Nem outra coisa se poderia esperar do Dr. Salles, pessoa avisada e justa e franca, que,
de certo modo, representa, em masculino, pese embora a falta em si do esplendor
da mocidade da protagonista do filme “Legalmente loira 1”, (a qual contesta uma expressão de Aristóteles, da
pergunta da sua professora de Direito, sobre a “racionalidade” independente da “emoção”)
- representa, dizia, idêntico papel de independente nos conceitos, numa
sociedade genericamente dogmática. Lembrei-me até, por via das dúvidas, de
consultar a Internet, na questão aristotélica, que me apresentou, entre outros,
o texto de Juliana Santana de
Almeida, cuja breve síntese coloco no fim, para uma achega expressiva sobre o
assunto, embora alheio, leiga que sou nisso. Realmente, mau grado a descoberta
da verdade, na intriga policial do filme, demonstrada essencialmente pela
racionalidade e a inteligência da protagonista do filme - Elle Woods (Reese Whiterspoon) – esta entende que
a emoção, a subjectividade, podem perfeitamente coadunar-se com a competência
racional, e assim o demonstra brilhantemente, num raciocínio sem peneiras nem
preconceitos, mau grado o tabu masculino contra as mulheres loiras, mesmo as de
empréstimo – o que não era o seu caso, de “legalmente” loira e alegremente
desinibida. Assim, o Dr. Salles nos dá uma visão englobante e não separatista
entre sentimento e razão. Já Pascal o afirmava, mas dum ponto de vista
religioso, de crença em Deus, e não amoroso, como é aplicado hoje, tal aforismo
tão citado: “Le coeur a ses
raisons que la raison ne connaît pas”…
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A BEM DA NAÇÃO,
09.02.21
«É a emoção que une as pessoas, não o
pensamento, porque não existe um pensamento igual a outro. Além disso, pessoas
com pensamentos desiguais e até díspares podem unir-se por emoção e sentimento
porque vêm juntos. A natureza humana tem sido assim desde os tempos imemoriais,
precisamente por causa da nossa condição natural; mas as ideologias modernas
fazem o possível para destruir isso.»
(recebido por WhatsApp,
original em castelhano, Autor não identificado)
* * *
Nesta conformidade, eu acho que…
… entre racionalidade e emoção
não há uma porta estanque e nem uma pessoa é exclusivamente uma coisa ou outra.
Tudo tem a ver com a Cultura do agregado social e com o nível intelectual do
indivíduo.
Um escandinavo é mais sóbrio e racional
do que um mediterrânico que é tipicamente emotivo. Uma pessoa de alta
classificação intelectual tende a ser mais abrangente, a considerar mais
parâmetros, a reagir mais racionalmente do que um analfabeto a quem pouco mais
resta do que a emoção.
Contudo, foram a Grécia e a Itália a
gerar os fundamentos da Civilização Ocidental enquanto dos «frios racionais»
tivemos o telemóvel e pouco mais.
Mais acho que as ideologias modernas só
destroem o que nós deixarmos que seja destruído mas não podemos nem queremos
cristalizar num modelo ortorrômbico saído da Idade da Pedra, há que continuar a
pensar distinguindo o trigo do joio.
Fevereiro
de 2021
Henrique
Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS:
Anónimo 09.02.2021: Concordo com o
que diz meu Amigo. Cabe a nós. Um abraço enorme.
Henrique Salles da Fonseca: 09.02.2021: Este será um tema,designadamente, do âmbito da
psicologia, da sociologia, da filosofia. O que é pensar? As emoções geram
pensamentos e estes também produzem emoções? No âmbito político, não estaremos
no domínio das crenças, que, para serem credíveis,se alicerçam em evidências sociológicas
e não em verificações matemáticas? Quando tiver oportunidade irei consultar
Wittgenstein, que também se debruça sobre os fenómenos de pensamento. Abraço, Benilde
Tomás Fonseca
Henrique
Salles da Fonseca, 09.02.2021:
Muito bom! Concordo em absoluto. Só
acrescentaria a influência que tem o clima na racionalidade ou emotividade. Se
calhar estou a dizer um grande disparate, mas sempre achei que o clima tem uma
enorme influência nas características de um povo. Aliás de todos os seres vivos. Helena Salazar Antunes Morais
Henrique Salles da Fonseca, 09.02.2021: Minha Amiga Lena,Se põe a hipótese de estar
a cometer algum erro na sua apreciação, então fique sabendo que está
acompanhada por uma horda de pensadores que dizem o mesmo e os que também dizem
outras coisas, não excluem essa possibilidade, a começar por Max Weber, o «pai»
da Sociologia moderna. Aliás, basta pensarmos na tão portuguesa «licenciatura
em 5º ano de praia»
Francisco G. de Amorim, 09.02.2021: As
ideologias modernas vão destruir tudo. Até as saudosas bolas de berlim que
comíamos na praia!
Adriano Lima 09.02.2021: Discordo do texto citado pelo Dr. Salles quando refere
que as ideologias modernas "têm destruído a condição natural do
homem". Até porque concordo inteiramente com o Dr. Salles quando observa
que “entre racionalidade e emoção não há uma porta estanque e nem uma pessoa é
exclusivamente uma coisa ou outra”. De facto, parece-me contraproducente
separar a razão da emoção porque as emoções contribuem para a estruturação da
vida racional, como afirma António Damásio no seu livro “O erro de Descartes”.
E é assim que Damásio discorda de Descartes e mesmo de Kant, já que para estes
o raciocínio deve ser exercido de uma forma pura dissociada das emoções, ao
passo que para Damásio são as emoções que permitem o equilíbrio do processo
racional. Diz ele que a natureza e a extensão das nossas respostas
emocionais não dependem apenas dos neurónios, porque têm muito a ver com a sua
interacção com o corpo e com as nossas próprias percepções do corpo. Assim
sendo, parece-me absurdo responsabilizar as ideologias modernas pela “destruição
da condição natural do homem”. E mesmo que assim fosse, porquê apenas as
ideologias modernas? E a que tipo de ideologias se refere o texto citado?
Genericamente, ideologias são ideias, valores e princípios que representam ou
propõem uma visão do homem e do mundo. Ora, as ideologias são fruto do
pensamento humano produzido a partir da Revolução Cognitiva. Há uma
linha de continuidade e de acumulação na evolução do pensamento humano, de tal
modo que filósofos racionalistas como Descartes e Espinosa não
partiram dum ponto zero, são
herdeiros de homens como Platão. Mas eu já entenderia melhor se a referência fosse,
não a ideologias modernas, mas a dogmas como os do Cristianismo, do Judaísmo ou
do Islamismo.
NOTAS DA INTERNET:
A racionalidade das emoções em Aristóteles
ALMEIDA, JULIANA SANTANA DE
«A
tese tratará a possibilidade de educação das emoções existente graças à
racionalidade apresentada em sua natureza e nas emoções educadas moralmente. O
estudo será feito a partir das propostas da Ética Nicomaqueia, recorrendo,
quando necessário, ao De anima,
à Retórica e à Poética, textos que
dedicaram atenção especial ao assunto. Para defender essas propostas, a
investigação busca compreender aquilo que Aristóteles entende por emoção,
partindo do Livro I da EN, que indicará a possibilidade da capacidade
desiderativa ouvir a razão.
Com isso, percebemos que Aristóteles não pretende excluir os elementos não
racionais da vida moral, estando mais preocupado em encontrar formas capazes de
conciliar as capacidades anímicas e de sentir emoções com as coisas certas, nos
momentos convenientes, em direcção a quê e a quem é adequado. Essa
interpretação é possível porque o filósofo compreende a alma como algo composto
por capacidades não seccionadas, pondo as emoções, que são da alçada do
desiderativo, desde seu início, em contacto com a capacidade racional da alma.
Esta última capacidade indica os motivos para se emocionar, mas igualmente
propõe ao homem educado moralmente uma forma moderada de emoção que lhe
permitirá levar uma vida própria ao homem. Tal vida, à qual é imprescindível a eupraxia, só é alcançada com o apoio das virtudes. Por
isso, é necessário entender o que Aristóteles propõe como virtude e porque a
relaciona com a emoção a partir do Livro II da EN. Tal estudo permite dar
continuidade à investigação acerca das capacidades da alma humana sugeridas
por EN I 13, texto que apresenta a divisão das virtudes, conforme capacidades
da alma, em morais e intelectuais. As virtudes configuram-se como melhor
estado possível para cada capacidade da alma, sendo assunto imprescindível à
pesquisa proposta. No final da exposição da EN, a alternativa de interpretar a eudaimonia como uma forma de vida totalmente dedicada à
contemplação teórica parece destoar das propostas de nosso estudo. Não
obstante, o próprio Livro X traz argumentos que permitem manter a leitura da
melhor forma de vida possível ao homem, ou seja, de sua função própria, como uma
vida na pólis, que conjuga o bom exercício de todas as suas capacidades. Interpretação
viável pela apresentação de faculdades racionais encadeadas que podem tocar a
emoção, desde seu despertar até quando forem moderadas com o auxílio da razão
prática. Contacto que será facilitado pelos instrumentos aos quais os
cidadãos podem recorrer para garantir a chance de bem se emocionar, a fim de
serem virtuosos e felizes, vivendo em comunidade.»
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