Histórias de guerras, que denunciam
eternas vaidades e prepotências humanas, ao longo dos tempos – esta crónica de
BRUNO CARDOSO REIS. Não, não parece que Trump seja um pacificador, trata-se de
exibicionismo, essas suas “boutades” de pacificador, para ganhar as eleições do
seu prestígio de tagarela inveterado, para não dizer invertebrado…
Trump será um pacificador?
A verdadeira paz tem de assentar num
acordo tido por justo e legítimo, sobretudo pelas partes directamente
envolvidas na guerra, mas também pelos países vizinhos e pelo máximo da
comunidade de Estados.
BRUNO CARDOSO REIS Historiador
e especialista em segurança internacional
OBSERVADOR, 12
jul. 2024, 00:1730
Temos ouvido falar muito de
paz na Ucrânia ou no Médio Oriente. Nos dois casos o sucesso na guerra é muito
difícil, mas o sucesso numa verdadeira paz, justa e durável, é muito mais
difícil ainda. Ignorar isso, e gritar por paz, sem explicar como, em que
condições, não é sério. Parece evidente que Trump não trará a paz no Médio
Oriente que andou a prometer durante todo o seu primeiro mandato. Mas será que
o fará no caso da Ucrânia se for reeleito, em novembro próximo, como diz com grande
confiança? Como se constrói uma verdadeira paz?
Todas as guerras acabam rapidamente em negociações?
Não é assim, por muito que essa ideia
falsa seja repetida. Muitas guerras prolongam-se durante anos e até décadas. A Birmânia
está envolvida numa guerra civil
desde a sua independência em 1948. Uma das tendências nos conflitos actuais
é mesmo para se prolongarem sem solução à vista. E há conflitos que nunca
terminaram num verdadeiro acordo de paz. A
Guerra da Coreia (1950-53),
a primeira da era nuclear, não terminou num acordo de paz que resolvesse o
conflito, mas num cessar-fogo. Esse até pode ser o melhor cenário para o
fim dos combates na Ucrânia. Ambas as Coreias e os seus aliados esgotaram as
soluções militares. Mas ainda hoje a Coreia do Sul continua a ser um dos países
mais militarizados do Mundo, a ter uma forte presença militar dos EUA, bem como
uma garantia formal de defesa.
Por fim, uma das formas de ter
paz é vencer militarmente. Foi o caso da Segunda Guerra Mundial. A vitória dos Aliados Ocidentais criou as
condições para a paz democrática a que nos habituámos a viver na Europa
Ocidental. A vitória da União Soviética criou as condições para a
escravização da Europa de Leste durante décadas. Essa é outra lição fundamental da história. Os termos
da paz vão condicionar a ordem política regional e global que se seguirá.
A Europa quer paz
É
normal. Estamos desabituados de guerras de conquista no nosso continente. A
guerra custa vidas, consome recursos, é por natureza uma fonte de incerteza e
insegurança. A paz é a base indispensável da prosperidade e da liberdade. Mas
convém recordar que todos os grandes conquistadores foram grandes pacifistas.
De Gengiscão até Napoleão todos eles preferiam conquistar sem combater, vencer
pelo terror, impor a rendição sem combater. É dessa paz que estamos a falar? A paz do terror do
mais forte?
Foi essa a base do acordo com Hitler, em Munique, em 1938. A Checoslováquia democrática estava decidida a
defender-se com o apoio das democracias ocidentais. Foi isolada e pressionada
pelos seus aliados democráticos. Foi forçada a ceder território à Alemanha nazi
em troca da paz. O
resultado foi o fim da independência checoslovaca em poucos meses e, um ano
depois, a guerra mais mortífera de sempre. Hitler
convenceu-se de que a ameaça e a agressão compensavam. Convenceu-se de que as
democracias queriam a paz a qualquer preço, portanto nunca lhe fariam frente. A história não se repete, mas mostra que é pouco
provável que seja boa ideia sacrificar a independência da Ucrânia democrática à
agenda imperialista da Rússia de Putin.
Se
for assim qualquer um – Trump,
Órban, Lula, Erdogan ou Xi
– pode rapidamente pôr fim à guerra na Ucrânia. Essa paz não exigirá grandes
dotes de estadista, nem grande capacidade dos analistas que a prevêem. Mas é
pouco provável que as ambições imperiais de Putin ou de outras grandes
potências revisionistas fiquem por aí.
Como é que se constrói uma paz justa e
duradoira?
Uma verdadeira paz tem de assentar num acordo considerado justo e
legítimo, sobretudo pelas partes directamente envolvidas na guerra, mas também
pelos países vizinhos e pelo máximo da comunidade de Estados. Caso contrário
não será durável. Será
uma trégua, potencialmente perigosa se permitir ao lado mais agressivo
rearmar-se e escolher o momento para regressar ao combate. Gritar pela paz já é
uma ingenuidade ou um apelo a apaziguar a qualquer preço o ditador de Moscovo.
É verdade que é muito difícil dada a enorme assimetria de poder
militar favorável à Rússia que a Ucrânia consiga recuperar pela força todo o
seu território, sem um colapso do actual regime russo. Mas não
demos a Kiev os meios, sem linhas vermelhas, para ofensivas contra linhas
defensivas com sérias hipóteses de sucesso. E também é verdade que não vejo como
a Rússia poderá vencer uma Ucrânia apoiada pelos EUA e pela Europa. A certo momento o regime autocrático
russo poderá preferir um cessar-fogo que realmente congele os combates e lhe
permita aliviar os enormes custos da guerra.
Nenhuma paz verdadeira, nenhum
cessar-fogo durável será possível face à Rússia de Putin que não parta de uma
posição de força e da dissuasão credível de futuras agressões. A vitória da Rússia neste conflito não é
de todo inevitável. Menos ainda o é uma Terceira Guerra Mundial. Esta última
foi muitas vezes anunciada desde 1945 e nunca teve lugar. Foi assim muito
graças, nomeadamente, à existência da NATO,
que esta semana celebrou 75 anos de
sucesso na defesa colectiva, sem que nenhum dos seus membros tenha sido atacado
por outro Estado. Se Trump
for eleito, uma possibilidade bem real, tudo isto poderá ficar
em causa se continuar a ser um candidato a autocrata no seu país e um admirador
declarado de autocratas fora do seu país. Trump
até poderá conseguir uma paz rápida e fácil com a Rússia. Mas convém ser claro
que paz rápida e fácil seria essa. Seria uma paz que tornaria o Mundo
mais propenso a guerras de conquista. Seria uma paz que tornaria o Mundo mais
perigoso para democracias e pequenas potências, e mais seguro para ditaduras
agressivas. É isso que queremos?
GUERRA CONFLITOS MUNDO PAZ DONALD TRUMP ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA EUROPA
COMENTÁRIOS (de 30)
José B Dias: Curioso como de repente
passámos a ter a Paz e a ... "verdadeira Paz"! A primeira ocorre quando
cessam as hostilidades, deixa de existir morte e destruição e os processos de
reconstrução de estruturas físicas e psicológicas pode ter o seu início. A segunda aparenta ser quando
as coisas são feitas em conformidade com os interesses e objectivos defendidos
pelos que consideram ser só essa a Paz verdadeira ... Em 1975, após negociação e
acordo em Paris, o Vietname do Norte e os USA acordaram fazer a Paz.
Garantidamente que no Vietname do Sul, que rapidamente foi derrotado e
desapareceu como Estado, terão existido muitíssimos que não o apoiaram o que me faz indagar se se
terá tratado de "paz" ou de "uma verdadeira paz"? A criatividade é coisa sem limite. bento guerra: Trump é homem de negócios, gosta
de se sentar à mesa. Pode acabar com espectáculos mentirosos, como os da
cimeira da NATO Coxinho:
Se lhe
"parece evidente que Trump não trará a paz no Médio Oriente", não
valia a pena perder tempo a escrever tudo o que se segue. Inicia o artigo pela
respectiva conclusão sem se aperceber que se trata de uma premissa -- mera
hipótese. Pois. Há que dizer mal do Trump. Mas eu compreendo o condicionalismo
que afecta a actividade da maioria dos jornalistas. O complexo da superioridade
moral da esquerda ignora facilmente toda a moralidade que apregoa, e... quando
bate, bate com força!! Trump não é uma figura simpática, concordo. Mas isso não
justifica tudo o que se escreve acerca dele. Que tal auscultar a opinião da
maioria dos americanos? Maria
Emília Santos Santos: Esta crónica faz-me lembrar uma entrevista que ouvi e vi de Ana Gomes, logo
após a estrondosa vitória de Le Pen! Esta pessoa achava que tinha chegado a
desgraça à França, com esta vitória! Os franceses não passaram na casa de Ana
Gomes a pedir opinião e, por isso fizeram aquela imensa, inacreditável
asneira!!!! É como os brasileiros que amam Bolsonaro, o aplaudem e apoiam, mas os
portuguesinhos de esquerda, super espertos, acham que eles são todos parvos e
despolitizados, porque se não apoiavam o corrupto bandido Lula, que foram
buscar à prisão para o colocarem no poder! A esquerda portuguesa que não quer ser conhecida como
radical, tem imposto as suas ideias e manipulado o povo porque em Portugal,
infelizmente quem manda são os oligarcas da NOM. Foi a este caos que o PS nos
levou quando se juntou ao esquerdérrimo BE para desgovernar o nosso pobre país! Agora, temos esperança de
começar a ressurgir, com tantos e tantos políticos de verdade que estão a
aparecer! Não digo mais nada para que não mandem o comentário abaixo! Luis Silva > José Nicolau: A guerra está ganha com Trump
ou sem Trump. Trump apenas pode evitar uma guerra mundial. Ronin: Mais um artigo vindo de um
cérebro que cheira a mofo e teias de aranha, como uma toca de ratazana! Este sujeito não pode concluir
coisa alguma e no momento, nem ele nem ninguém! Tinha de atacar Trump,
"esqueceu-se" como esquerdista mentiroso do encobrimento do deep state,
medias corruptos e família, a situação mental de Biden. Aconselho a quem
estiver interessado saber quem foram os que inventaram a Russian Collusion,
conforme o relatório de John Durham. Podem ver no youtube "How the deep state took
down Trump" - Victor Davis Hanson. O "dream team" do tempo de Obama/Clinton
torpedeou toda a Presidência de Trump, desde os ex directores do FBI, CIA, ou a
advogada ao serviço do FBI. todos mentiram ao Congresso sobre este assunto que
foi uma invenção do grupo de Obama/Clinton.
José B Dias > Coxinho: Há muito que a opinião pública
deixou de interessar à opinião publicada 🤔 Carlos Chaves: Caríssimo Bruno Cardoso Reis,
concordo com a sua avalizada opinião, contudo a eleição ou não, do Trump,
depende dos Americanos. Ou seja, não é uma questão de queremos ou não queremos,
será um facto ou não, com que teremos que lidar!
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