portugal, o coordenador do plano de vacinação, Francisco Ramos, resolve, em entrevista à SIC, meter-se na política partidária, em vez de encontrar uma solução para as sobras das vacinas e condenar inequivocamente quem fura as prioridades, já de si tão caóticas e a mudarem frequentemente. E acaba com um puxão de orelhas do Ministério da Saúde a ordenar que faça o que já devia estar feito: lista de suplentes para a aplicação das sobras das vacinas, respeitando a lista de prioridades, e anunciando medidas contra quem se arme em esperto.

O plano de vacinação foi desde a primeira hora criticado por não ser realmente um plano e por ter deixado os idosos fora do primeiro grupo. Com o tempo percebeu-se que, além disso, não se estabeleceram regras para as sobras nem se pensou na classe política. Atabalhoadamente está a corrigir-se a falta de orientações para as sobras, no caso da classe política também parece impossível correr pior e nos idosos foi preciso ter orientações explícitas da União Europeia.

Sim, em todo o lado se assiste a espertalhões que tentam furar as regras. O caso mais mediático é o do multimilionário canadiano e da sua mulher, que foram até a uma aldeia remota para se vacinarem, foram apanhados e correm agora o risco de ser presos. O problema dos nossos casos é termos no grupo dos que furam as prioridades responsáveis políticos como o presidente da Câmara de Reguengos, José Calixto, do PS, o presidente da assembleia municipal de Arcos de Valdevez, Francisco Araújo, do PSD e ex-presidente da Câmara que deixou de ser por não se poder candidatar, a vereadora do PS da Câmara do Seixal Elisabete Adrião e a directora do Centro Distrital de Setúbal do Instituto da Segurança Social Natividade Coelho e mais 126 funcionários. E ainda tudo o que se passou no INEM, quer em Lisboa como no Porto. De todo este universo apenas Natividade Coelho e o responsável do INEM no Porto é que se demitiram.

Será que ninguém percebe que isto não pode acontecer?

Juntemos a estes casos, por pequenos que sejam e alguns até compreensíveis – por exemplo, no caso do INEM – por falta de uma lista de suplentes, a confusão que tem sido a prioridade de vacinação que vai ser dada à classe política e temos o caldo certo para o populismo. Neste momento nem se percebe muito bem quem vai ou não vai ser vacinado no universo político. Se para todos é clara a prioridade que deve ser dada ao Presidente da República, ao presidente da Assembleia da República, ao primeiro-ministro e eventualmente à ministra da Saúde, já se torna mais difícil de compreender a generalização, que assume tal irracionalidade que um deputado como Jerónimo de Sousa não é vacinado e outros bastante mais novos são.

As prioridades de vacinação são aliás um mistério. Neste momento parece que finalmente se vai dar prioridade aos mais idosos, independentemente de estarem ou não em lares. Uma mudança que com certeza está relacionada com a decisão adoptada pela Comissão Europeia a 19 de Janeiro. Aí se estabelece como objectivo ter vacinadas, em Março, pelo menos 80%  das pessoas com mais de 80 anos e dos profissionais de saúde e de apoio social vacinados. E no Verão ter pelo menos 70% dos adultos vacinados. Porque é que não definimos os idosos como prioritários nunca iremos compreender, quando é bastante claro nos números que o seu risco de morte por Covid-19 é o mais elevado.

Este retrato, que nos transmite a ideia de que estamos em processo de degradação moral, num salve-se quem puder, que é a mensagem subjacente no comportamento de algumas pessoas com responsabilidades políticas, mesmo sendo apenas autarcas, antecipa um problema ainda mais grave, a de uma crise económica que pode ser muito mais grave do que imaginávamos.

Somos um país que tem uma parte importante da sua economia e do emprego dependente do turismo, não é novidade para ninguém. Um dos desafios que tínhamos pela frente neste Inverno era preparar-nos para o Verão. Trabalhar para dar do país uma imagem de segurança e organização, que tinha conseguido vencer a pandemia sem dramas e que tinha já boa parte da população vacinada. O facto de os ingleses estarem bastante acelerados na vacinação é uma vantagem, especialmente para o Algarve que tem nesse país um dos seus principais clientes turísticos.

Neste momento só com sorte conseguiremos salvar o Verão turístico. Dificilmente conseguiremos que o mundo se esqueça dos dados que nos colocam em primeiro lugar em novos casos e mortalidade por Covid-19 e das reportagens que mostram o colapso dos serviços de saúde.

Podemos ter, com elevada probabilidade, o pilar da recuperação que depende do turismo completamente perdido pela falta de coragem política de um Governo que faz do acordo de todos a prioridade, deixando para segundo plano a preocupação com os efeitos tardios e mortíferos das suas decisões. Porque não teve coragem ou foi incompetente, o Governo é o responsável por termos de estar mais tempo em confinamento – pode chegar até ao Verão, diz o Presidente –, pelo estado descontrolado em que está a pandemia, a somar mais de 5.500 mortes em Janeiro  e por uma crise que vai ser muito mais dura do que esperávamos. Resta a esperança de a vacinação começar a correr bem, não dando mais motivos para os riscos políticos que enfrentamos, não juntando à crise sanitária e económica uma imagem de degradação moral, de salve-se quem puder. Para já este mês de Janeiro não antecipa nada de bom.

PANDEMIA  SAÚDE  CORONAVÍRUS  SAÚDE PÚBLICA  VACINAS  GOVERNO  POLÍTICA

COMENTÁRIOS:

Adelino Lopes: Turismo? O INE refere que serão 13% do PIB. Sempre fui referindo que será muito mais. Diversas despesas não são incluídas neste item: coisas tão estranhas como por exemplo a revisão automóvel dos emigrantes; ou as cabeleireiras. E graças às bombas que rebentaram à volta do mediterrâneo, os turistas acabaram em Portugal. Mas, obviamente que o sucesso 2015-2019 foi nacionalizado pelos socialistas. Hoje, escondem-se atrás da pandemia. É sempre assim; os ministros aparecem nas Tv´s quando corre bem; quando corre mal, na Tv dizem que o populista/culpado é o outro. Vacinação? Isto não pode acontecer? Mas estavam à espera de quê? É a pergunta que faço a mim próprio. Portanto, temos uma task force que nem uma lista de prioritários soube fazer (não foram apenas os idosos; e os médicos privados que lidavam diariamente com a covid?); que não sabe onde as pessoas prioritárias moram (por exemplo a questão dos lares); cuja equipa de vacinação foi criada em cima do joelho, deixando de fora os profissionais do SNS já habituados a vacinarem; que deixa a responsabilidade da vacinação para pessoas sem qualquer responsabilidade (caso do INEM). E portanto isto era para correr bem, era? Mais; é possível que por exemplo a tal task force não conheça o nome, idade, etc, das listas de pessoas já vacinadas? Organização? Isto é anarquia. A responsabilidade cai todinha nos responsáveis governamentais que lá colocaram estes incompetentes. Mais; se esses responsáveis governamentais ainda não perceberam a incompetência (já deveriam ter substituído essas task force há muito), então o problema é nosso.               Andrade QB:Helena Garrido tem razão e é de perguntar-se do que valeu a pena as palavras sempre amaciadas e de tolerância para um declínio que, em primeiro lugar, foi moral. Portugal chegou a este pantanal a partir do momento em que os fazedores de opinião começaram de forma descarada a seleccionar à pinça os assuntos e a elogiar ou condenar o mesmo facto em acordo com a sua origem, de forma absolutamente miserável. Não se chegou a este estado de normalidade, em que governantes, dirigentes partidários, jornalistas e comentadores afirmam uma verdade alternativa em cima de inverdades constantes, da noite para o dia. Já nos seus tempos da Quadratura do Círculo a verdade era variável para António Costa e o ataque pessoal arma, altura em que ele próprio se escandalizava pelo carácter ser um parâmetro de avaliação dos políticos. Qual a surpresa agora?           Manuel Magalhães: A tal “task force” eu chamaria “freak force” dada a notória incompetência do seu chefe, que ainda por cima se arroga o direito de fazer comentários políticos idiotas e completamente a despropósito, só que infelizmente não é de admirar toda esta desgraça dado o indivíduo ter sido escolhido pela ultra esquerdista ministra da saúde e igualmente incompetente!!!            Jorge Martins: Este país não funciona. Faz de conta que funciona. Não estivéssemos nós integrados na UE e então seriamos a Venezuela do sul da europa. Já não andamos longe de o ser. Fazer porquê quando se pode fazer de conta?! Com um povo anestesiado, apático e abúlico o que interessa é fazer passar a mensagem de que se faz, de preferência sendo simpático. É a amoralidade que grassa e escapa sem o mais pequeno escrutínio que permite e possibilita tudo o resto. A competência de saber sorrir e reagir é muito mais importante do que a competência de prevenir e agir. Governados por sondagens e por votos de que tudo correrá bem, alegremente caímos no precipício. Vá lá que pelo menos é um precipício cor-de-rosa cheio de gente simpática. Incompetente, mas simpática.    André Ondine: O plano de vacinação está a correr como as declarações do responsável pelo plano de vacinação: um desastre e uma enorme irresponsabilidade. Mais um boy, mais um desastre. O aparelho de Estado está poluído de melhores amigos do Habilidoso, mestres na propaganda, trágicos na realidade. É por isto que quanto mais o país se degrada, mais o PS sobe nas sondagens. Este é o governo do PS, mas agora era importante ter um governo para Portugal. O PS está bem e recomenda-se. A taxa de desemprego dos militantes do PS deve ser muito reduzida. Já nem se fala da falência financeira do PS, como se falava há alguns anos. Eles estão bem. Nós, cá em Portugal, esquerda vamos indo pior. Não se pode agradar a todos. Será que o PR não percebe que enquanto o PS continuar a prosperar, Portugal irá sempre degradar-se mais um pouco? Não chega já? Isto não está já suficientemente mal? Acabe com isto. Tire-nos da frente a histeria provocante do Cabrita, as mentiras do Ministro da Educação, as mentiras da Ministra da Justiça, o vazio moral do Habilidoso. É difícil viver coabitando com gente desta estirpe, a estirpe socialista do novo século. À beira do precipício? Não. Já caímos no precipício. E o DIABO é ter o Habilidoso e o seu bando à frente do país quando estamos tão frágeis. Agora se vê a delapidação do Estado durante os anos das cativações Centeno. Não há pessoal nos hospitais, não há computadores nas escolas, nao há segurança, não há dignidade em lado nenhum. Vou mas é tornar-me militante do PS e ser feliz. Tenho inveja dos sorrisos do Habilidoso e dos seus acólitos. Quem bem que se deve estar no PS. Estou farto de Portugal, vou para o PS.           Cipião Numantino: A Drª. Helena Garrido é uma articulista moderada. A quem eu, reconheço, aqui há uns tempos e de forma quiçá apressada, rotulei como sendo uma articulista do tico e do teco, em síntese, que ora batia no tico ora batia no teco. Posto este preambular esclarecimento, ao ler esta sua crónica, fiquei literalmente com os cabelos em pé. Não se trata, efectivamente, de uma anti governamentista inveterada e, mais ainda, uma pessoa daquelas do contra seja o que for e ainda menos da omnipresente e tentacular fajuta agremiação que nos vai desgovernando. A coisa está definitivamente preta. E só uma larga franja população onde se situam maioritariamente os instalados, os distraídos e os mamões, parece não ter dado disso precisa conta. Uma grande parte do povalhão tuga não tem emenda. Fazendo jus aliás à presunção exteriorizada pelo célebre dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues que, afirmava “que a maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são a maioria da humanidade”. Não se compreende. Recuso-me a aceitar que este povão meio desmiolado acabe reiteradamente por entregar uma espécie de galinheiro ao mesmo bando de raposas que permanentemente o desgraça. Não sei se isto é o fado a que estamos condenados. Mas sei que temos neste desgraçado país uma espécie de princípio de Peter desde sempre figurando com os mesmos intervenientes. Sempre levam a melhor os habituais vendedores de banha da cobra onde, decididamente, a vergonha, a competência e a honradez não medram. E como uma desgraça nunca vem só têm, ultimamente, utilizado a arrogância que vivendo paredes meias com a completa incompetência geram uma mistura altamente explosiva. Aí temos o resultado. 1º. classificado mundial em infecções e mortes do couvinhas! Valha-nos isso. Pelo menos somos nº. 1 em qualquer coisa. E por mim desconfio, supimpamente desconfio, que em estupidez andaremos por lá bem perto! Que país mais tolo e aborrecido!... Ricardo Nuno: Portugal acordou histérico.

 

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