domingo, 21 de julho de 2024

A raiva ao Trump

 

Resulta sobretudo, julgo eu, de se ler ou ouvir as suas observações sobre, mal o poder lhe passe para as mãos - e o restante corpóreo, naturalmente, que lho consentirá - o fim imediato da guerra na Ucrânia, desencadeada por um “actor” cínico e sem escrúpulos, que se apoderou de parte desse país - como já antes tinha ocupado uma ilha do mesmo país, numa liberdade perfeitamente impune, que o auxílio europeu, sozinho, não poderá impedir, sem o apoio americano, apoio que Trump pretende eliminar, com desprezo pela Ucrânia e pelos europeus, e, pelos vistos, em perfeita harmonia com as manobras putinescas da ocupação tenebrosa. Afinal, as ironias de AG contra a história da raspadinha da bala na orelha de Trump visam, acima de tudo, os portugueses que não entendem a recusa do auxílio de Trump, indiferente a uma guerra perpetrada por esse, ao que parece, de quem aparenta ser amigo, não se sabe se mesmo do peito.

Os transtornados de Trump

Eu, que considero Trump um pantomineiro arrogante e pouco escrupuloso, consigo apreciar o que aconteceu de positivo na sua presidência. Os pacientes da Síndrome não conseguem.

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

OBSERVADOR, 20 jul. 2024, 00:20127

A primeira reacção ao atentado contra Donald Trump foi a negação. Uma notória televisão americana informava: “Discurso de Trump interrompido pelos agentes de segurança”. Minutos passados, a mesma televisão entrava em detalhes: “Agentes de segurança retiram Trump de palco após ele cair durante um comício”. Ou seja, não houvera uma tentativa de assassínio, e sim um tombo do candidato, que se esbardalhara ao vivo quiçá por razões de velhice.

A segunda reacção ao atentado foi a distracção. Um jornal proclamava: “Tiros interrompem comício de Trump”, talvez para sugerir que, como de resto é natural, os campónios que o apoiam desataram a disparar à toa depois de demasiadas cervejas, “hot dogs” e sol na moleirinha.

A terceira reacção, que se prolongou por dias, foi a conspiração. Evidentemente, tudo aquilo fora encenado. Só um idiota não percebia o óbvio, leia-se que o atirador estava mancomunado com a campanha de Trump para ferir este de raspão e ser morto de seguida. A Trump bastou desviar a cabeça um instante antes do tiro inicial, de modo a evitar maçadas ligeiramente mais críticas como um projéctil no crânio.

A quarta reacção, que surgiu em simultâneo e desacordo com a anterior, foi a sinceridade. Nas “redes sociais”, milhares de anónimos opositores de Trump e políticos menores lamentaram o que milhares de conhecidos opositores de Trump e políticos maiores não tiveram o descaramento de lamentar: o falhanço do atirador. Vi – ou “visualizei”, para usar o vocábulo erudito – diversas filmagens de “millennials” histéricos ou em lágrimas por Trump ter escapado, mas a propensão dos “millennials” para guinchar e chorar sob qualquer pretexto levou-me a desvalorizar o facto.

A quinta reacção foi o desespero. Desconsolados com a ineficácia pública das reacções precedentes, inúmeros comentadores resolveram admitir implicitamente o atentado, embora para o desvalorizar. Para tais sumidades, o importante não é que alguém tenha ficado a dois centímetros de expor a massa encefálica de Trump. O importante, e grave, é o inevitável “aproveitamento”, ou a “exploração” do “incidente”. Essa gente convictamente acha que os prováveis ganhos eleitorais de um quase homicídio são o problema em toda a história. É uma gente recomendável.

A sexta, a sétima, a oitava, a nona e a enésima reacções foram livres. Frustrado, cada comentador decidiu engendrar a própria maneira de lidar com o atentado contra Trump sem prejuízo da profunda aversão a Trump e aos “deploráveis” que votam em Trump. Ouvi muitas teses engraçadas. A minha preferida saiu do génio de uma senhora que, salvo o erro na NBC, equiparou o sucedido na Pensilvânia à bravura de Biden, entretanto afectado pela Covid e as movimentações do sr. Obama. Se os republicanos exaltam a coragem com que Trump enfrentou umas simples balas, também é obrigatório exaltar a valentia demonstrada pelo actual presidente perante o monstruoso vírus.

Isto na América. Em Portugal, o prémio para a melhor alucinação vai para um tal Filipe Vasconcelos Romão, o qual na RTP perpetrou o pensamento que, a bem da clareza de raciocínio, cito com rigor: “O que costuma ocorrer é que, quando no caso sucede algo que prejudica, atira-se, acaba por se proceder a uma espécie de reflexo em que se procura acusar o outro justamente de aquilo que são as práticas comuns e habituais que levam nesse campo político”. Nas palavras do meu remoto professor de Química, a água cristalina é turva perto disto. Tradução hesitante: Trump levou um balázio porque os líderes democratas passam a vida a ser alvejados pelos adversários.

O sr. Romão é um exemplo, colhido por felicidade no YouTube. Imagino os Romãos que perdi. A verdade é que, por uma vez, senti pena de não aceder a canais televisivos. Na ressaca do atentado/encenação/aproveitamento, percebi por vias indirectas que os estúdios portugueses se encheram, em presença ou nos quadradinhos do Zoom, de populares e obscuríssimos especialistas na raiva incomensurável a Trump, ou vítimas do que a medicina informal designa por Síndrome do Transtorno de Trump, que está longe de constituir uma maleita exclusivamente americana.

Recorro ao Prontuário Terapêutico, ou Wikipédia, para definir a doença: as reacções irracionais suscitadas por Trump, independentemente do que quer que Trump diga ou faça. Trump é tão atacado por sofrer um atentado quanto seria se ele cometesse um atentado. Eu, que considero Trump um pantomineiro arrogante e pouco escrupuloso, consigo apreciar o que aconteceu de positivo na sua presidência. Os pacientes da Síndrome não conseguem. Nem sabem que é possível avaliar a criatura com um vestígio, ainda que mínimo, de ponderação, ou sem se habilitarem a babar uma camisa de forças. É uma visão cartesiana: Trump existe, logo eles não pensam. Não pensam, mas estrebucham, furiosos, à mera menção do nome, que põem uns graus de malvadez acima de Hitler e Belzebu. Não é uma enfermidade inteiramente nova, e já se revelara com Reagan e os Bush. Porém, a estirpe Trump é devastadora.

Lá e cá, a Síndrome abateu-se com força e enfiou a ortodoxia política e “mediática” nos cuidados intensivos, ou no lodaçal em que chapinham, a dissertar acerca de “união”, “tolerância” e “inclusividade” (desculpem) enquanto transpiram ódio. O ódio, e os exercícios de desumanização associados, podem convencer um taradinho a subir ao telhado com uma espingarda e procurar a glória. Até Novembro, podem convencer dois ou três.

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COMENTÁRIOS (de 127)

Tim do A > Rui Lima: À esquerda Woke acrescente-lhe o centro, onde estão o CDS e o PSD. Veja-se as ministras da juventude e da saúde (não sei onde foram buscar aquelas criaturas religiosas Woke) que se denunciaram em tão pouco tempo e até Montenegro. Fora os ministros que ainda não se denunciaram. Lá chegaremos a quase todos com o tempo.                Maria Tubucci: As férias foram rápidas Sr. AG! Quanto ao atentado contra o DTrump, outra reacção foi “Hoje poderia ter sido o dia mais feliz da minha vida”, a frase foi dita por alguém num vídeo de 45 segundos. Uma frase maligna, o ódio que contém é palpável e até ao longe se sente. Esta “pessoa” só será feliz com o mal do próximo, a seita do mal perdeu a vergonha, livre e às claras proclamam esse mal. Que vida vazia. Quando era pequena a minha avó ensinou-me que nunca, mas mesmo nunca se deseja mal a alguém, porque o mal desejado nos iria cair em cima, algo do género “quem mal faz às costas o traz”. Uma sociedade sem valores, sem avós, ou uma sociedade com os valores invertidos, é uma sociedade muito doente produzindo espécimes deste calibre, que em vez de evoluir começa a regredir, qualquer dia não há sociedade só tribos de trogloditas...              Rui Lima: Se Trump existe é mérito da esquerda do extremismo da esquerda, hoje mesmo a esquerda socialista é anti- ocidental segue o caminho woke , apesar de todo o sistema das universidades aos meios de comunicação social dizer que toda essa gente é nazi, há cada vez mais votantes sem medo .             Paulo Almeida: O Alberto só se esqueceu de um dos meus preferidos: na CNN tuga, a pivot perguntou logo nas primeira horas se poderia ser uma encenação, como foi - afirmando convictamente - a facada que Bolsonaro levou nos intestinos há uns anos. De facto é um elogio à bravura do trump e bolsonaro: arriscarem morrer para sacar mais uns votos. E conseguiram, só mesmo digno de um filme de série B de Hollywood                Pobre Portugal: Este ódio a Trump veio mostrar no quão fanático, faccioso e intolerante o ser humano se pode tornar. E alucinado. Pois ninguém no seu estado normal odeia um político apenas porque os jornalistas lhe dizem para odiar.               Alcides Longras: As reacções mediáticas, políticas e populares a este caso, devidamente entrosadas por anos de campanha difamatória contra esta personagem sui generis (e muito americana) são tão expectáveis quanto abomináveis, de tão reveladoras de um espírito hipócrita e mesquinho de quem se arroga superioridade moral. Só por isso, já é de valor. A realidade é que estivemos a milímetros daquilo que é um grave conflito cultural poder eclodir num físico. E isso é que devia ser reflectido. E não é.               Lily Lx: É isso. E arroga-se esta gente de mandar na democracia. Benditos os que votam livres de preconceito!                 Meio Vazio: O que me parte a alma é saber que milhões e milhões de  eleitores norte-americanos - pobres burgessos! - não têm acesso às proféticas e lúcidas cautelas de 99% dos nossos jornalistas (digamos) e "comentadeiros" televisivos, podendo vir a cair nos braços da Besta 666, ainda que agora claramente sinalizada no pavilhão auricular direito.              Fernando Coimbra Lopes: Assino por baixo!!                José Paulo Castro > Joaquim Almeida: Também poderia 'garantir' quotas de jovens, de islâmicos e imigrantes... até chegar a conseguir contratar ex-membros da guarda iraniana. Quando os critérios não são a capacidade, competência e lealdade, dá nisto.               Maria Emília Santos Santos: O taradinho do telhado tinha pelo menos três contas abertas em vários países, portanto ele não era bem um taradinho, mas sim um ambicioso que se deixou iludir pelas loucas ofertas dos que o convenceram a atirar a Trump para o matar! Coitado! A não ser que se tenha arrependido a meio dos tiros que levou, foi parar ao inferno e o dinheiro que era para ele, para quem terá ficado? Enfim, houve uma mão que empurrou a cabeça de Trump e fez com que escapasse do assassinato! E agora? O programa não correu como esperado! Agora só há duas hipóteses: ou tentar de novo, que me parece que é o que vai acontecer, ou fazer-lhe a vida tão negra que ele não tenha condições de continuar a corrida! E entretanto, as coisas com a NOM já estarão tão avançadas, que ninguém mais conseguirá impedir a imposição da ditadura deles! Só a intervenção divina pode acalmar os ânimos e pôr finalmente PAZ.                José Paulo Castro: Na realidade, o tique de Trump de inclinar a cabeça enquanto fala, principalmente quando muda de tópico ou nas pausas, salvou-lhe a vida. No caso, ao rodar a cabeça para olhar para um gráfico ao lado do palco. Mas concordo com a profecia final: se tínhamos dúvidas de onde vem a motivação para matar Trump, as reacções nos media mostraram um campo democrata amplamente receptivo à ideia. Daqui para a frente, vai ser difícil ocultar essa ideia. Ainda podemos ter mais tentativas, à medida que Novembro se aproxime e as sondagens indiquem a sua vitória. E vamos ter quem justifique o acto.            Joaquim Almeida: Quase a papel químico, durante as quatro horas a seguir à tentativa de assassínio, também os média brasileiros do consórcio industrial da desinformação andaram afadigados em contorcionismos vocabulares para não falar em atentado. Perante a evidência passaram às elucubrações imaginativas...               João Floriano: Não sei se entre os vários fornecedores de opinião, algum se armou em saudosista e não desabafou que já não se fazem atiradores como antigamente. Em 1963, em Dallas, Oswald com equipamento muito inferior ao de hoje, acertou em cheio no Presidente JFKennedy e tornou imortal a imagem de uma Primeira dama em cor de rosa manchada de sangue. E ainda por cima num carro em movimento. Crooks não acertou e pode ter dado a Trump a 47ª presidência dos Estados Unidos da América. Li e reli o raciocínio de Filipe Vasconcelos Romão, até fui ver na internet mas não consegui reconhecer este professor universitário e muito menos perceber o que queria dizer. Deve ser dos que são considerados tanto mais inteligentes quanto mais herméticos são no seu pensamento e sua expressão. Não deixa de ser um caso de estudo de patologia do comportamento, o modo como a nossa esquerda se engalfinha contra o candidato republicano, como se tivessem alguma influência na decisão da escolha. Como todos os presidentes Trump teve e terá coisas boas, menos boas e más. O facto de ser tão odiado pela esquerda, pela nossa virtuosa esquerda, e pela CS que lhe obedece, é uma excelente recomendação a seu favor.               Fernando CE: Muito bom ( o texto).                João Floriano > Jorge Pereira: Grande parte do que diz é pura invenção porque ainda não aconteceu e nem se sabe se virá a acontecer e outra parte são juízos de valor subjectivos e no seu caso subjectivíssimos. A democracia americana é muito mais resiliente do que possa pensar. O país passou por provas de fogo duríssimas como foram a Guerra Civil, a Grande Depressão, a participação nas Guerras, as lutas raciais e a democracia sempre venceu. Não é o Trump que vai mudar o país para uma ditadura e muito menos manobrar as poderosas forças armadas.                José Paulo Castro > Jorge Pereira: Em 2016 até seria possível acreditar nisso. Mas depois do período de governação dele entre 2016 e 2020, ninguém já acredita nesses delirios senão os media que os fomentam.              Maria Vilhena: Estou muito preocupada, porque nunca imaginei a dimensão deste ódio, apoiado e alimentado pela CS. Existe aqui por trás, um apoio enorme de capital para que toda esta perda de valores tenha crescido. A isenção da CS desapareceu e já não esconde as suas preferências, esquerda e o movimento woke. Todos temos nas nossas memórias, o resultado deste tipo de acções que aconteceram na Europa. É bom não esquecer e aceitar a liberdade de escolha de cada um. Chegamos até aqui, não podemos retroceder. Senão será a barbárie!

 

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