Como obstáculo temporário a tão atrozes
condicionalismos do modus vivendi dos
actuais imigrantes. Também nós somos exemplo de emigrantes – julgo que ordeiros
– quantas vezes, saídos daqui “a salto”, com a mala de cartão da citação de Linda
de Susa,
a qual não viveu talvez, contudo, nos bidonvilles da nossa penúria migratória,
nessa França criativa de outrora. Os bidonvilles serviriam temporariamente para
impedir tão desumanas condições vividas hoje por gente fugitiva dos seus
países, e que aqui se dispõe a trabalhar. Entretanto, ir-se-iam fabricando as
habitações normais, em espaços normais para um acolhimento menos desprezível…
A máquina de fazer portugueses
A aceleração da entrada de migrantes mostrou a falta de planeamento
e a nossa grande capacidade para fazermos de conta de que nada está a
acontecer. Até que as filas na AIMA começaram a encher as ruas.
MIGUEL MIRANDA Geofísico,
antigo presidente do IPMA
OBSERVADOR,05 jul. 2024, 00:1816
O impacto social e cultural da emigração
é sem dúvida um dos problemas mais complexos do nosso tempo. O efeito combinado da redução da
natalidade, com a obrigação de manter a força de trabalho em inúmeras áreas da
economia, criou as condições para a necessidade de ser permitida a entrada de
migrantes nos países da Europa. Somem-se os serviços públicos de saúde gratuitos, e temos as
condições necessárias para uma grande pressão de cidadãos oriundos de outras
paragens. As empresas especializadas em
“import-export” de mão-de-obra não tardaram a aparecer.
O mês de junho é o mês dos santos. Em
cada esquina um arraial mistura os lisboetas que ainda resistem, com
forasteiros, numa festa popular e simples. Onde muitos de nós gostam de estar e
de se ver. A música toca alto, as sardinhas, as febras e o frango no churrasco
crepitam. As vozes misturam-se e os ecos do Brasil e de África estão lá. Nos
bairros que resistiram à gentrificação a festa prolonga-se pela madrugada, e
apesar da mistura de idiomas e de idades, de nações e de hábitos de vida, a
festa faz-se, e o principal risco é o que provém da ingestão excessiva de
bebidas alcoólicas.
Passeamos
pelo centro de muitas cidades, com grande peso para Lisboa, ou nas
regiões do país onde empresas de qualquer ramo interromperam a laboração ou
terminaram uma actividade essencialmente sazonal e os migrantes são entregues à sua sorte. Aqui não
há festa. Confrontemo-nos com as condições de vida sub-humanas de muitas destas
pessoas, que circulam aos grupos pelas ruas, que estão cá porque a vida nos
países de origem é ainda pior. E porque já não se consegue imaginar a
agricultura, a pesca, todo o sector primário e de serviços, sem a sua presença
diligente.
A
aceleração da entrada de migrantes mostrou a ausência de planeamento e a grande
capacidade que temos para fazermos de conta de que nada de especial está a
acontecer. Até que as
filas na AIMA começaram a encher as ruas e os écrans das televisões. Os números
surgiram, aumentando todos os dias, e olhando para os dados estatísticos o crescimento parece
exponencial. Mais de
quatrocentos mil imigrantes à espera de validar os seus “papéis”. Casas alugadas
onde dormem dezenas de trabalhadores uns em cima dos outros, como nunca se
tinha visto mesmo nos piores momentos da história das cidades. Muitos gostavam
que eles trabalhassem para nós, mas não os víssemos. São gente
como nós.
E enfrentemos o mais difícil
problema: a diferença de religião, cultura, socialização, que leva à formação
de “tribos” que se separam do todo social. Sabemos que Portugal, país de
emigração e de comerciantes, que foi origem ou destino de migrações, muitas
delas forçadas, tem na sua génese, como qualquer nação marítima, um
cosmopolitismo e uma amálgama social inescapáveis. A criação do nosso modo de estar foi
cristalizada ao longo de muitas gerações, e mesmo que seja muito difícil
definir o que é ser português, percebe-se intuitivamente, que a combinação
lenta de tantos elementos diversos, se comporta um pouco como a formação de uma
rocha que, não sendo homogénea, deixa cristalizar os minerais que na sua
diversidade e unidade formam por exemplo o granito que, bem polido, está em
muitas bancadas de cozinha. Como sabem os geólogos, o arrefecimento tem de ser
muito lento.
E
com as comunidades migrantes a crescer, começam a aparecer também os seus
restaurantes. Os seus lugares de culto. As suas formas diferentes de vestir e
de estar. E num país que sempre fez gala de se dizer
hospitaleiro, começam a crescer as tensões sociais e o racismo. Uma junção de culturas, tal como aconteceu ao passado, mas muitíssimo
mais rápida, e mais intrusiva. Sem
a máquina niveladora da religião obrigatória.
A ocupar progressivamente um lugar na economia para o qual não há alternativa,
porque está muito abaixo das expetativas dos nossos filhos. Que também são
poucos porque são altas as expectativas que temos para eles.
No futuro talvez uma parte destes
migrantes seja sazonal e nestes casos é exigível que quem os contrata no
exterior assegure alojamento e condições de vida condignas. Noutros casos vêm
para ficar. E pergunta-se: como pode alguém vindo de um mundo
diferente tornar-se “mais português”? Que devemos fazer para que seja um bom
cidadão, cosmopolita e aberto ao mundo. Que não tenha uma lealdade religiosa
que se sobreponha à lealdade nacional. Que não se dissolvam os progressos
sociais, económicos e culturais que nos trouxeram até aqui e que tornaram
Portugal um país para onde se quer vir viver? E que considerem sua a
“portugalidade”, e connosco se considerem cidadãos europeus e do mundo?
Adaptando,
fora de contexto, um título de um grande livro de Valter Hugo Mãe, precisamos urgentemente de
uma máquina de fazer portugueses.
Não sei de que peças é feita essa
máquina, mas a primeira tem de ser o respeito. Respeito pela cultura de quem entra e
respeito de quem entra pela cultura de quem está. Outra deve ser a
língua, que é muito mais que um conjunto de fonemas, ortografia e de regras
gramaticais, o que leva a que o aumento da ligação com os países de língua
portuguesa seja importante, até porque a nossa língua já tem embebida uma parte
da memória comum. Passa pela Escola,
que é muito mais do que uma máquina de ensinar. Passa pela cultura, em todas as suas vertentes, que pode ser
mais sofisticada como a filosofia clássica ou a grande música e outras formas
de arte que desde há milénios nos construíram, ou mais prosaica e popular. Que
inclua a síntese europeia da cultura mundial.
Passa pelo respeito da interação histórica entre a Europa e o
cristianismo, que se moldaram um ao outro. Passa pela ciência e a tecnologia como
formas de ler o mundo. Passa
por não facilitar a tribalização, não admitir comportamentos violentos nos
serviços públicos como a saúde ou a escola, e na rua. Compreender,
mas agir depressa, e não fingir que se não vê.
Acabou o mês de junho, e com os arraiais
ainda nos ouvidos, vem à memória que a criação de comunidade que precisamos rápida, passa também pelas festas
populares. A Lisboa do futuro será diferente da de hoje, e
ainda mais daquela que ecoa na memória da nossa infância e que o “conta-me como
foi” consegue por vezes recriar. Tal como a Lisboa do ano em que
nasci diferia em muito daquela que em quinhentos viu partir as naus para a
aventura. Não desconheço que na segunda geração de migrantes os problemas se
voltam a colocar, por vezes com mais dramatismo, e que a pertença é
um sentimento que vive paredes meias com a recusa e a exclusão.
Quanto mais estranho nos for o modo de vida dos que se juntam, mais
medo teremos de que desapareça a parte da memória a que chamamos lar. Ouçamos os
compassos da marcha, trauteemos em conjunto, e talvez seja verdade que “Enquanto os bairros cantarem/enquanto houver
arraiais/Enquanto houver Santo António/Lisboa não morre mais”. E será
assim em todos os santos e em todas as cidades.
COMENTÁRIOS( DE 16)
Ed 7: Na era da inteligência
artificial, apostar em modelos caducos de mão-de-obra intensiva é uma cretinice
e falta de honestidade. Os defensores desta tragédia - que constitui a perda de
raízes e entrada não controlada de enormes contingentes de pessoas - não são
capazes de parar o delírio em que andam e pensar por um momento que seja que
esta situação tem muitas semelhanças com a a escravatura de há séculos atrás.
Migrações feitas à força, com cobrança de somas avultadas pelas redes
criminosas de passadores, financiadores e facilitadores. Sujeição a mecanismos
de subserviência e semi-esclavagismo ou inclusive de esclavagismo, com
sonegação de documentos de identificação. E mais um aspecto negativo e
anacrónico. Como justificar o argumento falacioso de que são necessários a
economia e segurança social - um muito esticado argumento- e depois ficam pelas
ruas a engrossar os contingentes dos sem emprego. Tudo isto está absolutamente
errado. Num país com uma homogeneidade histórica, cultural e sociológica que
tem sido um factor comprovado para o seu sucesso como Estado estável e com um
papel insubstituível no mundo, trazem-se as sementes do conflito social que já
aflige outras sociedades. Em nome de quê? O socialismo globalista aliado a
“filantropos” neo-marxistas é um veneno político, económico, social e humano
letal. I G: A forma como este Assunto que é
de suprema importância para um país, tem sido tratado em Portugal, é
simplesmente deprimente. A imigração não tem que ser um instrumento de
Assistência ao terceiro mundo. É sim um instrumento de política económica para
servir as necessidades de um país. Se não for regulada e configurada com esse
objectivo, pode tornar-se fracturante. Ou equivaler a uma invasão levando à
formação futura de enclaves. Obviamente tem que ser justa e humanista em
relação a quem já entrou. Mas requer uma política de integração justa também
para os nacionais. Como se diz há muito na Europa, é um tema que pode fazer
perder eleições. Infelizmente só há pouco tempo começa a ser questionada em
Portugal. Também é certo que as comportas foram abertas há não muitos anos.
Talvez o facto de tudo estar a acontecer muito mais rapidamente em Portugal
permita reagir a tempo e evitar que nos tornemos numa França. Carlos
Chaves: Alguém nos perguntou se estávamos dispostos a receber ESTA imigração? Se
calhar devíamos começar por aqui, quem são os artífices desta bomba relógio a
que iremos assistir a rebentar? Porque é que o fizeram, e fazem, nas nossas
costas? E os Portugueses “mais bem qualificados de sempre” que continuam a
emigrar? Será que não estamos a assistir a uma substituição (nivelando por
muito mais baixo) encapotada? Isto é um tema muitíssimo importante para o
tratarmos cheio de boas intenções! E já agora, Portugal não é só Lisboa e
as grandes cidades, há muitas festas populares por este país fora, que nada têm
a ver com as descritas pelo autor! Antonio
C.: O assunto da imigração deveria ser prioridade. Todas as sociedades abertas
e democrática estão a ser vítimas da “arma” da migrações ilegais. É fundamental
pôr termo a este estado de coisas. Políticos a sério, precisam-se! Maria
Tubucci: Diz bem, que a 1ªpeça deve ser o respeito. Mas quem entra ilegalmente num
país já não tem respeito pelos nativos da terra, é o mesmo que arrombar uma
porta para se instalar numa casa que alguém construiu com muito esforço. Com
uma imigração legal, controlada, que se integre, há respeito. Com uma imigração
ilegal, invasão, sem regras nem controlo, quem vem do exterior quer impor as
suas regras, a sua cultura, quer cometer crimes e ficar impune, se for apanhado
acusa os nativos de racismo e xenofobia. Eu também não quero uma máquina de
fazer portugueses como aquela que elites globalistas construíram, acreditam que
os ratos quando parem numa cavalariça passam imediatamente a ser cavalos. Quero
uma que respeite os povos e a sua cultura. Alguém já perguntou aos portugueses
se querem o seu país invadido por islâmicos 900 anos depois de se terem livrado
deles? Eles não evoluíram, estão na mesma, com os mesmos ideais de conquista e
islamização, já sabemos os resultados. Ou eles ou nós, não há meio termo ... bento guerra: Passámos à Lisboa de "quinhentos", então a da
pimenta e da canela, agora a da mão de obra barata, que "vive por
aí"e acampa nas campanhas de propaganda da esquerda bem instalada. Como no
caso dos "retornados", não sabemos de nada... Lúcia Henriques > Ed 7: Cronista
ingénuo ou de boa fé. Não nos livramos de perder território (França ) ou de ver
tribunal islâmico (Inglaterra) para não falar de guetos que já temos.
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