Ele leva dias a aparecer em público. Digo,
o Putin, naturalmente. Quando há crise. O Zelensky
é, de
facto, mais visível. Sempre. Como uma bandeira, sempre igual a si mesma.
A guerra chegou a território russo e a
"ansiedade" aumentou. Mas isso não significa o princípio do fim do
regime de Putin
Os habitantes de Kursk estão em
pânico e cresce uma revolta pelos recrutas "atirados aos cães". Mas,
a avaliar pelas crises do passado, o mais certo é Putin sobreviver
politicamente. E sem cicatrizes.
CÁTIA BRUNO:Texto
OBSERVADOR, 31
ago. 2024, 22:446
Índice
Os recrutas “atirados aos cães” e a revolta das mães
dos soldados
Dias antes da invasão de larga escala da
Ucrânia, em 2022, a televisão russa transmitiu uma reunião rara. Vladimir
Putin reuniu-se com os seus conselheiros de segurança para decidir como
“proteger” os territórios de falantes de russo no Donbass. O momento ficou marcado por uma troca tensa de palavras com Sergey
Narishkin, responsável pelos serviços de informações externos. “Fale directamente!”, exigiu-lhe
Putin, ao sentir hesitação na resposta do subordinado.
Agora, dois anos depois, a televisão russa voltou a transmitir uma
reunião do Kremlin onde Putin tentou afirmar a sua autoridade. A Ucrânia já tinha confirmado a sua invasão
a território russo em Kursk — a primeira vez que as fronteiras russas
foram violadas por um país estrangeiro desde a II Guerra Mundial —, mas o
Presidente tardava em abordar o assunto em público. Quando o
fez, nesta reunião, foi mais uma vez para repreender alguém. Desta vez foi
o governador da região invadida, Andrei Smirnov, que ousou revelar que os
ucranianos já tinham tomado 28 localidades e que pelo menos dois mil russos
estavam desaparecidos.
Putin não gostou. “Oiça, Alexei Borisovich, os militares
irão dar-nos os detalhes da frente de batalha em profundidade. Você
limite-se a dizer-nos qual é a situação socio-económica e como está a ser
a assistência às pessoas.”
▲ Vladimir
Putin na reunião transmitida pela televisão onde repreendeu o governador de
Kursk POOL/AFP via Getty Images
Um
momento revelador da tensão que se vive dentro do Kremlin, notou Olga Vlasova,
investigadora na King’s College. “Podia ouvir-se o nível de ansiedade
na voz do governador ao longo da reunião”, afirmou a especialista ao The Guardian. “Quando ele tentou partilhar a informação que tinha, Putin não o
permitiu. Quer travar a comunicação de qualquer informação que eleve o nível de
ansiedade da sociedade russa”.
No Kremlin, tenta-se fazer controlo de danos sobre a ofensiva
ucraniana, numa situação sem precedentes. Ao
mesmo tempo, na linha da frente, vários cidadãos russos sentem na pele, pela
primeira vez, as consequências de uma guerra que lhes parecia até então
distante. Será esta ofensiva um ponto de viragem no apoio a Vladimir Putin, quer
dentro do Kremlin, quer entre a população? O futuro ninguém sabe, é claro. E
sim, a situação é das mais tensas que o Presidente russo viveu no passado
recente. Mas, na Rússia de Putin, nada é assim tão simples.
“Eles no Kremlin que morram todos, os filhos
da mãe!” A revolta em Kursk e a resposta das autoridades russas
Vladimir Putin tem sempre o dom de, perante uma crise, demorar
dias a aparecer em público e deixar a responsabilidade para outros. “Mais
uma vez, mostra Putin na sua forma clássica, a esconder-se de uma
crise” notou ao Washington Post um
dos especialistas mais reputados sobre a Rússia, Mark Galeotti. Nos primeiros
dias da ofensiva, Putin manteve a agenda que estava marcada, encontrando-se com
o presidente da Autoridade Palestiniana e mantendo planos para ir de visita ao
Azerbaijão. “Putin espera que os outros façam o trabalho duro. Depois, se
correr bem colhe os louros e, se correr mal, culpa os outros”, acrescentou
Galeotti.
Para além do governador de Kursk, uma
figura específica ficou com essa responsabilidade perante a ofensiva em Kursk:
o comandante das forças especiais chechenas, Apti Alaudinov. A estratégia do militar ao longo das
últimas semanas foi a de ir projectando a imagem de que tudo estava sob
controlo, como registou a BBC:
a 6 de agosto disse que o melhor era comer pipocas enquanto se assistia às
tropas russas “a destruir o inimigo”; dois dias depois, afirmou que a situação
não era crítica; no dia 10, garantiu que a Rússia tinha “o máximo controlo”
sobre a situação. Uma semana depois, garantia que “o inimigo foi travado”.
▲ O
checheno Apti Alaudinov foi o comandante escolhido para responder militarmente
em Kursk Getty Images
A ofensiva mediática também tentava
moldar a percepção dos russos que estão longe da fronteira. “Esta operação não
foi iniciativa de Zelensky, mas dos seus curadores ocidentais”, dizia o conhecido apresentador próximo do Kremlin Vladimir Solovyov.
“A NATO atacou-nos. E, segundo a nossa própria doutrina militar, a nossa
resposta deve ser muito séria.”
Os relatos que iam chegando do
terreno, contudo, mostravam uma realidade bastante diferente. Os
residentes de Sudzha, principal cidade da região de Kursk, começaram a divulgar
vídeos nas redes sociais para mostrar o que ali se passava: “Fomos abandonados. Com crianças, sem
abrigo, sem dinheiro. Os nossos filhos têm medo de dormir à noite”, dizia uma mulher num vídeo publicado no Telegram. Os
corredores de evacuação demoraram dias a ser organizados, segundo os locais: “Não há evacuação de Sudzha. As pessoas
atravessam o rio em barcos, sob bombardeamentos, e atravessam a floresta a pé.
Estas são pessoas normais, ajudem-nas a sair”, implorava no mesmo vídeo
outra mulher.
Perante a desorganização e caos, os civis começaram a organizar-se.
Voluntários mobilizaram-se em torno de uma organização, a “Casa das Boas Acções”,
e começaram a distribuir comida e outros bens essenciais. “Aquilo de que precisamos muda a cada meia
hora”, revelava uma das voluntárias, Svetlana Kozina, ao jornal russo Novaya Gazeta, no local. “Neste momento precisamos de carne enlatada e detergente para a
roupa. Provavelmente receberemos isso em breve, mas logo a seguir vamos
precisar de outras coisas.”
▲ Os
refugiados de Kursk queixam-se da falta de organização na evacuação e do pouco
apoio financeiro dado pelo Estado Anadolu
via Getty Images
A guerra chegou à Rússia, colocando
os locais perante os mesmos desafios que os civis ucranianos sentiram ao
longo dos últimos dois anos. Outra publicação russa, o The Insider,
falou no local com um habitante que garantia que o Exército ucraniano estaria a disparar contra ambulâncias. “Têm um
ódio animal contra nós. Estão a disparar contra todos”, começou por
queixar-se Pyotr. “Bem, isso é compreensível, eles estão aflitos. Não
interessa como olhamos para isto, nós é que fomos atrás deles primeiro.”
Em Kursk vão surgindo sinais de empatia
em relação aos ucranianos e também de revolta contra as autoridades russas pela
demora no auxílio. Ao Insider, dois
homens mais velhos queixavam-se do magro apoio económico que o Estado está a
atribuir aos refugiados — 10 mil rublos (cerca de 100 euros) — e mostravam-se
revoltados. “Porque é que não saimos? Deviam perguntar a Putin, o filho da mãe!
Não houve nenhuma evacuação. Vocês também nem vão escrever isto! Eles no
Kremlin que morram todos, os filhos da mãe”, gritava um deles.
Ao
site Meduza, uma mulher contava como a mãe idosa conseguiu escapar da cidade:
“Ela disse que, na auto-estrada, viu uma carrinha a arder, a estrutura
completamente negra de queimado, o condutor provavelmente morto. Quando
finalmente conseguimos falar com ela ao telefone, respirei de alívio. Duas
horas mais tarde, literalmente, soubemos que a nossa casa tinha desaparecido —
foi atingida num bombardeamento.”
As histórias que os residentes foram
relatando aos jornalistas no local mostram o confronto com a realidade da
guerra. Os que ficam refugiam-se nas caves que existem, já que a maioria
das casas não tem abrigos subterrâneos. O Washington Post, que viajou para a região à boleia das
tropas ucranianas, falou com alguns dos residentes de Kursk encafuados num
abrigo. Um deles, de 47 anos, estava com o filho deficiente. Perante a pergunta
“Como estão?”, Stanislav respondeu: “O que é que acha? Que se está bem numa
cave?” Questionado sobre como faziam para ir à casa de banho, o russo
respondeu, lacónico, com apenas duas palavras: “Um balde.”
Os recrutas “atirados aos cães” e a
revolta das mães dos soldados
As condições em Kursk não são sequer o
único tema a provocar descontentamento e agitação entre os russos. As imagens
de rendição de vários soldados russos às Forças Armadas ucranianas começaram a
circular nas redes sociais e a levantar uma questão: a maioria dos
militares que estavam em Kursk não são soldados profissionais, mas sim recrutas
jovens e sem experiência.
Os
relatos que alguns prisioneiros de guerra fizeram depois a media ocidentais
começaram a confirmar um cenário em que os recrutas terão sido enviados à
pressa para essa linha da frente, sem treino ou equipamento adequado. “Dissemos
aos nossos comandantes, os recrutas não deviam estar na fronteira, tirem-nos
daqui. Eles disseram que tínhamos de ficar”, contou um jovem de 20 anos ao Wall Street Journal.
“Atiraram-nos aos cães.”
“Nós, mães dos recrutas, pedimos-lhe que os
retire dos territórios onde decorrem operações militares (...). Salve a vida de
soldados sem treino. O senhor prometeu aos pais que eles não iriam participar
em acções militares.” Excerto da petição de Oksana Deeva, mãe de um
dos recrutas em Kursk, a Vladimir Putin
Outro fez um relato semelhante ao jornal russo de língua inglesa Moscow Times: “Tinha uma
Kalashnikov, uma simples metralhadora. Havia duas metralhadoras para todo o
pelotão. Duas granadas de foguete. Sete ou oito recargas em cada uma.
Era só isso. E granadas.” Todos os
prisioneiros de guerra entrevistados pelo jornal deixaram claro que não sentiam
qualquer desejo de continuar a combater contra a Ucrânia: “Vão sem mim,
pessoal. Tenho a minha família, a minha vida, o meu futuro. Não vou morrer
por aqueles filhos da mãe. Não devo nada à Rússia.”
Uma investigação do órgão russo independente
iStories concluiu que pelo menos 129 militares russos terão
sido feitos prisioneiros de guerra ou estão desaparecidos. Todos eles são
recrutas. Pelo menos três morreram. Vladimir Putin sempre prometeu que os
recrutas não iriam ser enviados para zonas de combate, deixando essa tarefa aos
soldados profissionais e aos recrutados com experiência. Mas, agora, com a
guerra a entrar porta adentro pela Rússia, milhares de jovens inexperientes
foram confrontados com a linha da frente.
A situação também provocou agitação social
dentro do país, com algumas mães dos soldados — que mantêm
historicamente um grande peso na sociedade russa, desde os tempos da
Guerra no Afeganistão e dos conflitos na Chechénia — a emitirem críticas
públicas. “Olá, caro Vladimir Vladimirovich, sou mãe de um recruta que fez
parte da mobilização de 2023”, escreveu Oksana Deeva, mãe de um recruta, numa petição que
divulgou nas redes sociais e que ganhou rapidamente milhares de assinaturas. “Nós, mães dos recrutas, pedimos-lhe que os
retire dos territórios onde decorrem operações militares (…). Salve a vida de
soldados sem treino. O senhor prometeu aos pais que eles não iriam participar
em ações militares.”
Com noção de que este é um foco de
tensão delicado que pode escalar, o
Kremlin tem tentado tirar pressão sobre o tema. Nas redes sociais, as contas de
unidades militares abriram canais de comunicação com as famílias e permitem aos
cidadãos que partilhem as suas preocupações, nota a New Statesman.
Ao mesmo tempo, porém, tudo é monitorizado. Como lembra a revista, enquanto
centenas de recrutas eram feitos prisioneiros de guerra em Kursk, o Conselho-Comité
Russo das Mães de Soldados espalhava nas suas redes sociais histórias
falsas sobre bónus extra a serem pagos aos recrutas da região e notícias de que
o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, teria fugido da Ucrânia.
Ao mesmo tempo, vários começavam a
atacar directamente as mães dos soldados publicamente. Apti Alaudinov, o
comandante responsável pela operação no terreno, foi directo: “Se os vossos filhos de 18 anos, que são militares, não
defendem a pátria, nem quando esta é atacada pelo inimigo e o inimigo está no
nosso território, tenho uma questão para vocês: por que é que este país
precisa de vocês e dos vossos filhos?” Já Anastasia Kashevarova, uma blogger próxima
do Kremlin, culpou directamente os soldados
pela falta de resposta à ofensiva: “Renderam-se sem resistir, por negligência. Estavam bêbados.
Trabalham para o inimigo”, afirmou.
▲ Centenas
de recrutas russos foram feitos prisioneiros de guerra pelo Exército ucraniano AFP
via Getty Images
A campanha parece começar a a estar a
dar frutos. Semanas depois do início da ofensiva em Kursk, a edição russa da Radio Free Europe contactou
Oksana Deeva — a mãe autora da petição que recolheu milhares de assinaturas — e
esta mostrou uma atitude ambígua. “Entendam
que me dói a alma, mas já está tudo sob controlo. A situação com os recrutas é
questionável. Há pais a receberem chamadas sobre [a situação dos] seus filhos.
Não vivemos numa época segura, entende?”, disse ao jornalista. Outro
pai contactado pela rádio revelou que o
seu filho recruta recebeu uma mensagem enigmática antes de o artigo ser
publicado directamente da procuradoria militar russa: “A sua mãe reportou a
situação. Não irá afectar a sua posição e o seu serviço, mas esta violação tem
de ser registada.”
No Kremlin, teme-se o rolar de
cabeças e entre os russos há sentimentos contraditórios. O modus
operandi de Putin numa crise tem resultado sempre a seu favor
Dentro do Kremlin, aparentemente tudo segue dentro da normalidade,
como antes. Mas as constantes tensões palacianas vão sempre transpirando.
Oficialmente, a operação em Kursk está a ser comandada pelos militares com a
colaboração dos serviços secretos (FSB). Os rumores, contudo, diziam que Putin
teria dado essa responsabilidade a Alexei Dyumin, o seu antigo guarda-costas
promovido recentemente a conselheiro presidencial. De acordo com as fontes do site Meduza,
tudo não terá passado de uma operação de relações públicas lançada pelo próprio
Dyumin para se promover.
As tensões internas vão sendo conhecidas a conta-gotas. O comandante militar no terreno, o checheno
Alaudinov, já criticou directamente as chefias militares do país por não terem
antecipado o ataque ucraniano: “Alguns líderes do Ministério da Defesa
continuaram a mentir e a mentir e acho que mentiam a si próprios”, disse numa
entrevista divulgada no Telegram, aponta o Wall Street Journal. “Temos muito trabalho duro pela
frente nas próximas semanas.”
“Toda a gente está nervosa, a passar
culpas: o exército culpa os serviços de informação e os responsáveis de Kursk
culpam o Exército”, dizia uma
fonte do Kremlin ao Meduza há cerca de uma semana. “Toda a
gente tem medo que rolem cabeças.”
“Olhem para o caso de Prigozhin: a reacção ao motim foi deplorável, mas
quem foi o último a rir? Um mês depois ele explodiu em chamas. Suspeito que
neste momento eles [dentro do Kremlin] estejam só a olhar para perceber: o
poder [de Putin] ainda é forte? O velho ainda é capaz?” Ekaterina Schulmann, analista do ramo russo do
Carnegie Center, ao The Guardian
É que o modus operandi de Putin numa
crise é sempre o mesmo. Sim,
inicialmente desaparece e empurra responsabilidades para os subalternos, como
notou Mark Galeotti. Mas, quando a situação se torna mais clara, pune
responsáveis, reorganiza a hierarquia interna e projeta uma imagem de força.
Foi assim com várias crises ao longo da sua vida: no sequestro de centenas de
crianças numa escola em Beslan em 2004, no pós-revolução da Maidan em Kiev, na
tentativa de motim de Yevgeny Prigozhin.
A elite do Kremlin, sublinha a analista
russa Tatiana Stanovaya, está paralisada pela influência de Putin. “Estão
habituados a eventos chocantes. Estão habituados a viver situações imprevisíveis”, afirmou ao Washington Post. “E também estão habituados a sentir
que não têm poder suficiente para mudar nada, estão desamparados.”
Não
é de esperar, por isso, que Kursk provoque um abanão tal no Kremlin que leve
alguém a tomar a iniciativa de desafiar Putin. “Olhem para o caso de Prigozhin:
a reacção ao motim foi deplorável, mas quem foi o último a rir? Um mês depois
ele explodiu em chamas”, disse ao The Guardian Ekaterina
Schulmann, analista do ramo russo do Carnegie Center. “Suspeito que neste momento eles estejam
só a olhar para perceber: o poder [de Putin] ainda é forte? O velho ainda é
capaz?”
Se
de dentro do Kremlin não é de esperar qualquer vaga de fundo para afastar
Putin, a resposta dos russos comuns é mais difícil de avaliar. Por um
lado, a ofensiva de Kursk provocou um descontentamento com o Presidente
superior ao habitual, como analisou a organização Filter Labs, que monitoriza as redes sociais
russas: “A incursão ucraniana em
território russo correspondeu a uma descida abrupta no sentimento [dos russos]
— ou seja, um aumento da negatividade, em média, nas histórias que mencionam o
Presidente russo.”
Mas a empresa
também detectou uma subtileza: “É notório que esse sentimento sobre Putin
foi mais negativo na cobertura dos media de Kursk, mas
não na cobertura da imprensa nacional.” O que, por consequência, tem também
reflexos nas opiniões dos que vivem em Kursk face à da maioria dos russos, para
quem a guerra continua a ser um cenário distante.
As
sondagens num país onde a liberdade de expressão tem sido severamente limitada
são por natureza difíceis de interpretar. O Centro Levada, a empresa de estudos
de opinião mais independente da Rússia, tem notado que o apoio a um acordo de
paz com a Ucrânia está neste momento no seu nível mais alto de sempre: 58%.
Mas, ao mesmo tempo, a larga maioria dos russos (76%) rejeita que sejam feitas
concessões ao governo de Kiev. “Essas respostas coincidem com o desejo das
pessoas de se distanciarem uma vez mais dos horrores e falhanços da guerra. Preferem acreditar que tudo está bem”, resume o analista político russo
Andrei Kolesnikov.
▲ Vladimir
Putin já enfrentou várias crises e conseguiu sempre manter apoio popular AFP
via Getty Images
Por um lado, a ofensiva de Kursk deixou
em alerta muitos dos russos — um estudo da Fundação de Opinião Pública mostrou que os sentimentos de ansiedade na
sociedade russa dispararam de 6% para 45% em pouco tempo. E dentro do
Kremlin isso provocou preocupação, mas mantém-se a fé de que esta crise será
ultrapassada como as restantes: “Durante um momento de choque — e este foi,
claramente, um choque — há sempre alterações [nas sondagens]. Mas as
pessoas depois habituam-se e tudo acalma. Vejam o que aconteceu durante a
rebelião de Prigozhon, com a mobilização, no começo da guerra”, afirmou uma fonte ao Meduza.
Para alguns russos, a ofensiva de
Kursk trouxe ao de cima sobretudo sentimentos de raiva — alguns
contra o Kremlin, mas também contra os próprios ucranianos. “A retórica
do outro lado é extrema: ‘Nós tivemos de ficar em caves, agora é a vossa vez’.
Como é que estes aldrabões pró-ucranianos são melhores do que aqueles que
apoiam esta porcaria do lado da Rússia?”, dizia ao Moscow Times uma habitante da região. “Acham que a
vítima não se pode tornar num agressor?
Os
analistas apontam que, depois do choque inicial, um ataque vindo da Ucrânia
pode até servir para mobilizar um país até aqui dormente e fazê-lo apoiar
ainda mais a guerra. É o efeito definido em inglês como rally around the
flag, a ideia de que há um súbito sentimento patriota de união em torno “da
bandeira”. Para os russos, nota o analista Andrei
Kolesnikov, há muito que a bandeira russa se tornou sinónimo de
Vladimir Putin. “E quem é que se vai queixar da sua bandeira?”
GUERRA NA UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO
COMENTÁRIOS: Todos 6
Luis Silva: A
Ucrânia está a ser estraçalhada em Kursk, para não falar no Donbass, e esta
senhora inventa um romance que nem passaria pela cabeça quer à CNN quer ao New
York Times. Simplesmente
degradante a qualidade do artigo. bento guerra: Como dizia o Trump, nem o Napoleão e o
Hitler, quanto mais o Zelensky, que é tarefeiro Pedro
Simoes > bento guerra: Ou se calhar ao contrário, quanto mais o
Putin… E de
resto, desta vez os Russos não podem usar os ucranianos para carne para canhão,
e não tem o apoio industrial dos americanos. Nem a sobrevivência ou soberania
da Rússia está posta em causa. Pedro
Simoes > bento guerra: E já agora: nem Haníbal, nem Átila. Mas,
no fim, os godos fizeram Roma tombar. Abílio Silva: Snra Cátia Bruno: excelente artigo. Pertinaz: Vou começar a assinar o “avante” para ler
estas notícias… 😂😂😂
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