quinta-feira, 4 de julho de 2024

Ventos do Oriente, ventos do Ocidente

 

A enovelar-se no centro. Ou a partir daí… Mas Orbán tem defensores. E também limitações, que se prestam a cedências…

Inspiração em Trump, hesitações sobre Ucrânia e imigração na agenda. Como será a presidência de Orbán, o "provocador-chefe", na UE?

Escolheu o lema de Trump porque acha a política europeia "cinzenta" e irrita a UE por bloqueios à Ucrânia. Orbán quer a imigração no centro da agenda da presidência húngara da UE, que começa agora. Inspiração em Trump, hesitações sobre Ucrânia e imigração na agenda. Como será a presidência de Orbán, o "provocador-chefe", na UE?

MARIANA LIMA CUNHA: Texto

OBSERVADOR, 402 jul. 2024, 22:007

 “Apertem os vossos cintos para a primeira presidência da UE inspirada em Donald Trump”. A frase, que abre este texto do Politico, resume de forma eficaz o suspense que reina na Europa à volta do lugar de destaque que o Governo húngaro, liderado pelo quarto mandato consecutivo pelo polémico e divisivo Viktor Orbán, vai assumir nos próximos seis meses. Descrito como o “provocador em série” ou o “provocador-chefe”, líder dos “iliberais”, que leva a Europa a “suster a sua respiração”, Orbán terá em mãos um papel que é, em grande parte, diplomático e simbólico, numa fase em que as instituições europeias não terão grande actividade legislativa — mas, mesmo assim, não faltam responsáveis europeus que temem que o seu turno à frente da UE traga retrocessos ou novos bloqueios à agenda do velho continente.

A apresentação da presidência húngara da UE, que começou oficialmente esta segunda-feira, não ajudou a acalmar esses medos. Perante os rumores de que Orbán, aliado de Donald Trump, iria escolher como lema da sua presidência Make Europe Great Again, ou Tornar a Europa Grande Outra Vez (uma imitação do lema MAGA, aplicado aos Estados Unidos, marca da presidência Trump), o jornalista de investigação húngaro Szabolcs Panyi escrevia na rede social X que “a ideia soava tão fraca e ridícula que nos abstivemos de a noticiar”.

Como Panyi também reconhece, quem se absteve de dar a notícia errou: o lema inspirado em Trump foi mesmo para a frente, ao lado de um cubo Rubik (uma invenção húngara) que serve de logótipo e das promessas de “intermediação honesta”, numa presidência “normal”, deixadas pelo representante da Hungria junto da UE, Balint Odor. E, depois de anos de bloqueios de legislação e decisões europeias — incluindo em pacotes de ajuda destinados à Ucrânia, o que tem levado à exasperação responsáveis em vários países — Orbán inaugurou a sua presidência com uma surpreendente visita a Kiev, onde apertou a mão de Volodymyr Zelensky e pediu um cessar-fogo.

A Ucrânia terá necessariamente de constar da ementa desta presidência da UE, mas não é o único tema, nem o único passível de gerar polémica. A própria Hungria, que vai organizar uma “missa pela Europa” numa catedral em Bruxelas (um sinal dos valores conservadores defendidos por Orbán), anunciou desde logo que colocará na agenda temas como um maior controlo nas fronteiras externas da UE (“trabalhando de perto com os países de origem e de trânsito”, escrevia Orbán esta semana num artigo de opinião publicado no Financial Times), uma redução da imigração ilegal ou a promoção de uma política de agricultura orientada para os agricultores (a Europa tem-se focado nos seus objectivos “ideológicos”, no contexto da transição verde, e esquecido o lado da indústria, criticava no mesmo artigo).

São, assim, variados os temas que Orbán quer tocar nestes seis meses, mesmo que o seu historial de bloqueio a decisões europeias e o lema escolhido para a sua presidência façam levantar sobrolhos em Bruxelas. O húngaro prometia, no mesmo artigo de opinião, levar a cabo uma “presidência excepcionalmente activa”, pondo de lado “disputas ideológicas” e dando “o tiro de partida no motor da Europa”. Mas não sem antes deixar mais uma provocação: “Vamos tornar a Europa competitiva outra vez”, remata o texto.

Visto como pró-Putin, Orbán foi a Kiev pedir cessar-fogo

A visita de Órban a Kiev, logo no dia em que a Hungria assumiu a presidência da UE, não seria a mais previsível. Afinal, Orbán tem bloqueado vários pacotes de ajuda destinados à Ucrânia e permitiu a custo que as negociações para o alargamento da UE avançassem saindo da sala do Conselho Europeu, para que a decisão pudesse ser tomada de forma unânime (e ainda assim esclareceu que considerava o alargamento uma “má” ideia, tendo em conta também os interesses nacionais da Hungria, dos fundos da coesão ao efeito que a entrada ucraniana teria no negócio para os seus agricultores).

Ao mesmo tempo, Orbán é visto como o aliado mais próximo da Rússia na UE: ainda no ano passado esteve com Vladimir Putin em Pequim e disse ao Presidente russo, segundo a televisão estatal da Rússia, que a Hungria“nunca quis confrontar o país” e sempre desejou “expandir contactos”. E, como a BBC contava num texto em que se propunha explicar “o que tem a Hungria contra a Ucrânia” em meados de dezembro de 2023, notava-se que “enquanto outros líderes europeus fazem fila na cimeira de Bruxelas [do Conselho Europeu] para tirar fotografias com o líder ucraniano, Orbán afasta-se”.

Nessa altura, Zelensky chegou a ser apanhado numa conversa tensa com Orbán, durante a qual, contaria depois, perguntou ao húngaro as razões pelas quais planearia bloquear a entrada da Ucrânia na UE.

Orbán costuma afastar-se das fotos com Zelensky, conta a BBC. Desta vez, voou até Kiev GLOBAL IMAGES UKRAINE VIA GETTY

Os meses passaram e Orbán voou mesmo até à Ucrânia, onde tirou a esperada fotografia com Zelensky, já no papel de líder do país que preside à UE. Foi a primeira vez em 12 anos que visitou Kiev e a visita acabou com o líder húngaro a pedir ao ucraniano para considerar um cessar-fogo,“invertendo a ordem” para “acelerar as conversações de paz”. “Explorei esta possibilidade com o Presidente e estou grato pelas suas respostas honestas e pela sua negociação”, referiu Orbán, citado pelo Kyiv Independent.

Na publicação com que rematou a visita, Zelenky falou de “questões fundamentais das relações de vizinhança” que foram discutidas no encontro e que poderão fazer parte de um novo “documento bilateral” entre os dois paísescomércio, cooperação transfronteiriça, infra-estruturas e questões energéticas, além da “esfera humanitária” — ainda que nada de específico sobre um cessar-fogo.

Feita a primeira visita, Orbán prometeu entregar “imediatamente” as suas conclusões ao Conselho Europeu. Resta saber se a conversa com Zelensky terá alguma consequência prática e se as posições da Hungria no quadro europeu serão objecto de alguma mudança. “Cerca de 40% de todas as decisões da UE sobre a Ucrânia são bloqueadas pela Hungria, queixava-se um “exasperado” Gabrielius Landsbergis, ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, em maio, segundo o relato que a France24 fazia depois de Orbán ter bloqueado um pacote de 6,6 mil milhões de euros que incluía ajuda militar. “Tenho de me acalmar quando falo deste assunto, porque o que está a acontecer é ridículo”, irritava-se um diplomata europeu “sénior” em conversa com o Politico.

Ao mesmo jornal, vários diplomatas europeus confessavam que uma “operação de influência russa via Hungria” será uma “preocupação chave” durante a presidência de Orbán.

O “jantar” europeu que Orbán vai organizar (com férias pelo meio)

O bloqueio às posições da UE sobre a Ucrânia é uma das causas da irritação ou “exasperação” de outros responsáveis europeus com a Hungria, mas não é a única. Outro dos problemas tem a ver com o reembolso parcial das armas enviadas por outros países europeus à Ucrânia, que também tem sido bloqueado pelo país de Orbán. E depois existem, há anos, as questões detectadas no respeito da Hungria pelo Estado de Direito — que já levou a UE a suspender os fundos entregues ao país no contexto dos fundos de coesão (no caso, um pacote de dez mil milhões de euros), até decidir entregar-lhos apenas no início deste ano.

Nessa altura, o Comissário Europeu para a Justiça, Didier Reynders veio assegurar que a UE tinha “recebido garantias suficientes de que o poder judiciário será fortalecido na Hungria”, como citou a Euronews. Mas isto não se traduzia, garantia, num cheque em branco: “A decisão tomada hoje não é o fim do processo. Vamos continuar a monitorizar cuidadosamente a situação e reagir no caso de haver retrocessos”, avisou.

ANADOLU VIA GETTY IMAGES

No Parlamento Europeu, foram-se tornando evidentes as hesitações e reservas quanto às posições húngaras: os eurodeputados chegaram a defender que o país podia não ter condições para assumir as rédeas de uma presidência europeia ou até que devia deixar de ter direito ao voto no Conselho Europeu — mas sem sucesso.

Quando à presidência em si, e como diz o próprio site do Conselho Europeu, “este papel já foi comparado ao que alguém faz quando é anfitrião de um jantar, garantindo que todos os seus convidados convivem em harmonia — com capacidade para expressarem as suas diferenças durante a refeição, mas saindo com um bom ambiente e um propósito comum”.

Não é exactamente consensual a ideia de que Orbán se ficará pelo papel de mero anfitrião, especialmente quando promete uma presidência “excepcionalmente activa” e recheada de temas quentes. Mas, como vários analistas internacionais apontam, o calendário pode funcionar a seu desfavor: com as férias de verão a meterem-se pelo meio e os ocupantes dos novos cargos de Bruxelas a tomarem posse entretanto, os próximos meses não terão espaço para grande actividade legislativa concreta a nível europeu.

“A União Europeia está numa fase de transição. Entre as escolhas para a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu, nada de significativo deverá acontecer até dezembro. Na verdade, esta presidência, que algumas pessoas temem, chega num momento bastante oportuno, que limitará as oportunidades para Viktor Orbán causar problemas”, diz à France24 a presidente da Fundação Robert Schumann, Pascale Joannin. O que não significa que não possa acelerar a actividade legislativa na Hungria, incluindo para “consolidar” um regime mais “autocrático”, alertam outros especialistas, citados pelo The Guardian.

Do lado da Hungria, para já, as promessas estão feitas: “Estamos conscientes de que seremos observados de forma muito atenta para ver se cooperaremos sinceramente com os estados-membros e se seremos intermediários honestos. Isto será muito escrutinado, e os critérios serão talvez ainda mais altos para a Hungria do que para outras presidências”, reconheceu o ministro para os Assuntos Europeus húngaro János Bóka, em declarações ao Politico.

Trump e Xi, os amigos de Orbán que irritam Bruxelas

As relações externas da Hungria que são vistas como problemáticas vão além da amizade com a Rússia, que o governo húngaro diz não passar de um acto de “pragmatismo”. Basta olhar, por um lado, para as hashtags do lema #MEGA — #MAGA, no original criado pelo movimento de apoio a Donald Trump — e para a relação entre Orbán e Donald Trump, que torna uma incógnita o que fará a Hungria (que nessa altura ainda terá a presidência da UE) na sequência das eleições norte-americanas, em novembro. “O estilo e a linguagem da política no continente europeu estão a tornar-se cada vez mais cinzentos“, explicou Orbán ao jornal alemão Berliner Morgenpost. “Precisamos de pessoas que abanem o sistema, que venham de fora”.

De resto, Orbán já declarou o seu apoio a Trump nesta sua recandidatura e tem planos para organizar um Conselho Europeu informal em Budapeste, capital da Hungria, após as eleições norte-americanas — com a imprensa húngara a escrever que Orbán gostaria de garantir a presença de Trump, nem que fosse através de um vídeo gravado com antecedência.

Como a CNN contava aqui, Trump chegou mesmo a receber Orbán na sua casa em Mar-a-Lago, em março, defendendo que “não há ninguém melhor, mais inteligente ou melhor a liderar do que Viktor Orbán. Ele é fantástico”. Quando declarou o seu apoio a Trump, numa conferência em maio, em Budapeste, o húngaro devolveu os elogios e usou o lema que depois adoptaria para a Europa: “Make America great again, make Europe great again!”.

Orbán e Trump na Casa Branca, em 2022 GETTY IMAGES

As relações com a China também levantam preocupações na Europa. Como o Politico recordava neste texto sobre o flirt entre Hungria e China, numa visita em maio, o Presidente chinês, Xi Jinping, descrevia a relação entre os dois países como sendo “tão madura e rica como o vinho Tokaji”. A aliança não se ficou por palavras, com investimento directo chinês a no valor de 16 mil milhões de euros a entrar na Hungria (a fábrica de carros chinesa BYD entrou no país, apesar de estar a ser alvo de uma investigação europeia sobre o recurso a subsídios ilegais).

Ao Politico, Bóka defendeu que existe “a possibilidade de uma parceria significativamente e mutuamente benéfica, ao nível económico, com a China”. “Acredito que este será o maior desafio do próximo ciclo institucional”, defendeu o ministro. Tudo enquanto a Comissão Europeia tenta, em articulação com os Estados Unidos e o Japão, distanciar-se e ganhar autonomia em relação a cadeias de abastecimento que passem pela China.

Para o ministro húngaro, no entanto, o conceito de “segurança económica” generalizada não existe: “Se há riscos para a nossa segurança, devem ser especificamente identificados e combatidos”. O discurso que a Comissão Europeia tem adoptado, no sentido de garantir cada vez mais a soberania, a segurança e a independência económica da UE, pode assim ficar em risco, pelo menos de um adiamento, por uns meses.

Posição dura na imigração (com “relaxamento” dentro de portas)

É possível encontrar um paradoxo entre as promessas de Orbán para estes seis meses. Por um lado, o Governo húngaro tem endurecido o seu discurso relativamente à imigração, e colocou o assunto no centro das suas prioridades — Orbán diz querer “combater a imigração ilegal trabalhando de perto com os países de origem e de trânsito, enfatizando a importância de proteger as fronteiras externas e a necessidade de haver fundos europeus para este propósito”.

Por outro lado, nota o Politico, um dos assuntos que mais interessam a Budapeste — que desde 2015 até organiza uma conferência anual sobre o assunto — é a demografia, numa altura em que vê a sua população a cair ou a emigrar para outros países europeus (e, consequentemente, alguma escassez de mão de obra). Por isso, escreve o jornal, o governo “escolheu colocar o pragmatismo acima da sua ideologia céptica em relação à imigração”.

Ou seja, uma vez que as medidas que o governo implementou na última década para tentar aumentar a natalidade — com benefícios fiscais para os pais ou subsídios para comprarem casa — não estão a impedir a queda desses números, prevendo-se que a população húngara caia dos actuais 9,6 milhões para 8,5 milhões em 2050, o governo tem passado medidas que abrem as portas de forma temporária a imigrantes, como uma lei que permite a trabalhadores de 15 países fora da Europa ficarem no país por um período de até três anos.

As fábricas chinesas instaladas no país também explicam este “relaxamento” nas regras, diz o Politico, uma vez que a Hungria precisa urgentemente de mão-de-obra. Ainda assim, as entradas são limitadas — 65 mil imigrantes por ano — e não se aplicam a todos os países, nem é permitido aos trabalhadores “convidados” por tempo limitado trazer o resto da família.

A família europeia que pode trazer mais influência a Orbán

Tudo isto acontecerá ao mesmo tempo que Orbán batalha noutra frente europeia: a fundação de uma nova família política, os Patriotas pela Europa, que lançou ao lado dos partidos irmãos da Áustria e da Rep. Checa, com o objectivo de ser “o grupo de direita mais forte na política europeia”. O grupo diz querer aplicar “a vontade dos eleitores” — que passará, diz Orbán, por “paz, ordem e desenvolvimento”, e não pelos objectivos da “elite de Bruxelas (“guerra”, “migrações” e “estagnação”).

Em Portugal, o Chega foi convidado a aderir ao grupo — André Ventura disse ver com “bons olhos” a iniciativa, numa lógica de “combate ao socialismo”, e prometeu discuti-la nos órgãos do partido e anunciar depois a sua decisão. Se crescer da forma que Orbán pretende, o Patriotas pela Europa pode tornar-se uma família de peso europeia — o que, a somar à presidência da UE, poderia emprestar ao Governo húngaro uma maior influência, temida por muitos responsáveis em Bruxelas.

UNIÃO EUROPEIA     EUROPA     MUNDO     HUNGRIA

COMENTÁRIOS (de 6)

servus inutilis: uma missa é um exemplo de 'valores conservadores'??? é preciso ser muito retardado para escrever isto                 Português de bem: A escumalha da imprensa (alguma dela, a maioria) já vai começar com o nojo do costume. Provocador? Na UE querem é paus-mandados em lambe-botistas, súbditos e submissos. Carrega neles, Orbán.

E assim vamos murchando


Ressequidamente … Faz parte… Já o dizia António Nobre a respeito da secura nacional: “Ai do Lusíada, coitado…”

Mas o lusíada somos nós, não esse bem retratado “Santo A. Costa”, que de coita não padece, nem de nação de truz, nem de omissão da paz ou do engenho roaz, bem de lapuz, que também o somos nós, com bué de pus, de quando em vez, e mesmo em bis, para o frequente catrapus a fazer jus à falta de luz… a todos  nós, os do tanto faz...

Santo António Costa (e desde ontem São Diogo Costa)

Na primavera de 2021, quando iniciei os meus comentários na ainda TVI24, escolhi para tema de estreia a possível ida de Costa para Bruxelas. A fonte era boa, o sonho desejado: não hesitei na “notícia”

MARIA JOÃO AVILLEZ Jornalista, colunista do Observador

OBSERVADOR, 03 jul. 2024, 00:2213

1Sem novidade mas um grande exclusivo: dois santos nas recentes festas de Junho, ambos transportados em andores e logo com o mesmo nome: um, Santo António de Lisboa, muito nosso conhecido, levado pelo calor popular; o outro, recém santificado, Santo António Costa, colocado em relevo no andor da media. Num ápice, dissolveram-se críticas, reticências, dúvidas, desilusões. Venceu a canonização. A esquerda é naturalmente dada a “isto”, a media, por devoção ou conveniência profissional, também: tocam-se os tan-tans da selva, há um salto instantâneo para écrans e teclados de computadores. Nunca há ausências nas grandes missas onde a esquerda agiganta os “seus” e muito menos hesitação ou dificuldade. Trata-se de pertença mas sobretudo da espantosamente acrítica facilidade com que se auto-atribuem o agir como únicos. Como por estranho direito próprio. O resto? São intrusos na missa errada.).

2Não falo de pertenças antigas e genuínas, que obviamente se respeitam: os tempos, num dantes já longínquo, podiam ser ferozes para elas. Evoco antes uma pertença “descoberta” em 74 , ancorada em 75 e nunca auto-revista ou sequer revista, o que talvez explique que grande parte da comunicação social, seja “dali”, naturalmente e sem vacilação. Talvez porque o poiso seja acolhedor; talvez porque destoar nunca ocorreria; talvez porque compense. Não sei. E não há sombra de ironia no que digo. É um vento que sopra forte, o mesmíssimo vento há décadas. Forte: a esquerda tem a prioridade no espaço mediático, ou quase, mesmo quando fora do circuito do poder. Mais as universidades, o debate público, a maioria da opinião publicada, os “fóruns”, o que se vê, lê, ouve. A esquerda fornece e congrega; a grande família aceita e junta-se. Por detrás, está outro país mas nunca sabemos bem qual é, nem como: ouvimos pouco a sua voz.

3Vem isto a propósito do andor de António Costa. Não foi por acaso que na primavera de 2021, quando iniciei – na ainda TVI 24 – os meus comentários políticos semanais, um dos temas do primeiro comentário foi a “possibilidade” da ida de António Costa para Bruxelas. A fonte era boa e o sonho, estava de acordo com o que Costa gostaria de fazer (ou preferiria fazer?). Amparada na fonte e na verosimilhança do que ela me contava, avancei “Costa vai para a Europa”. (Não me lembro se pus ponto de interrogação.)

Hoje, sorrio. Nunca mais o vi, mas quantas vezes não o encontrei em funções partidárias, parlamentares, governativas, autárquicas? Em “n” entrevistas escritas, televisivas, radiofónicas? Em conversas, casas, restaurantes, aviões; no estádio do “Glorioso” do qual ambos somos incondicionais. Era – de longe – a pessoa com quem mais falava no PS e depois quase a única: corria bem, para quê mudar? Correu sempre bem, de resto, eram momentos interessantes, vivos, politicamente úteis, animados, por vezes divertidos. (Não me admira que os seus pares europeus achem o mesmo, só vêm “este” António Costa. Não precisam do outro.)

Uma vez, era ele presidente da Câmara, almoçávamos no restaurante de um hotel recém aberto do qual estava orgulhoso, e vieram à baila fidelidades partidárias, a sua natureza, a sua escolha, a influência, a dependência: e seria eu capaz de alguma vez não votar no PSD como ele nunca deixaria de votar no PS? “Não, não seria”. Votaria mesmo que “lá estivesse um copo”. Ele, mesmo que “só lá estivesse um porteiro”. Não era devoção, eram escolhas.

E, uma vez por outra, havia também algumas confidências, políticas ou não. Guardei-as bem.

4E depois um dia, veio a geringonça: a “passista” que sou não gostou do desenlace. E a “soarista” que fui, começou logo a pensar no dr. Soares. Um mau bocado. Costa meteu a extrema-esquerda no bolso (a agonia de hoje foi semeada aí): fê-los engolir o que na véspera lhes desonrava a cartilha marxista: Nato, UE, moeda única, e tutti quanti. Em troca deu-lhes os “costumes”, coisa que lhe foi barata mas que sabia ser cara aos bem-vindos.

Reformas? Não lembro. Avanço, iniciativa, progresso? Entendimento – por exemplo – da importância dos criadores de riqueza – e logo de melhor emprego e salários menos humilhantes – como são empresas, empresários e empreendedores? Sólida argumentação num apelo ao compromisso com o país? Não se ouviu. (Acho a sério que António Costa se bastava si mesmo com aquele falso, depois burlesco, e finalmente obsessivo argumento de que “a culpa era de Passos Coelho.)

Centeno cativou, estrangulando os serviços públicos, ou seja, prejudicando os que não tinham seguros de saúde, nem filhos em escolas privadas, mas… que importância? Era preciso mostrar serviço a Bruxelas depois de alguns vexames e brilhar cá dentro: “contas certas, sou eu!”. Não estou a menorizá-las, nem a negá-las, estou a contextualizá-las. Centeno é hoje um mito e pode até – dizem – vir a vestir-se de candidato presidencial… (Um dia houve um grande político que me explicou que “em política há sempre pior”. De facto. )

5Maioria absoluta. Surpresa. Mas apostei desde esse dia que o seu líder não tinha gostado dela por aí além, já com a Europa na cabeça. Não pode ter gostado: foi o maior desperdício que me lembre no uso desse formidável instrumento político. E o mais misterioso: deficientíssimo elenco governamental – do qual excluo Fernando Medina, sempre num camarote à parte; casos, demissões, más escolhas, chatices, serviços públicos nas lonas, desconfiança. “A culpa era do Passos”. Seis, sete anos depois? Os que fossem precisos.

Não é reformista quem quer, mas nem sequer parece que ele quisesse.

Sem queda para liderar executivos ou conduzir uma orquestra de distintos instrumentistas, não animou governações, nem estimulou iniciativas. O legado de quase uma década é perplexante.

Costa é um político clássico: jogo de cintura, gosto pelo consenso, arquitecto de pontes, prática do cálculo político, uso do cinismo, capacidade para a implacabilidade com inimigos (e não só).

E depois, numa manhã politicamente estranhíssima, veio uma trapalhada propositadamente nunca bem contada: nem por uns, nem por outros, nem por ninguém.

Era supostamente com a Justiça afinal não foi, mas António Costa não perdeu um minuto: saiu. E podia não o ter feito. Mas fez.

Visto de hoje não deixa de ser uma grande história política.

6Costa ganhou. Agora, Europa. É ofício de outra natureza que irá bem com a sua.

E com as suas características, gostos, capacidades, hábitos. Astuto mais que reflexivo, negociador mais que elaborador, comunicativo, ágil, é com tudo isto que é muito e lhe vai ser útil, que se sentará numa cadeira na qual pensava há anos. Para a qual olhou muito seriamente, e se activou, se mexeu, e negociou. Também há muito.

É capaz de ter sorte. Como sempre. António Costa sabe fabricá-la e depois produzi-la Como ninguém na política portuguesa.

6Declaração impopular*: às vezes, é verdade, lembro-me muito de alguns momentos que passámos juntos, profissionalmente, civicamente, pessoalmente. E no Estádio da Luz.

* A Direita não me perdoará, a esquerda achará que não tenho o direito.

PS: Foi de antologia e ficará obviamente no livro do futebol internacional. Nem sei se alguém fez igual desde que se compete atrás de uma bola. A façanha de Diogo Costa foi absolutamente histórica. Se me tivessem contado nunca acreditaria.

ANTÓNIO COSTA       POLÍTICA

COMENTÁRIOS (de 6)

JOHN MARTINS Para o peditório do santo Antonio Costa deixei de estar disponível...Montenegro que se aguente com o fardo, das contas certas, prometidas aos milhões que têm que ser gastos em contas correntes !...Já o Costa voador da baliza de Portugal...foi o salvador sem dúvida. Não me vou deitar sem voltar a ver. Com este MESTRE da baliza podemos ser campeões!...               António Lamas: O retrato que MJA faz do pior primeiro ministro que governou Portugal, é de o BOBO que vai para a corte de Bruxelas. Entre risos, dichotes, bacoradas em inglês, francês e português, vai tentar passar a sua "imagem" de negociador.  Não sendo católico, tem sempre uma fezada e acredita em milagres. A Europa está à beira do precipício e Costa vai fazer que dê um passo em frente.                Filipe Paes de Vasconcellos: Deus queira que Portugal não se possa vir a arrepender. Costa não é um bom negociador. Costa é um habilidoso com provas dadas de que não é uma pessoa confiável. Se for para o tal lugar ficarei sempre preocupado com a imagem que passará de Portugal mesmo que só faça uma décima parte do que fez em Portugal. O grande Artista tem um “CV” que não é recomendável e que apesar do lugar que vai ocupar, enquanto cá esteve fez tantas que a Justiça continuará a fazer o seu papel. Já Agora 1. nunca conheci um malandro antipático! JA 2. Ainda não consegui entender a sua fixação por Medina, um político que sempre foi um apêndice de Costa.

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Argumentos


Com conta, peso e medida q.b. Texto enviado pelo Luís, colhido nas suas buscas democráticas.

OS DARLINGS DO PCP

O PCP apoia o regime cubano. É natural, sendo uma ditadura, com a repressão associada, Cuba tenta implementar um regime comunista, com algumas qualidades, mas sobretudo com algumas limitações e muita coerção.

O PCP apoia o regime norte-coreano. Na Coreia do Norte existe, de forma não constitucional, um regime monárquico dinástico, que passa de pais para filhos. Muito mais do que caracterizar-se pela procura do comunismo, o regime norte-coreano caracteriza-se pela arbitrariedade, pela violência e por um superior grau de loucura.

O PCP apoia o regime chinês que, dizendo-se comunista, pratica o capitalismo mais feroz. Embora nem sempre de forma explícita, o PCP apoia os regimes da Bielorrússia e de Moscovo, ditaduras parasitadas por riquíssimos oligarcas, que mais facilmente podem ser considerados de direita do que de esquerda.

Com a queda do muro, o critério de proximidade com o partido comunista deixou de ser a procura do marxismo-leninismo. Actualmente o critério define-se por oposição. O PCP sente-se próximo de todos que se opõem ao mundo livre, às chamadas “democracias burguesas” que são as nossas, e a qualquer forma de amizade com os Estados Unidos.

Várias vezes, especialmente em alturas próximas do 25 de Abril, se diz que o PCP lutou pela liberdade. Pois é claríssimo que não. O PCP que lutou de forma aguerrida e tenaz contra o Estado Novo, nunca o fez com ensejos de liberdade, mas sim com vontade de impor uma ditadura que seria muito pior.

Ideologias como o comunismo, ou o fascismo, são incompatíveis com a liberdade. Tal é facílimo de compreender, mesmo pelos charlatões que se gabavam de ter derrubado o muro que separava os comunistas dos outros partidos.

E a inteligência artificial

 

Nem sequer contou, com q b da natural para a conquista do espaço próprio, sem o “a salto” vexatório nem a mala de cartão das nossas tradições desertoras.

A vitória de António Costa

O que têm em comum António Costa, António Guterres e José Manuel Durão Barroso? Há qualquer coisa de fado em os nossos governantes não gostarem de nos governar.

HELENA GARRIDO Colunista

OBSERVADOR, 02 jul. 2024, 00:2067

Devemos ficar contentes quando um compatriota tem sucesso fora de portas. E, por isso, a escolha de António Costa para Presidente do Conselho Europeu (PCE) merece ser elogiada, como a de José Manuel Durão Barroso e António Guterres, todos eles ex-primeiro-ministros. Não sendo correlação causalidade, é interessante verificar que todos eles pertencem igualmente ao grupo dos líderes de Governo que menos bem fizeram ao país. Podia dizer-se que parece ser o curriculum necessário para se ser escolhido pelas instituições internacionais, deixar o país natal cheio de problemas, sem capacidade para os resolver. E todos eles a parecerem que se sentiram aliviados por nos deixarem.

António Costa ganhou a maioria absoluta a 30 de Janeiro de 2022 e tomou posse a 30 de Março. Pouco menos de um ano e meio depois o Governo de maioria absoluta, do qual se esperava que finalmente adoptasse medidas estruturais, acumulava a saída de 13 ministros e secretários de Estado.

De Março de 2022 a 7 de Novembro de 2023, o ex-primeiro-ministro e agora Presidente do Conselho Europeu pareceu em geral ter desistido de governar. Chamou a si os assuntos europeus, pasta que costumava pertencer aos Negócios Estrangeiros, e de início estava mais fora do país do que dentro. Uma das viagens que ficou na história foi a que fez à Hungria em Junho de 23, onde assistiu à final da Liga Europa ao lado do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e que agora votou a favor da sua nomeação para PCE. Na altura quer o PSD como a Iniciativa Liberal perguntavam se António Costa estava em campanha.

Com todo o trabalho que teve na frente europeia e que, infelizmente para nós, não teve em Portugal, foi protegido pela sorte – que dá muito trabalho – e viu o seu sonho ser concretizado por causa da Operação Influencer, usando o parágrafo do comunicado do Ministério Público para se demitir. Sim, depois de tudo o que já tinha acontecido com o seu Governo e com a descoberta de pouco mais de 75 mil euros na estante do seu chefe de gabinete, ficaria muito fragilizado, mas podia não se ter demitido até porque tinha uma maioria absoluta. E escusava, quer o ex-primeiro-ministro como algumas pessoas do PS, de transformarem o Presidente da República num alvo.

Durante o tempo da sua governação, não fez uma única reforma estrutural, não decidiu um único investimento estruturante como o novo aeroporto ou a alta velocidade. Foi uma governação sempre atrás do prejuízo, que teve justificações no caso da pandemia e da inflação, mas que não se percebe noutras áreas. Deixou o seu Governo ao Deus dará e deixou-nos com uma imigração descontrolada, sem respeito pelos direitos humanos, serviços públicos degradados, como a educação, a saúde e a justiça, por exemplo, assim como um problema grave na habitação. E deixou-nos uma sociedade radicalizada, com os eleitores a serem chamados a eleições a meio de um caso de suspeitas de corrupção que conduziu o Chega aos 50 deputados.

Ah, sim, deixou-nos as “contas certas”. Só que esse equilíbrio orçamental foi conseguido à custa da míngua dos serviços públicos e, por isso mesmo, de sustentabilidade difícil. As poucas reformas que começou a fazer foram ditadas por Bruxelas, como condição para se ter acesso às verbas do PRR.

É com este curriculum na governação de Portugal que António Costa chega a Presidente do Conselho Europeu. Sim, é verdade que o perfil exigido para aquela função ajusta-se completamente ao que o ex-primeiro-ministro sabe fazer melhor: a negociação política, os jogos políticos. Quando o deseja ou quando lhe é útil porque sabemos bem como é implacável com quem o critica ou se coloca no seu caminho. Foi assim com António José Seguro, foi assim com Assunção Cristas, ex-líder do CDS, foi até assim e de alguma forma com o Bloco de Esquerda e foi assim com André Ventura que agora, ironicamente, quer pertencer ao grupo político de que Viktor Orbán é fundador.

As escolhas da União Europeia para as lideranças dos principais órgãos europeus são aliás incompreensíveis, como bem notou a primeira-ministra italiana Georgia Meloni. Na prática, foram os derrotados, o chanceler alemão Olaf Scholz nas eleições europeias e agora como se viu na primeira volta das legislativas o presidente francês Emmanuel Macron, que decidiram quem iria dirigir os destinos da Europa da União nos próximos cinco anos, indiferentes aos resultados eleitorais e ignorando a Itália. São estes mesmos líderes, tal como António Costa, que depois estranham o sucesso dos populismos, quando os alimentam.

Nós portugueses começamos a estar habituados a ser trocados, pelos nossos líderes, por cargos internacionais que os satisfazem mais. António Costa consegue sair sem que nos sintamos abandonados, apesar de tudo em melhor posição do que António Guterres, mas ao contrário do que aconteceu com José Manuel Durão Barroso, que deixou de ser primeiro-ministro para ser presidente da Comissão Europeia. Há qualquer coisa de fado neste nosso destino de não sermos capazes que os nossos governantes gostem de nos governar.

ANTÓNIO COSTA     POLÍTICA     PARLAMENTO EUROPEU     UNIÃO EUROPEIA     EUROPA     MUNDO     GOVERNO

COMENTÁRIOS (de 67)

bento guerra: "Vitória"? Encomenda da Internacional Socialista. Vitória do Diogo Costa   Alfaiate Tuga: Alguém sabe dizer se os 40.000,00€ mensais vão pagar IRS em Portugal ou noutro país qualquer? Já agora, a pensão de 95% do último vencimento a que terá direito quando terminar o mandato, vai ser paga por quem? Bruxelas? Segurança social portuguesa? Obrigado              J G: Eu não fico contente quando um "compatriota" corrupto e medíocre consegue ter acesso a cargos de poder. Uma pessoa que já várias vezes provou ser de mau carácter e incompetente num cargo de poder consegue (e conseguiu, os resultados negativos falam por si) prejudicar a vida de muitas outras pessoas que realmente trabalham e contribuem para a sociedade. Sou a favor do mérito e de pessoas que mostram resultados positivos, não sou a favor da mediocridade premiada e carregada ao colo pela cunha e compadrio. Ao se premiar uma pessoa medíocre a nível profissional e ainda para mais a contas com a justiça como António Costa estão a passar uma mensagem muito errada aos mais novos, estão a dizer a eles que eles também devem ser aldrabões e destituídos de moral para conseguirem subir na vida.             Maria Tubucci: Triste país, muito triste mesmo, Sra. HG, que tolera ser abusado, como referiu, para ser usado como rampa de lançamento para um incompetente adquirir um emprego na Europa. A vitória do Costa significa a nossa derrota, empobrecimento e subjugação a interesses exteriores que nos querem aniquilar como nação.               Joaquim Silva: Costa apesar de ser uma nulidade a nível de gestão e governação, foi um excelente estratega para ele próprio, até conseguiu que seus rivais votassem nele e atingiu o seus objectivos, dele não se pode esperar outra coisa senão egoísmo e arrogância basta ser um pouco pressionado, o mau carácter vem logo ao de cima.                Carlos Chaves: Caríssima Helena Garrido, meter dois execráveis socialistas que praticamente nos deixaram na miséria, no mesmo saco onde meteu o Durão Barroso, CONVIDADO pelo Conselho Europeu para presidir à Comissão Europeia, só pode ser má-fé! Os dois socialistas abandonaram Portugal e os Portugueses, ambos se demitiram das suas funções quando perceberam o pântano (palavras de Guterres) que nos tinham enfiado, e venderam-se para os altos cargos que ocupam (um ainda vai ocupar). O Durão Barroso foi convidado, não se andou a vender para o lugar e foi o único até agora, a fazer duas Presidências da Comissão Europeia, uma digna representação Portuguesa na política internacional! Ao contrário destes dois socialistas, um apoiante do terrorismo do Hamas, e o outro nem é precisa que descreva o resultado das suas políticas, pois todos nós as sofremos na pele!                             GateKeeper: HG voltou ao seu "normal". E mais não digo. A minha esmerada e pontualíssima educação dos Alpes Suíços não me permite continuar. Só vos digo que colocar no mesmo tacho o tonyC e o Durão B ... Só passa, mesmo, no "estreito" da "rataria do Largo"!              Ricardo Ribeiro: Falta só agora eleger o Eng. Socas para director do Fmi e o ramalhete fica composto...              Ludovicus: Pobre Povo. Resta-nos o Fado, o Futebol… Lembro-me dos finais do Estado Novo, nos meios universitários em Lisboa. Estes estudantes acusavam o regime de alienar o Povo com os futebóis, os folclores, as touradas, Fátima, etc. Essa geração utilizou com maior sofisticação outras ferramentas para alienar. Mantiveram o futebol e Fátima, mas criaram as telenovelas baratas, os Big Brothers, etc. Triste ver os jovens a emigrar.                Joaquim Rodrigues: Resta saber se, o célebre "parágrafo", não foi afinal uma última reivindicação do Costa, a sua última reivindicação, junto daquela que tinha sido a sua escolha "cirúrgica" para exercer o cargo de Procuradora Geral da República. Esgotada "a sua" capacidade de "influência" na paróquia, ao Costa qualquer pretexto servia para se pôr a andar e para tentar agora, a partir de lá de fora, continuar a exercer a sua "influência", na persecução dos seus propósitos, cá na paróquia. Ouçam bem: o Costa nunca serviu o PS nem o País. O Costa apenas se serviu e continuará a servir do PS (e agora vai servir-se também do País) para cumprir a sua agenda pessoal. Agenda pessoal que é a do Portugal Colonial, do Portugal Imperial, do Portugal do Costa, o Portugal ali da esquina do Rossio com a Praça da Figueira, mas não o Portugal real, de Norte a Sul, de Valença a V.R. de S.to António.           João Floriano: “contas certas” Deixou-nos as contas certas que afinal já não estão assim tão certas e como Helena Garrido escreve justamente à conta da inexistência de reformas ou qualidade de serviços. Deixa o SNS, a Educação, os serviços Públicos, a Habitação em cacos. Deixa-nos o legado de quase 10 anos de imobilidade, deixa-nos também a honra de estarmos nos lugares finais da UE e da Europa. Não vou ser de forma alguma hipócrita para afirmar o meu contentamento por portugueses como António Costa, Durão Barroso e Guterres ocuparem altos cargos. Provavelmente em comum e sem honra partilham a qualidade de serem muito fofos (António Costa exteriormente parece muito dialogante e fofo mas a nível interno foi extremamente áspero, indelicado e sem qualquer empatia genuína). Em comum os três têm a característica de não fazer ondas e escudarem-se no politicamente correcto. Quanto a Orban, limita-se a jogar em dois tabuleiros: continua a ser amigo do peito de Putin e a exasperar os wokes de Bruxelas, mas simultaneamente tornou António Costa seu devedor por ter votado favoravelmente a ocupação de um cargo de sonho. À sua maneira Orban e Costa são parecidos: dois chicos espertos oportunistas.                JOSÉ MANUEL: Creio ser justo colocar na mesma jarra também o Vitor Constâncio na nulidade e o Sem Tino, que, de governar, só percebem a parte que lhes toca            Maria Fernanda Louro > Carlos Chaves: Andamos a fazer o mesmo que faz a Coreia do Norte, a despejar o nosso lixo para casa dos vizinhos.....               Americo Magalhaes: Mais uma ode à mediocridade...... HG quando começa a promover o "Sr. Inginheiro" Sócrates para PR? Depois admiram-se que ninguém dá qualquer crédito ao jornalismo e à CS...        Rui Lima: Dos que fizeram mal ao país só falta um alto cargo para José Sócrates.                António Soares: Todos eles gostam muito de se governarem...!               José B Dias: Todos eles foram votados pelos cidadãos portugueses ... que claramente têm muito pouco jeito para escolher lideranças.

 

terça-feira, 2 de julho de 2024

LAGARDE


Discurso claro e oportuno, para quem, como nós, os da praia ocidental lusitana, vivemos hoje dependentes disso a que se chama BCE, sem bem nos darmos conta dos esforços que geramos, atinentes apenas às nossas lutas próprias contra inflações e outros desvios.

Resta-nos agradecer o esforço do BCE, e da sua Presidente CHRISTINE LAGARDE.

Mas, no meu caso pessoal , de duplicada gratidão (onomástica, neste caso), ao pretender prestar homenagem, a outros LAGARDE – da COLLECTION LITTÉRAIRE LAGARDE & MICHARD, companheiros sedutores, que ainda hoje retomo frequentemente, em revivescência passadista que tanto prazer e perspectiva literária forneceram, no meu sintético percurso educativo.

As entrelinhas do auto-elogio de Lagarde em Sintra: BCE fez trabalho "assinalável" na luta contra a inflação

"Os primeiros 90 minutos são os mais importantes". Foi citando Bobby Robson que a líder do BCE se congratulou pelo trabalho "assinalável" do banco central. O discurso de Lagarde nas entrelinhas.

Discurso de Lagarde no Fórum BCE, em Sintra O que Lagarde quis dizer, nas entrelinhas Anotações

EDGAR CAETANO

OBSERVADOR, 01 jul. 2024, 22:25

O nosso trabalho não terminou. E precisamos de continuar vigilantes. Mas os progressos que já realizámos permitem-nos olhar para trás e reflectir sobre o caminho que fizemos.”

Logo no início do discurso em Sintra, Christine Lagarde sublinhou a ideia que não poderia deixar de sublinhar. O “trabalho [do BCE]ainda não terminou” e há que continuar “vigilante” face aos riscos de a inflação voltar a subir. Sem estas palavras, o discurso da presidente do BCE correria o risco de parecer displicente. Isso, em si, seria algo que não lhe seria muito favorável porque poderia, desde logo, levar a uma desvalorização do euro face ao dólar (o que gera inflação porque significa gastar mais euros para comprar a mesma quantidade de produtos negociados em dólares, como a generalidade dos produtos petrolíferos e energéticos). Mas a referência à “reflexão” sobre “os progressos que já realizámos” foi o mote para um discurso em que a francesa enveredou pelo auto-elogio mais do que alguma vez tinha feito.

A política monetária tomou decisões no calor do momento. Foi preciso enviar um sinal forte, um sinal de que valores permanentemente mais elevados na inflação não seriam tolerados.”

Foram decisões tomadas “no calor do momento“, afirmou Christine Lagarde, numa das várias vezes que, no seu discurso, fugiu ao guião oficial que tinha sido distribuído aos jornalistas. Recordando o aperto monetário historicamente rápido que aconteceu entre julho de 2022 e setembro de 2023, a presidente do BCE quis sensibilizar a sua audiência para a tarefa difícil que foi liderar a autoridade monetária neste momento crucial. O surto inflacionista, que surgiu no final de uma pandemia mundial e se agravou com uma guerra na Europa, tinha características “pouco usuais” – o que tornava a tomada de decisões um desafio ainda maior do que o habitual. Lagarde deu a entender que o BCE podia falhar em tudo menos na missão de garantir aos agentes económicos que a inflação estava em níveis elevados (mais de 10%, a dada altura) mas o banco central não iria deixar de a combater com todos os meios ao seu alcance.

Se não tivéssemos intervindo, o risco de uma desancoragem [das expectativas de inflação] teria sido superior a 30% tanto em 2023 como em 2024. Mesmo que tivéssemos tido uma resposta apenas moderada, como se tivéssemos parado de subir os juros aos 2%, o risco de desancoragem ainda teria sido próximo de 24%.”

Na análise feita pelos economistas do BCE que estão, nesta fase, a autopsiar o surto inflacionista, a zona euro esteve muito perto de uma situação potencialmente explosiva: o pior pesadelo de um banqueiro central, que é a “desancoragem” das expectativas de inflação. Quando falam em “desancoragem”, os bancos centrais referem-se ao risco de se gerar uma espiral de inflação indomável que coloca em perigo a credibilidade do banco central e, em última análise, a própria divisa. No caso da zona euro, isso poderia significar que o projecto da moeda única estaria em risco. Criticada por ter, na opinião de alguns, reagido demasiado tarde à subida da inflação, Lagarde também foi criticada, noutra fase, por estar a levar longe demais o aumento dos juros, para níveis acima de 3%. Mas Lagarde usou estas conclusões académicas – que não são, apesar de tudo, totalmente independentes – para se defender dessas críticas.

“As nossas decisões de política monetária foram bem sucedidas em manter as expectativas de inflação ancoradas. Tendo em conta a gravidade do choque inflacionista que existiu, esta correcção é assinalável. Sei que parece arrogante falar assim mas, afinal de contas, eu sou francesa…”

Num improviso (ou num comentário estudado mas bem preparado), Christine Lagarde reconheceu que poderia soar a “arrogância” ler a passagem do discurso onde se dizia que a correcção da inflação elevada, sem grande prejuízo para a economia, foi algo de “assinalável“. “Sei que isto pode parecer arrogância mas, afinal de contas, eu sou francesa…”, atirou a presidente do BCE, arrancando sonoras gargalhadas da audiência. Mesmo tendo dito que “ainda é cedo para baixar a guarda”, terá ficado claro na cabeça de todos os presentes que Christine Lagarde quis usar este discurso em Sintra para cantar vitória – tanto quanto é possível – no combate à inflação.

Tendo em conta a magnitude do choque inflacionista, uma aterragem suave ainda não é um dado adquirido. Só 15% das aterragens suaves bem sucedidas tinham tido choques nos preços da energia.”

As conferências de imprensa regulares do BCE, a partir de Frankfurt, não são o cenário ideal para contextualizações históricas. Nessas conferências, espera-se de um banqueiro central que comunique e justifique as decisões tomadas com clareza e assertividade. É por isso que Christine Lagarde costuma aproveitar discursos em conferências como o Fórum BCE, em Sintra, para se alongar um pouco mais no enquadramento da crise inflacionista e na comparação com outros episódios da História. “Se olharmos para os ciclos de subida de taxas de juro desde os anos 70, podemos ver que quando os bancos centrais aumentaram os juros num contexto de elevados preços da energia, os custos para a economia foram, por regra, muito pesados”, disse Christine Lagarde, salientando novamente quão “assinalável” foi a resposta do BCE, que apesar de ter sido brusca acabou por gerar uma “aterragem suave”, ou seja, evitando-se uma recessão ou uma grande deterioração das condições no mercado de trabalho.

Vamos precisar de tempo para reunir dados suficientes para ter a certeza de que foram ultrapassados os riscos de uma inflação acima do objectivo. O mercado de trabalho robusto dá-nos alguma margem para esperar por essa nova informação, mas temos de ter presente que as perspetivas de crescimento continuam envoltas em incerteza”

Christine Lagarde salientou que, apesar do abrandamento do crescimento económico, há mais 2,6 milhões de pessoas a trabalhar do que havia em 2022. E isso dá a um banco central como o BCE alguma margem para esperar pelo maior conjunto de dados económicos, para tomar as decisões o mais sustentadas que for possível. Por outras palavras, estando as taxas de juro num nível que se pode considerar muito restritivo (3,75%), o facto de não estarem a soar os alarmes no mercado de trabalho permite ao BCE gerir de forma mais tranquila a fase de descida das taxas de juro – se o desemprego estivesse a subir rapidamente, a pressão sobre o BCE seria, certamente, outra. Assim, Lagarde dá a entender que a economia (e, em particular, o emprego) não se estão a ressentir em demasia do actual nível de juros: o que pode significar que não é muito provável que haja uma nova descida dos juros em julho.

Mesmo com milhões de empresas e trabalhadores a lutarem, cada um do seu lado, para proteger os seus lucros e os seus rendimentos, o nosso objectivo de uma inflação de 2% continuou a ser credível.”

Sempre que há um surto inflacionista, gera-se uma espécie de jogo das cadeiras em que cada agente económico tenta passar a maior parte possível da perda de valor (gerada pela inflação): as empresas tentam passar os custos mais elevados para o consumidor e o trabalhador tenta aumentar os seus rendimentos para recuperar o mais possível do poder de compra perdido. Ora, Lagarde congratulou-se pelo facto de o BCE ter conseguido manter as expectativas de inflação “ancoradas” – ou seja, mesmo quando a inflação estava acima de 10%, as previsões para o futuro, em cada momento, nunca apontaram para um descontrolo. Se nos primeiros meses do surto inflacionista vários membros do BCE (incluindo Mário Centeno) alertavam para as subidas de preços promovidas pelas empresas (que queriam proteger as suas margens), noutra fase o maior perigo para a inflação vinha dos aumentos salariais que, quando não são absorvidos pelas margens das empresas e quando superam o ritmo de crescimento da produtividade, podem fomentar a rápida subida dos preços – isto é, a inflação. Mas, sem querer parecer “arrogante”, Lagarde quis salientar que o BCE interveio na economia da forma adequada, respondendo ao desafio inflacionista corretamente, nas diferentes fases.

Não iremos baixar os braços no nosso compromisso de trazer a inflação de volta para o objectivo, em benefício de todos os europeus.“

Embora tenha apenas uma missão, o controlo da inflação, o BCE tem a difícil missão de gerir a política monetária numa zona económica muito heterogénea e onde as transferências entre os vários membros são proibidas pelos tratados europeus (o que contrasta, por exemplo, com os Estados Unidos da América). Cabe ao BCE tomar decisões que, do ponto de vista do controlo dos preços (e da estabilidade financeira), sirvam a países mais ricos e mais pobres, países mais industrializados ou mais dependentes de actividades como o turismo, países onde as empresas dependem mais ou menos do crédito bancário, países onde há mais crédito à habitação e onde há menos, e países onde esse crédito mais frequentemente tem associado uma taxa fixa ou uma taxa variável. Assim, ciente de que facilmente se lhe pode colar uma imagem de insensibilidade perante as dificuldades sentidas por muitas pessoas, Christine Lagarde reforçou que é para “benefício de todos os europeus” garantir que a zona euro é um bloco económico e monetário onde os preços sobem a um ritmo lento e controlado. Caso contrário, como tanto Lagarde como o norte-americano Jerome (Jay) Powell já várias vezes sublinharam, são os cidadãos com menos recursos que sofrem mais com os surtos inflacionistas.

Os primeiros 90 minutos são os mais importantes” (Bobby Robson)

Se um bom discurso deve começar ou acabar com uma citação, em pleno campeonato europeu de futebol, na conclusão Lagarde decidiu lembrar o lendário treinador Bobby Robson, que passou parte da sua longa carreira em Portugal: “Os primeiros 90 minutos são os mais importantes“, dizia Robson, com a fina ironia que lhe era reconhecida. A presidente do BCE acrescentou ao discurso escrito uma explicação para aqueles que “não suportam futebol”: “um jogo de futebol tem duas parte de 45 minutos”. No caso do controlo da inflação, tal como no jogo de Portugal esta segunda-feira, “poderá levar um pouco mais de 90 minutos, mas chegaremos ao objectivo em termo oportuno”, garantiu Christine Lagarde.

BCE    BANCA    ECONOMIA    MERCADOS FINANCEIROS    CRÉDITO    CRÉDITO À HABITAÇÃO