Para todos
os efeitos, assustadora, segundo o alerta brilhante de Jaime Nogueira Pinto
Não vá
o diabo tecê-las
Empurrado pela força das coisas,
Biden dá lugar à entronização da sua Vice, que está a fazer o número da
moderação e a contar com a demonização de Trump para ganhar em Novembro e
“salvar a Democracia”
JAIME NOGUEIRA PINTO
Colunista do Observador
OBSERVADOR, 27 jul. 2024, 00:1725
Ao fim de uma chuva de apelos de altos quadros do
Partido Democrata, de desanimadoras sondagens às bases do Partido e da
debandada de alguns doadores, Joe Biden decidiu-se finalmente pela retirada “a bem da Nação”. Foi um gesto nobre, altruísta, lúcido e oportuno, tendo em conta que
a esquerda do partido, ansiosa por entronizar Kamala
Harris, se preparava para intimá-lo
a sair à força e já sem contrapartidas.
Agora sim, podia enaltecer-se o elevado sentido de
Estado que levara o Presidente a sair da corrida para “salvar a Democracia”. Agora sim, podiam a América, o mundo e o Partido Democrata demonstrar
sentida gratidão pela vida de serviço à pátria de um excelente Presidente que
tivera o infortúnio de ser acometido por “um mau dia” logo a 27 de Junho, no
preciso momento em que enfrentava o Mau da Fita: o satânico, o diabólico, o
demoníaco, o maligno Donald Trump.
Do
auto vicentino ao filme B
É longa a crónica da representação
do Diabo, deste Mal que agora tem em Donald Trump um dos seus mais famosos
possessos designados.
Gil Vicente, que se ocupou da Terra e do Céu, ou
melhor, da partida do Aquém para o Além, traçou os contornos de um Mafarrico
que no Auto da Alma era metafórico e sisudo,
mas que no Auto da Barca do Inferno, (1517), no Auto da Barca do Purgatório (1518) e no Auto da Barca da Glória (1519) assumia contornos mais
histriónicos. O diabo vicentino
das Barcas é um profundo conhecedor dos homens, alguém que os julga, acusa e a
quem dá destino; sabe ou parece saber de tudo sobre os seus possíveis clientes,
os mortos que vão chegando ao Cais das Almas. E é “populista” nos juízos: trata mal as elites – os condes e duques
ou o onzeneiro, o agiota – mas vai safando os populares, como o lavrador.
Compreende-se que Donald Trump o encarne, até pelo modo desbocado e
chistoso de discursar (ele que, por uma vez, foi maçador no discurso de hora e
meia na Convenção, talvez devido à “bullet for Democracy” que tinha
acabado de levar – bala essa que já começou a ser hipoteticamente relegada para
a “irrelevante” categoria de mero estilhaço).
Mas a presente representação do diabo que supostamente possui Donald Trump não
é de auto vicentino: é mesmo de filme B. Em 12 de Outubro de 2020, três semanas antes da eleição que Biden
ganhou, estreou-se com ampla distribuição um filme em que um Diabo, de nome
Luther, convence Donald a apresentar-se à presidência dos Estados Unidos.
A comédia, algo brejeira, é de Param Gill e chama-se The Bad President. O Diabo
Luther (Eddie Griffin) encoraja Trump (Jeff Rector) a tornar-se Presidente para
poder ter um fantoche ao seu serviço, ao serviço do Mal. Trump recusa quando
sabe que tem de dar a alma em troca, mas o Diabo chantageia-o e ele acaba por
entrar na corrida. O filme vale
unicamente pelo que nos diz da banalizada demonização de Donald Trump.
Já em 2017 Dylan Skolnick e Adam
Birnbaum tinham reposto oportunamente 1984, um filme de Michael Radford a
partir do romance distópico de George Orwell, como parte da propaganda
anti-Trump. Na campanha
mediática sugeria-se que Trump
era o Big feita de filhos dilectos da Razão e das Luzes, entre pelo caminho da
demonização de Trump. Quem sabe não passe por aí uma jornada de conversão das
Luzes à Luz? Quem sabe, por esta crença no Maligno de Mar-a-Lago, Brother. Do
Presidente e dos seus instintos maléficos esperavam-se coisas horríveis – mas parece que Donald John não teve nem
poder nem vontade para as levar por diante, e além de alguma rapidez e frenesim
a despedir e a admitir colaboradores, ao estilo de The Aprentice, aguentou a
Covid, conseguiu os Acordos de Abraão entre árabes e israelitas e não
protagonizou ou promoveu guerras ou invasões.
Fé e
populismo à esquerda
É curioso (e ocasião de alguma esperança) que a
Esquerda mais radical – e com ela o Centrão,
a direita da Esquerda e a esquerda da Direita –,não acabem alguns por crer no Senhor de todas as coisas (porque quem
crê no Demónio acaba também por crer em Deus)? Quem sabe não estará a um
passo da fé no são convívio do lobo e do cordeiro no apocalíptico paraíso
último quem tem fé suficiente para desfraldar lado a lado a bandeira LGBT e a
da Palestina?
O que é certo é que já lhes apareceu “Nossa Senhora” – sob a forma jovem
(quando comparada com “Deus-Biden”) da Senhora Kamala Harris. Dizem que “como mulher negra e jovem vai atrair muito eleitorado
jovem, feminino e afro-americano”. Ora semelhante assumpção (achar que os
jovens, as mulheres e os afroamericanos votam por idade, género e cor, sem
considerar a índole, as ideias e a política da candidata), para não ser
considerada de um inqualificável neo-paternalismo, só pode ser também uma
questão de fé.
Até aqui há um mês éramos uns poucos a chamar a
atenção para a clara degenerescência de Joe Biden, com o grosso da opinião bem-pensante, Agora todos da América ao nosso doce rectângulo oeste europeu, a afiançar
o bom estado do Presidente. ou quase todos parecem ter
descoberto que afinal Joe já não está apto a enfrentar o Diabo (ou sequer um gaguejado último
discurso de 12 minutos,exaustivamente ensaiado e telepontado a partir da Casa
Branca). De resto, quanto ao Presidente, a única coisa que parece não
ter expirado é o certificado para concluir com êxito o
mandato, mediante prévio sacrifício pela “democracia americana em perigo”
(desistindo da corrida e indicando para o substituir a primeira mulher afro-americana a ascender, pela sua mão, à vice-presidência – e
agora a uma candidatura presidencial).
É então Kamala Harris que, sem perguntas nem
estados de alma, devidamente lavada de
cargos, encargos, antagonismos
internos, radicalismos e incompetências danosas por uma massiva máquina de
propaganda, vai montar o cavalo branco e defender o Bem, em nome de “we, the people”. Como que
incentivada dólar a dólar por pequenos e médios contribuintes e já abençoada por Barak Obama, Kamala prepara-se para se impor pouco
democraticamente como a única democrata na sala. Tudo a fim de impedir que um
Trump cavaleiro negro, solitário agente do Mal, desprovido de razão e de
razões, sintoma de coisa nenhuma, financiado exclusivamente por “tubarões” e
acolitado pela horda de deploráveis que manipula para agir só por malvadez
contra um sistema impoluto, vença nas urnas e “acabe com a Democracia”.
Entretanto JD Vance trouxe para a campanha republicana um pensamento político articulado
e a renovação geracional de que as sondagens já davam conta. Ele
que tinha sido um crítico radical de Trump viria a assumir uma atitude bem
diferente depois do seu tempo de presidência. Até porque via a alternativa
representada pelo inefável Joe Biden, um centrista que fora fazendo todas as
cedências e fretes à Esquerda, o homem da vergonhosa retirada do Afeganistão; o
Presidente que, empurrado pela força das coisas, acaba de dar lugar à entronização
da sua Vice, que já está a fazer o número da moderação e a contar com a
Demonização de Donald Trump para ganhar
em Novembro.
A SEXTA COLUNA HISTÓRIA
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COMENTÁRIOS (de 38)
Maria Nunes: Excelente. É patético o modo como a CS tenta endeusar
KH. Tim
do A: Excelente
crónica! Kamala Harris é a Nossa Senhora da nova religião Woke. bento guerra: Ninguém dava por ela, um erro de casting, desde o
princípio, uma tonta às gargalhadas. Agora, para a propaganda. anti-Trump,
passou a candidata ideal. A CS não tem credibilidade unknown unknown: Bem humorado, parece que
perante a massiva lavagem cerebral dos media e demais comentariado, só resta
mesmo manter uma postura bem humorada! Haja paciência, porque esta gente está
tão instalada no poder que dificilmente sairá! Fernando CE: Verdades. Como se espera
sempre, um bom texto. Paulo
Almeida: Muito bom. De facto a desumanização da pessoa Trump é em si, um acto anti-democrático,
pois não aceita como igual a pessoa como adversário. Não aceitar a política é
normal, mas a pessoa em si é de uma mediocridade notável. É a prova de quem não
tem argumentos políticos para combater os outros argumentos políticos do
adversário. Então optam por atacar a pessoa. Como se viu pela forma leviana
como trataram o atentado à vida do Trump. É uma pessoa com ideias políticas, em
que cerca de metade dos americanos se revêem. Se fosse um diabo que iria
destruir a democracia, quer dizer que cerca de 80 ou mais milhões de pessoas
que deverão votar nele também o acham? Então temos 80 milhões de pessoas que
não querem uma democracia livre e limpa? E onde está o racismo do homem?
Tem imensos apoiantes negros, hispânicos, indianos, etc. São esses também
racistas? E os 80 milhões também o são ou então não se importam que ele
seja? E o facto de que após o seu primeiro mandato, mais pretos e hispânicos
votaram nele? É ver os números. Aliás o acto de achar-se que a Kamala irá
atrair votos de pretos ou mulheres é em si racista. Se alguém vota noutra
pessoa e o critério da raça é dos mais importantes então isso é obviamente
racista, pois sempre que a raça conta para uma decisão é racismo. O racismo
não está onde nos dizem para olhar, está em quem usa a raça para subir na vida,
explorando as minorias de raças não brancas. A Critical Race Theory não é
nova e é aplicada com frequência, pelos fracos que não sabem ganhar sozinhos.
Joaquim Almeida: Excelente. Kamala é a mais recente esperança
neo-marxista de um Partido Democrata que, de há uns vinte anos para cá, vem
abandonando a sua social-democracia e lendo o programa (extenso) do Partido
Comunista U. S. A. Hatagani
Hatagani: Depois do
guião do filme com De Niro: "Manobras na Casa Branca" ou "Wag
the Dog", em que Biden de um momento para o outro é doente de Parkinson e
Doença dos Corpos de Lewi, forma de doenças degenerativas e demência conhecida
pelos médicos que seguiam Biden, este é obrigado a desistir sob ameaça, de
concorrer e até de governar, nem se sabe onde anda, afinal ainda é o Presidente
dos USA, mas Kamala já fala e já se assume como se fosse Presidente e não
VP, um Golpe de Estado, é o que é! Passam à fase seguinte, depois de De Niro &Cia a
gritar nas ruas de NY como louco, com o ódio obsessivo a Trump, a bem dos
camaradas da morte de Hollywood provocadas pelos woke. A
fase seguinte é a continuação da limpeza da face de Kamala que não é
afro-descendente, mas filha de indiana e jamaicano, sem filhos, coisa nova se
for eleita, mulher e sem família conservadora, uma verdadeira pérola do Estado
falhado da Califórnia para o qual como PG do Estado, depois senadora, defendeu
tudo o que os woke defendem. Claro que os media mainsteam que apoiam a
situação de um novo fantoche como Presidente, para o 4º mandato do grupo cuja
face mais visível é Obama. Controlado o DOJ, o FBI, NSA e os militares a ver
vamos, ficam os USA numa situação de continuidade da desgraça socialista Woke e
a Europa que se cuide, esse jogo também por cá na UE, foi feito desde a
eleição de von der Leyen.
Jorge Tavares: Num
país vergonhosamente colonizado por facciosos de esquerda, esquerda radical e
extrema-esquerda, todos sem vergonha na cara, é refrescante ler a opinião
facciosa de alguém da direita radical e nacionalista. João
Floriano: Esta
última referência a uma Kamala em processo de moderação fez-me lembrar o caso
português de Pedro Nuno Santos que também se apresentou ao eleitorado a 10 de
março como o cavaleiro da moderação, quando até ali tinha sido um combativo
enfant terrible, jovem turco de esquerda, mais extrema por sinal. E lembrei-me também de como António Costa tentou
impingir a sua Kamala Harris que no caso socialista se chama Mário Centeno. Mas
as coincidências por aqui se ficam porque Biden vai gozar a sua reforma dourada
e António Costa vai ganhar o seu ordenado dourado. O Partido Democrata
passou um atestado de menoridade intelectual aos seus potenciais eleitores,
porque apresenta uma candidata de forma completamente inédita, até agora e
espera que caiam todos no encanto de uma mulher de 60 anos, woke, radical q.b.
( ou não estaria a fazer um curso acelerado de moderação), uma americana
afro- asiática, que com um bocadinho de sorte ainda se descobre que tem sangue
inuite e assim cobre a maioria dos continentes da Terra com a grande
vantagem de não ser conspurcada pela culpa do homem branco europeu, alguém de
quem se tornou obrigatório desconfiar pelas suas conhecidas malévolas intenções.
Kamala apesar de muito mais nova do que Trump está toda trabalhada no botox e tem
no rosto e no pescoço um reboco de base e compacto (nome moderno para pó de
arroz do tempo das nossas avós) e generosas pestanas postiças que fazem lembrar
um travesti a cantar Gloria Gaynor e I will survive. Muita água vai
correr por baixo das pontes para ambos os candidatos, muitas ainda serão as
surpresas. Pelo andar da carruagem e o interesse em escarafunchar o balázio ou
apenas estilhaços na orelha trumpista, ainda se chega à conclusão que Crooks
usou apenas um tubinho por onde soprou uns caroços de cereja que
tranformaram Trump de Man of the Year em Man of the Ear. Um dia a História vai
conseguir avaliar a verdadeira importância de Crooks na eleição do 47º
Presidente americano. Maria
Emília Santos Santos: Muito
engraçada esta crónica! Os inúmeros adjectivos com que a esquerda classifica
Trump para ver se o povo acredita e vota nela, revelam bem o caráter de Kamala!
Trump considera que foi um milagre da SS Virgem de Fátima, que o salvou da
morte por aquela bala! Realmente, tudo estava a postos para que a bala entrasse mesmo, pois até
parece que o rapaz tinha o lugar reservado para o comício, em cima do telhado a
130m de distância! Porque não morreu Trump, se
tudo estava organizado e pensado ao milímetro? Pois, essa é a pergunta a que ninguém sabe responder! Então, como o fator sorte não existe para crentes em Jesus Cristo, mas
apenas a Providência Divina, então dizia eu, vamos continuar a ter uma Mão
providencial a proteger Trump! Ou seja: A Providência Divina
prefere Trump na presidência dos EUA do que Kamala ou outro qualquer! Assim sendo, é porque o diabo
é Kamala e não Trump. Joseluis Salema: Simplesmente brilhante a
explanação do imbróglio americano. Mais uma vez, obrigado Jaime Nogueira Pinto! José Roque: JDVance "pensamento
político articulado"? Passa de crítico feroz de Trump para atento,
venerador e obrigado. Onde está o pensamento político? fonseca 07: Vejamos e o vencedor é... será
que é possível perderem os dois candidatos? Com efeito entre os dois venha o
outro que escolha. Faz-me lembrar o Brasil com dois candidatos brilhantes, dois
grandes e ricos países onde não foi possível encontrar melhor alternativa. Maria
Soares: Brilhante!
Obrigada.
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