segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

A máscara não tapa os tiques


Contra as demagogias dos pontos de vista dos bem-formados - segundo a convenção em uso - se impõe a avisada escrita de Helena Matos corroborada – ou não – pelos seus muitos apoiantes, os de esquerda estrebuchando, como previsto…

Já não se pode confiar no povo /premium

Sousa Tavares alerta para riscos dos emigrantes que “votam muito mais à direita”. Francisco Ramos a despropósito das vacinas ataca os “11% ou 12%” que votaram Ventura. Já não se pode confiar no povo.

HELENAMATOS

OBSERVADOR 31 jan 2021

O bom povo é de esquerda. Ao comentar os resultados das eleições presidenciais Miguel Sousa Tavares afirmou, com aquela sintaxe entaramelada que o caracteriza, a propósito do voto dos emigrantes: “Os poucos que votam, votam sempre contra aquilo que é o sentido maioritário do voto dos portugueses que cá estão. Nomeadamente, votam muito mais à direita, e ontem [Domingo] votaram muito mais em André Ventura.

Como é habitual Miguel Sousa Tavares fala muito e prepara-se pouco: os emigrantes não “votam muito mais à direita” a não ser que se entenda por votar “muito mais à direita” o voto no PSD e no próprio PS cujos resultados eleitorais na emigração são expressivos, sobretudo no círculo da Europa. A esta fantasia em torno de um voto “muito mais à direita” por parte dos emigrantes juntou Miguel Sousa Tavares uma reflexão sobre o facilitar ou não do voto em função do provável sentido de voto dos eleitores portugueses: “E a questão política que se põe é o seguinte: se facilitarmos o voto todo dos emigrantes, nomeadamente por correspondência, há ou não há o perigo de um dia nós podermos eleger um Presidente da República que… Imagina que isto está taco a taco, mais ou menos, e a balança pender para quem os emigrantes votaram… A balança pode acontecer… cair para o lado que os portugueses que cá não vivem escolheram, e não os portugueses que cá vivem…”.  Nesta perspectiva o voto não é um direito mas sim um prémio, um prémio que se concede ao povo que vota bem.

O destrato de quem não vota segundo este conceito do bem torna-se norma: Francisco Ramos, o coordenador da task force da vacinação, a propósito ou despropósito das tomas indevidas de vacinas não teve nada mais apropriado para invocar que o “espírito vingativo” que associa “àqueles 11% ou 12%” que votaram na candidatura de André Ventura nas eleições presidenciais em que por sinal ele, Francisco Ramos, foi apoiante destacado de uma outra candidatura, a de Marisa Matias. Portugal república dos socialistas é isto: um país de castas. Um país em que o coordenador da task force da vacinação, o mesmo que há um mês não incluía as pessoas com mais de 80 anos na primeira fase da vacinação e depois por pressão da UE se viu obrigado a mudar essa disposição, insulta eleitores com a mesma ligeireza com que não deu explicações sobre as sucessivas alterações do plano de vacinação.

O povo que se porta mal. Acreditam os pregadores do “Fique em casa” que aquilo que mandam vir pelo take away e pelos estafetas nasce nos armazéns e nas mochilas dos distribuidores? Se realmente ficássemos todos em casa íamos comer e beber o quê? Viver de quê? O mundo do “Fique em casa” está cheio de gente cujos rendimentos não foram beliscados pela pandemia e que não sabe nem quer saber o que está acontecer no mundo do trabalho. Esse mundo para o qual se anunciam apoios que o mundo do “Fique em casa” imagina rápidos e automáticos mas a que na prática não se consegue aceder. Os últimos a viverem nesta espécie de distopia são os jovens casais que tiveram o azar de ser colocados em teletrabalho. Como se sabe as empresas foram obrigadas a optar pelo teletrabalho desde que tal fosse possível. Só que em seguida fecharam-se as escolas e as creches. Com as crianças em casa, os pais em teletrabalho deixaram de conseguir trabalhar. Terceiro acto desta tragédia: são recusados apoios aos pais que já estavam em teletrabalho. Em conclusão, os pais de crianças pequenas quando as creches fecharam ficaram sem poder trabalhar e privados de qualquer apoio. Muitos ainda continuam a pagar as creches na esperança do dia em que voltarão à rua… O mundo do “Fique em casa” ralha com o “povo que se porta mal” e culpa-o pelas ambulâncias à porta dos hospitais e por ter precisado de oxigénio no Amadora-Sintra.

O povo que não percebe. O povo que não percebe coexiste com o povo soberano. Este último é chamado à cena quando se tem a certeza que o seu voto vai consagrar a narrativa do progressismo. Caso contrário o voto popular passa ao estatuto de populismo. Assim se explica que o mesmo país que votou duas vezes o aborto veja agora os seus parlamentares aprovarem a eutanásia. Os senhores deputados, aqueles que mandam fechar restaurantes e mantêm o restaurante da Assembleia a funcionar, entenderam que os portugueses não precisavam de discutir mais a eutanásia e decidiram por nós. Decidiram-no numa semana em que muitos portugueses morreram sem a assistência que mereciam, sem os tratamentos que acreditavam ir ter sempre disponíveis, sem a presença de familiares. Entretanto espera-se que o Presidente após profunda sessão de aritmética decida se veta ou não veta. Afinal em Portugal todo o absurdo é normalizado, toda a incompetência rasurada e toda a prepotência legitimada desde que se esteja do lado certo. Veja-se o sucedido com a decisão do Tribunal Constitucional de dispensar os membros do Conselho de Prevenção da Corrupção (CPC) de apresentar a declaração de rendimentos, património, interesses, incompatibilidades e impedimentos. Acreditaria o povo que os membros de um organismo que visa prevenir a corrupção deveriam disponibilizar essa informação. Ora não foi esse o entendimento do Tribunal Constitucional que alega que o Conselho de Prevenção da Corrupção (CPC) é sobretudo um órgão consultivo e também não foi esse o entendimento de José Tavares, o novo presidente do Tribunal de Contas e, por inerência, também presidente do dito Conselho de Prevenção da Corrupção (CPC). Para José Tavares, a “generalidade” dos membros deste conselho já estão obrigados a apresentar estas declarações nos outros cargos que desempenham. E aqueles que não fazem parte da generalidade? Aliás quantos membros são necessários para formar a “generalidade”?

O povo às vezes cansa-se. Gostaria de recordar à direita portuguesa que tão entretida anda nos seus jogos florais entre o Adolfo, o Carlos, o Francisco, o Nuno… que as sondagens em França começam a apresentar como possível a vitória de Marine Le Pen na segunda volta das presidenciais que vão ter lugar em 2022. Sim, estão a perceber bem, Marine Le Pen aquela com quem a direita não negociava, não reunia, não falava… pode ganhar as próximas presidenciais francesas. Agora é ela que não precisa dos gaullistas, dos conservadores, dos centristas.

Percebem ou é preciso fazer um desenho? O povo às vezes cansa-se de tanto tacticismo, de tanta estratégia, de tanto calculo… e perante um quotidiano que endurece (os franceses declaram que se asselvaja) dá o seu voto a quem lhe fala da sua vida. Se abandonarem o eixo que vai da Estrela à SIC e das Avenidas ao PÚBLICO talvez comecem a ver melhor.

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COMENTÁRIOS:

Cruzeiro O Verdadeiro: O Bom Povo é de esquerda, que vergonha quem se atreve a desmentir o presidente Ventura presidente única e exclusivamente de todos os bons Portugueses. Respeitem por favor estas sábias palavras        manuel soares Martins: Convém não embarcar em ilusões, Helena. Sondagens em França que admitem a vitória de Marine Le Pen na 2ª volta só podem ser fabricadas para advertir do "perigo" e reunir as hostes contra o inimigo comum. O ideal de qualquer candidato é ir à 2ª volta contra Marine - é dinheiro em caixa. Andrade QB: Penso que foi nesses comentários que Sousa Tavares, para reforçar a sua oposição a quem defende que esses votos não significam necessariamente partilha das ideias mais radicais dos candidatos, também chamou de gentalha os 75 milhões de americanos que votaram em Trump e o meio milhão que votou em André Ventura. Uma conclusão tão fundamentada como dizer que todos que gostam de uns copos dizem asneiras deste calibre ou defendem a selecção prévia dos eleitores, coisa que nunca ouvi dizer a Trump ou a Ventura. Joaquim Moreira: Aqui está mais uma reflexão que merece a minha total aprovação. Na verdade, o povo é o que se queira, ou o que querem os grandes fazedores da asneira. Mais conhecidos por fazedores de opinião, que mais não são do que defensores da esquerda em primeira ou em segunda mão. Não é por acaso que Helena Matos organizou esta crónica em quatro parágrafos eloquentes, para definir cada um deste tipo de inteligentes: O bom povo é de esquerda. O povo que se porta mal. O povo que não percebe. O povo às vezes cansa-se. O que me permite concluir que temos mesmo que agir. Não por sermos apelidados de esquerda ou de direita, mas por estarmos fartos de ver crescer esta seita. De uma série de tipos que se julgam inteligentes, que mais não são do que indigentes. E que, se não forem denunciados, vão ajudar a deixar Portugal em bocados. Por se assumirem como verdadeiros moços de recados!          Sofia Liberdade: Um fique em casa das aparências, um país que não gosta das suas crianças e lhes tirou não só a sua educação, como as suas necessidades de socialização,  saúde física,  mental e lazer. O fique em casa a teletrabalhar com os bebés de creche sem contrapartidas custa-me no entanto menos do que ver pessoas há um ano sem poder trabalhar no seu negócio devido ao fique em casa das aparências que nada resolve.         Da Costa: Parabéns, retrato bastante fiel da corja que empurra parte do povo para extremismos        Martelo de Belem: Excelente artigo. Infelizmente a verdade crua e nua nunca vinga em Portugal e as pessoas preferem acreditar na virgem (raro sujeito onde posso ser comunista). O evidente para o português médio tipo Miguel ST não o é. Sabe que os emigrantes em muito sabem mais que os nacionais, são mais esclarecidos e alimentam os nacionais desde há décadas? Não, porque como medíocre vive do Estado.        Manuel Pereira: Nem sempre de acordo mas sempre a ler pela procura de uma crónica séria, PARABÉNS, Helena Matos, por este ARTIGO CLARO e CERTEIRO.     Artur Parracho: O comentário de Miguel ST é lamentável para não dizer que envergonha todos os Portugueses, os emigrantes que tanto contribuem para a riqueza do País, que nunca esquecem Portugal, verem-se rotulados de "perigosos votantes" . Helena Matos, assertiva como sempre e a incomodar muita gente. Parabéns !!!         Ashley Albuquerque: Na minha opinião, o facto de MST dizer que não se deve facilitar o voto de uma camada vasta (e mesmo que só um fosse!) de cidadãos portugueses é gravíssimo. O sentimento de impunidade com que afirma tal aberração antidemocrática e, porque não dizê-lo, fascista, diz muito dos tempos em que vivemos em que à direita tudo é radical e à esquerda qualquer alarvidade se permite. Mesmo o facto de não lhe convir pessoalmente nem ao seu compadre que a direita chegue ao poder o devia coibir de proferir tais alarvidades.      Luis Teixeira-Pinto > Ashley Albuquerque: Inteiramente de acordo. Aqui a Direita e os nossos honrados emigrantes funcionam, para o MST, como lavandaria para outros "negócios" e "interesses". É preciso desviar atenções, claro, não vá a Direita ganhar e exigir seriedade na Justiça.         pedro dragone: Quando há pouco mais de um ano surgiu a polémica sobre os critérios de atribuição da nacionalidade Portuguesa a descendentes de Judeus Sefarditas expulsos de Portugal, o elitista e burguesola Tavares usou o mesmíssimo argumentário que a agora utiliza contra o voto dos emigrantes: facilitar a nacionalidade a "essa gente", dizia, poderia um dia levar a que os seus votos influenciassem a vida do País sem nunca cá residirem. Se a isto juntarmos a campanha que fez contra os turistas por, como também dizia, "virem perturbar a paz de quem (como ele) mora em Lisboa", então ficamos com uma leve sensação de tiques xenófobos. Logo num indivíduo tão lesto a demarcar-se da dita extrema-direita xenófoba. (Mas não sente vergonha de estar ao lado da dita extrema-direita na defesa das touradas, ora porque é caçador...). A insinuação de que "não há problema" que os emigrantes não votem porque normalmente votam à direita é simplesmente deplorável! Obviamente que as palavras do coordenador da "Faz que Torce" da vacinação, Francisco Ramos, são igualmente deploráveis e descabidas: deploráveis porque todos os votantes e todos os votos, sejam em quem for, são igualmente dignos. Descabidas porque não pode e não deve usar a função que desempenha para expressar opiniões políticas, sejam de que natureza for.         Paulo Guerra: Mais uma coluna de opinião no Obs a tentar dar gaz ao Chega. Já a HM nem no meio de uma pandemia consegue arranjar verdadeiros argumentos para a discussão política. O papão da Marine à frente das sondagens em França. Que depois do estardalhaço todo da queda do Trumpas já deve ser a melhor amiga da HM. A Frente Nacional está quase sempre à frente das sondagens nesta fase do calendário político. Com crise ou sem crise até. Quando ainda nem se conhecem outros candidatos porque nem a recandidatura de Macron é ainda dada como certa. Já o facto de a FN também ter sido castigada nas últimas autárquicas não releva nada. Contudo e como até a HM deve saber ainda muita água vai correr por baixo das pontes do Sena. E excepto talvez as sondagem em Portugal - daqui a necessidade da HM ir até França esta semana - gerir uma pandemia e uma crise económico-social ao mesmo tempo passa sempre uma determinada factura de impopularidade seja a quem estiver no Governo. De um Macron muito isolado, ao resto do Mundo. Onde não deve existir talvez um único governo muito popular. Mas o que era da coluna da HM semanal no Obs sem os condimentos mais costumeiros como a demagogia e o populismo? Não era a mesma coisa. Quanto às únicas vidas que sempre interessaram verdadeiramente à Marine Le Pen foram as vidas dos Le Pen. Que escangalharam a cabecinha toda da pobre Marine. E por esta ordem. Primeiro a Mãe que abandonou o pai e com umas certas libertinagens - como gosta de lembrar a Marine - a enviou directamente para os braços do Pai e da FN. Pauvre Mademoiselle. E depois o Pai, a quem a própria Marine já tratou da vidinha. De resto, são os sound bites habituais da extrema-direita e neste caso da FN em França. Mais estado, menos imigrantes, menos impostos, menos água, luz e gaz e mais dinheiro a rodos para todos os franceses. Que nem precisam de sair de casa. Basta acordarem e abrirem a mesinha de cabeceira de manhã. Uma verdadeira história da carochinha como a HM sempre gostou muito de ouvir. Quase ao nível da grande obra de HM sobre os três pastorinhos de Fátima.       Manuel DiasPaulo Guerra: A Helena Matos se de alguma coisa não poder acusada é de demagogia e populismo. Quem fala de factos e os mostra de uma forma clara e concisa será sempre criticada por gente cheia de complexos e distúrbios ideológicos. O Senhor Guerra acha que não é demagogo e populista quando considera que os extremistas que votaram no Ventura são diferentes dos extremistas que votaram na Marisa e João Ferreira. A tontice dos demagogos leva-os a afirmar isto, a HM não diz NIM ou diz SIM ou diz NÃO e isso dói aos parolos.         José Afonso: Mais um lúcido e esclarecedor artigo. Obrigado.

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