São antigos, desse posicionamento caudal,
de que preferimos não abdicar, por ser mais cómodo, menos exigente de
responsabilidade.
CES: o último reduto marxista
Continuará o Conselho Económico e
Social a ser o alforje dos interesses corporativos e sindicais caducos que nos
conduziram, novamente, à cauda da Europa?
PAULO MARCOS Presidente
do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB)
OBSERVADOR; 28
jul. 2024, 00:09
Acredito no diálogo
social como forma de esbater
diferenças, obrigar a negociar para obter consensos, minimizar a estratificação
e rigidez social, e enquanto factor de estabilidade e desenvolvimento das
sociedades.
A Alemanha, o Japão, os Países Baixos, ou os Estados Escandinavos,
são o modelo do que a predisposição para ouvir o outro, para construir em
conjunto, para adoptar modelos de cogestão nas médias e grandes empresas,
consegue fazer pelo desenvolvimento económico e social de um país. O modelo do
que é possível fazer pelo robustecimento da classe média.
Em
Portugal, há várias
décadas que adoptámos a cosmética do modelo, mas numa construção em que os
vencedores do PREC, e os acobardados por ele, se conjuraram para obterem o seu
quinhão de subvenção estatal, os seus momentos de notoriedade e uma
pseudo-representação. Numa
lógica de dialética leninista, em que uns fazem de idiotas úteis dos outros.
Porém,
apesar de sucessivos alargamentos do plenário do Conselho Económico e Social
(CES) ou de um decreto-lei inconstitucional que prevê explicitamente quem
representa os trabalhadores, continuam ausentes os sindicatos independentes, os
sectores mais dinâmicos e modernos da economia portuguesa, ou as profissões
mais qualificadas. Talvez por
isso, quem tem verdadeira representação laboral não assina pseudo-acordos de
rendimentos, daqueles que servem apenas para anunciar ao país num domingo,
arrancados a ferros com a assinatura de um qualquer decadente líder de uma
pouco representativa associação patronal.
Não admira que numa abordagem tão
minimalista, tão desprovida de raciocínio e visão prospetiva, Portugal seja a
economia dos biscates, do turismo pouco qualificado que degrada a paisagem,
perturba a vida dos residentes e os expulsa das suas casas. A economia dos salários médios baixos,
muito baixos, engolidos pela demagogia dos salários mínimos. Onde os jovens, e
os não tão jovens, emigram de forma massiva.
O
novel presidente do CES, Luís Pais Antunes, tem uma palavra a dizer.
Assim como os partidos com representação parlamentar não enfeudados numa lógica
de empobrecimento.
Terá o CES a preocupação com a qualificação da economia e dos seus
trabalhadores? Com o fortalecimento da capitalização das empresas de base
industrial? Com os sectores de conhecimento intensivo? Com os sindicatos
independentes? Com os interesses dos portugueses? Ou vai continuar a ser o alforje dos
interesses corporativos e sindicais caducos que nos conduziram, novamente, à
cauda da Europa?
50 anos depois do 25 de abril, o CES
continua a ser uma construção marxista-leninista que nos amarrou a valores e
interesses que não são os dos portugueses. Até quando?
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