quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Mas no entanto


Guardado está o bocado… Nos outros continentes as independências resultaram melhor, e as populações europeias por aí se distribuíram, vencedoras, independentes, com muita limpeza étnica pelo meio. Nada de colonialismos. Tudo isso, de colonialismos, mais pobrezinho, foi ao ar, lá nas Áfricas. As democracias agora é que estão a dar, feita a limpeza étnica. Nem nos restam as recordações, que os simões são aos baldões, muito sabichões.

 

Nas Américas e na Austrália é que foi

Digo, limpeza étnica. E os povos colonizadores tornaram-se independentes, não houve problemas aí, como na África. Por isso, surgiu o propósito das descolonizações, apenas no continente africano, onde havia apenas colónias

OPINIÃO

Perdoai-lhe, senhor, que não sabe o que diz

Ao contrário do que diz Ascenso Simões, o Império não foi nenhuma invenção salazarista e vê-lo tratado como tal dá vontade de rir.

M. FÁTIMA BONIFÁCIO

OBSERVADOR, 25 de Fevereiro de 2021

Não vou comentar as barbaridades e alarvidades declamadas por Ascenso Simões em recente entrevista ao Observador, aliás já amplamente criticadas e repudiadas na imprensa. Quero apenas denunciar a granítica ignorância da História que o sr. deputado exibiu. “Falta o conhecimento da história. Falta perceber verdadeiramente que não tivemos império nenhum”, lamenta o sr. Ascenso, logo ele, a quem esse conhecimento da história falta por completo.

Durante as décadas de 1870 e 1880, a sociedade urbana, sobretudo em Lisboa e no Porto (em menor medida), transformou-se profundamente. Em 1876 fundou-se o Partido Republicano Português (PRP); a Sociedade de Geografia nasceu em 1875 e em 1877 partiam para a África Austral Roberto Ivens, Serpa Pinto e Brito Capelo. Deu-se uma “euforia colonial”, uma espécie de descoberta da nossa vocação africana, uma dimensão geminada com o vetusto tronco da portugalidade, que nessa década de 70 ateou um nacionalismo nunca visto em Portugal. Na década de 70, pode dizer-se, até nos meios populares se descobriu o destino africano de Portugal.

Atirando mais achas para a fogueira, o PRP decidiu comemorar o centenário de Camões (8.6.1880) com a máxima pompa e com o cuidado de atrair o máximo de povo possível. Camões, “a mais genuína expressão do génio português” no apogeu da sua viril criatividade, seria o grande factor da unidade nacional, a ideia e o símbolo mesmos da pátria. A manifestação de 8 de Junho foi um sucesso, e de entre os milhares e milhares de pessoas que participaram sobressaía agora o elemento popular – o povo.

Seguiram-se então outras e variadas celebrações cívicas, não apenas em Lisboa e no Porto mas também em remotas terras de província. A partir de 1880, com a entrada em cena do PRP e a chegada da plebe ao palco político, a política portuguesa mudou. Essa política tinha agora de acomodar massas urbanas insubmissas. Estabeleceu-se em Portugal um clima de exaltação patriótica inicialmente criado pelas comemorações camonianas. O centenário da morte do genial marquês de Pombal, o herói que expulsara os jesuítas, serviu para acirrar o anti-clericalismo radical, outro factor não despiciendo de aglutinação das hostes radicais. Outras associações e agremiações se criaram. O que interessa reter, para compreender como sequentemente o colonialismo e o imperialismo se tornaram indiscutíveis, é a extrema exacerbação do patriotismo apoiado sobre dois grandes pilares que eram Camões, o genial épico que narrou em 8816 versos decassilábicos a grandiosa saga portuguesa dos Descobrimentos, e a elevação de Portugal a cabeça de um império luso-africano. O Império e as colónias tornaram-se incriticáveis. Isto já na década de 1880.

O Império não foi nenhuma invenção salazarista e vê-lo tratado como tal dá vontade de rir. Sem o contexto de mobilização patriótica desenvolvido na década de oitenta do século XIX, as reacções ao ultimato inglês de Janeiro de 1890 seriam inimagináveis. A notícia de que Portugal vergara a cerviz varreu Lisboa como um relâmpago e foi explorada tanto por monárquicos como por republicanos. Na noite de 11 de Janeiro de 1890, as praças, as ruas e os cafés da Baixa encheram-se instantaneamente. No dia 12, a ira popular apedrejou as janelas da embaixada britânica em Lisboa: Angola e Moçambique eram nossas!

Depois de muitas e muitas peripécias, gradualmente o fogo patriótico foi-se extinguindo. Mas, com o Ultimato de 1890, ficou estabelecido o monopólio republicano do patriotismo. A monarquia constitucional, que uma década de rituais e comunhões cívicas divorciara do povo urbano, sobreviveu às sequelas do ultimato mais isolada do que em qualquer anterior momento da sua existência. Outro resultado do ultimato foi a definitiva “sacralização do império” (Valentim Alexandre & Jill Dias). Na precisa altura em que o domínio colonial se tornava “intangível” (V. Alexandre & J. Dias), a monarquia revelara-se incapaz de o preservar. Na imaginação da massa urbana politizada, que muita prosa de escritores públicos aliás confirmava, cristalizou a ideia de que “os Braganças” e a estrita oligarquia que os rodeava eram “um corpo estranho no corpo da nação” (V.P.V.). Todo o establishment – incluindo o rei – se viu ameaçado por causa da perda de uma parcela de terra africana que bem ou mal julgávamos nossa.

A República herdou o Império. Cuidou dele o que pôde, que não era muito porque nós éramos pobres. (Em 1874, Fontes Pereira de Melo teve margem para investir umas poucas centenas de contos em Angola.) Durante a I Guerra Mundial, a República enviou para África 39.000 soldados que sofreram, às mãos dos alemães, derrotas após derrotas. Norton de Matos, quando governador na década de 1920, aumentou muito significativamente a verba do orçamento destinada à escolarização. Mas já era de há muito mais do que evidente que não tínhamos meios para nos arvorarmos em potência colonizadora. Salazar não inventou nada, administrou uma herança. Na realidade, herdou o Império, mas designou-o como as “nossas províncias ultramarinas”, para sublinhar a sua pertença congénita a Portugal. Onde está a invenção? Mas o sr. Deputado Ascenso Simões é de opinião – contra toda a evidência factual – “que esse império que está na nossa cabeça é o império salazarista. É uma construção simbólica do império salazarista”. Alguém percebe esta frase?

Termino lembrando um pormenor: tivemos, de facto, um império – o império luso-brasileiro. Durou uns séculos. Não me parece que deva ser atirado para uma nota de pé de página da história. Ou terá sido também o Brasil “uma construção simbólica do império salazarista”?

Historiadora

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COMENTÁRIOS:

cidadania 123 EXPERIENTE: O império nasceu com o tratado de Tordesilhas e não no estado novo. O que Salazar assumiu foi uma noção de Portugal alargado mas uno, cujo contexto mundial, e da guerra fria, não admitia. Era insustentável porque éramos fracos para enfrentar as forças externas que lutavam para criar os seus impérios.          Carolina Nunes INICIANTE: Infelizmente o PS está a radicalizar-se perigosamente. Há uns anos nenhum socialista se atreveria a ter um discurso talibã como o de Ascenso Simões. Hoje passa sem qualquer crítica à esquerda, ou seja este discurso radical passou a mainstream da esquerda portuguesa. Hoje podem parecer delírios, mas esperem uns anos e quando Pedro Nuno Santos for PM e colocar o BE no governo eles vão passar das palavras aos actos. E o pior é que não há ninguém da direita moderada ou da esquerda moderada que consiga travar isto. Afinal o nosso destino pode muito bem ser pior que o da Venezuela...          antifascista INICIANTE: o senhor ascenso, há que dizê-lo, nem chega a ser um apedeuta, é mesmo um bruto, um bruto contumaz           ernestocarneiro.883138 INICIANTE: Aquilo que acabou com a carta da ONU que transformou as ex colónias nos países a que se hoje ser chama o "terceiro Mundo" não foi só o império português. Foi o império euromundista. Porque era Holanda, era a Bélgica, era a França, era a Inglaterra, era a Espanha, éramos nós. Não há nenhum que não tenha tido guerras terríveis. A França teve dias piores que nós. A Inglaterra, na Índia, foi desastre que foi...Na realidade, quando acabou o Império Euromundista e começou o império ideológico do bloco China/Rússia. as nossas colónias foram entregues de mão beijada a este bloco, são escravas dele, mas estes não são "colonialistas exploradores"... O resultado dos "movimentos de libertação" está bem patente na lista dos 20 países mais pobres do Mundo 15 dos quais são africanos           Jose MODERADOR: Uma coisa são as navegações portuguesas que deram ao mundo o seu mapa e os caminhos oceânicos até à Índia e ao Brasil. Coisa diferente são as muitas missões de exploração que se sucederam, fundaram colónias não só as portuguesas. Impérios coloniais há muitos em muitas línguas. Todos se caracterizaram pela tomada de posse das terras, recursos, bens dos indígenas e posse dos indígenas como coisas. As lutas pela autodeterminação dos Povos fez cair Impérios uns atrás de outros. Colonialismos novos substituem os derrotados como é exemplo eloquente a substituição do colonialismo Castelhano e português pelo dos USA. Em toda a América latina os Povos, cada um a seu modo, lutam pela autodeterminação e independência há séculos. Nas lutas há, no mínimo, dois lados e a fraternidade entre todos os Povos.

NOTAS DA INTERNET:

Importantes civilizações das Américas

Publicado por: EDUARDO DE FREITAS

As civilizações pré-colombianas correspondem aos povos que habitavam desde o México até a Cordilheira dos Andes, que possuíam uma estrutura organizacional social muito bem instituída.

Dentre as principais civilizações estão os Astecas que ocupavam o território onde actualmente se encontra o México, além dos Maias que também habitavam a América Central e os Incas que viveram em áreas onde se encontram hoje países como Peru, Bolívia, sendo esses ocupados em suas totalidades, além de ocupar parcialmente territórios do Equador, Colômbia, Argentina e Chile.

Os Astecas são povos pré-colombianos que ocuparam no passado, no período dos séculos XIV a XVI, um vale onde é hoje o México. Os Astecas consistem em um conjunto de indivíduos compostos, sobretudo por agricultores, comerciantes e artesãos, esses executavam trabalhos públicos e também militares.

Essa civilização detinha técnicas de drenagem a partir da implantação de ilhas artificiais que serviam para expandir o cultivo de culturas como milho, feijão, tomate, pimenta e batata-doce. A moeda de troca era a semente de cacau, no artesanato destacava a produção de tecidos e cerâmicas.

Os Maias também se inserem entre as civilizações pré-colombianas. Esse povo viveu principalmente em áreas de florestas tropicais onde hoje se encontram os territórios da Guatemala, Honduras e da Península de Yucatán, ocupou as respectivas áreas entre os séculos IV a.C e IX d.C.

Alcançaram técnicas de irrigação para o desenvolvimento da agricultura, além de deterem conhecimentos de engenharia e arquitectura, tinham como base de suas construções pedras para a instalação de templos, pirâmides e palácios.

Além de deterem conhecimento na astronomia, e por isso criaram um calendário, também realizavam cálculos matemáticos.

E por fim a civilização pré-colombiana que habitava a América do Sul, os Incas. Esse povo viveu em toda extensão da Cordilheira dos Andes. Essa civilização destaca-se principalmente pelas construções como a cidade de Machu Picchu, além do artesanato de cerâmica entre outros conhecimentos. Machu Picchu é conhecida como a cidade do sol, isso devido à sua altitude, esse fantástico monumento foi descoberto somente nos primeiros anos do século XX, mais precisamente, em 1911.

Aborígenes Australianos

A Austrália é um país mundialmente conhecido por suas belezas naturais, pelo seu desenvolvimento económico e pela qualidade de vida da população (actualmente apresenta o quarto maior Índice de Desenvolvimento Humano do planeta). No entanto, pouco se comenta da história dos primeiros povos habitantes do território australiano, os Aborígenes. Os Aborígenes são a população nativa da Austrália, habitavam a maior parte do território australiano, totalizavam aproximadamente 750.000 indivíduos, subdivididos em 500 grupos e com cerca de 300 dialectos diferentes. Esses grupos possuíam estilos de vida distintos e tradições culturais e religiosas próprias em cada região.

Com a chegada dos colonizadores ingleses em 1758, deu-se início aos massacres das comunidades Aborígenes. Soldados ingleses visitavam as aldeias fingindo uma aproximação amigável, oferecendo presentes. Porém, outros soldados envenenavam com arsénio a água e os alimentos dos Aborígenes; várias pessoas, inclusive crianças, morreram em consequência do envenenamento.

Os soldados ingleses destruíram locais considerados sagrados pelos Aborígenes. Também ofereciam bebida alcoólica à população local, e aproveitavam-se do estado de embriaguez para instigar confrontos entre as diferentes aldeias, fazendo com que eles mesmos se aniquilassem.
Após proclamada a independência australiana, os Aborígenes passaram a sofrer com a discriminação da população de seu próprio país. Parte da população australiana considerava os Aborígenes como sendo parte da fauna e da flora, não havendo o devido respeito a esses indivíduos.
Dentre as diversas perseguições sofridas por essa comunidade, destaca-se a “
The Stolen Generations”, uma tentativa de “limpeza étnica”. Homens, a mando do governo, invadiram as tribos e raptaram crianças, inclusive bebés; muitas foram retiradas de suas famílias, pouco se sabe a respeito do verdadeiro paradeiro delas. Actualmente os Aborígenes correspondem a apenas 1% da população australiana. Alguns vivem em aldeias no deserto, outros moram em bairros periféricos das grandes cidades. A maioria não consegue emprego formal e recebe auxílio do governo. Alguns conseguem contribuições da população, tocando nas ruas da cidade o didgeridoo, um instrumento de madeira que produz um som forte parecido com o apito de um navio. É comum encontrar pela cidade aborígenes embriagados, e muitas vezes envolvidos em confrontos com a polícia.

Com o intuito de minimizar essa triste história, o governo australiano está desenvolvendo políticas antidiscriminação, e preservando as tribos Aborígenes que restaram, proporcionando a preservação das tradições desse povo.

 

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