O retrato moral de Esther Mucznik salienta-se em todo o texto seguinte -
de resposta a um coronel na reforma - Rodrigo Sousa e Castro, no caso presente - em frases plenas de conteúdo
racional e moral, como as seguintes: “o
passado de cada ser humano, tal como as condecorações, não os torna imunes e
intocáveis para a eternidade. São o reconhecimento de um passado, e não um
seguro de garantia para o futuro. Este depende do que nós fazemos dele”; “ E
sim, senhor coronel, também eu, à minha maneira bem modesta e errando
frequentemente nos caminhos, lutei contra a ditadura e pela liberdade. Mas
isso, o senhor não sabe, nem precisa de saber.” São frases reveladoras de
experiência, reflexão, modéstia e honestidade, que bem podiam penetrar no
espírito de muitos seres, galardoados ou não, que exploram as suas realizações
na vida com demasiado optimismo.
OPINIÃO Resposta
ao coronel Rodrigo Sousa Castro
Pessoalmente felicito-o por se ter
retratado, mas desta vez sou eu que me interrogo: e o pensamento que produziu o
tweet, também foi apagado?
ESTHER MUCZNIK PÚBLICO, 17 de Fevereiro de 2021
Na sua
resposta ao meu artigo “Há
anti-semitismo em Portugal?”, publicado neste jornal no passado dia
11 deste mês, o coronel na reforma, Rodrigo Sousa e Castro, interroga-se longamente sobre as motivações que me
levaram a escrever esse artigo, acabando por concluir que se trata de uma
espécie de “libelo acusatório” do tipo da “Santa Inquisição” contra a sua
pessoa, “ofendendo gravemente o meu carácter e fazendo tábua rasa de toda uma
vida de serviço”.
Desta
feita seria a minha vez de me ofender com as acusações do senhor coronel. Mas
não me ofendem, porque não me atingem. Prefiro explicar-lhe pacientemente que a
resposta às suas interrogações não estão em obscuros motivos da minha parte, mas
tão-somente nas suas próprias palavras atingindo os judeus de uma forma geral e
os “nazi-sionistas” também de uma forma genérica. Pessoalmente felicito-o
por se ter retratado, mas desta vez sou eu que me interrogo: e o pensamento que
produziu o tweet, também foi apagado?
Também
quero esclarecer que não pus nem ponho em causa o seu passado de combatente
contra a ditadura e pela liberdade. O que eu disse é precisamente o
contrário: é exactamente esse passado que lhe atribui uma responsabilidade
perante o presente e que torna mais graves as suas palavras. Contrariamente
ao que quer fazer crer, o passado de cada ser humano, tal como as
condecorações, não os torna imunes e intocáveis para a eternidade. São o
reconhecimento de um passado, e não um seguro de garantia para o futuro. Este
depende do que nós fazemos dele. Mas isso, o senhor não sabe, nem precisa
de saber
O
senhor coronel prefere ir por outro caminho: o de questionar a minha
autoridade moral pelo facto de nunca me ter visto “denunciar em tempo da
ditadura a ostracização a que foi votado Aristides de Sousa Mendes”.
Não
pude deixar de ler isto com um sorriso. Não só não era nascida no tempo em que
Sousa Mendes regressou à pátria e não passava de uma criança quando ele morreu,
como ao longo da minha vida adulta tenho defendido a sua memória, assim como
dos outros “justos” portugueses que salvaram os perseguidos pelo nazismo. E sim, senhor coronel, também eu, à minha maneira bem
modesta e errando frequentemente nos caminhos, lutei contra a ditadura e pela
liberdade. Mas isso, o senhor não sabe, nem precisa de saber.
Termino,
respondendo a mais uma acusação. A de não de “lamentar as injustiças
dos actuais dirigentes israelitas contra o povo palestiniano”. Mais uma vez, não tem razão. Sou portuguesa, judia
e sionista. Defendo a existência do Estado de Israel e
discordo das políticas seguidas pelo seu governo, e não é esta a primeira vez
que o digo ou escrevo em público. Mas nunca reconhecerei a autoridade nem a
idoneidade de quem quer que seja que se permita utilizar a expressão
“nazi-sionista”. Ela revela simplesmente a ignorância do que foi o nazismo e o ódio
engendrado por uma total cegueira ideológica.
Estudiosa
de temas judaicos
TÓPICOS: OPINIÃO
JUDEUS ISRAEL HISTÓRIA HOLOCAUSTO LIBERDADE
COMENTÁRIO: DemocrataXXI EXPERIENTE:E muito bem
respondido. É a incapacidade em distinguir e isolar, inequivocamente, o horror do
holocausto nazi, ao misturá-lo com outras temáticas, que conduz à 'banalização
do mal'. E ele está aí, de novo, a bater- nos à porta. Há dias, Rui Tavares, neste
mesmo jornal, fez notar do preconceito, em evocarmos o holocausto, como
experiência passível de repetição
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