A João
Paulo Oliveira e Costa pelo seu texto enriquecedor, excelente trabalho de
pesquisa, com a foto dos quadros citados, que revejo no OBSERVADOR. Aos comentadores do assunto, que se
aperceberam da questão. À Ana Gomes, que também
esclareceu, como sempre faz e segundo aqui se diz.
Entre a Última Ceia e a Festa dos Deuses. O fio da História
Os simpáticos organizadores dos Jogos
talvez não soubessem esta pequena história, mas a ignorância não os torna
inocentes. Já os comentadores televisivos são, na grande maioria, inocentes
ignorantes.
OBSERVADOR, 30 jul. 2024, 00:1517
Na sequência da polémica causada por
uma das cenas da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, muitos sabichões,
inclusive comentadores das nossas televisões como Ana Gomes, criticaram a reacção dos católicos que se
indignaram. Então esses católicos não sabiam que essa cena era uma adaptação de
um quadro de um pintor neerlandês sobre o tema “O Festim dos deuses” e que não tinha nada a ver com a “Última Ceia”, de Leonardo da Vinci? Pois bem, fiz uma pequena investigação que agora
partilho convosco com as respectivas imagens.
Quadro 1– Leonardo da Vinci pinta o
fresco em Milão “A Última Ceia” (1495). Com o passar do tempo esta imagem torna-se
um ícone desse episódio estruturador do Cristianismo. De acordo com o
Evangelho, a Eucaristia foi instituída por Cristo nesse momento, que os
católicos celebram sempre na Quinta Feira Santa.
Quadro 2– Rafael, em 1515, usa o
mesmo envolvimento para pintar o
festim dos deuses, num período em que a obra de Leonardo ainda não
tinha ganhado a fama que viria a ter. Estamos no apogeu do Renascimento, no
mesmo ambiente intelectual que ainda vai ser usado, por exemplo, por Camões em
“Os Lusíadas” e a
Igreja está sedenta de reforma.
Mas essa reforma, desencadeada
por Lutero a partir de 1517 vai trazer mais do que a reforma das
instituições, que quase todos desejavam. Lutero nega a maior parte dos
sacramentos, incluindo a Eucaristia e o mistério da consubstanciação.
Certamente
por isso, os artistas que continuaram a pintar o “Festim dos deuses”, colocaram-no
antes num jardim, separando a tradição greco-romana das novas polémicas
suscitadas pela Reforma. A memória
da “Última Ceia” ganhou um novo sentido desde então e passou a ser preservada.
Quadro 3– O “Festim dos deuses”, iniciado
por Bellini (1436-1516), mas terminado por Ticiano (1490-1576) mostra precisamente essa envolvência.
Quadro 4 – O mesmo se
diga de “O Festim dos deuses” pintado
por Rubens (1577-1640)…
Quadro 5 – … e do “Festim dos deuses” atribuído
a Jan van Balen a Hendrik van Kessel, moradores
na católica Antuérpia em meados do século XVII.
Outros temas semelhantes, como o “Triunfo de
Baco”, por Velasquez
(1629), também foram
pintados na envolvência de um jardim. Os
nossos simpáticos e inocentes organizadores dos Jogos Olímpicos desconhecem
toda esta tradição católica ou pura e simplesmente ignoraram-na. Rubens? Ticiano? Pfff.
Quadro 6– Entretanto, em 1635, Jan Harmensz van Bijlert, neerlandês calvinista
estabelecido em Utrecht, que visitara Itália e se deixou influenciar por Caravaggio, resolveu também pintar
o “Festim dos deuses”, mas ao contrário do que faziam os seus colegas católicos
de Antuérpia, decidiu repor o “Festim”
em torno de uma mesa, ao modo da icónica “Última Ceia”.
Resumindo:
O
quadro de Bijlert não é “a” representação original do “Festim dos
deuses”, que foi pintada em plena
contra-reforma por católicos num outro enquadramento. O quadro de Bijlert, produzido em plena
Guerra dos Trinta Anos, quando católicos e protestantes se enfrentavam
cruelmente nos campos de batalha e disputavam sem quartel as questões
teológicas nos púlpitos e nos livros, tem de ser entendido num
enquadramento de afrontamento contra o mundo católico. Bijlert, que viajara por Itália, sabia o que
estava a fazer.
Os simpáticos organizadores dos Jogos
Olímpicos talvez não soubessem esta pequena História que aqui vos alinhavei,
mas a sua ignorância não os torna inocentes. Já os comentadores televisivos são
de facto, na sua grande maioria, inocentes ignorantes.
JOGOS
OLÍMPICOS DESPORTO PINTURA ARTE CULTURA
COMENTÁRIOS (de 17)
Antonius Caucasianus: Obrigado pelo pequeno esclarecimento que nos traz, a
propósito do quadro de Da Vinci e os outros. O esclarecimento não obsta a que todos aqueles que se
sentiram ofendidos, manifestassem o seu desagrado pela ofensa, que esse
"quadro" "progressista", onde alguma nata da escória da
sociedade actual, nomeadamente esses representantes máximos da ideologia de
género, os degenerados Lgbtqi+xyz, têm papel de relevo (aplaudidos pelas
esquerdas!?). Estes, fazem ali a sua gloriosa actuação, assumindo esse mesmo
papel de degeneração, com o habitual circo colorido e a sensação de deboche, em
transe! Uma espécie de "La grande boufe"! Só que neste
"quadro", são apenas panascas! Alinham também, na moda do
"inclusivo", pois vemos "bichas" de todas as cores:
brancos, pretos, amarelos... alinham todos no mesmo comboio…Quanto à "comentadora"
mais populista de esquerda, Ana Gomes, não podia deixar de criticar os que se
sentiram achincalhados pelo reles teatro "progressista" (é o seu
entendimento de Liberdade!) pois, ela mesmo, assume-se como socialista e
"progressista", portanto do lado daquele arco-íris de debochados,
mais dignos de uma cena do “Inferno de Dante” do que de uma “última Ceia” de Da
Vinci! Desde que seja "progressista" é bom e as ovelhas não
podem discordar! Sabemos todos que há outros "progressismos"
socialistas que estão a levar as sociedades europeias à decadência, tanto
moral, como cultural e social. Estes são os verdadeiros assassinos de
democracias! E da Europa! Basta pôr os olhos no socialismo de Maduro na
Venezuela! Ana Gomes, não teve a coragem de criticar abertamente, pois estava
entalada com o seu colega socialista! Desculpou-se, ontem, dizendo que ela era
também socialista, mas que Maduro não era um “verdadeiro socialista”! Não era
conveniente! É para rir! Maduro é o verdadeiro socialista, pois pôs em prática
o que os manuais socialistas ordenam: tomada do poder por todos os meios,
ditadura, mentira, pobreza e igualdade na mesma! Ana Gomes é a falsa socialista
"democrática", pois vive encapotada, beneficiando de um socialismo,
ainda que limitado por uma “democracia” liberal, em que um parco capitalismo
lhe vai oferecendo uma boa vida burguesa, à espreita que se repita um novo
Prec, para assim assumir as roupas de revolucionária socialista e partir, com
os correligionários, ao ataque definitivo do país, como Maduro! António Fernandes: Se
fosse algo a brincar com os fanáticos maometanos, tínhamos a aninhas de dentes
afiado contra a le pen... por aí vai.... bento guerra: Uma boa explicação ,como seria de esperar deste autor.
Acredito que a blasfêmia com a "Última Ceia" não estivesse no espírito
dos organizadores, mas no meio daquela salganhada e com "drag queens"
à mistura alguém compôs o quadro. Depois da bronca, foram à pressa encontrar a
"Festa dos Deuses" ,que não é semelhante ao que vimos Miguel Bergano: Seja lá em que foi inspirado, aquilo que se viu foi
uma coisa nojenta, vómito total. Alcides Longras: Obrigado por esta resenha. Mas discordo da conclusão.
Acho que sabiam perfeitamente o que estavam a fazer e a escolher a
"inspiração" perfeita! Para atingirem os seus objectivos reais, tendo
sempre uma justificação tão soberba e pretensiosa quanto a casta que a inventou
Manuel Lisboa: Muito
interessante a exposição de João Paulo Oliveira. Há beleza em todas
reproduções dos quadros apresentados como exemplo mesmo naquele do calvinista
neerlandês. No entanto, existe apenas fealdade, vulgaridade, mau gosto na
paródia a evocar um quadro pouco representativo e quase desconhecido, durante a
cerimónia (fraca - claro, as imagens de Paris, mesmo à chuva são sempre
magníficas, não havendo dúvidas que a capital francesa continua a valer pelo
menos uma Missa) de abertura dos jogos olímpicos. Com tanta beleza por toda a França e,
especialmente, em Paris não é de facto inocente a escolha da pintura e a forma
da sua evocação. Evidentemente, até o pintor neerlandês se arrepiaria e
revoltaria perante o tipo de personagens escolhidas para lembrar o seu
trabalho. É obtusa a escolha do estapafúrdio e do iconoclasta para chocar por
ocasião de um momento, que se pretendia de festa e universalidade. Maria Augusta Martins: Na minha terra aquilo seria chamado " Ceia das
Badalhocas"! A Ana Gomes é uma delas e deve estar apenada por lhe não
terem reservado um lugar nem que fosse a "apresentar toalhas" para as
damas de pés de cabra enxugarem os humores e os vómitos. Na próxima ceia
podemos contar com ela! Paulo
Almeida: Muito bom, a
Ana Gomes é um troll ignorante comuna autoritária Francisco Almeida: Obrigado pela publicação. Apenas anoto que Ana
Gomes tem pouco de ignorante e nada de inocente.
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