É, pelo menos, para o que aponta o segundo
texto, de JOSÉ MANUEL NETO SIMÕES, nitidamente
intranquilo em relação ao que diz o primeiro, de IVAN KRASTEV e MARK
LEONARD que extrema as posições da U E, relativamente
ao aliado de sempre, E U, preferindo abandonar ingratamente estes à sua sorte, na sua luta
económica – e quem sabe se bélica – com a China, que caminha a passos largos
para a supremacia económica – e quem sabe se política - do mundo. Porém, com a
presidência portuguesa no Parlamento Europeu, pode ser que os States venham à
fala com Costa e retomem a ocupação do aeroporto
das Lajes para futuras arremetidas suas
nos caminhos da sua liderança. Se fosse para salvar o mundo do domínio amarelo,
acho que até nos ficava bem oferecer aos Estados Unidos o aeroporto das Lajes, como ponto de passagem, como outrora nos foi dado Macau, em jeito de
gratidão, embora efémero…
OPINIÃO
Europa e EUA: uma parceria em ruptura e a precisar de
reparação
O impacto de Trump nas relações transatlânticas
significa que, em qualquer potencial conflito dos EUA com a China ou a Rússia,
a neutralidade é agora a opção mais popular entre os europeus.
IVAN KRASTEV e MARK
LEONARD
PÚBLICO, 19 de
Janeiro de 2021
Donald Trump não é nenhuma Evita Perón. Poucas
pessoas na Europa ficarão tristes com a sua partida. Ao mesmo tempo que festejam a transição
para uma força moderada, em Joe Biden,
a maioria dos europeus duvida que os Estados Unidos possam regressar à
liderança global em questões internacionais, como as alterações climáticas ou a
ameaça da China.
Este
é o ponto-chave da nossa sondagem, publicada esta semana, feita a mais de 15
mil europeus em 11 Estados-membros da UE. Além de revelar um grande
cepticismo relativamente à trajectória futura dos EUA, chega à conclusão que, embora
muitas pessoas na Europa estejam solidárias com o novo líder da Casa Branca,
uma maioria pensa agora que o sistema político dos EUA está em ruptura.
Os
EUA, aos olhos de muitos europeus, serão distraídos por divisões internas e
lutarão para reconquistar a liderança global. Seis em cada dez inquiridos na
sondagem do ECFR pensam que a China irá ultrapassar os EUA e tornar-se a principal superpotência mundial nos
próximos dez anos. E há uma
maioria a pensar que, afinal de contas, os EUA não estarão sempre prontos a
proteger a Europa. A
aposta de Trump de que era do interesse de Washington agir como o grande
perturbador, e de organizar o mundo em torno de relações bilaterais
assimétricas com outras potências, parece ter falhado. No entanto, a esperança de que Biden se torne um pivot
dos EUA, de volta à política de Obama de incorporar o poder norte-americano
numa rede de alianças, também parece irrealista.
Quase
um terço dos europeus acredita que, depois de terem votado no Trump em 2016,
não se pode confiar nos norte-americanos. Surpreendentemente, mais de metade
dos alemães (53%) têm esta opinião sobre o parceiro transatlântico da Europa.
Embora possam ser atípicos neste ponto, é evidente que a reputação
internacional prejudicada dos EUA pode levar mais tempo do que um único ciclo
eleitoral a sarar.
O impacto de Trump nas relações
transatlânticas significa que, em qualquer potencial conflito dos EUA com a
China ou a Rússia, a neutralidade é agora a opção mais popular entre os
europeus. A nova administração dos EUA pode
ter presumido que a mudança dos europeus para a neutralidade se deu,
unicamente, com a sua reacção visceral a Trump. Ao que parece
agora, pode não ser o caso.
Como
alternativa à dependência que têm dos EUA, os europeus estão a convergir em
torno da ideia de uma Europa mais soberana e autónoma. Mais de dois terços dos europeus em geral acreditam
que este continente deve cuidar da sua própria segurança, com especial
entusiasmo entre os cidadãos franceses (70%), suecos (71%) e espanhóis (71%) –
e até mesmo britânicos (74%).
Isto
levanta a questão de saber se Berlim irá substituir Washington como a
capital “prevalente”, para a liderança da política externa. Certamente, parece que muitos europeus têm esta
opinião – com a maioria dos inquiridos em França, Espanha, Dinamarca, Países
Baixos, Portugal e Hungria a escolherem a Alemanha, acima dos EUA, como o “país
mais importante com o qual se deve construir uma boa relação”. O Reino Unido (55%) e a Polónia (45%), que
tradicionalmente vêem os EUA como poderosos protectores da sua liberdade, foram
os únicos países que classificaram os EUA à frente da Alemanha de um modo
significativo.
Dito
isto, parece fácil uma leitura excessiva destes dados. Embora alguns líderes
europeus, como Emmanuel
Macron, tendam a
interpretar o apoio popular à soberania europeia como um desejo de desempenhar
um papel mais importante na política global, representam, para uma maioria
substancial dos cidadãos, um
desejo de neutralidade na
escalada da concorrência entre os EUA e a China. Para estes cidadãos, a soberania não é uma grande
entrada, por parte da UE, na política internacional, mas, pelo contrário, uma
porta de saída de emergência do mundo bipolar de amanhã. É uma candidatura à
reforma antecipada da competição das Grandes Potências.
A
principal conclusão destes dados,
no momento em Biden toma posse como o 46.º Presidente dos Estados Unidos, é que
os europeus não tomarão automaticamente o partido de Washington numa nova Guerra Fria. Não
é que discordem necessariamente da agenda dos EUA – o problema é que têm
dúvidas sobre a sua capacidade de vencer. E o seu apoio terá de ser conquistado
com provas sobre benefícios mútuos, em vez de ser encarado como um dado
adquirido.
Após quatro anos de Trump, a parceria
existente entre a UE e os EUA está em ruptura e a precisar de reparação. Em
anos complicados, como testemunha o desempenho da bolsa de valores
norte-americana, são os sentimentos e não as realidades económicas e políticas
que governam o mundo. Deste
modo, a nova administração Biden tem todos os motivos para temer não só as
divisões tóxicas internas, mas também o estado de espírito dos europeus, à
medida que os Estados Unidos voltam a entrar no mundo.
Ivan Krastev é presidente do Centro de Estratégias Liberais em Sófia e investigador
permanente do Instituto de Ciências Humanas IWM em Viena.
Mark Leonard é director do grupo de reflexão pan-europeu do Conselho Europeu de
Relações Exteriores (ECFR) Presidente do Centro de Estratégias Liberais em
Sófia e investigador permanente do Instituto de Ciências Humanas IWM em Viena Co-fundador
e director do Conselho Europeu das Relações Exteriores (ECFR)
TÓPICOS
EUROPA
UNIÃO EUROPEIA ESTADOS UNIDOS JOE BIDEN DONALD TRUMP CHINA EUA
COMENTÁRIOS:
Joao MODERADOR: Afinal a minha
opinião não é assim tão diversa da maioria dos “europeus”. Por cá, este
continente deveria tratar da sua vida e evitar regressar, mesmo com outra
roupagem, aos colonialismos exploradores, cleptomaníacos, genocidas,
incendiários. Deveríamos por cá evitar voltar a ser os piratas e corsários que
andam pelo mundo a roubar tudo, a submeter de novo os povos à escravatura ou à
submissão, a confiscar e apresar tudo o que encontram. Deveríamos portanto
afastar-nos da mafia e dos piratas que têm a sua sede na ilha de Tortuga, hoje
Bruxelas, Nato e EU. Óbvio que é impossível tal estamos manietados e
drogados com Bruxelas, parceria Nato e EU, sem soberania, sem política externa,
sem poder legislativo ou judicial nacional, nem independência monetária. Roberto34 MODERADOR: Felizmente a sua opinião em relação a UE não é
maioritária. Portugal tem poder legislativo, jurídicas nacional, tem política
externa e total soberania para tomar as suas decisões. E já agora, nada do que
você escreveu nesse comentário é correcto e corresponde a realidade. E sim a
opinião da maioria dos Europeus é muito diversa e diferente da sua: eles não
querem, ao contrário de si, acabar com a UE. Roberto34 MODERADOR: Como esta sondagem mostra existe claramente uma vontade
maioritária dos Europeus em manter a UE unida, soberana e autónoma. Só isto
deve frustrar e muito os arautos da desgraça e que querem ver a UE destruída. E
existem alguns aqui neste fórum. Jonas Almeida INFLUENTE: "qualquer potencial conflito dos EUA com a China
ou a Rússia, a neutralidade é agora a opção mais popular entre os
europeus" - é importante isto ter sido assumido aqui sem equívocos de
forma a que haja equilíbrio e a atitude seja a mesma dos EUA em relação a
conflitos da UE com a Rússia ou a China. A NATO parece assim estar pronta
para o diagnóstico de acefalia terminal que lhe vaticinou Macron.
Há muita coisa sobre este tema que tem escapado à
imprensa portuguesa, com a excepção de artigos raros como o de Ricardo
Cabral ontem. O
empurrão do UK para a situação de pré-rotura territorial no mar da Irlanda foi
apoiada por Biden com a expectativa de coordenação nas negociações com a China. Nisso saiu completamente gorado com o passo
irreversível que a Alemanha e a França impuseram à UE recentemente. Ver por
exemplo no Politico "Germany’s drive for EU-China deal draws criticism
from other EU countries". Como também conclui este artigo no Público, as
sortes foram lançadas de formas diferentes para diferentes países no continente
europeu. Conflito interno, com adversários a leste, a norte e a oeste, é uma
situação com ecos históricos difíceis de ignorar. alea jacta est. Roberto34 MODERADOR: Você claramente não faz ideia do que está a falar.
Primeiro a UE começa a tomar as suas próprias decisões sem pedir justificação a
ninguém (e faz bem). Segundo, a Alemanha e a França não puxaram coisa nenhuma:
o acordo começou a ser negociado em 2013 e era uma das prioridades da
Presidência do Conselho da UE da Alemanha. O acordo não está nem assinado nem
aprovado. Se os outros países estão insatisfeitos, podem vetar o acordo.
Simples. E deve haver algo neste artigo que o incomoda muito não? "Como
alternativa à dependência que têm dos EUA, os europeus estão a convergir em
torno da ideia de uma Europa mais soberana e autónoma." Deve ser muito
frustrante para si que os Europeus não queiram acabar com a UE. Não existe
nenhum conflito interno na Europa, por muito que você gostasse que houvesse Joao MODERADOR: Muito bem!
OPINIÃO: EUA na relação com a União Europeia e
Portugal
Espera-se que a União Europeia, agora
em tempo de presidência portuguesa, saiba aproveitar a mudança em Washington
para reafirmar também um novo atlantismo e que Portugal, com os outros países
europeus, não se permita perder este activo fundamental.
JOSÉ MANUEL NETO SIMÕES
PÚBLICO, 10 de
Fevereiro de 2021
Joe Biden é o novo Presidente dos EUA num
momento complexo da história americana e mundial. Unir os americanos e
revitalizar a democracia americana. São estas as ideias essenciais desde a sua
tomada de posse. Ao fim de
quatro anos, os EUA erguem-se de novo para o nível que sempre tiveram.
Isto
não significa que o mundo vá ficar melhor. Mas é inegável que a partida de
Trump tornou o ambiente político mais desanuviado. Joe Biden quer reparar os
estragos, sem esquecer que o mundo mudou desde que foi vice-presidente.
O
novo Presidente quer restaurar a credibilidade do país à frente de uma aliança
de democracias ocidentais. A “liderança americana não é infalível”, como
Biden referiu. Mas, se Washington não assumir esse papel, o vazio será
preenchido por actores menos recomendáveis.
A capacidade de diálogo para
encontrar soluções com inclusão numa plataforma moderada e a gestão da pandemia
são os grandes desafios de Biden, que condiciona todos os outros, nomeadamente
a recuperação económica.
A
política americana continua a ter um grande peso nas relações estratégicas e
económicas internacionais. Assim, com a entrada em funções da administração
Biden, a cena internacional começou um novo capítulo. O diálogo deverá
substituir a política da confrontação de Trump.
A visão de Joe Biden é muito mais tradicional do que a de Trump
quanto ao papel e aos interesses dos EUA, assente em instituições internacionais
estabelecidas após a Segunda Guerra Mundial e baseada em valores democráticos
ocidentais compartilhados.
Espera-se que a União Europeia (UE), agora em tempo de presidência portuguesa,
saiba aproveitar a mudança em Washington para reafirmar também um novo
atlantismo e que Portugal, com os outros países europeus, não se permita perder
este activo fundamental.
No
entanto, é bom que comecemos a demarcar expectativas. O desanuviamento
diplomático proposto é bem acolhido na Europa, mas ninguém está disponível
para agir como se os últimos quatro anos não tivessem existido, desde logo
começando pela Alemanha.
Na realidade, a desconfiança com os EUA aumentou, será inevitável a
predominância da China, o sistema político americano partiu-se e cresceu a
vontade por parte da UE em autonomizar estratégias.
É
verdade que a administração Biden carrega um histórico transatlântico autêntico
e parece estar interessada em trabalhar com os europeus, em frentes
consideradas comuns, nomeadamente com a China. Porém, a
dificuldade em unificar uma política euro-americana para a China foi um facto –
gerador de algum desconforto da administração americana – que antecedeu a
tomada de posse de Biden.
Berlim e outras capitais europeias,
incluindo Lisboa, consideram que o relacionamento com a China deve ter um cunho
europeu mais pronunciado e distinguir-se do modelo americano.
China e os EUA têm competido pelo lugar de maior economia do mundo,
com o gigante asiático a caminho de ultrapassar os norte-americanos em 2028.
Importa, pois, acomodar a ascensão
chinesa da forma menos confrontacional possível – parceiro de negociação em vez
de parceiro estratégico ou competidor económico –, partindo do princípio de que
a influência regulatória e
normativa da UE é uma força geopolítica capaz de, no tempo, moldar o
comportamento externo da China.
Ou
seja, para que a influência sobre a China seja maximizada vai ser preciso fazer
um caminho de aproximação entre os dois modelos: o europeu tornar-se menos
cínico e mais pragmático, o americano pautar-se por menos agressividade e cerco
estratégico.
Por
outro lado, talvez seja preferível não cristalizar nas posições de partida e
colocar o foco nos eixos onde o entendimento prático é exequível, sem projectar
a realização de grandes cimeiras internacionais.
Em
vez disso, interessa ter como objectivos a massificação da vacina com
cooperação industrial, metas mais ambiciosas para a cimeira do clima em Novembro,
passos concretos na reforma da Organização Mundial do Comércio e da Organização
Mundial da Saúde, trabalhar um Acordo de Parceria Transatlântica mais
minimalista e que coloque a regulação digital no centro da discussão.
Contudo, a nova agenda transatlântica é imprescindível à coesão
europeia e à superação de vários desafios da globalização. É também um
contributo para ajudar os EUA, que, como país ferido, precisa mais do que nunca
que as alianças funcionem.
A
administração Biden vai trazer maior clareza e menos tensão às relações
transatlânticas e à NATO, que continua a ser essencial para a segurança e
defesa de Portugal.
Nesse
sentido, Portugal deve explorar os laços de proximidade com os EUA e o valor
estratégico do seu território, no espaço do Atlântico Norte, onde a NATO
desempenha um papel fulcral. O desinvestimento dos EUA na Base das Lajes decorreu de equívocos em governos anteriores dos dois
países.
Além disso, nas relações entre
Portugal e os EUA, não pode ser esquecido a existência de mais de um milhão de
portugueses e luso-americanos que vivem nos EUA. Acresce que este país é o
nosso maior mercado de exportação a seguir à Europa.
A
administração norte-americana também se pode interessar mais por África, o que
arrasta consigo os países africanos de língua portuguesa (PALOP), sendo
estratégico para Portugal.
África pode, de facto, ser outra vantagem nesta equação: uma
melhor relação com o líder americano poderá melhorar o diálogo sobre a
utilização da Base das Lajes, pois há uma antiga ambição de Portugal ver a
Terceira como parte do Comando dos EUA para África (AFRICOM). E, de acordo com
últimos desenvolvimentos, a base passará a integrar a rota sul no Atlântico
entre os EUA e África.
Com Biden, as relações dos EUA com
Portugal devem ser menos tensas, depois de o embaixador norte-americano ter feito um ultimato ao Governo para
escolher entre os aliados e a China. Mas, no que respeita à “nova Guerra Fria” com a China, não se
espera que os EUA mudem muito o perfil da sua política externa.
O
facto de não sermos neutros, não quer dizer que não sejamos autónomos. Aliás,
temos um entendimento da nossa relação com a China que não pode ser reduzido a
uma única dimensão, como foi característico da Administração Trump.
As
escolhas que Portugal fizer nestas várias frentes ditarão não só o seu lugar na
indispensável relação com Washington, reaberta pelo “Brexit”, pelo seu espaço
político na UE, e a sua relevância geopolítica numa década marcada pelas
tensões sino-americanas e pelo potencial africano.
É
preciso construir um novo pacto fundador para uma Europa mais unida, para uns
EUA mais fortes e para um mundo melhor. Precisamos de discutir tudo isto com a
responsabilidade que o momento exige.
Capitão-de-Fragata
(reforma)
TÓPICOS
DIPLOMACIA JOE BIDEN EUA EUROPA PORTUGAL OPINIÃO TORNE-SE PERITO
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