quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Pensamentos justos.

Nem outra coisa se poderia esperar do Dr. Salles, pessoa avisada e justa e franca, que, de certo modo, representa, em masculino, pese embora a falta em si do esplendor da mocidade da protagonista do filme “Legalmente loira 1”, (a qual contesta uma expressão de Aristóteles, da pergunta da sua professora de Direito, sobre a “racionalidade” independente da “emoção”) - representa, dizia, idêntico papel de independente nos conceitos, numa sociedade genericamente dogmática. Lembrei-me até, por via das dúvidas, de consultar a Internet, na questão aristotélica, que me apresentou, entre outros, o texto de Juliana Santana de Almeida, cuja breve síntese coloco no fim, para uma achega expressiva sobre o assunto, embora alheio, leiga que sou nisso. Realmente, mau grado a descoberta da verdade, na intriga policial do filme, demonstrada essencialmente pela racionalidade e a inteligência da protagonista do filme - Elle Woods (Reese Whiterspoon)esta entende que a emoção, a subjectividade, podem perfeitamente coadunar-se com a competência racional, e assim o demonstra brilhantemente, num raciocínio sem peneiras nem preconceitos, mau grado o tabu masculino contra as mulheres loiras, mesmo as de empréstimo – o que não era o seu caso, de “legalmente” loira e alegremente desinibida. Assim, o Dr. Salles nos dá uma visão englobante e não separatista entre sentimento e razão. Já Pascal o afirmava, mas dum ponto de vista religioso, de crença em Deus, e não amoroso, como é aplicado hoje, tal aforismo tão citado: “Le coeur a ses raisons que la raison ne connaît pas”…

 

RACIONALIDADE E EMOÇÃO

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 09.02.21

«É a emoção que une as pessoas, não o pensamento, porque não existe um pensamento igual a outro. Além disso, pessoas com pensamentos desiguais e até díspares podem unir-se por emoção e sentimento porque vêm juntos. A natureza humana tem sido assim desde os tempos imemoriais, precisamente por causa da nossa condição natural; mas as ideologias modernas fazem o possível para destruir isso.»

(recebido por WhatsApp, original em castelhano, Autor não identificado)

* * *

Nesta conformidade, eu acho que

entre racionalidade e emoção não há uma porta estanque e nem uma pessoa é exclusivamente uma coisa ou outra. Tudo tem a ver com a Cultura do agregado social e com o nível intelectual do indivíduo.

Um escandinavo é mais sóbrio e racional do que um mediterrânico que é tipicamente emotivo. Uma pessoa de alta classificação intelectual tende a ser mais abrangente, a considerar mais parâmetros, a reagir mais racionalmente do que um analfabeto a quem pouco mais resta do que a emoção.

Contudo, foram a Grécia e a Itália a gerar os fundamentos da Civilização Ocidental enquanto dos «frios racionais» tivemos o telemóvel e pouco mais.

Mais acho que as ideologias modernas só destroem o que nós deixarmos que seja destruído mas não podemos nem queremos cristalizar num modelo ortorrômbico saído da Idade da Pedra, há que continuar a pensar distinguindo o trigo do joio.

Fevereiro de 2021

Henrique Salles da Fonseca

COMENTÁRIOS:

Anónimo 09.02.2021: Concordo com o que diz meu Amigo. Cabe a nós. Um abraço enorme.

Henrique Salles da Fonseca: 09.02.2021: Este será um tema,designadamente, do âmbito da psicologia, da sociologia, da filosofia. O que é pensar? As emoções geram pensamentos e estes também produzem emoções? No âmbito político, não estaremos no domínio das crenças, que, para serem credíveis,se alicerçam em evidências sociológicas e não em verificações matemáticas? Quando tiver oportunidade irei consultar Wittgenstein, que também se debruça sobre os fenómenos de pensamento. Abraço, Benilde Tomás Fonseca

Henrique Salles da Fonseca, 09.02.2021: Muito bom! Concordo em absoluto. Só acrescentaria a influência que tem o clima na racionalidade ou emotividade. Se calhar estou a dizer um grande disparate, mas sempre achei que o clima tem uma enorme influência nas características de um povo. Aliás de todos os seres vivos. Helena Salazar Antunes Morais

Henrique Salles da Fonseca, 09.02.2021: Minha Amiga Lena,Se põe a hipótese de estar a cometer algum erro na sua apreciação, então fique sabendo que está acompanhada por uma horda de pensadores que dizem o mesmo e os que também dizem outras coisas, não excluem essa possibilidade, a começar por Max Weber, o «pai» da Sociologia moderna. Aliás, basta pensarmos na tão portuguesa «licenciatura em 5º ano de praia»  

Francisco G. de Amorim, 09.02.2021: As ideologias modernas vão destruir tudo. Até as saudosas bolas de berlim que comíamos na praia!

Adriano Lima 09.02.2021: Discordo do texto citado pelo Dr. Salles quando refere que as ideologias modernas "têm destruído a condição natural do homem". Até porque concordo inteiramente com o Dr. Salles quando observa que “entre racionalidade e emoção não há uma porta estanque e nem uma pessoa é exclusivamente uma coisa ou outra”. De facto, parece-me contraproducente separar a razão da emoção porque as emoções contribuem para a estruturação da vida racional, como afirma António Damásio no seu livro “O erro de Descartes”. E é assim que Damásio discorda de Descartes e mesmo de Kant, já que para estes o raciocínio deve ser exercido de uma forma pura dissociada das emoções, ao passo que para Damásio são as emoções que permitem o equilíbrio do processo racional. Diz ele que a natureza e a extensão das nossas respostas emocionais não dependem apenas dos neurónios, porque têm muito a ver com a sua interacção com o corpo e com as nossas próprias percepções do corpo. Assim sendo, parece-me absurdo responsabilizar as ideologias modernas pela “destruição da condição natural do homem”. E mesmo que assim fosse, porquê apenas as ideologias modernas? E a que tipo de ideologias se refere o texto citado? Genericamente, ideologias são ideias, valores e princípios que representam ou propõem uma visão do homem e do mundo. Ora, as ideologias são fruto do pensamento humano produzido a partir da Revolução Cognitiva. Há uma linha de continuidade e de acumulação na evolução do pensamento humano, de tal modo que filósofos racionalistas como Descartes e Espinosa não partiram dum ponto zero, são herdeiros de homens como Platão. Mas eu já entenderia melhor se a referência fosse, não a ideologias modernas, mas a dogmas como os do Cristianismo, do Judaísmo ou do Islamismo.

NOTAS DA INTERNET:

A racionalidade das emoções em Aristóteles

ALMEIDA, JULIANA SANTANA DE

«A tese tratará a possibilidade de educação das emoções existente graças à racionalidade apresentada em sua natureza e nas emoções educadas moralmente. O estudo será feito a partir das propostas da Ética Nicomaqueia, recorrendo, quando necessário, ao De anima, à Retórica e à Poética, textos que dedicaram atenção especial ao assunto. Para defender essas propostas, a investigação busca compreender aquilo que Aristóteles entende por emoção, partindo do Livro I da EN, que indicará a possibilidade da capacidade desiderativa ouvir a razão. Com isso, percebemos que Aristóteles não pretende excluir os elementos não racionais da vida moral, estando mais preocupado em encontrar formas capazes de conciliar as capacidades anímicas e de sentir emoções com as coisas certas, nos momentos convenientes, em direcção a quê e a quem é adequado. Essa interpretação é possível porque o filósofo compreende a alma como algo composto por capacidades não seccionadas, pondo as emoções, que são da alçada do desiderativo, desde seu início, em contacto com a capacidade racional da alma. Esta última capacidade indica os motivos para se emocionar, mas igualmente propõe ao homem educado moralmente uma forma moderada de emoção que lhe permitirá levar uma vida própria ao homem. Tal vida, à qual é imprescindível a eupraxia, só é alcançada com o apoio das virtudes. Por isso, é necessário entender o que Aristóteles propõe como virtude e porque a relaciona com a emoção a partir do Livro II da EN. Tal estudo permite dar continuidade à investigação acerca das capacidades da alma humana sugeridas por EN I 13, texto que apresenta a divisão das virtudes, conforme capacidades da alma, em morais e intelectuais. As virtudes configuram-se como melhor estado possível para cada capacidade da alma, sendo assunto imprescindível à pesquisa proposta. No final da exposição da EN, a alternativa de interpretar a eudaimonia como uma forma de vida totalmente dedicada à contemplação teórica parece destoar das propostas de nosso estudo. Não obstante, o próprio Livro X traz argumentos que permitem manter a leitura da melhor forma de vida possível ao homem, ou seja, de sua função própria, como uma vida na pólis, que conjuga o bom exercício de todas as suas capacidades. Interpretação viável pela apresentação de faculdades racionais encadeadas que podem tocar a emoção, desde seu despertar até quando forem moderadas com o auxílio da razão prática. Contacto que será facilitado pelos instrumentos aos quais os cidadãos podem recorrer para garantir a chance de bem se emocionar, a fim de serem virtuosos e felizes, vivendo em comunidade.»


Nenhum comentário: