Encaixando na singularidade
do nosso exibicionismo pretensioso, quando falham o saber e a integridade… Mas
temos receio da desistência dos lúcidos… Como NP… Porque contra palavras
loucas, poucas existem por cá de orelhas moucas de marca. A degradação, pelo
disparate e pela passividade, impõe-se, aqui no sítio, também por conta da ignorância
e da geral indiferença, acomodada…
OPINIÃO: Os factos de Marcelo e o fato sem salvação de
Santana
O “fato” ortográfico de Santana está há muito no fio –
e não há remendo que o salve.
NUNO PACHECO PÚBLICO, 25 de Fevereiro de 2021
Muito antes de imaginar que viria a ser Presidente da
República (feito que bisou), Marcelo Rebelo de Sousa foi conhecido como “criador
de factos políticos”, tarefa que desempenhou afincadamente a partir de
vários jornais, para gáudio de uns e desespero de outros. Já Pedro Santana Lopes, politicamente formado no
mesmo PPD (hoje PSD) que Marcelo, viria a ser
conhecido pela criação de um “fato” ortográfico: o acordo assinado na Ajuda em
1990.
E “fato” porquê?
Porque foi ele quem escreveu, em 2012: “Agora ‘facto’ é igual a fato (de
roupa).” Acrescentando, em defesa deste raciocínio: “Mas também ‘caso’ (de
Justiça) é igual a ‘caso’ (do verbo casar) e ‘falta’ (no desporto) é igual a
‘falta’ (de carência). E nem vale a pena falar do que os nossos avós tiveram de
se habituar, para deixar de escrever ‘pharmácia’, palavra com tantas
tradições.” Se fosse ao dicionário, teria milhares de exemplos, tantas são as
palavras com dois, três ou mesmo dezenas de significados, no português como
noutras línguas.
Mas o que levou Santana a vestir aquele “fato” foi a
defesa do acordo ortográfico (AO90) no qual se empenhou. Num artigo publicado em
14/2/2012 no semanário Sol, Santana insurgia-se contra o facto de Vasco Graça Moura “desrespeitar” o AO90 na
Fundação das Descobertas: “Não é aceitável”, dizia. E dava exemplos de como se escrevia no
século XIX, afirmando que “a língua mudou e a pátria […] não acabou”, numa
bizarra confusão entre língua e escrita. Depois puxava lustro aos seus
botões, garantindo que foi Cavaco quem lhe entregou a tarefa de “negociar e assinar o Acordo Ortográfico”: “A
este propósito, Cavaco Silva foi peremptório: em seu entender, o Acordo Ortográfico
era essencial para que, no século XXI, o português falado em Portugal não
ficasse com um estatuto equivalente ao do latim.” É curioso que nem Cavaco
escrevia no dito acordo. Em casa, escrevia “à antiga”. Depois… “traduziam-no”.
Só Cavaco? Não, Santana também continuou a escrever
sem vestir o “fato” novo. O seu artigo no Sol, embora publicado em 2012, era
escrito na grafia de 1945. E com esta explicação, de incomensurável
descaramento: “Eu não escrevo os meus textos com a nova grafia porque ainda não
o decidi fazer.” (?!) Fê-lo mais tarde, quando quis puxar as orelhas a Marcelo
depois de o ter tentado fazer a Graça Moura. Sob o título “Os Presidentes
também erram”, desta vez no Correio da
Manhã (3/5/2016), Santana atirava-se a Marcelo por este ter posto
em dúvida, numa visita oficial a Moçambique, a utilidade do AO90. E até terminava o artigo com
esta gracinha: “Qualquer mudança de posição nesta matéria mereceria uma
ponderação, um cuidado e uma sabedoria diplomática exemplares para Portugal não
ficar mal na foto... grafia.” Na verdade, por mais “fatos”
que experimente, é Santana quem fica sempre mal nesta foto… ortografia.
Primeiro, facto não é igual a “fato”, a não ser na
grafia brasileira. Ele próprio o reconhece, na recente carta de despedida do
partido que fundou, “A Aliança e eu”, ao escrever quatro vezes “facto” e
nenhuma “fato”. Além disso, para quem se bateu também por essa inutilidade que é o AO90, Santana mostra-se nessa
mesma carta ignorante
das regras do palimpsesto que nos fez engolir: a par de acordismos avulsos (“atuais”, “projeto”, “aspeto”,
“exceto”, “redações”), escreve “recta” com C em vez de “reta”; ignora os novos
ditames do hífen ao escrever “anti-sistema” e “anti-políticos”; ou mesmo os
antigos, escrevendo “cabeça-de-lista”, que não tem hífen em qualquer das
normas, à semelhança de “cabeça de cartaz”; e grafa todos os meses citados, e
são muitos, com maiúscula (Janeiro, Maio, Julho, Agosto, Setembro, Dezembro),
quando no acordo que se orgulha de ter assinado passaram a ser, claramente, sem
maiúscula.
Distracção? Não, ignorância. Três décadas após a
assinatura do AO90, nem um seu defensor e arauto como Santana Lopes sabe
escrever com ele! E os que pensam que sabem vão escrevendo numa mixórdia de
grafias ou até inventando, por excesso de “zelo”, palavras tão lindas como
“tenologia”, “ténica”, “abruta”, “compato”, “inteletual”,
“nétar”, “adatação”, “corruto”, “oção”, etc., começando até
(oh extraordinária evolução!) a transpor para a fala várias das aberrações que
escrevem, o que talvez torne realidade o disparate de dizer que “a língua
mudou”. O facto é este: o “fato” ortográfico de Santana está há muito no fio –
e não há remendo que o salve.
TÓPICOS
CULTURA-ÍPSILON OPINIÃO ACORDO ORTOGRÁFICO LÍNGUA PORTUGUESA VASCO GRAÇA MOURA MARCELO REBELO DE SOUSA PEDRO SANTANA LOPES
COMENTÁRIOS:
ipsolorem EXPERIENTE: Eu vejo com muita
preocupação o PÚBLICO contemporizar cada vez mais com o acordo ortográfico
publicando cada vez mais textos em acordês e permitindo também as invenções
aberrantes do Malaca Casteleiro como "robô" (que faz com que robótica
seja a disciplica que estuda... "robôs"). O Malaca Casteleiro foi o
mais pernicioso destruidor da ortografia e linguística portuguesa de todos os
tempos. Já está no outro mundo, enterrem-se as suas perniciosas obras.
Livremo-nos desta peçonha e voltemos a ser um país racional e normal! pg INICIANTE: É de louvar a sua defesa acérrima e
insistente da anulação do famigerado AO. As consequências desta inércia dos
responsáveis políticos na aprendizagem das crianças e jovens é devastadora.
Como é que não há coragem para travar esta barbaridade nas escolas? As editoras
são assim tão poderosas que se preferem gerações de analfabetos funcionais? josé bastos INICIANTE: E não é um facto
que o criador do AO se prepara para voltar a vestir um fato de PCM?!... José Luís EXPERIENTE: Não sabia que a
aprovação do desgraçado (des)acordo se ficou a dever ao famigerado Santana
Lopes. Rui Leite de Castro INICIANTE: Leio o Expresso
todos dias e já nem noto que ele é escrito com o novo AO. .... Os exemplos que
dá de palavras que ninguém escreve como ténica, compato, oção, e outras
pérolas, só mostram que já chateia e cheira a mofo a posição dos detratores do
acordo. Boa sorte! chagas_antonio MODERADOR. Não, está errado,
Rui Leite de Castro. Hoje, em Portugal, há quem escreva "contato",
"infeciologista" e "veredito", tudo formas consideradas
erradas pelo AO, mas que à boleia do mesmo começam a ser
"consagradas" pelo uso e por posturas como a sua. No Brasil, é pior
ainda: escreve-se (mesmo) "amídala", "arimética" e outras
coisas que tais. Mas não se preocupe: se não nota, não notou, nem notará quando
o AO for revogado. A sua opinião, portanto, conta pouco.António Marques INFLUENTE: De facto nunca se
viu que uma língua tivesse formas consagradas pelo uso. E é lamentável que
todas as palavras que usamos hoje sejam corruptelas de outras que em tempos
foram corretas. O que vale é que o digital, com a sua impossibilidade de
variações e de erros, vai conservar os códigos invariáveis para a eternidade... ipsolorem EXPERIENTE: O expresso foi
sempre o paladino das ideias do Malaca Casteleiro e aplicou o aborto
ortográfico ainda antes de ser assinado. Aplica em tudo menos em
"sector" que continua "sector" porque como em tudo o que
diz respeito ao AO, respeita-se só o que nos apetece e o resto não. Não
estranho que já não note nada depois de tantos anos de lavagem ao cérebro. mzeabranches EXPERIENTE: Temos de
continuar a denunciar este AO90, cuja inutilidade e nocividade são cada vez
mais evidentes. E há que destacar a responsabilidade dos políticos que, desde o
início, apadrinharam, em nome de Portugal, esta destruição da nossa língua. E
também de todos os que, estando actualmente no exercício do poder, eleitos por
todos nós, nos mantêm numa situação linguística e politicamente indefensável e
criminosa: «Não faz sentido mexer no Acordo Ortográfico. Eu, por mim, não teria
tomado a iniciativa de fazer o Acordo, mas não tomo a iniciativa de o
desfazer.» (António Costa, "Quadratura do Círculo", 08/01/2016). E a
Assembleia da República o que tem feito, perante os repetidos apelos dos
cidadãos? E a recente campanha eleitoral o que fez? Caiu a ditadura e não se
mudam os comportamentos?!... Jose Luis Malaquias EXPERIENTE: Nem sabia que
tinha sido PSL a negociar essa aberração do AO90. Mas condiz com o fraco valor
da personagem. António Marques INFLUENTE: Às vezes penso
que me seria confortável o mundo ser como eu gostava que fosse. Mas já está
demonstrado que no conforto a vida morre: é preciso que a água chova e evapore.
É o desconforto que nos faz mover e quando o ambiente está demasiado calmo, arranjamos
qualquer pormenor que nos indigne e ponha a mexer. É bom para a saúde porque dá
sentido ao nosso movimento: a perfeição suprema da divindade ao não criar nada
perfeito. O melhor mesmo é termos a convicção de estar do lado certo e o resto
do universo ser uma cáfila. Aliás, é sempre possível encontrar uma nódoa
exemplar no fato dos que não pensam como nós. jjjsr INICIANTE: Que
"poetaço" !!! Que faria um pobre agricultor se a água que chove se
evapore... Tanta conversa ... diga logo que é adepto do "fato",
homem... António Marques INFLUENTE: Lapso meu. É
óbvio que a água que chove vem do Céu... uma bênção a hidratar a Terra plana. jjjsr INICIANTE: Marques, não leve
a mal, mas tanta erudição a meter água, hidrataria muitas Terras INFLUENTE:
Nunca
levo a mal uma opinião. Às vezes até aprendo e mudo a minha. Mudo de mudar que
ficar mudo é mais complicado. Agora vou regar para outro lado. RosmaninhoINICIANTE: O acordo
ortográfico foi uma verdadeira aberração que apenas serviu a uma minoria. manuel.m2 INICIANTE: Assinou o Reino
Unido um acordo ortográfico com os Estados Unidos? Obviamente que não e os
Britânicos têm muita honra, (honour, e nao honor), de continuarem a falar e a
escrever "The Queen's English". 25.02.2021
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