Não se limpam armas. Mas pode afiar-se facas. Sorrindo
com graça, caso de Tiago Dores.
Por pouco descobríamos o que Trump tem na cabeça
Claro que o atentado foi encenação.
Eles encenam isto há séculos. Com o JFK correu malzinho, foi realista demais.
Com o Reagan aprimoraram a coisa. Com o Trump já foi só tipo mordidela de Mike
Tyson.
TIAGO DORES Colunista do Observador
OBSERVADOR 17 jul.
2024, 00:1527
Confesso-me profundamente decepcionado
com o governo de Luís Montenegro. Isto anda mesmo muito fraquinho para quem faz
vida de crónicas políticas. Já lá vão, quê?, mais de 3 meses desde a
posse do governo e nada daquelas deprimentes – e de alguma forma deliciosas –
peripécias rocambolesco-alegadamente-vigaristas com as quais sucessivos
executivos do Partido Socialista nos habituaram tão mal. Então mas não havia
para lá escândalo com o IMI da casa do primeiro-ministro em Espinho, ou o que
era?!
Felizmente,
Donald Trump levou um tiro numa orelha. Felizmente, talvez mais para mim do que
para o ex-presidente dos Estados Unidos da América. Mas, afinal, este é um
espaço dedicado ao bem-estar físico e emocional de quem? Bem
vistas as coisas, o tiro que Trump levou foi bom para mim, mas também foi bom
para ele porque, antes do sucedido no sábado, Trump iria ganhar as eleições de
forma apenas e só muito concludente.
Agora,
antecipa-se a chamada landslide victory ou, em português, um esmagamento de
proporções bíblicas para o movimento Make America Great Again. Por mim, óptimo. Por mim e, dano colateral,
pelos idiotas úteis sinalizadores de virtude que fingem acreditar (ou
acreditam, no caso dos muito idiotas mesmo extremamente úteis) que seria um
giríssimo avanço civilizacional termos, em alternativa, um Make
China, or Russia, or Iran, or any Other Dictatorship Great Again (or for the
First Time).
Nada disto invalida o facto de a
tentativa de assassinato de Donald Trump ter sido, como é óbvio, uma encenação. Mais uma
encenação, melhor dizendo, que os americanos andam a fazer encenações de
assassinatos de presidentes há séculos. Só para recordar as últimas, tivemos a
encenação de assassinato de John F. Kennedy, que terá
sido, porventura, um bocadinho realista de mais. Talvez por, nessa
altura, os americanos estarem muito investidos na encenação da chegada do Homem
à Lua. Depois, tivemos a encenação de assassinato de Ronald Reagan, já muito bem conseguida. E agora, esta
encenação de assassinato de Donald Trump, que pouco mais foi do que uma mordidela de Mike Tyson.
Atenção,
longe de mim desvalorizar mordidelas do Mike Tyson, que pior do que sentir toda
a crocância da própria cartilagem da orelha aos dentes do mais novo campeão de
pesos pesados, só mesmo sentir toda a crocância da própria cartilagem da orelha
aos dentes do mais novo campeão de pesos pesados e constatar ter deixado passar
a data da vacina do tétano. Não, não duvido que o tiro na
orelha tenha sido doloroso para Trump, até porque é das zonas do corpo que ele
mais valoriza. Pelos menos é o que
se depreende a ser verdade que Donald Trump não é de dar ouvidos a ninguém.
Depois do atentado, houve um dilúvio de críticas aos serviços
secretos. Nomeadamente por haver vídeos que mostram que, dois minutos antes de
assassino disparar, várias pessoas no recinto do comício chamaram a atenção de
agentes das forças de segurança para o facto de haver um indivíduo armado no
telhado daquele barracão. E o
que fizeram os agentes secretos assim que os populares lhes transmitiram esta informação?
Mantiveram-na secreta. Ora, se não é secretismo o que se pede a um agente
secreto, não sei o que será. Por mim estão todos ilibados neste caso.
Com especial destaque para o chefinho
dos agentes secretos que designou várias senhoras que dão pela cintura de
Donald Trump para o protegerem de outros eventuais disparos. Não
fosse o atirador querer matar o ex-presidente com um tiro na rótula, como
aconteceu nos tristemente célebres assassinatos dos presidentes William
McKinley, James A. Garfield e Abraham Lincoln, vítimas de ferimentos mortais,
respectivamente, no ligamento cruzado anterior, no ligamento cruzado posterior
e no menisco. Para quem não sabe, isto é História. Ou talvez estória.
Uma coisa é verdade, muito mais sólido que o regime estado-unidense
é o português. Lá, um ex-presidente leva um tiro numa orelha e cai logo por
terra. Cá, o actual presidente dá vários tiros nos próprios pés e mantém-se,
ali, firme e hirto no seu posto.
DONALD TRUMP ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO
COMENTÁRIOS (de 24)
João FlorianoJosé Paulo Castro: Se Trump estava com vontade de furar a orelha para
meter uns brinquinhos, não era necessário tanto aparato. João Floriano > Fernando Cascais: Será que ainda vamos ver a orelha de Trump a
ter uma erecção?
Maria Paula Silva: Sou fã dos
"Gatos Fedorentos" desde o início e depois fui seguindo cada um,
individualmente, desde que se desmantelaram e confesso que o TD deve ser o
único neste momento que continuo a ouvir e a ler com o mesmo prazer. Não vou aqui dizer mal dos outros nem os porquês,
mas tinha de dizer isto. Pelo menos, parece que TD não foi afectado pela
fama (e dinheiro) e mantém o mesmo bom nível humorístico. Sem arrogância. É
muito bom lê-lo: sintético, bons encadeamentos e cheio de graça. Obrigada.
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