quarta-feira, 3 de julho de 2024

E a inteligência artificial

 

Nem sequer contou, com q b da natural para a conquista do espaço próprio, sem o “a salto” vexatório nem a mala de cartão das nossas tradições desertoras.

A vitória de António Costa

O que têm em comum António Costa, António Guterres e José Manuel Durão Barroso? Há qualquer coisa de fado em os nossos governantes não gostarem de nos governar.

HELENA GARRIDO Colunista

OBSERVADOR, 02 jul. 2024, 00:2067

Devemos ficar contentes quando um compatriota tem sucesso fora de portas. E, por isso, a escolha de António Costa para Presidente do Conselho Europeu (PCE) merece ser elogiada, como a de José Manuel Durão Barroso e António Guterres, todos eles ex-primeiro-ministros. Não sendo correlação causalidade, é interessante verificar que todos eles pertencem igualmente ao grupo dos líderes de Governo que menos bem fizeram ao país. Podia dizer-se que parece ser o curriculum necessário para se ser escolhido pelas instituições internacionais, deixar o país natal cheio de problemas, sem capacidade para os resolver. E todos eles a parecerem que se sentiram aliviados por nos deixarem.

António Costa ganhou a maioria absoluta a 30 de Janeiro de 2022 e tomou posse a 30 de Março. Pouco menos de um ano e meio depois o Governo de maioria absoluta, do qual se esperava que finalmente adoptasse medidas estruturais, acumulava a saída de 13 ministros e secretários de Estado.

De Março de 2022 a 7 de Novembro de 2023, o ex-primeiro-ministro e agora Presidente do Conselho Europeu pareceu em geral ter desistido de governar. Chamou a si os assuntos europeus, pasta que costumava pertencer aos Negócios Estrangeiros, e de início estava mais fora do país do que dentro. Uma das viagens que ficou na história foi a que fez à Hungria em Junho de 23, onde assistiu à final da Liga Europa ao lado do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e que agora votou a favor da sua nomeação para PCE. Na altura quer o PSD como a Iniciativa Liberal perguntavam se António Costa estava em campanha.

Com todo o trabalho que teve na frente europeia e que, infelizmente para nós, não teve em Portugal, foi protegido pela sorte – que dá muito trabalho – e viu o seu sonho ser concretizado por causa da Operação Influencer, usando o parágrafo do comunicado do Ministério Público para se demitir. Sim, depois de tudo o que já tinha acontecido com o seu Governo e com a descoberta de pouco mais de 75 mil euros na estante do seu chefe de gabinete, ficaria muito fragilizado, mas podia não se ter demitido até porque tinha uma maioria absoluta. E escusava, quer o ex-primeiro-ministro como algumas pessoas do PS, de transformarem o Presidente da República num alvo.

Durante o tempo da sua governação, não fez uma única reforma estrutural, não decidiu um único investimento estruturante como o novo aeroporto ou a alta velocidade. Foi uma governação sempre atrás do prejuízo, que teve justificações no caso da pandemia e da inflação, mas que não se percebe noutras áreas. Deixou o seu Governo ao Deus dará e deixou-nos com uma imigração descontrolada, sem respeito pelos direitos humanos, serviços públicos degradados, como a educação, a saúde e a justiça, por exemplo, assim como um problema grave na habitação. E deixou-nos uma sociedade radicalizada, com os eleitores a serem chamados a eleições a meio de um caso de suspeitas de corrupção que conduziu o Chega aos 50 deputados.

Ah, sim, deixou-nos as “contas certas”. Só que esse equilíbrio orçamental foi conseguido à custa da míngua dos serviços públicos e, por isso mesmo, de sustentabilidade difícil. As poucas reformas que começou a fazer foram ditadas por Bruxelas, como condição para se ter acesso às verbas do PRR.

É com este curriculum na governação de Portugal que António Costa chega a Presidente do Conselho Europeu. Sim, é verdade que o perfil exigido para aquela função ajusta-se completamente ao que o ex-primeiro-ministro sabe fazer melhor: a negociação política, os jogos políticos. Quando o deseja ou quando lhe é útil porque sabemos bem como é implacável com quem o critica ou se coloca no seu caminho. Foi assim com António José Seguro, foi assim com Assunção Cristas, ex-líder do CDS, foi até assim e de alguma forma com o Bloco de Esquerda e foi assim com André Ventura que agora, ironicamente, quer pertencer ao grupo político de que Viktor Orbán é fundador.

As escolhas da União Europeia para as lideranças dos principais órgãos europeus são aliás incompreensíveis, como bem notou a primeira-ministra italiana Georgia Meloni. Na prática, foram os derrotados, o chanceler alemão Olaf Scholz nas eleições europeias e agora como se viu na primeira volta das legislativas o presidente francês Emmanuel Macron, que decidiram quem iria dirigir os destinos da Europa da União nos próximos cinco anos, indiferentes aos resultados eleitorais e ignorando a Itália. São estes mesmos líderes, tal como António Costa, que depois estranham o sucesso dos populismos, quando os alimentam.

Nós portugueses começamos a estar habituados a ser trocados, pelos nossos líderes, por cargos internacionais que os satisfazem mais. António Costa consegue sair sem que nos sintamos abandonados, apesar de tudo em melhor posição do que António Guterres, mas ao contrário do que aconteceu com José Manuel Durão Barroso, que deixou de ser primeiro-ministro para ser presidente da Comissão Europeia. Há qualquer coisa de fado neste nosso destino de não sermos capazes que os nossos governantes gostem de nos governar.

ANTÓNIO COSTA     POLÍTICA     PARLAMENTO EUROPEU     UNIÃO EUROPEIA     EUROPA     MUNDO     GOVERNO

COMENTÁRIOS (de 67)

bento guerra: "Vitória"? Encomenda da Internacional Socialista. Vitória do Diogo Costa   Alfaiate Tuga: Alguém sabe dizer se os 40.000,00€ mensais vão pagar IRS em Portugal ou noutro país qualquer? Já agora, a pensão de 95% do último vencimento a que terá direito quando terminar o mandato, vai ser paga por quem? Bruxelas? Segurança social portuguesa? Obrigado              J G: Eu não fico contente quando um "compatriota" corrupto e medíocre consegue ter acesso a cargos de poder. Uma pessoa que já várias vezes provou ser de mau carácter e incompetente num cargo de poder consegue (e conseguiu, os resultados negativos falam por si) prejudicar a vida de muitas outras pessoas que realmente trabalham e contribuem para a sociedade. Sou a favor do mérito e de pessoas que mostram resultados positivos, não sou a favor da mediocridade premiada e carregada ao colo pela cunha e compadrio. Ao se premiar uma pessoa medíocre a nível profissional e ainda para mais a contas com a justiça como António Costa estão a passar uma mensagem muito errada aos mais novos, estão a dizer a eles que eles também devem ser aldrabões e destituídos de moral para conseguirem subir na vida.             Maria Tubucci: Triste país, muito triste mesmo, Sra. HG, que tolera ser abusado, como referiu, para ser usado como rampa de lançamento para um incompetente adquirir um emprego na Europa. A vitória do Costa significa a nossa derrota, empobrecimento e subjugação a interesses exteriores que nos querem aniquilar como nação.               Joaquim Silva: Costa apesar de ser uma nulidade a nível de gestão e governação, foi um excelente estratega para ele próprio, até conseguiu que seus rivais votassem nele e atingiu o seus objectivos, dele não se pode esperar outra coisa senão egoísmo e arrogância basta ser um pouco pressionado, o mau carácter vem logo ao de cima.                Carlos Chaves: Caríssima Helena Garrido, meter dois execráveis socialistas que praticamente nos deixaram na miséria, no mesmo saco onde meteu o Durão Barroso, CONVIDADO pelo Conselho Europeu para presidir à Comissão Europeia, só pode ser má-fé! Os dois socialistas abandonaram Portugal e os Portugueses, ambos se demitiram das suas funções quando perceberam o pântano (palavras de Guterres) que nos tinham enfiado, e venderam-se para os altos cargos que ocupam (um ainda vai ocupar). O Durão Barroso foi convidado, não se andou a vender para o lugar e foi o único até agora, a fazer duas Presidências da Comissão Europeia, uma digna representação Portuguesa na política internacional! Ao contrário destes dois socialistas, um apoiante do terrorismo do Hamas, e o outro nem é precisa que descreva o resultado das suas políticas, pois todos nós as sofremos na pele!                             GateKeeper: HG voltou ao seu "normal". E mais não digo. A minha esmerada e pontualíssima educação dos Alpes Suíços não me permite continuar. Só vos digo que colocar no mesmo tacho o tonyC e o Durão B ... Só passa, mesmo, no "estreito" da "rataria do Largo"!              Ricardo Ribeiro: Falta só agora eleger o Eng. Socas para director do Fmi e o ramalhete fica composto...              Ludovicus: Pobre Povo. Resta-nos o Fado, o Futebol… Lembro-me dos finais do Estado Novo, nos meios universitários em Lisboa. Estes estudantes acusavam o regime de alienar o Povo com os futebóis, os folclores, as touradas, Fátima, etc. Essa geração utilizou com maior sofisticação outras ferramentas para alienar. Mantiveram o futebol e Fátima, mas criaram as telenovelas baratas, os Big Brothers, etc. Triste ver os jovens a emigrar.                Joaquim Rodrigues: Resta saber se, o célebre "parágrafo", não foi afinal uma última reivindicação do Costa, a sua última reivindicação, junto daquela que tinha sido a sua escolha "cirúrgica" para exercer o cargo de Procuradora Geral da República. Esgotada "a sua" capacidade de "influência" na paróquia, ao Costa qualquer pretexto servia para se pôr a andar e para tentar agora, a partir de lá de fora, continuar a exercer a sua "influência", na persecução dos seus propósitos, cá na paróquia. Ouçam bem: o Costa nunca serviu o PS nem o País. O Costa apenas se serviu e continuará a servir do PS (e agora vai servir-se também do País) para cumprir a sua agenda pessoal. Agenda pessoal que é a do Portugal Colonial, do Portugal Imperial, do Portugal do Costa, o Portugal ali da esquina do Rossio com a Praça da Figueira, mas não o Portugal real, de Norte a Sul, de Valença a V.R. de S.to António.           João Floriano: “contas certas” Deixou-nos as contas certas que afinal já não estão assim tão certas e como Helena Garrido escreve justamente à conta da inexistência de reformas ou qualidade de serviços. Deixa o SNS, a Educação, os serviços Públicos, a Habitação em cacos. Deixa-nos o legado de quase 10 anos de imobilidade, deixa-nos também a honra de estarmos nos lugares finais da UE e da Europa. Não vou ser de forma alguma hipócrita para afirmar o meu contentamento por portugueses como António Costa, Durão Barroso e Guterres ocuparem altos cargos. Provavelmente em comum e sem honra partilham a qualidade de serem muito fofos (António Costa exteriormente parece muito dialogante e fofo mas a nível interno foi extremamente áspero, indelicado e sem qualquer empatia genuína). Em comum os três têm a característica de não fazer ondas e escudarem-se no politicamente correcto. Quanto a Orban, limita-se a jogar em dois tabuleiros: continua a ser amigo do peito de Putin e a exasperar os wokes de Bruxelas, mas simultaneamente tornou António Costa seu devedor por ter votado favoravelmente a ocupação de um cargo de sonho. À sua maneira Orban e Costa são parecidos: dois chicos espertos oportunistas.                JOSÉ MANUEL: Creio ser justo colocar na mesma jarra também o Vitor Constâncio na nulidade e o Sem Tino, que, de governar, só percebem a parte que lhes toca            Maria Fernanda Louro > Carlos Chaves: Andamos a fazer o mesmo que faz a Coreia do Norte, a despejar o nosso lixo para casa dos vizinhos.....               Americo Magalhaes: Mais uma ode à mediocridade...... HG quando começa a promover o "Sr. Inginheiro" Sócrates para PR? Depois admiram-se que ninguém dá qualquer crédito ao jornalismo e à CS...        Rui Lima: Dos que fizeram mal ao país só falta um alto cargo para José Sócrates.                António Soares: Todos eles gostam muito de se governarem...!               José B Dias: Todos eles foram votados pelos cidadãos portugueses ... que claramente têm muito pouco jeito para escolher lideranças.

 

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