Em patética figura queixosa atacante -
jamais quixotesca, contudo, sendo outros os seus moinhos, outros os seus
gigantes: Pedro Nuno dos Santos. Pese
embora uma idêntica simbologia de ataque ao gigante que lhe detém a amada. Não
a de Toboso, está visto, mas a deste “recinto” breve que o ajudou a governar-se
e não deseja perder. O que ele nos mostra, como, de resto tantos mais por cá, é
que se está nas tintas para o recinto que ajudou a desgovernar, interessado
apenas no recinto que o ajudará - como aos seus pares - a governar-se -
momentaneamente indisponível, em ocupação alheia. Daí o ataque verbal persistente
e coruscante, conquanto sem espada, utensílio demasiado rebuscado para as nossas
posses de Sanchos Panças em desfalque. Mas é um retrato inteligentemente
elaborado, este de Maria João
Avillez. Só me parece que é gastar cera com ruins defuntos. Talvez
conviesse aconselhar mais Luís
Montenegro a recriar, de facto, as estruturas de rentabilidade
necessárias para o “recinto” singrar de facto, pelos seus meios próprios e não
por conta alheia.
Cem dias? Ou muito mais? (parte I)
O que ocorreu na Grã Bretanha e em
França pode ter deixado Pedro Nuno Santos nervoso: o Labour foi para um lado, o
PS francês para outro: inspirar-se em qual? Escolher quem? Lidar com o quê?
MARIA JOÃO AVILLEZ Jornalista,
colunista do Observador
OBSERVADOR, 17
jul. 2024, 00:224
1Passaram-se cem dias. A conta redonda inspirou
comentários e contra comentários, mas a espuma da actualidade fez o seu
habitual exercício de capturação do espaço público e logo no dia seguinte, exit
os cem dias do governo da AD. E no entanto… a verdade é que, ao longo da
navegação deste governo, notei algumas coisas politicamente interessantes.
A
primeira foi que o invisível mas poderosíssimo ponteiro da política
se tinha movido no relógio. Para um dos
lados, como na Torre de Pisa. Há um mês e tal, na SIC Notícias, lembro-me de
ter chamado atenção para o movimento dos ponteiros deste relógio tão sensível,
mas fi-lo ainda com a cautela que se recomenda entre a certeza e a incerteza.
O certo é que o poderoso ponteiro sinalizava um caminho: primeiro
avançara para a autarquia da capital, depois rodou para os Açores, seguiu para
a Madeira, e agora estacionou na governação nacional. Ou seja,
o relógio acerta pela hora do centro e da direita. Será melhor? Assim-assim? Pior? Não se
sabe. Sabe-se apenas que ninguém (ou quase) teria acreditado ou posto um
cêntimo na aposta de um centro-direita que governasse mais de cem dias. Não se
lembram? Montenegro não era ninguém; a tão louvada estabilidade socialista
tinha dado lugar a uma situação parlamentar “impossível”; o novo governo
atabalhoava-se; há três meses
haveria eleições a curto prazo. Não tem sido assim. O ponteiro do relógio
político continua onde estava (para a semana lá irei).
2Outra nota que retive refere-se ao que,
de forma geral – obviamente que com excepções, há sempre excepções –, se
costuma ouvir na “bolha” mediática sobre o relativo bom andamento dos cem dias,
uma espécie de eco mais monocórdico que atento: ah, as expectativas sobre o
governo eram tão baixas e tão, tão baixas quanto ao próprio Montenegro, que
qualquer coisa que fizessem daria nas vistas. E pronto. Olhar para governações,
governantes e governados para quê? As expectativas não eram tão baixas? Eram!
Então…
3Uma
das piores heranças de António Costa foi o seu horror (também não gosto da
palavra) à direita. Era o “diabo”, nunca desistindo do uso deste
extraordinário epíteto com o qual hostilizava uma parte dos portugueses (e
não só os que em 2015 votaram em Passos Coelho). Foram
anos disto. A não ser quando nos intervalos Augusto Santos Silva anunciava ao
país que se ela – direita – levantasse a cabeça (?) “levava”.
Haverá poucas coisas tão visceralmente antidemocráticas quanto a
esquerda suportar mal que os votos retirem a direita dos bastidores e
certifiquem o seu regresso ao palco do poder e de parte dele a S. Bento.
Tratada como um estorvo, a direita talvez fosse liminarmente
enxotada para fora da cidadania se a esquerda, unida ou desunida, pudesse
enxotá-la sem que o mundo visse. Não podendo, recorre-se aos estafados tiques,
tão nossos conhecidos: o tom irritadiço e desconfiado com que a AD é evocada,
seja sobre que assunto for (mas foi sempre assim com Cavaco, ou Sá carneiro, ou
Passos, ou, ou); a
militante desconfiança sobre as reais intenções de quem dirige o país; a
suspeita quanto à governação, nas medidas, nas nomeações para as executar, nos
calendários. Nada de muito novo, os artifícios são os do costume. De
novo só houve uma troca de “clichés”: Pedro Nuno Santos estreou um que atira
mil vezes para o ar do tempo político: o “governo não dialoga”. Da mesma forma
que António Costa também tinha o seu, que usava, abusava e (nos) enjoava – “a
culpa era de Passos”. Usou-o até ao fio e ao fim, nunca teve outro. Pedro Nuno
aprendeu e faz o mesmo com o seu, gasta-o: o Executivo “foge ao diálogo”. Para
o PS de Santos o diálogo é afinal simples de concretizar, bastava que o governo da AD governasse através do PS , com o programa
do PS. E a cereja deste bolo seria a governação ser feita pelos deputados
sentados no hemiciclo e se possível dispensando o próprio Governo.
Estou a caricaturar? Claro. Mas ninguém
ignora que a muito prioritária
linha vermelha que Luis Montenegro se impôs a si mesmo seria justamente
permanecer impávido face uma governação do parlamento, á revelia do Executivo.
4É
verdade que o PS – este PS – está desunido e inquieto. Inseguro de rumo. Sem
perceber a quase estranheza de alguns dos seus gestos ou verbos (e não duvido
que haja no perímetro do PS quem de boa fé também se aflija com a perfilhação
actual de alguns mandamentos e comportamentos).
Como não me comove especialmente que uma
empresa de sondagens tenha há dias dado boa nota à família socialista, confio
naquilo de que me apercebo: uma boa parte dos socialistas
interrogam-se sobre a bondade da estratégia (?) de Pedro Nuno Santos. Com
razão, ela não é de fácil nem de imediato entendimento: o líder
tanto pode ser imprudente, avisado, imprevisível, lógico, ilógico,
intempestivo, mas nunca é sempre a mesma coisa. A clareza dos seus pontos cardeais não é evidente, o chão que pisa é
politicamente inconsistente, os objectivos brumosos. Talvez seja por isso
que Pedro Nuno Santos pareça sempre zangado. Sorri pouco, a afabilidade não é
lhe é pronta, a temperança também não.
5Mas – e eis outra nota que tomei – um
dia destes, pareceu-me subitamente que alguma coisa mudou. Pedro Nuno é capaz de ter percebido que
“isto” – a indefinição, o desnorte, os sinais errados para
dentro mas também para fora do PS – não podia durar. Não servia a ninguém, a
começar (sobretudo) por ele próprio. Julgo
também ter notado nele a vontade
– ou deveria dizer a lucidez? – de alguma mudança de rumo. Dizer
recentramento seria excessivo para ele e sobretudo para os seus conselheiros,
mas o estar “mandatado” para negociar o OE com a AD é um sinal. Veremos.
Percebe-se que o que ocorreu à esquerda na Grã Bretanha e em França, na semana
passada, o tenha posto nervoso: o Labour foi para um lado, o (ressuscitado?) PS
francês para outro: inspirar-se em qual? Escolher quem? Lidar com o quê?
Ignoro o que pensa o novo líder
socialista destes seus pares europeus mas para começo de conversa deu um bom sinal de maturidade política e
sobretudo de autoridade pessoal e partidária ao recusar o convite apressado
para se juntar a um modesto clube da esquerda nacional: nem ele é treinador deles, nem
padrinho, nem mecenas. Por enquanto. Mas
como são os dias do “por enquanto” que politicamente o devem ocupar e preocupar
hoje, porque haveria Pedro Nuno Santos de legitimar uma cópia pobrezinha da
(perigosíssima) Frente Popular francesa?
6Um dia posso ter de vir aqui
desculpar-me perante o leitor por ter errado sobre o que acima escrevi.
Acontece aos ossos deste ofício. Mas o que concluo neste momento – repito, neste momento – é que é
Pedro Nuno Santos e não Luís Montenegro quem mais precisa de uma bússola e de
oxigénio político.
Paradoxal? Talvez, mas estou sempre a lembrar-me de que a política é
a maior fornecedora de surpresas que jamais conheci.
COMENTÁRIOS:
bento guerra Já não tenho pachorra. Comparar a situação política portuguesa com a francesa,
ou inglesa, tira-me vontade de continuar Carlos
Chaves: Donde virá a mania dos nossos comentadores políticos de “direita”, em darem
conselhos aos imbecis políticos do partido socialista? Por muito democratas que
sejamos, não podemos ignorar os resultados que o socialismo trouxe a Portugal.
Por isto, o tentar perceber os nervosismos e os comportamentos desta gente,
seguindo-se aconselhamentos e desejos de sucesso (como bússolas e oxigénio)
parecem-me análises completamente apatetadas! Tim do A: PNS é comunista Filipe Paes de Vasconcellos
O que é
verdadeiramente insuportável para a esquerda é que a Direita sempre que
governou, mostrou que a esquerda o não sabe fazer porque tem sempre uma atitude
ideológica sobre tudo e sobre nada.
A Direita ao longo destes 50 anos governou poucos anos
mas fez mais por Portugal que toda a esquerda e isto é o mais que lhes dói. Nos
regimes socialistas e comunistas quem se destaca por fazer bem é de imediato
eliminado para não pôr em causa a grande massa de medíocres. Rui Medeiros > Alfaiate Tuga: Penso que esta crítica ao
actual Governo é bastante injusta! Tendo em conta os desastrosos 8 anos de
governação socialista. Os problemas eram tantos... temos que reconhecer que em
100 dias de governação há muito trabalho feito, mas também há muito por fazer é
um facto.... O Governo tinha que começar por algum lado e vamos ter calma
porque "supostamente" o Governo ainda só está no início de um período
de 4 anos, isto, se os deixarem trabalhar... e eu aqui tenho as minhas
dúvidas... tanto o PS como o CHEGA mais tarde ou mais cedo irão juntar-se
para deitar este Governo abaixo... apareça um pretexto... Também devo
registar que não deixa de ser impressionante essa impaciência e intolerância
com os Governos do Centro-Direita, relativamente aos Governos de Esquerda (não
será por acaso que tivemos três bancarrotas devido a longos períodos de
governação socialista...). Alfaiate Tuga: A AD é igual ao PS. Quer mudanças? Da próxima vez vote Chega ou IL. bento guerra > Rui Medeiros: Isso é espirito de União
Nacional, já demos, durante 40 anos, forçados JOHN MARTINS:
Dos diabos deixados por Costa
e seu governo está-se Montenegro libertando. De facto, resolvida a grande
injustiça dos professores ao fim de 10 anos; resolvendo com mestria a causa
justa dos polícias e associados; a educação está em boas mãos e também assunto
encerrado em tantos outros assuntos no bom caminho: o que se pode dizer deste
grande início e promissor governo do Pº Mº Montenegro? Bravo desde há muito
nunca visto. É preciso ter muito oxigénio e muita força. 100 dias HISTÓRICOS. Tim do A: PNS é comunista Filipe Paes de
Vasconcellos: O que é
verdadeiramente insuportável para a esquerda é que a Direita sempre que
governou, mostrou que a esquerda o não sabe fazer porque tem sempre uma atitude
ideológica sobre tudo e sobre nada. A
Direita ao longo destes 50 anos governou poucos anos mas fez mais por
Portugal que toda a esquerda e isto é o mais que lhes dói. Nos regimes socialistas e comunistas quem se destaca
por fazer bem é de imediato eliminado para não pôr em causa a grande massa de
medíocres. Fernando
CE: Muito bom. Alfaiate Tuga: Nota prévia, sou dos que
ajudou a colocar lá o Montenegro, ou seja, votei nele. Agora os 100 dias de governo,
os problemas que o governo diz que resolveu interessam basicamente a 30% dos
funcionários públicos, ou seja aqueles que já acordaram com o governo aumento
de dinheiro na conta no final do mês, policia, professores, guardas prisionais
e oficias de justiça, todos estes vão passar a levar para casa mais dinheiro
oferecendo ao contribuinte exactamente o mesmo. Depois virão os médicos, forças
armadas, enfermeiros, etc, etc. O governo não está a resolver problemas, o
governo está a distribuir dinheiro pelos funcionários públicos em troca de
nada, o governo anterior poderia ter feito o mesmo, qual era a dificuldade?
Alguns dirão que temos paz social, eu digo que a paz social vai acabar no
próximo ano, pois os que agora levaram um bom aumento de salário são os mesmos
que vão fazer greves no próximo ano para ver se o governo lhes volta a resolver
o problema. Percebo que o Montenegro quisesse comprar tempo e para isso tenha
resolvido distribuir dinheiro pelos funcionários públicos mais ruidosos a ver
se os cala durante uns meses, mas isto não é olhar pelos interesses de Portugal
, antes pelo contrário, é olhar pelos interesses do governo e dos funcionários
públicos. Um governo de direita como supostamente seria a AD deveria ter como
prioridade a baixa de impostos e redução do peso do estado, até agora só
aumentou a despesa pública e impostos baixou zero, portanto para já para os
eleitores de direita como eu, este governo tem sido um flop, ao ponto de a
própria esquerda ter dificuldade em criticar o governo. Portugal precisa de um
governo reformista, que reduza drasticamente o peso do estado e o torne mais
eficiente, baixe impostos a sério e com isto atraia investimentos importantes
que criem valor e fixem os nossos jovens, até agora não vi nada. PS, Ainda estou
à espera que me baixem o IRS como prometido na campanha eleitoral.
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