quinta-feira, 11 de julho de 2024

Um texto com pinta


Na questão das piadas. É de Tiago Dores que assim brinca com os pareceres não só desses de uma esquerda da nova virtude, apoiante dos povos que essa esquerda fez desamparar, a pretexto do direito desses a uma governação própria (sem tantos escrúpulos, contudo, a respeito dos nativos índios dos vários outros continentes ocupados) – eis o ponto de partida desta nova sociedade na sua transformação desapiedada e perfeitamente descontrolada e invadida, em retorno clamoroso transformador, a fazer prever tanto desse desprezo e troça social que Tiago Dores tão bem retrata, a propósito de umas eleições francesas bem demonstrativas do “ao Deus dará” em que tudo isto se transformou, com a importância do “herpes de Cristina Ferreira” a sobrepor-se, cá por casa….

Não tarda não têm brioche? Que comam pão pita

Em França, e no ocidente em geral, estes são os princípios da esquerda. Mas se você não gosta deles, eles têm outros votantes para mandar vir do terceiro mundo que lhes garantem triunfos eleitorais.

TIAGO DORES Colunista do Observador

OBSERVADOR, 10 jul. 2024, 00:1822

Sentiram, entre sexta-feira e sábado passado? Aquelas 24 horas em que nos intrometemos entre a Suíça e a Noruega no ranking de PIB per capita? Foi só um dia, mas foi muito intenso. A passagem do Elon Musk por Portugal deve ter, no mínimo, quadruplicado, ainda que por brevíssimos instantes, o valor da riqueza existente em território nacional.

Foi curta e misteriosa, a visita. Mistério que a imprensa não pareceu nada interessada em deslindar. Talvez porque todos os jornalistas de investigação – menos Sandra Felgueiras, que estaria de férias – andassem a averiguar a razão que levou Cristina Ferreira a abandonar a Festa de Verão da TVI logo após ser fotografada na passadeira vermelha. Já agora, as melhoras do herpes, Cristina.

Quanto a Elon Musk, está visto que serei eu a esclarecer os portugueses. Vamos a isso. O dono da Space X veio a Portugal no âmbito do programa espacial que culminará com a chegada a Marte. Não, ele não veio visitar nenhuma empresa tecnológica envolvida no maior projecto de exploração espacial dos últimos 50 anos. Não, o Elon Musk passou por cá mas foi para tirar notas, úteis para a colonização de Marte, sobre como é possível os seres humanos sobreviverem em condições tão adversas. São aquelas bactérias que vivem na água respirando só enxofre, e nós, que vivemos em Portugal sufocados por impostos.

Aliás, a fugacidade da visita de Musk prendeu-se com isto mesmo. Ele estava com pressa porque se dá tempo ao fisco de começar a aplicar-lhe algumas das 4.300 taxas que temos por cá (não, não inventei o número), tinha chegado de avião privado e partido para os Estados Unidos a nado, privado do avião.

Assim, o Musk voltou para a sua terra com a respectiva fortuna e nós ficámos a matutar na respectiva fortuna. Quer dizer, foi-se além do matute. Da minha parte, confesso, houve até um fantasie. Porque é fácil sonhar com uma fortuna como a do Elon Musk. Basta imaginar que se ganhou o jackpot do Euromilhões. Mil vezes. Pode acontecer. E, em princípio, será logo após Cristo voltar à terra. Sendo que este é o tipo de verba que permite regressar aos céus na companhia do próprio Jesus. Em executiva.

Convenhamos, trata-se de muito gravetinho. Mesmo Vítor Escária, que é Vítor Escária (para os que pensassem que Vítor Escária não é Vítor Escária), precisaria de ter chefiado o gabinete do primeiro-ministro António Costa durante mais três ou quatro mandatos para acumular o tipo de verba detida por Elon Musk dentro dos livros no seu escritório. E talvez fosse forçado a adquirir o Guerra e Paz para arrumação extra.

Mas fez bem em vir a Portugal, o Elon Musk. Pelo menos se a alternativa fosse ir a França. Que, neste momento, é de evitar, uma vez que a extrema-esquerda, que havia prometido caos e destruição em caso de vitória da extrema-direita, provocou caos e destruição logo que foi confirmada a derrota da extrema-direita. Eh pá, porque uma pessoa tem um trabalhão a fazer os cocktails molotov, perde imenso tempo a escrever as faixas pós-Hamas, investe horas para a máscara fazer pendant com a vestimenta arco-íris, e depois não vai deitar tanto trabalho para o lixo. Vai, antes, dar-se ao trabalho de deitar todo o lixo que conseguir pelas ruas de Paris, como é óbvio.

Na prática, o que resultou das eleições em França foi que os franceses ficarão, estou certo, muito melhor, pois trocaram a dúvida quanto à capacidade que teria um hipotético governo de extrema-direita, pela certeza quanto ao desastre que será um governo com a extrema-esquerda. E é sempre óptimo uma pessoa saber com o que conta.

Entretanto, outros, com vontade de arreliar, claro, dizem que a França está perdida graças ao chamado “islamo-esquerdismo”, ou seja, à confluência de interesses entre chalupas comunistas variados e chalupas fundamentalistas islâmicos sortidos. Mas, na verdade, não se trata de um fenómeno novo. Já o Voltaire dizia: “Les chalupes esprits se rencontrent.”

O que podia ser feito de novo era, isso sim, o lema da França. Era recauchutar a coisa, por forma a transmitir, de forma mais rigorosa, aquilo em que se transformou a nação que nos permitiu dar a conhecer ao mundo o bidonville. Fica a minha sugestão: “Leniné, Imigré, Fracassé”.

ELEIÇÕES     POLÍTICA     EXTREMA ESQUERDA     IMIGRAÇÃO     MUNDO

COMENTÁRIOS (de 22)

José B Dia:O novo lema parece de facto retratar de forma muito mais fiel a "democracia" francesa ...       I G: Excelente!                  Lápis Afiado: Muito fixe.                 Alexandre Barreira: Pois. Está visto que "Dores crónicas" não são fáceis de....tratar...!                     Maria Tubucci: Está excelente a sua pintura, Sr. TD. Só lhe faltou uma pincelada, a comunicação social estava em êxtase. Contra todas as previsões, os papões da extrema-direita tinham sido derrotados, só os heróis da nova frente popular conseguiram este feito. Ganharam os fofinhos de esquerda, c’est merveilleux. Faziam reportagens mostrando a felicidade: do pessoal da boina à Che Guevara, dos gazados do keffiyeh, dos antifas de cara tapada. Mostravam também, milhares de bandeiras da Palestina misturadas com bandeiras socialistas, bandeiras comunistas, bandeiras arco-íris, e nenhuma bandeira francesa. Agora sim, o céu desceu à terra e trazendo os amanhãs que cantam que tardavam em chegar. Uma vitória deste calibre merece ser comemorada nas ruas, a ferro e fogo, comme d’habitude! Literalmente, os franceses normais foram atirados às feras e são simplesmente carne para o canhão do islamo-esquerdismo, a nova tomada da Bastilha, não tarda não têm é nação…          Maria Paula Silva: Muito bom, cada frase, a melhor. Do herpes CFerreira ao mistério EMusk, as frases sucedem-se, como sempre, num delírio hilariante e a final leva a taça com certeza. "Léniné, Imigré, Fracassé":  é muito bom. "Les chalupes esprits se rencontrent" faz-me logo lembrar  "qu'ils chantent bien mais ils ne m'égayent pas!" Obrigada TD, boa noite.                   Miguel Ramos > bento guerra: O Islão não é nem de esquerda nem de direita, o islão europeu "é" de todas a forças que são contra o progresso do Ocidente... e é por essa razão que se alinham sem pudor à ideologia comunista e socialista.     José Costa-Deitado: Fora da bolha gramsciana e da cartilha editorial, Tiago Dores percebeu! Parabéns pelo excelente artigo e inteligente parágrafo final         Pedro Manuel Moço Ferreira: Tantas críticas no X, vim ler. Uma excelente alegoria do estado de Portugal e França.                   João Ramos: «Les chaloupes esprits se rencontrent» perfeita frase que define na perfeição o que se   fez mostra o perigo que é, tanto para ela própria como para a Europa , o tal Front populaire, não passa de um saco de gatos de irresponsáveis que apenas são movidos pelo ódio e nada trarão de positivo!!!      Miguel RamosPedro >  Manuel Moço Ferreira: O X é um caldeirão de toxicidade que não faz bem a ninguém... distância. Qto ao texto, nada mais que uma descrição factual da aberração que se tornou a política em França e consequente futuro sombrio.            bento guerra: O Islão é de "esquerda", não sabiam? Só as mulheres e filhos deles é que vão aprendendo, com os anos

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