segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Amargura

 

Contínua. De prever.

O país de papelão

Este Portugal de impostos máximos, serviços mínimos e funcionários em crescendo mas que estão sempre em falta ficou escancarado em Vale de Judeus.

HELENA MATOS Colunista do Observador

OBSERVADOR, 15 set. 2024, 01:33108

O país de papelão. Para tudo temos mil procedimentos. Requisitos. Normas. Programas. Licenciamentos. Aprovações.

Um linguarejar estranho acompanha este país outrora de papelão e agora do balcão virtual: vive-se em constante dinamização, a implementar objectivos e na prossecução do programa Europa qualquer coisa, da Agenda de não sei quando, Portugal vinte e não sei quantos

Até que um facto diverso e inesperado rompe este cenário virtual de perfeição e progresso. O ser um facto diverso e inesperado é fundamental porque pouco a pouco fomo-nos habituando ao que pouco antes declarávamos inaceitável: as urgências hospitalares fechadas já são uma rotina, as escolas sem professores tornaram-se uma fatalidade.  Tudo, claro, sempre envolto na roupagem da informação on line, da digitalização, do reencaminhamento… (Ontem, um homem morreu numa estação de serviço no Algarve enquanto a sua família tentava contactar o INEM. Durante 45 minutos a chamada não foi foi atendida. Ou, como agora soe dizer-se, foi reencaminhada. O reencaminhamento não leva a lado algum mas mantém-nos na ilusão de um possível atendimento.)

Quando Fernando Ferreira, Fábio Loureiro, Shergili Farjiani, Rodolf Lohrmann e Mark Cameron Roscaleer saltaram os muros da prisão de Vale de Judeus deixaram-nos a olhar para uma prisão sem director e que tem há largo tempo o chefe dos guardas de baixa; onde as torres de vigia não foram substituídas e a cerca electrificada não pode ser ligada à corrente. Onde um único guarda controlava até à passada semana mais de 150 câmaras de videovigilância e ninguém achou relevante substituir a iluminação exterior que fora destruída, deixando cegas algumas dessas mesmas câmaras.

Há em tudo isto uma espécie de contínuo estado de falta que choca com o contínuo e desmesurado crescimento do Estado: em meados de 2023, o número de funcionários públicos atingiu os 745.707. No mesmo ano, 2023, a receita fiscal chegou aos 65,7 mil milhões de euros. Para onde vai o dinheiro dos nossos impostos? E o que fazem e onde estão os mais de 700 mil funcionários da máquina estatal? Faltam médicos. Professores. Oficiais de justiça. Enfermeiros. Juízes… E mesmo quando não faltam, como até pode ser o caso dos guardas prisionais, não estão onde é suposto. Ou nós, na nossa ingenuidade, acreditamos que é suposto estarem.

Este Portugal de impostos máximos, serviços mínimos e funcionários em crescendo mas que estão sempre em falta ficou escancarado em Vale de Judeus.

A parábola dos autoclismos

A fazer fé no portal que regista os contratos públicos, a maior despesa não corrente efectuada este ano na prisão de Vale de Judeus versou os fluxómetros, vulgo autoclismos. A saber, 123.953,60 euros para “Substituição dos Fluxómetros das Celas”. O que, se tivermos em conta o número de presos e de celas naquele estabelecimentos, nem é um valor excepcionalmente alto, pelo menos se o termo de comparação forem os 14.500 euros que, no ano da graça de 2022, o contribuinte português despendeu em “material variado e fluxometros anti vândalo, para reabilitar as únicas 3 celas especiais disciplinares, vandalizadas por um recluso” num estabelecimento prisional de Lisboa. Como é que “um recluso” destrói “as únicas 3 celas especiais disciplinares” duma prisão e respectivos fluxómetros é algo que escapa ao meu entendimento.

Mas voltemos às intervenções em Vale de Judeus. Em 2021 foi adjudicada a remodelação do quadro eléctrico daquela prisão. Uma obra no valor de 36 mil euros. Nessa data não se ponderou transformar a cerca eléctrica de objecto ornamental em cerca eléctrica propriamente dita? Primeiro dissemos que

ESTADO      POLÍTICA

COMENTÁRIOS (de 110)

 

Cupid stunt: É facto, um país de faz de conta. Não apenas, mas muito devido à total incompetência e desleixo xuxalista que teve como expoente máximo depois do escroque 44) o escarro de gente que agora fugiu para a Europa... Um pais que insiste no xuxalismo anos a fio, não tem futuro e está condenado a ser cada vez mais pobre e rasca....               Manuel Martins: Concordo com a cronista.  Mais que um país de papel,  somos em muitas áreas um país virtual,  onde a realidade é muito diferente do que nos é mostrado nos sites,  nos PowerPoints, nos discursos.. O Estado voltou a ser o "monstro " incontrolável,  onde grassa a incompetência,  o desleixo,  as baixas médicas infinitas interrompidas por períodos de férias,  as licenças,  etc. Somos o país dos direitos, sem deveres...  Paulo Luis da Silva: Este é o país socialista. Anos de socialismo a degradar tudo. Será que os milhões de portugueses que têm votado nas esquerdas continuam a achar que é este o caminho? Tal é a meu ver a irracionalidade que me parece estarmos perante um caso grave de perturbações psicológicas crónicas em grande parte da população!                Alfaiate Tuga: Não é um país de papelão, é um país de  OTARIOS. Só um país de otários sustenta 750 mil sujeitos e sujeitas que têm um horário de trabalho (eufemismo), inferior ao normal, não são avaliados convenientemente e tem como princípio fazer o mínimo sacando o máximo ao erário, para cúmulo, não podem ser despedidos. Digam lá se não é preciso ser muito OTÁRIO para sustentar isto?  A função pública nas suas vastas valências não tem falta de gente ou dinheiro, tem falta de disciplina, porquê? Porque é impossível disciplinar alguém que faça muito ou pouco, seja competente ou incompetentemente não possa ser punido. Só um exemplo, há uns tempos em conversa com um responsável de serviço de uma câmara municipal ele contava- me, (…) Sabes ontem fui dar com fulano a dormir na carrinha, na segunda-feira mandei-o à instalação X resolver um problema, chegou no final do dia e disse que já estava quase, que no dia seguinte ficava resolvido, perguntei qual era o problema e contou-me uma história, no dia seguinte saiu para a instalação de manhã, liguei-lhe por volta da hora de almoço, disse-me que ia almoçar e de tarde montava tudo e no final do dia tinha a instalação a funcionar, ao início da tarde agarrei no carro e fui à instalação, quando cheguei o fulano estava a dormir na carrinha e tinha a instalação perfeitamente operacional e parada, acordei-o e perguntei, então é assim que resolves o problema, resposta, acabei por conseguir acabar antes, tive de desmontar isto e aquilo etc e tal mas já está tudo ok, fui averiguar e facilmente percebi que não desmontou nada, pois estava tudo cheio de pó sem o mínimo sinal de ter sido mexido (…) Perguntei à pessoa, não o podes sancionar? Resposta, Até posso tentar, mas vou arranjar problemas, perguntei, porquê? Porque depois eles viram-se todos contra mim e ainda fazem menos, depois quando as coisas não funcionam quem leva na cabeça sou eu. Já disseste ao presidente da câmara perguntei, resposta, já ele diz que sou eu que tenho de gerir o pessoal com as regras que existem…Isto é só um exemplo de muitos que conheço. Não é possível pôr a função pública a funcionar com uma lei que proíbe despedimentos, as chefes são reféns dos subordinados pois não se conseguem ver livres deles por muito parasitismo que pratiquem.  Agora a política, este governo supostamente de direita, nos poucos meses que leva em funções já conseguiu tornar os trabalhadores do privado mais otários ainda, pois distribuiu mais dinheiro pelos funcionários públicos mais ruidosos e grevistas em troca de nada . Vamos continuar a ser pessimamente servidos mas com uma diferença, vamos pagar mais.  O saudoso Medina Carreira falava no partido do estado, eu falo no partido do contribuinte, estou à espera que apareça, temos a IL, mas o liberalismo nos costumes causa-me alguma urticária, mas nas próximas lá terá que ser. Privatizem tudo até a justiça.  PS: A Lucília Gago veio explicar que as magistradas coitadas têm todas gravidez de risco, pois assim dá para passar a gravidez em casa. PS2. Quem deixou fugir os presos de Alcoentre foi o chefe das cadeias que estava em Lisboa, não form os guardas que estavam de serviço. Otários….               afonso moreira: A Troica já saiu daqui há muito tempo e as bancarrotas cíclicas, desde há 50 anos, parecem quase uma fatalidade! Há umas semanas, uma das múltiplas tvs, dava-nos a conhecer um estudo comparativo sobre a produtividade dos médicos em alguns dos serviços nacionais de saúde dos respectivos países. Retive que essa produtividade era cerca de um terço quando comparada com a alemã. Mas, o que é que isso importa comparado com uma conferência de imprensa de um treinador de futebol ou uma câmara de filmar fixada na traseira de um autocarro, durante horas, e que transporta jogadores de futebol? Os mestres do hipnotismo sabem o que fazem até à próxima Troica                Ludovicus: Somos um povo adverso à autoridade. Enquanto a Espanha teve o problema da ETA, tinha a maior percentagem de polícias por 100mil habitantes. Portugal ultrapassou. Cada vez que uma brigada de OPC tem que ir fazer uma busca a uma casa da Quinta da Fonte, em Loures, já viram a quantidade de PSP necessários para proteger a brigada? Quando há dias um guarda prisional explicava o regime da prisão de maior segurança do país, Monsanto, e dizia que os presos de maior perigosidade estão 22horas na cela, o jornalista da CNN escandalizado disse que violava DH. Eu queria saber se o argentino que fugiu e que veio de lá lhe tivesse feito a um filho o que fez na Argentina, onde raptou um jovem, pediu resgate, os pais pagaram e o miúdo nunca apareceu, o que pensava dos DH. Queremos eficácia e ao mesmo tempo tudo "fofinho". Verifiquem como é que é feito o recrutamento para guarda prisional. Quem concorre. E, como se sentirão 20 guardas a "guardar" 500 presos, alguns deste "calibre" que tinham (não sei se continuarão a ter) a manhã toda em liberdade no pátio. E, aquele Abrunhosa em vez de defender os "seus homens", chutou para baixo.                Rui Lima: Somos os recordistas em guardas prisionais várias cadeias tem mais que presos, tudo está errado mas o grande responsável desta fuga é a justiça com os seus tribunais sem visão sobre a realidade, ninguém tem coragem de contar toda a história pois teriam de pedir contas aos juízes Que decidem retirar criminosos violentos de cadeias de alta segurança.             Ana Luís da Silva: Estranhamente, depois de ler mais uma crónica excepcional de Helena Matos, apercebi-me de que a razão por que um recluso deu cabo de três celas num estabelecimento prisional e que deu azo à substituição dos fluxómetros é a mesma que levou o PS a dar cabo paulatinamente do funcionamento dos serviços do Estado ao longo dos anos da sua parasitagem: a total impunidade.  Quanto à engorda do Estado com funcionários completamente inúteis ao bom funcionamento da Administração Pública eu sei onde estão: nas listas de militantes ou de simpatizantes socialistas… os tais que, ainda que de baixa, febris ou com uma perna partida, se arrastarão até uma mesa de voto para votar caninamente no PS, o partido dos Parasitas Socialistas. O tal partido que tão bem os compreende, alimenta e, já agora, identifica.             Miguel Sousa: Faz finalmente a pergunta que se impõe - onde estão e o que produzem 800 mil funcionários com ordenados e regalias muito superiores aos do privado e onde se gasta a maioria dos impostos sacados?????                      Paulo Machado: Excelente artigo de opinião. (………………..)

 

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