E excelentemente exposto pelo P Gonçalo Portocarrero de Almada, ao apontar
comportamentos do povo cigano, quer como grupo étnico, vivendo à margem dos
demais cidadãos, independente e livre de preconceito relativamente a estes,
embora fortemente coeso e exigente de normas opressivas dentro do seu status
étnico. A exploração que se faz actualmente do zelo humanitário em função dos
vários “deserdados” dentro da nação, de ataque sistemático aos racismos dos
nacionais ditos fascistas – e jamais dos não nacionais que se protegem
amavelmente, quaisquer que sejam as irregularidades cometidas por estes –
motivou, pois, o artigo do P. Portocarrero, que suscitou
mais de 150 comentários, de que apenas transcrevi os nove ou dez primeiros, calculando
que a interacção de ironia e ataque pessoal iria prosseguir, embora muitos
deles, julgo, tenham concordado – como eu própria – com os sensatos argumentos
do P. GPA.
Os ciganos: impunidade de grupo /premium
Ninguém pode ser discriminado,
negativa ou positivamente, por razão da sua etnia, raça, região, ofício ou
religião: todos temos os mesmos direitos e obrigações.
P. GONÇALO
PORTOCARRERO DE ALMADA
OBSERVADOR, 20 fev
2021, 00:07177
É
injusto atribuir a uma etnia, raça, nacionalidade ou classe profissional,
alguma característica negativa de alguns dos seus membros, como dizer que os
árabes são fanáticos, os alemães são nazis, os alentejanos são preguiçosos, os
políticos são intrujões, ou os padres são pedófilos. Com certeza que há árabes
fundamentalistas, como os há tolerantes; alemães nazis, como os há democratas;
alentejanos preguiçosos, mas também os há trabalhadores; políticos honestos,
para outros que o não são; padres santos, embora, por via de excepção, também
os tenha havido pedófilos.
Alguns grupos étnicos, pelas suas
características, são de difícil integração social e, por isso, têm menos
aceitação. É, entre nós, o caso dos ciganos, ou roma, que ganharam recentemente
grande visibilidade, pelo facto de um candidato presidencial, sufragado por meio milhão de votos, a eles se ter
referido repetidas vezes.
Talvez haja uma proporção elevada de ciganos com antecedentes
criminais, mas não é justo, nem ajuda à sua inserção social, considerá-los
apenas à luz desse índice, que claramente os não beneficia. Também a maioria dos reclusos são homens casados, mas
não seria razoável concluir que o sexo masculino e a condição
matrimonial potenciam a criminalidade. Que os roma, como quaisquer outros, não sejam, a priori,
ladrões, não quer dizer que, a posteriori, sejam todos inocentes: a justiça deve, precisamente,
distinguir quem é inocente de quem é culpado, com independência da etnia, raça,
religião, cor, região ou profissão. Nenhum rom
pode ser perseguido pelo facto de o ser, mas também não pode ser inocentado sistematicamente só porque o
é: se é
cidadão português, deve ser tratado em plano de igualdade, na medida em que é
titular dos mesmos direitos e obrigações de todos os cidadãos, pois os não há
de primeira e segunda categoria.
A
igualdade – que
não existe em termos étnicos, rácicos, religiosos ou pessoais, porque todas as
etnias, raças, religiões e pessoas são diferentes –
deve existir, contudo, face à lei: nenhum cidadão pode ser discriminado por razão da
sua etnia, raça, religião, ofício ou região. É, contudo, justificável
que, por uma razão pertinente – como a idade, deficiência, gravidez, etc. – a
lei favoreça algumas pessoas, reconhecendo-lhes, por exemplo, o direito a
estacionamento privativo na via pública, atendimento prioritário, etc. Salvo casos destes, a todos devem ser
reconhecidos os mesmos direitos, e a todos devem também ser exigidas as mesmas
obrigações.
Portanto, a luta contra a
desigualdade racial, ou étnica, deve ser sustentada pela proibição de quaisquer
medidas discriminatórias em relação aos ciganos, tanto pelo reconhecimento dos direitos que lhes
correspondem, como pela exigência
das obrigações inerentes à sua condição de cidadãos nacionais. Tão racistas e xenófobos são os que defendem que os
roma sejam negativamente discriminados, como os que permitem que lhes seja dado
um tratamento privilegiado. Nem líderes políticos xenófobos e
racistas, que injustamente defendem uma política persecutória em relação aos
membros da etnia rom; nem líderes políticos, não menos xenófobos e racistas,
que defendem para os ciganos, por uma razão étnica, uma política de impunidade
total.
Alguns exemplos relativos à condição
feminina, à educação e à ordem pública, permitem supor que o Estado português
nem sempre observa o princípio constitucional da igualdade.
Com efeito, como são respeitadas as
mulheres e qual o seu papel na etnia cigana? Quantas raparigas chegam a
terminar o 9º ano? Quantas completam o 18º aniversário sem estarem ainda
casadas? Quantas são mães antes da maioridade? Quantas podem escolher
livremente a sua profissão e o seu futuro marido? É verdade que as próprias
famílias espancam e perseguem qualquer rapariga rom que desobedeça à ‘lei’ e
tradição da etnia?!
É curioso que, até mesmo as mais inflamadas feministas da nossa
praça, parecem distraídas da condição da mulher cigana, porque não consta que
exijam que terminem a escolaridade obrigatória, ou que só casem quando tiverem
a maturidade necessária para o fazer, e o façam apenas com quem livremente
tenham escolhido. Com certeza que as tradições da sua antiga cultura e os
rituais próprios da sua comunidade podem e devem ser respeitados, mas só na
medida em que não contradizem direitos fundamentais.
Também
o Ministério da Educação, que estava tão preocupado com as casas de banho para
os transexuais, parece ignorar que muitos alunos da etnia rom são impedidos,
pelos seus pais, de frequentar a escola até à conclusão da instrução
obrigatória, porque os preferem dedicados a actividades a que deviam ser
poupados na sua infância e juventude. Claro que, se os dois alunos
chumbados retroactivamente, por terem faltado às aulas de Cidadania e
Desenvolvimento, fossem ciganos, nada lhes teria acontecido, mas, como não são,
não puderam beneficiar da impunidade de grupo que, pelos vistos, é apanágio
dessa etnia.
Outro
exemplo, infelizmente recorrente, é o de agressões aos seguranças, ou ao
pessoal médico de hospitais e de centros de saúde, quando entendem que não
foram bem atendidos. Quando assim aconteceu no Hospital de Beja, em vez de os
protagonistas dos factos serem responsabilizados, um mediador
desculpabilizou-os, com o pretexto de que não compreendem que não devem agredir
quem está a cumprir as suas funções …
Não se pode bater num cigano,
só porque o é, mas também não se pode ter medo de quem comete um crime,
qualquer que seja a sua etnia, raça, religião ou profissão. Ser cigano – e, quem diz cigano, diz
também árabe, africano, alentejano, padre ou inspector do SEF – não é culpa,
mas também não é desculpa. Tão xenófobo e racista é quem diz que todos os
ciganos são ladrões e desordeiros, como quem diz que todos os ciganos não são
ladrões, nem desordeiros.
Todos
somos portugueses e não há portugueses de bem e portugueses de mal, porque
todos os portugueses somos de bem e de mal: que atire a primeira pedra o
cidadão nacional que foi sempre, e em tudo, exemplar no cumprimento de todos os
seus deveres cívicos. Os ciganos, ou roma, são um antigo povo que, entre
outras glórias, conta com um mártir, beatificado a 4-5-1997, por São João Paulo
II, numa celebração a que assistiram três mil ciganos de todo o mundo: São Zeferino
Giménez Malla, El
Pele, chefe da comunidade cigana de Barbastro, catequista, vicentino
e membro da adoração eucarística, que, por ter defendido um padre, foi fuzilado
a 9 de Agosto de 1936, por ódio à fé católica.
Seria
humilhante para a dignidade colectiva dos ciganos considerá-los à margem dos
restantes cidadãos nacionais, como se fossem a excepção à regra. A Igreja desde
sempre os considerou em plano de igualdade com os outros fiéis, oferecendo-lhes
os seus serviços através de uma pastoral própria. Respeitem-se
as suas tradições legítimas, reconheçam-se-lhes todos os direitos inerentes à
cidadania nacional, mas exijam-se-lhes também todos os deveres correspondentes. Só assim Portugal será democraticamente
plural, na igualdade de todos ante a lei e no respeito por todas as raças,
etnias, religiões, ofícios e regiões.
DISCRIMINAÇÃO SOCIEDADE MINORIAS MUNDO
COMENTÁRIOS:
LÚCIO MONTEIRO: "Os
ciganos: impunidade de grupo?" Quem considera que é inocente o título escolhido pelo
cronista Portocarrero desengane-se. Trata-se de um título capcioso, cuja
verdadeira mensagem se encontra camuflada sob o manto difuso de uma frase do
tipo interrogativo. Experimentem os leitores ignorar o ponto de
interrogação desta frase e constatarão que o padre Portocarrero defende,
manhosa e sub-repticiamente, que os ciganos constituem uma etnia privilegiada à
parte, beneficiária de regalias, negadas às demais etnias. E é
precisamente este o ponto de vista defendido por André Ventura, líder do Chega,
um partido fascista, xenófobo, racista e neonazi. Quem
quiser apoiar André Ventura, faça-o à vontade, mas sem necessidade de se
escudar cobardemente, a coberto de declarações falsamente interrogativas. O lobo,
mesmo camuflado com pele de cordeiro, não deixa de ser lobo, não deixa de ser
predador. O problema de muitos “lobos” predadores, que pululam
por aí, é que estão convictos de que nos conseguem fazer a todos passar por
parvos. Desenganem-se!
Max Martins > LÚCIO MONTEIRO: E...é mentira...? Gil Lourenço: Excelente texto... Dani Felix: Não sou fã deste articulista, porém
é de louvar a lucidez deste artigo! Sumarizou o grave problema deste país: os nossos
feministas, anti-racistas e activistas de sofá falham em exigir aos ciganos o
que se exige aos demais cidadãos, e ignoram mesmo o machismo e segregação que
os próprios ciganos praticam. Pior, qualquer pessoa que aponte estas questões
será logo rotulado de racista. Há que exigir mais! Paulo Alexandre: Ateu: Dani Felix
Concordo! Tenho a certeza que o sr. está farto de exigir ao articulista e à
Igreja dele que aceitem o sacerdócio feminino! Ou será que, essa coisa de
"exigir mais" só se aplica à comunidade cigana? Dani Felix > Paulo Alexandre: Ateu: Aplica-se a todos! Mas eu disse
alguma coisa nesse sentido? O artigo é sobre ciganos ou sacerdócio? Quando for sobre
sacerdócio, aponto isso! Raio de whataboutism, arrangem que fazer
Paulo Alexandre : Ateu > Dani Felix: O artigo é sobre
ciganos e é assinado por um padre! Ora, a questão que aqui se coloca, de forma
legítima, é a de saber em que medida as concordâncias se aplicam apenas ao
"discurso sobre os ciganos" ou se são extensíveis às discriminações e
às injustiças perpetradas pela Igreja do padre que assina a crónica. É simples!
É uma questão de coerência! Ficou incomodado por ser confrontado as injustiças
que a Igreja aplica às mulheres? Ou acha que só existem injustiças com ciganos?
Max Martins > Paulo Alexandre : Ateu: E o que tem uma coisa a ver com
a outra...? Nuno
Ribeiro: Aqui está a prova que o conteúdo e a
forma são duas coisas importantes mas muito diferentes. Diz o mesmo que o
Ventura mas de uma forma ponderada, logo aceitável. Formas aparte, concordo
100% com o conteúdo……………………
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