quarta-feira, 31 de julho de 2024

Agradecimento


A João Paulo Oliveira e Costa pelo seu texto enriquecedor, excelente trabalho de pesquisa, com a foto dos quadros citados, que revejo no OBSERVADOR. Aos comentadores do assunto, que se aperceberam da questão. À Ana Gomes, que também esclareceu, como sempre faz e segundo aqui se diz.

Entre a Última Ceia e a Festa dos Deuses. O fio da História

Os simpáticos organizadores dos Jogos talvez não soubessem esta pequena história, mas a ignorância não os torna inocentes. Já os comentadores televisivos são, na grande maioria, inocentes ignorantes.

JOÃO PAULO OLIVEIRA E COSTA Professor catedrático do departamento de História da NOVA/FCSH e titular da Cátedra Unesco «O Património Cultural dos Oceanos»

OBSERVADOR, 30 jul. 2024, 00:1517

Na sequência da polémica causada por uma das cenas da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, muitos sabichões, inclusive comentadores das nossas televisões como Ana Gomes, criticaram a reacção dos católicos que se indignaram. Então esses católicos não sabiam que essa cena era uma adaptação de um quadro de um pintor neerlandês sobre o tema “O Festim dos deuses” e que não tinha nada a ver com a “Última Ceia”, de Leonardo da Vinci? Pois bem, fiz uma pequena investigação que agora partilho convosco com as respectivas imagens.

Quadro 1– Leonardo da Vinci pinta o fresco em Milão “A Última Ceia” (1495). Com o passar do tempo esta imagem torna-se um ícone desse episódio estruturador do Cristianismo. De acordo com o Evangelho, a Eucaristia foi instituída por Cristo nesse momento, que os católicos celebram sempre na Quinta Feira Santa.

Quadro 2Rafael, em 1515, usa o mesmo envolvimento para pintar o festim dos deuses, num período em que a obra de Leonardo ainda não tinha ganhado a fama que viria a ter. Estamos no apogeu do Renascimento, no mesmo ambiente intelectual que ainda vai ser usado, por exemplo, por Camões em “Os Lusíadas” e a Igreja está sedenta de reforma.

Mas essa reforma, desencadeada por Lutero a partir de 1517 vai trazer mais do que a reforma das instituições, que quase todos desejavam. Lutero nega a maior parte dos sacramentos, incluindo a Eucaristia e o mistério da consubstanciação.

Certamente por isso, os artistas que continuaram a pintar o “Festim dos deuses”, colocaram-no antes num jardim, separando a tradição greco-romana das novas polémicas suscitadas pela Reforma. A memória da “Última Ceia” ganhou um novo sentido desde então e passou a ser preservada.

Quadro 3– O “Festim dos deuses”, iniciado por Bellini (1436-1516), mas terminado por Ticiano (1490-1576) mostra precisamente essa envolvência.

Quadro 4 – O mesmo se diga de “O Festim dos deuses” pintado por Rubens (1577-1640)…

Quadro 5 – … e do “Festim dos deuses” atribuído a Jan van Balen a Hendrik van Kessel, moradores na católica Antuérpia em meados do século XVII.

Outros temas semelhantes, como o “Triunfo de Baco”, por Velasquez (1629), também foram pintados na envolvência de um jardim. Os nossos simpáticos e inocentes organizadores dos Jogos Olímpicos desconhecem toda esta tradição católica ou pura e simplesmente ignoraram-na. Rubens?  Ticiano? Pfff.

Quadro 6 Entretanto, em 1635, Jan Harmensz van Bijlert, neerlandês calvinista estabelecido em Utrecht, que visitara Itália e se deixou influenciar por Caravaggio, resolveu também pintar o “Festim dos deuses”, mas ao contrário do que faziam os seus colegas católicos de Antuérpia, decidiu repor o “Festim” em torno de uma mesa, ao modo da icónica “Última Ceia”.

Resumindo:

O quadro de Bijlert não é “a” representação original do “Festim dos deuses”, que foi pintada em plena contra-reforma por católicos num outro enquadramento. O quadro de Bijlert, produzido em plena Guerra dos Trinta Anos, quando católicos e protestantes se enfrentavam cruelmente nos campos de batalha e disputavam sem quartel as questões teológicas nos púlpitos e nos livros, tem de ser entendido num enquadramento de afrontamento contra o mundo católico. Bijlert, que viajara por Itália, sabia o que estava a fazer.

Os simpáticos organizadores dos Jogos Olímpicos talvez não soubessem esta pequena História que aqui vos alinhavei, mas a sua ignorância não os torna inocentes. Já os comentadores televisivos são de facto, na sua grande maioria, inocentes ignorantes.

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COMENTÁRIOS (de 17)

Antonius Caucasianus: Obrigado pelo pequeno esclarecimento que nos traz, a propósito do quadro de Da Vinci e os outros. O esclarecimento não obsta a que todos aqueles que se sentiram ofendidos, manifestassem o seu desagrado pela ofensa, que esse "quadro" "progressista", onde alguma nata da escória da sociedade actual, nomeadamente esses representantes máximos da ideologia de género, os degenerados Lgbtqi+xyz, têm papel de relevo (aplaudidos pelas esquerdas!?). Estes, fazem ali a sua gloriosa actuação, assumindo esse mesmo papel de degeneração, com o habitual circo colorido e a sensação de deboche, em transe! Uma espécie de "La grande boufe"! Só que neste "quadro", são apenas panascas! Alinham também, na moda do "inclusivo", pois vemos "bichas" de todas as cores: brancos, pretos, amarelos... alinham todos no mesmo comboio…Quanto à "comentadora" mais populista de esquerda, Ana Gomes, não podia deixar de criticar os que se sentiram achincalhados pelo reles teatro "progressista" (é o seu entendimento de Liberdade!) pois, ela mesmo, assume-se como socialista e "progressista", portanto do lado daquele arco-íris de debochados, mais dignos de uma cena do “Inferno de Dante” do que de uma “última Ceia” de Da Vinci! Desde que seja "progressista" é bom e as ovelhas não podem discordar! Sabemos todos que há outros "progressismos" socialistas que estão a levar as sociedades europeias à decadência, tanto moral, como cultural e social. Estes são os verdadeiros assassinos de democracias! E da Europa! Basta pôr os olhos no socialismo de Maduro na Venezuela! Ana Gomes, não teve a coragem de criticar abertamente, pois estava entalada com o seu colega socialista! Desculpou-se, ontem, dizendo que ela era também socialista, mas que Maduro não era um “verdadeiro socialista”! Não era conveniente! É para rir! Maduro é o verdadeiro socialista, pois pôs em prática o que os manuais socialistas ordenam: tomada do poder por todos os meios, ditadura, mentira, pobreza e igualdade na mesma! Ana Gomes é a falsa socialista "democrática", pois vive encapotada, beneficiando de um socialismo, ainda que limitado por uma “democracia” liberal, em que um parco capitalismo lhe vai oferecendo uma boa vida burguesa, à espreita que se repita um novo Prec, para assim assumir as roupas de revolucionária socialista e partir, com os correligionários, ao ataque definitivo do país, como Maduro!          António Fernandes: Se fosse algo a brincar com os fanáticos maometanos, tínhamos a aninhas de dentes afiado contra a le pen... por aí vai....              bento guerra: Uma boa explicação ,como seria de esperar deste autor. Acredito que a blasfêmia com a "Última Ceia" não estivesse no espírito dos organizadores, mas no meio daquela salganhada e com "drag queens" à mistura alguém compôs o quadro. Depois da bronca, foram à pressa encontrar a "Festa dos Deuses" ,que não é semelhante ao que vimos                 Miguel Bergano: Seja lá em que foi inspirado, aquilo que se viu foi uma coisa nojenta, vómito total.         Alcides Longras: Obrigado por esta resenha. Mas discordo da conclusão. Acho que sabiam perfeitamente o que estavam a fazer e a escolher a "inspiração" perfeita! Para atingirem os seus objectivos reais, tendo sempre uma justificação tão soberba e pretensiosa quanto a casta que a inventou                 Manuel Lisboa: Muito interessante a exposição de João Paulo Oliveira. Há beleza em todas reproduções dos quadros apresentados como exemplo mesmo naquele do calvinista neerlandês. No entanto, existe apenas fealdade, vulgaridade, mau gosto na paródia a evocar um quadro pouco representativo e quase desconhecido, durante a cerimónia (fraca - claro, as imagens de Paris, mesmo à chuva são sempre magníficas, não havendo dúvidas que a capital francesa continua a valer pelo menos uma Missa) de abertura dos jogos olímpicos. Com tanta beleza por toda a França e, especialmente, em Paris não é de facto inocente a escolha da pintura e a forma da sua evocação. Evidentemente, até o pintor neerlandês se arrepiaria e revoltaria perante o tipo de personagens escolhidas para lembrar o seu trabalho. É obtusa a escolha do estapafúrdio e do iconoclasta para chocar por ocasião de um momento, que se pretendia de festa e universalidade.        Maria Augusta Martins: Na minha terra aquilo seria chamado " Ceia das Badalhocas"! A Ana Gomes é uma delas e deve estar apenada por lhe não terem reservado um lugar nem que fosse a "apresentar toalhas" para as damas de pés de cabra enxugarem os humores e os vómitos. Na próxima ceia podemos contar com ela!           Paulo Almeida: Muito bom, a Ana Gomes é um troll ignorante comuna autoritária           Francisco Almeida: Obrigado pela publicação. Apenas anoto que Ana Gomes tem pouco de ignorante e nada de inocente.

 

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