Sem passado, para a camada política que
fabrica um Portugal novo… Sem futuro, na perversão desse homem novo…
O que ninguém confessa – a não ser entre
dentes, ou entre os amigos do peito - é que, quanto mais gente morrer,
sobretudo se da camada reformada, a pesar tanto na balança financeira do país,
mais se liberta o país desse peso e se favorece o prolongamento da vida dos que
vão restando, até uma redução de qualidade… O princípio do fim também passa por
isso, pelo genocídio encoberto. Desportivamente, nós os velhos e os doentes
incuráveis, aceitamos, desejando que isso apenas signifique o princípio da
renovação nacional, mesmo que com uma eutanásia transformada em morte natural,
para números mais redondos de limpeza étnica, como já se fez a descoberto, há
uns oitenta anos, mas entre nós apenas se faz encobertamente, que somos gente
de pudor. O texto de Helena Matos é explícito
destas anomalias, nos vários temas da sua indignação pela bacoquice cínica da
tal esperteza finória - «Os
brasões da Praça do Império? Já lá não estão – avisa Fernando Medina.
Eutanásia? Registe-se como morte natural. Mulheres a engravidar com esperma de
maridos já mortos? Projecto comum de parentalidade» - a merecer inúmeros
protestos dos comentadores (cerca de duzentos) que aparentemente se picam (e
interagem), por lhes assentar bem a carapuça… E assim vamos assistindo,
esperando a nossa vez, felizmente no deleite de leituras como esta de HM.…
São flores, senhores, são flores /.premium
Os brasões da Praça do Império? Já lá
não estão – avisa Fernando Medina. Eutanásia? Registe-se como morte natural.
Mulheres a engravidar com esperma de maridos já mortos? Projecto comum de
parentalidade».
HELENA MATOS, Colunista
do OBSERVADOR
OBSERVADOR, 14 fev
2021
Oficialmente
o Presidente da República está a fazer contas de somar e diminuir para ver se
lhe vale ou não a pena enviar para o Tribunal Constitucional a legislação
aprovada no parlamento sobre a eutanásia”
Mas
enquanto o Presidente se dedica às regras de três simples para determinar se
desencadeia ou não uma crise (no universo lúdico de Marcelo a presidência só
conhece dois modos: o festivo em que o Presidente anda aos pulos com o Governo
e o dramático em que provocará uma crise que leve António Costa a mudar de
governo), os deputados prosseguem na sua marcha destravada para a
criação do homem novo: “Portugal será um dos primeiros
países a permitir inseminação post mortem” — soube-se esta
semana. Ou seja após ter aprovado a eutanásia, o parlamento resolveu
legislar sobre o “projecto comum de parentalidade” que as mulheres viúvas
poderão manter com os maridos mortos através da inseminação do esperma
congelado. Não fosse o assunto tão sério e dir-se-ia que essas mulheres
precisam sim de ajuda para fazer o luto e não para engravidar de quem já morreu.
Toda
esta realidade virtual do “direito a morrer”, das mudanças de género, das
barrigas de aluguer ou agora do projecto comum de parentalidade com um morto
(durante quanto anos estimarão os senhores deputados que se consegue manter um
projecto comum de parentalidade com um morto?) nos chega embrulhada no papel
festivo do “Portugal na dianteira”, do “direito a”, da “correcção da injustiça”.
Nada
se pergunta. E tanto há a perguntar. Por exemplo, no caso de Portugal aprovar a
eutanásia a morte por eutanásia vai ser registada como morte natural como
acontece em Espanha? E como se pode saber quantas pessoas estão a morrer por
eutanásia se esta for registada como morte natural? A rampa deslizante também
passa por aqui.
O mais perturbante é que não só os
maiores atropelos são aceites como se de um fatalismo se tratasse como há quase
um incómodo quando alguém manifesta a sua discordância perante este tipo de
legislação, sobretudo se não o fizer ao abrigo da excepção católica.
Na prática age-se como se
estivesse inscrito no ar do tempo que somos obrigados a aceitar tudo isto como
se se tratasse de uma evolução pré-determinada, admitindo-se aos católicos que
demorem um pouco mais a chegar lá.
Este jacobinismo impôs-se pela sua agressividade mas não só. Para
este estado de coisas concorreu decisivamente o facto de quem se opunha a esta
agenda ter medo de ficar mal na fotografia e optado por adiar para um momento perfeito o afirmar das suas
convicções. Enquanto o momento perfeito não acontece vão-se tornando cada vez
mais irrelevantes.
É essa
inevitabilidade ou o espanto por uma vez ela não ter sido pressurosamente
aceite que encontramos nas declarações do presidente da autarquia de
Lisboa, Fernando Medina, sobre a retirada
dos brasões florais da Praça do Império. Argumenta Fernando Medina que em Belém
“não há nenhuma retirada de nenhum brasão” porque as flores já não
estão lá há muito tempo. Ou seja Fernando Medina recorre ao desleixo
da autarquia que dirige para justificar a mudança nos jardins de Belém. O
sentimento de impunidade de Fernando Medina é tal que nem sequer concebe que se
lhe pergunte: o desleixo nos jardins de Belém foi intencional? Visou que os
brasões se degradassem de tal modo que a sua recuperação fosse apresentada como
impossível?
O
que está a acontecer com os brasões do jardim em frente as Jerónimos é a mais
recente manifestação da táctica de primeiro deixar degradar para em
seguida apresentar o desaparecimento como um facto consumado, seguida pela
esquerda em relação aos espaços que considera serem memória do Estado Novo. Naquela zona de Lisboa a mesma táctica já foi
utilizada com particular sucesso no caso do Museu de Arte Popular (MAP).
Encerrado
logo em 1974, o MAP reabriu nos anos 80. Para arrelia do progressismo, os
visitantes acorriam em massa para ver os arados, cabanas de pastores, barros,
linhos, bonecos de Estremoz, as estranhas figuras saídas das mãos de Rosa
Ramalho, cestos, carros chorriões do Alentejo… que associavam à sua vida e à
dos seus pais e avós e não ao Estado Novo. Mas esta gente que se pudesse manteria Salazar
empalhado em Belém para se isentar de governar e manter-se no poder através do
anti-salazarismo como dedicação exclusiva, só via salazares e salazarismo dos
teares às almotolias e dos púcaros às almofadas de linho.
Até
que em 1999 o Museu de Arte Popular encerra outra vez. Desta vez por causa da degradação do edifício.
Gastaram-se 3,5 milhões de euros a recuperá-lo. Muitos terão acreditado que
o MAP reabriria de novo e melhorado. Mas não foi isso que aconteceu: em 2006, a
então ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, anunciou o fim do Museu de
Arte Popular naquele linguarejar triunfal que caracterizava o discurso dos
governos de Sócrates: “A vida dos museus não é eterna.
Eles nascem, vivem e morrem. Não devemos estar presos a uma atitude
conservadora. É preciso fazer opções quando se faz política cultural. Um museu
da Língua e dos Descobrimentos é mais aberto e mais rentável.”
Os jornais davam como certo que o
Museu da Língua e dos Descobrimentos ia estar a funcionar em 2008 nas antigas
instalações do Museu de Arte Popular. Como se sabe o Museu da Língua e dos
Descobrimentos nunca foi aberto. Aliás
neste momento a parte dos Descobrimentos também já foi censurada e passou a
Descobertas, em seguida a Expansão, posteriormente a Interculturalidade de
Origem Portuguesa e a última vez que soube dela ia em Viagem.
A
única parte concretizada do anunciado Museu da Língua e dos Descobrimentos foi
tão só e exclusivamente o encerramento do Museu de Arte Popular. Entretanto,
o acervo, o arquivo e a biblioteca do Museu de Arte Popular foram transferidos
para as reservas do Museu de Etnologia. Oficialmente, a título provisório.
Convém esclarecer que e ao contrário do que se possa supor ao ler as notícias
que se fizeram sobre esta transferência, o acervo do Museu de Arte Popular não
está exposto no Museu Nacional de Etnologia. Está sim guardado. E não está
guardado de modo a ser mostrado, mas sim preservado. Portanto, as visitas são teoricamente
possíveis mas na prática as limitações às visitas são inúmeras e quando
acontecem são devidamente acompanhadas de umas prelecções sobre os malefícios
do Estado Novo. Percebe-se portanto o espanto de Fernando Medina perante a
reacção que a retirada dos brasões da Praça do Império está a gerar: esta
táctica que tantos e tão bons resultados tem dado irá falhar desta vez? Não
pode ser!
PS. Depois
de se desculpar com o Natal, o primeiro-ministro desculpa-se
agora com a falta de “consenso científico” em torno da estratégia a
seguir no combate ao Covid. António Costa tem uma visão muito limitada do
que é a ciência mas tem uma visão muito apurada sobre fuga às
responsabilidades.
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HISTÓRIA CULTURA CÂMARA
MUNICIPAL LISBOA PAÍS POLITICAMENTE
CORRECTO SOCIEDADE
COMENTÁRIOS: Maria
Da Veiga: Sempre brava Helena! Temos pois um governo e metade do país com vergonha da
sua história. Creio que é o mesmo que renegar a família. E talvez por isso é
que o governo é em família! Assim acabam pequenos e irrelevantes. Assim
será Portugal, o General Ramalho Eanes, lúcido como o não são os costas,
medinas, jerónimos, catarinas, disse-o com veemência e eloquência- sem o
património do império, Portugal será mais pequenino que a Catalunha. Eu
tenho a sorte de ter nascido noutro continente e de ter dupla nacionalidade. A portuguesa
daqui a pouco desaparece pelas mãos dos párias que nos têm desgovernado. António Duarte: Neste país, legaliza-se a morte
antes de se nascer, antes do seu devir e o nascimento a partir de quem já
morreu. É obra.
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