sexta-feira, 12 de julho de 2024

Tout va bien

 

Qui finit bien.

Afinal, ficou (quase) tudo na mesma

JOÃO MARQUES DE ALMEIDA Colunista do Observador

OBSERVADOR, 11 jul. 2024, 00:2015

As eleições em França tiveram três histórias. A primeira foi a vitória da direita nacionalista do partido de Marine Le Pen. Foi a história da primeira volta. A segunda história foi a vitória da frente de esquerda na segunda volta. Uniram-se todos contra Le Pen e, com a ajuda das regras do sistema eleitoral francês, o RN perdeu.

A terceira história está a começar agora. Será a história da fragmentação da frente de esquerda e da vitória final da coligação centrista de Macron. Será muito difícil a frente de esquerda continuar unida no parlamento. Como acontece frequentemente em França, as coligações eleitorais não acabam no mesmo grupo parlamentar. Na frente de esquerda, muita coisa divide os socialistas da França Insubmissa. Além disso, o partido socialista francês está a recuperar de um longo período de coma político. O seu interesse será voltar a ser um grupo parlamentar autónomo para continuar a crescer. Aliás foi revelador que na noite das eleições e nos dias seguintes Melenchon exigiu a Macron a constituição do governo, mas os socialistas não o acompanharam. Há aqui um dilema que provavelmente não tem solução. Os socialistas sabem que não podem estar num governo com um PM da França Insubmissa (mesmo que não seja Melenchon). A França Insubmissa não aceitará fazer parte de um governo liderado por um socialista (mesmo que seja Hollande).

A fragmentação da frente de esquerda deixa o caminho aberto a Macron. O Presidente francês está a ganhar tempo. Manteve Attal como PM e vai esperar pela divisão da frente de esquerda. Em Agosto, mesmo quando está tudo assustado com o futuro da democracia, os franceses vão de férias e esquecem a crise política. Mas Macron vai continuar a trabalhar. E olhando para os resultados eleitorais, Macron sabe algumas coisas.

Em primeiro lugar, sabe que o seu partido, Renaissance, tem mais deputados do que a França Insubmissa. Em número de deputados, é o segundo partido, atrás do RN. Também sabe que a sua coligação, Ensemble (de 4 partidos), continuará unida no parlamento. Muito provavelmente, será a maior bancada parlamentar; e seguramente, se a frente de esquerda se fragmentar em várias bancadas parlamentares.

Nesse caso, Macron tem legitimidade para formar um governo de iniciativa presidencial, com Attal ou com outro PM. Não tendo maioria parlamentar, talvez tenha que sacrificar um ou dois candidatos a PM em votos de rejeição no parlamento, mas acabará por nomear um governo de gestão que durará pelo menos um ano. Talvez seja mesmo o melhor para França. Um governo de gestão sem poder para fazer grandes asneiras, sobretudo para não aumentar ainda mais a dívida pública, e que dê liberdade aos franceses para tratarem da sua vida.

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COMENTÁRIOS (DE 15)

Paulo Almeida > Rui Lima: Sem dúvida, é isso mesmo Rui. Transmite-se uma ideia simples e errada de que é só taxar uns pós de percentagens aos ricos, como se os donos de grandes empresas tivessem o lucro todo empacotado numa gaveta, em notas, prontas a serem levadas à repartição de finanças para pagar o seu imposto, não causando nenhum impacto na empresa. Como se aquele lucro fosse para eles irem gastar aos hotéis. E por isso pode vir para o Estado. Sacar das grandes empresas de forma injusta, quando outros países no espaço europeu não o fazem, tem um efeito brutal a médio e longo prazo. As empresas fogem e levam com ela impostos, empregos, tudo. E nenhum quer vir ou voltar. Fica a miséria. Pessoas de mão estendida para o Estado para ter subsídios, para ficarem dependentes de quem os dá. Os defensores desta teoria já testada e que levaram países e sociedades à ruína, fazem-no porque sabem bem o impacto de tais medidas e sobretudo porque é a única forma de manterem os seus trabalhos, do alto da pirâmide dos partidos: fomentando a ideia nos iliteratos financeiramente de que o mal é dos ricos e que tem que haver mais distribuição. Não é distribuição. É saquear. E os efeitos na sociedade, na mente das pessoas são muito perversos e ficam durante décadas.              Rui Lima: Há um grande falhanço na escola nos países ocidentais ( pergunto a jovens se sabem o que foi o comunismo ,não sabem ) devia ser explicado o desastre económico e humano desta ideologia . Como é possível os franceses votarem na miséria? Aprendi que taxar muito os mais produtivos reduz o incentivo a criar valor, tributar de mais os rendimentos do trabalho, reduz-se o incentivo ao trabalho. Tributar de mais o capital, reduz-se o incentivo para poupar e investir. A NFP quer voltar com (L'Impôt de Solidarité sur la Fortune (ISF)) a maior fábrica de miséria, em 1981 F. Mitterrand rebentou com várias empresas inovadoras umas delas era líder na área do software porque levou à falência pessoal dos seus donos. Uma explicação para verem como este imposto é destruidor, estes 3% é o valor de que se fala, eu tenho uma Startup cotada que virtualmente vale mil milhões teria de entregar 30 milhões , para os obter teria de vender acções, teria de ser na ordem dos 300 milhões ( isso nem seria possível porque a regra Nasdaq limita ao máximo a venda dos grandes accionistas ) a venda daria um elevado rendimento anual de 300 milhões taxado a 90% entre o ISF e o IRS tudo seria entregue ao Estado e em 3 anos eu ficaria sem empresa , a NFF irá conseguir que todas as empresas de França sejam de estrangeiros . Eles dizem que isto não afecta  90% dos franceses só os 10% mais “ricos “  ( mas falidos em termos pessoais após impostos) são estes que fazem a França funcionar .

Jorge Barbosa: Como é habitual, sempre conhecedor e racional. ObrIgado, JMA

Lúcia Henriques: Eu desejo o senhor Mélenchon a governar com as suas expropriações, nacionalizações e aumento de impostos para ser a vacina contra as esquerdas.

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