domingo, 29 de setembro de 2024

Cinquenta anos

 

Um caso. De alguém que foi e se manteve corajoso e coerente, como poucos. Porque a maioria dos contrários às flores de Abril silenciou. Admiro-o por isso. E agradeço. Por mim, também o contei. Em livros. Que releio por vezes, achando-me igualmente pessoa de coragem. Usando as mais das vezes a ironia, pouca, todavia, no excerto que segue, extraído do último texto do livro publicado ainda em Lourenço Marques “PEDRAS DE SAL”, (em 2ª Edição, como primeiro livro de “Cravos Roxos”), espécie de síntese de uma realidade que hoje aponta para a que esteve por trás de tudo isso – a implementação russa por todos esses cantos que deixámos para eles, os russos, os quais estão sempre em busca de cantos… ou talvez de recantos, para encanto próprio e desencanto alheio…

«OS COLONOS”:

«…As colónias, ou províncias, ou estados, passaram a ser um estorvo, e com grande alarido e profusão de flores românticas, entregaram os estados a quem os queria, voltando imediatamente a chamar-lhes colónias sem sequer passarem pelo estado intermédio de províncias. E os habitantes das províncias ultramarinas regressaram à base como colonos vexados, e disseram-lhes que eles foram muito cruéis e exploradores – colonos, em suma. Os colonos encolheram-se humilhados, e lá se foram amanhando à procura de um cantinho no solo pátrio de onde haviam partido – eles ou os seus antepassados. E os metropolitanos, cheios de vontade de disfarçar, por meio dessa designação pejorativa, a verdadeira razão de todos estes tristes acontecimentos – o seu egoísmo, cobardia e decadência moral – recebem os colonos com alarde, na rádio e na imprensa, interrogando-os sobre o que eles pensam e sobre o que sentem. E os colonos sentem-se muito honrados com a distinção de que são alvo por parte dos seus irmãos metropolitanos não colonos, e pensam que valeu a pena o seu retorno à pátria e o desfazer das suas vidas e ilusões, só para aparecerem na televisão.»

O estranho caso do 28 de Setembro

Com o “golpe direitista”, o regime das “amplas liberdades democráticas” conseguiria a proeza de exibir em Outubro de 1974 mais presos políticos do que os que lá estavam no dia 24 de Abril de 1974.

JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do Observador

OBSERVADOR. 28 set. 2024, 00:2259

Há 50 anos, na noite de Sexta-Feira, 27, para Sábado, 28 de Setembro de 1974, fui procurado em Lisboa, com algum empenho, por um destacamento do COPCON – Comando Operacional do Continente – a unidade chefiada pelo brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho.

Não fui, evidentemente, o único: nessa noite, véspera da manifestação da “Maioria Silenciosa”, umas largas centenas de “fascistas”, de “reaccionários”, de “miguelistas”, de “legionários”, de “ex-ministros da Ditadura” ou de meros suspeitos de poderem vir a constituir “um perigo para democracia” foram procurados e detidos por grupos de militares.

Procuraram-me, como disse, com algum empenho: primeiro foram à minha última morada de solteiro, que eu deixara em Janeiro de 1972 mas que constava dos registos da Faculdade de Direito. A gentileza da informação deve ter partido de alguns colegas “associativos”, que não terão querido perder a oportunidade de contribuir para a marcha da revolução, denunciando um culpado de delito de opinião. Tendo eu furado algumas greves, impedido algumas unanimidades e animado alguma oposição ao poder que exerciam na Faculdade (um poder tão ou mais totalitário do que o que os “vitimava” e ao país fora da universidade), como resistir, dois anos depois, a um irresistível “não passará!”?

Imagino que os soldados do COPCON que faziam a rusga também respirassem o ar festivo de Abril, gozando as alegrias de andarem, já não em África, atrás de “turras”, mas na capital atrás de “fachos”. Ah a aura romântica da revolução e a beleza de caçar fascistas!

Mas nessa noite de há 50 anos não encontraram o fascista em questão no quarto alugado da Av. Rio de Janeiro, 46, a morada que estava nos arquivos da Faculdade de Direito. Passaram por isso a interrogar a senhoria, uma velha senhora que, sob pressão, lá lhes deu a morada que ali tinha num convite de casamento.

E para lá seguiram as tropas. Entraram, revistaram a casa, não me encontraram e, ao contrário do que fariam noutros sítios, deixaram tudo onde estava e como estava. Levavam à frente um aspirante miliciano. Com eles ia também um civil – um comissário? – que dava instruções e era ouvido com respeito pela tropa. Seria, muito provavelmente, o Dr. Jean-Jacques Valente.

O estranho caso do Dr. Valente e do Sr. Jean-Jacques

Jean-Jacques Valente era o famoso oficial médico antifascista da Conspiração dos Claustros da Sé, uma conspiração de civis e militares, envolvendo republicanos do reviralho, comunistas e católicos progressistas, todos acolhidos pelo pároco da Sé. Entre os mais dinâmicos animadores da conspiração estivera o capitão José Almeida Santos, Manuel Serra e Varela Gomes. O capitão Nuno Vaz Pinto, monárquico ultramarinista, mais tarde meu amigo e conspirador anti-marcelista, também lá tinha estado.

Como outros conspiradores da Sé, Jean-Jacques Valente foi julgado e condenado. Preso no forte de Elvas, acabou por evadir-se com Almeida Santos, ajudado por um cabo da Guarda Nacional Republicana, António Gil. Seguiram-se meses de fuga e clandestinidade, primeiro em Chaves, depois no Sul, perto de Lisboa. Tudo acabou num huis-clos dramático, com Jean-Jacques e Gil a assassinarem a sangue-frio Almeida Santos. José Cardoso Pires recriou toda esta história em A Balada da Praia dos Cães e José Fonseca e Costa traduziu-a por imagens.

O crime passou-se em 1960 mais ou menos nos termos descritos no excelente romance de Cardoso Pires e no belo filme de Fonseca e Costa e conforme a reconstituição dos factos da Polícia Judiciária. Jean-Jacques Valente e o cabo António Gil tinham matado a sangue-frio o seu correligionário e companheiro de fuga de Elvas: Gil disparara, Valente disparara, mas, como a pistola encravara, Jean-Jacques tivera de acabar Almeida Santos à pancada com as tenazes da lareira.

Ora era precisamente este Dr. Jean-Jacques, o tenaz misericordioso de 1960, o valente bom-selvagem, o comissário político que, na noite de 27 de Setembro de 1974, se passeava com os COPCONS de casa em casa.

Como é que o assassino de um correligionário, um assassino frio e a frio, capaz de acabar barbaramente com um seu companheiro de conspiração e revolução, aparecia, anos depois, nas unidades militares destacadas para fazer prisões políticas – como consultor, como conselheiro, como comissário político, o que fosse?

Mas lá estava ele. Convém acrescentar que, naqueles tempos, tudo era possível: a poesia descera à rua, pintavam-se os muros e a vida de vermelho e passavam-se mandados de captura em branco. Até Jean-Jacques Valente na Quinta Divisão era possível.

O espírito do tempo

Sobre o 28 de Setembro de há 50 anos e para que o leitor consiga entrar no espírito do tempo e veja ou leia para crer, aconselho a leitura do capítulo relativo ao episódio em Textos Históricos da Revolução, com organização e introdução de Orlando Neves (disponível online).

A introdução reza assim:

“A passos lentos, mas quase sempre irreversíveis, a marcha para a destruição da máquina fascista e do aparato capitalista prosseguia […] A espíritos eivados de anquilosamentos passadistas ou a espíritos avidamente interessados em defender os seus privilégios não podia agradar este ambiente geral do País”.

E depois? – perguntará o leitorDepois, “o capitalismo e mais uma vez com ele todos os seus naturais aliados, em especial a social-democracia, tentam o golpe espectacular (e sangrento pois estava previsto o derramamento de sangue para que, em nome da «ordem» e da «autoridade», Spínola assumisse o poder absoluto ao decretar o seu desejado estado de sítio)”.

Como “espírito eivado de anquilosamentos passadistas”, não resisti à extensa citação.

O que se seguiu foi o aproveitamento da ingenuidade e confusão de Spínola e dos spinolistas (ou melhor “do capitalismo e de todos os seus naturais aliados, em especial a social-democracia”) para avançar com um, já não hipotético, mas verdadeiro golpe; um golpe travestido de contragolpe, usando como instrumentos a Quinta Divisão do Estado Maior General das Forças Armadas e o COPCON.

Inicialmente chefiada por Vasco Gonçalves, que logo em Julho 74 a deixaria para abraçar o cargo de primeiro-ministro como “companheiro Vasco”, esta Quinta Divisão controlada e animada pelo PCP tinha, entre outras funções, “detectar desvios no cumprimento do programa do MFA e propor medidas para a sua correcção”. Ficámos também a dever-lhe as campanhas de Dinamização Cultural. E ao lado desta mítica Quinta Divisão estava o ainda mais mítico (mas também bastante real) COPCON.

Passo então a citar o Relatório da Comissão de Averiguação de Violências sobre Presos Sujeitos às Autoridades Militares, mais conhecido por Relatório das Sevícias (também disponível online):

“A partir de 28 de Setembro de 1974, o COPCON surge com poderes ilimitados sobre a segurança e a liberdade das pessoas, arvorando-se até no direito de decidir pleitos, dirimir questões civis, resolver problemas de habitação […] Efectuava ainda apreensões de bens e congelamentos de contas bancárias e decretava medidas limitativas da liberdade, tais como interdição de saída para o estrangeiro, residência fixa, etc.”

Reacção em cadeia

Nessa noite iniciava-se, executada pelo COPCON, uma acção que levaria à prisão de cerca de 300 pessoas (números do Relatório das Sevícias), sem contar com os agentes da PIDE. Eram pessoas ligadas à manifestação da Maioria Silenciosa, ao governo ou a organizações do anterior regime e a “partidos e jornais situados à direita, depois do 25 de Abril”. Em Caxias, era a própria “Reacção em cadeia”, nas palavras do Quito Hipólito Raposo à entrada, ainda no pátio, fazendo da tristeza e da tragédia graça.

Os tais “elementos dos partidos e jornais situados à direita depois do 25 de Abril” foram a chave e a razão da operação; uma típica operação comunista, orquestrada com o apoio dos meios de comunicação social, que foram exaltando o já de si exaltado primeiro ministro Vasco Gonçalves e outros líderes do MFA e espalhando desinformação sobre a “conspiração da extrema-direita” e “o golpe spinolista”. Havia que prender todos os que estavam a pôr em perigo a democracia. Motivo do encarceramento? “Associação de malfeitores”.

Volto à narrativa do Relatório:

“As prisões foram efectuadas por forças militares do COPCON, mas também por grupos civis, ou pelo menos orientados por civis. É de registar sobretudo a intensa actividade desenvolvida por um médico, membro do PCP”.

Lá estava ele no relatório, o Dr. Jean-Jacques Valente, o médico, o comissário político que no dia 27 de Setembro acompanhou os emissários da democracia e da liberdade do COPCON que vieram por mim e por muitos outros nessa noite. Era quase Stevenson: The Strange Case of Dr. Valente and Mr. Jean-Jacques.

A inventona de 28 de Setembro não foi mais do que um pretexto da esquerda comunista e da ala mais esquerda do MFA para, alegando golpe e contra-golpe, poder matar no ninho da serpente a direita que se organizava para, ao abrigo das leis da Democracia e em democracia, se bater por uma solução que permitisse salvar o que pudesse ser salvo no Ultramar e do Ultramar. E defender, na Metrópole, a liberdade contra os seus maiores inimigos de sempre: os comunistas e a esquerda radical.

Como consta do Relatório das Sevícias, as prisões dessa noite, geralmente por instigação de militantes do MDP-CDE, foram acompanhadas de denúncias e de mobilização de multidões. O regime restaurador da democracia e das amplas liberdades conseguiria assim a proeza de exibir em Outubro de 1974 mais presos políticos do que os que lá estavam no dia 24 de Abril de 1974.

Nessa noite, quando da visita ao que julgavam ser o meu paradeiro em Lisboa, eu estava em Carmona como alferes miliciano, na Acção Psicológica. Poucas semanas antes do 25 de Abril tinha trocado com um camarada meu, que estava mobilizado. Sendo então um convicto defensor do Portugal ultramarino, não me passava pela cabeça não servir em África. E como me oferecera mas nunca mais me chamavam, resolvi trocar com um mobilizado.

Em Carmona, no Sábado, começaram a chegar as notícias, esparsas, de que na Metrópole se prendiam “reaccionários” ad hoc. Em Angola, Rosa Coutinho procedia também à limpeza e neutralização de quaisquer movimentos políticos que se desviassem da “linha geral” do MFA, vitorioso em Lisboa. A partir desse 28 de Setembro preparei a fuga para a única fronteira possível – a do Sudoeste Africano, hoje Namíbia. Na Sexta-Feira seguinte, 4 de Outubro, pus-me a caminho. Seguiram-se quatro anos de exílio – na África do Sul, no Brasil e em Espanha. 

DESPORTO (?)          

COMENTÁRIOS (de 59)

Tim do A: A História que não se escreve, tal como não se divulga na comunicação social o discurso desta semana de Milei na ONU.               Jorge Tavares > Maria Nunes: ?!? No Desporto?! Fui a essa secção e pude confirmar. O pessoal do Observador que arruma essas coisas anda despassarado.             klaus muller > Jorge Tavares: É curioso! A mim então não me causa qualquer surpresa ...         Novo Assinante: Se havia mais presos políticos em Setembro de 1974 do que em Abril de 1974, é fácil de explicar: havia mais fascistas para prender em Setembro do que comunistas em Abril. E, a avaliar pela crónica, houve fascistas que fugiram para o estrangeiro a partir de 28 de setembro para não serem presos reduzindo assim o número de presos em setembro 1974. - A. BENITO VENTURA MUSSOLINI, FUHRER DE MEM MARTINS.         Maria Nunes: JNP, obrigada por mais um excelente artigo. Tempos tenebrosos esses que descreve. É por isso que é tão importante festejar o 25 de Novembro de 1975. Quanto ao Observador, a minha pergunta é : estão a brincar com os assinantes quando põem este artigo na categoria de desporto?              José Pinto de Sá > José Pinto de Sá: Acrescento ainda, para precisar, que a 24 de Abril havia 127 presos políticos em Portugal, não só menos que os 300 existentes em Outubro, como muito menos! Sem falar, como lembra o Jaime, nos pides, que eram uns 2 mil presos. Quanto à acusação comum, era, de facto, "associação de malfeitores". Era uma acusação ao abrigo da qual a lei permitia prender indefinidamente, e como não havia nenhuma intenção de vir a julgar esses presos, pouco se preocupavam com a verosimilhança da acusação. Era a chamada "legalidade revolucionária", em contraposição à legalidade da lei.              José Pinto de Sá: Também me foram buscar à morada que constava na ficha de inscrição na Faculdade e que eu nunca actualizara, mas isso ainda em Julho, num mandato informal redigido numa folha de papel branco sem timbre e entregue à PSP. Depois quando voltaram a procurar-me, a seguir ao 28 de Setembro, precisamente,  já acertaram, e dessa vez é que estou para saber como souberam da morada, embora tivesse então sido a polícia militar do major Tomé a fazê-lo!              MCMCA A: Vieram pelo meu pai, um pacífico homem de direita que protegeu amigos comunistas em sua casa quando em fuga da pide. Nunca esquecerei o horror que senti, as mentiras que ouvi e os corredores de Lisboa que corri com a minha mãe a tentar saber de que era acusado. No dia da manifestação da Intersindical, um jovem tenente da marinha, disse à minha mãe: grite bem alto a injustiça de que é vítima o seu marido. Mas. Depois de quase meio ano em Caxias foi solto sem mais e disse, vai haver mais prisões e por isso estão a vagar Caxias. Foi o 11 de Março. A 17 de Julho de 1975 meu pai foi de novo preso para ser levado para Pinheiro da Cruz de onde, Otelo, queria tirar os presos para os fuzilar no Campo Pequeno. Valeu-nos Mário Soares e o embaixador americano Carlucci. Na véspera da tomada de posse de Mário Soares a 18 de Setembro de 75 meu pai foi solto às 19 h. Mário Soares gritou alto e bom som que só tomaria posse se todos os presos sem culpa formada fosse soltos.          Francisco Bandeira: Eu pensava que só havia presos politícos antifascistas!  Os outros eram criminosos anticomunistas?  A diferença de classificação deverá ser porque os presos anticomunistas são efectivamente em número muito muito muito muito sperior em toda a história. É um balanço interessante para ser efectuado e divulgado.              Domingas Coutinho: Obrigada pelo excelente retrato do que foram os tenebrosos tempos que levaram ao bendito 25 de Novembro que nos libertou deste bando de malfeitores que se apoderou do 25 de Abril para desbaratar tudo e todos. Espero que o 25 de Novembro seja devidamente assinalado.               João Floriano: Aos mais novos que não têm ideia destes tempos, recomendo a cançoneta «Força Força companheiro Vasco, nós seremos a muralha de Aço.» Da mesma altura temos  a Gaivota que se fartava de voar e não se cansava. Será certamente mais popular porque as crianças nas escolas cantavam-na sem perceber que a gaivotazinha tinha um significado político mais ou menos disfarçado. Já o companheiro Vasco é por demais evidente. Para quem não conheceu ou se lembra do companheiro Vasco, posso descrevê-lo como uma triste figura, marionnette do PCP, que não deixou qualquer saudade. Também é preciso que se diga que a 28 de setembro de 1974 não se tinha a informação que hoje se possui e o COPCON de Otelo Saraiva de Carvalho e os comunistas, fruto de uma campanha agressiva, eram verdadeiros heróis populares e a aliança Povo/MFA, que não era mais do que  a infiltração dos comunistas nas Forças armadas a salvação do país. a falta de informação e desinformação eram gritantes e se hoje passados 50 anos ainda há quem se agarre ao PCP com o argumento de que nos livraram do salazarismo e do fascismo, imagine-se como seria em 1974. Há uma data que achei particularmente curiosa e que tem  a ver com Angola: 28 de setembro de 1974. Durante vários anos mantive uma relação muito próxima com uma  família que fugiu de Angola precisamente no dia 27 de setembro de 1974. Nesse dia festejava-se com uma grande reunião familiar não só o aniversário de alguém que fugiu, mas também  a saída de um país que amaram, consideraram seu e para onde tinham partido em abril de 1952. A fuga do Lobito até Luanda onde apanharam o barco para Lisboa a 27 de setembro é perfeitamente rocambolesca, digna de filme,  sempre recordada ente risadas e emoção. Mas hoje também há casos estranhos e de dificil explicação: como é que se continua a votar no PCP.      Cisca Impllit > Francisco Bandeira: Um podcast  a fazer pelo Observador,  para começar  - valia muito a pena,    Carlos Quartel: E preciso não esquecer, é preciso divulgar. Onde anda o CDS, o PSD ou mesmo o Chega ?? Entretidos com trivialidades, deixam o fundamental de fora.  E assim tem o PCP e os "revolucionários" do BE escapado, com as suas tropelias e as seus ataques à democracia cobertos por uma comunicação social amordaçada. Sem ódios exagerados, é preciso que se saiba o que representam esses partidos e dizer erepetir ao PS que "geringonça" nunca mais.               Glorioso SLB > José B Dias: Caça ao fascista ñ seria desporto naquela época!?             Isabel Amorim > Ludovicus: Não convém que se saibam as porcarias e trafulhices que essa malta em nome da liberdade fez. Não passavam de uma cambada de meros invejosos básicos mediocres que depois foram acumulando riquezas e bens que acusavam os outros de terem. Só a inteligência , cultura e educação que não se compra ou rouba é que não conseguiram como é óbvio. O resultado está à vista...                Carlos Real: Mais uma vez se comprova como a História pode ser muito facilmente aldrabada. O 28 de Setembro sempre nos foi contado como um golpe spinolista. O mais certo é ter sido um golpe comunista para reforçar a linha da descolonização desgraçada, e reforçar o papel de Vasco Gonçalves e Otelo. Os chuchialistas que alinham no mesmo discurso, bem se arrependeram quando Mário Soares (grande borrada na entrega sem prazo das colónias) percebeu em 1975 que Portugal poderia ser a Cuba da Europa. Mais uma excelente crónica do Jaime NP.  Ludovicus: O JNP sempre escreveu para uma elite. Julgo ter lido todos os livros dele. Assim como os de António Marques Bessa. Mas, este artigo não é só para uma elite. Quem não viveu o pós-25A, o 28Set, o cerco a Lisboa para impedir a manifestação da "maioria silenciosa", o 11mar, o pós 11mar. o que se passou no Alentejo, os assaltos ás sedes do PCP nas cidades do norte do país nas vésperas do 25Nov, compreenderá este artigo? Falo com jovens de 30 e tal com diversos graus académicos e, sabem que houve um 25A. Mas, tudo o que se passou, está numa "zona cinzenta".  Nem querem saber.                 Fernando ce: Tinha 18 anos nessa altura. Tinha simpatias pelo PS de então. Ou seja, não era um “ fascista”, mas sempre me interessei por política, e apoiava a linha do general Spínola, que era a que melhor defendia os interesses de Portugal, dos portugueses, e dos povos das ex colónias ( em relação a estes bem se viu o que lhes aconteceu depois e até hoje…). Quando a portuguesa-angolana Van dunem fala das mangas que hoje pode obter mas não as pessoas que perdeu, de certeza não inclui aí os assassinatos já depois da independência fizeram a militantes da Unita e ate do proprio MPLA). Mas como observador desse período que Nogueira Pinto faz, a minha opinião foi já na altura de ser ter tratado de um golpe efectuado por comunistas e seus compagnons de route para eliminarem qualquer direita e centro direita de influencia na sociedade.               Maria Emília Ranhada Santos: Aqui há dias estive na universidade de Almada, e escutei com alguma dor estudantes desanimados perguntarem se eu achava que o regime anterior era pior do que este? Quase fiquei engasgada! Não pensava isso dos estudantes universitários, mas depois, parei a minha mente e percebi que jovens sensatos, vivem tempos muito difíceis! Vivemos um enviesamento total da comunicação social, o que significa que nos querem amordaçados e não livres! Isto significa que não somos livres mas sim, escravos das ideias deles, dos socialistas e outras esquerdas depravadas!              João Serra: Nestes tempos de reescrita da história, haja quem a preserve e conte. Belíssimo texto, JNP, venha o próximo. Tempos tenebrosos para a Liberdade, protagonizados por personagens em tudo semelhantes a muitos que aí andam, travestidos de cordeiros. Para “Desporto” é talvez um pouco violento… corrijam por favor, o Observador não merece.          Antonio Moreira: Este lúcido e oportuno artigo do Jaime Nogueira Pinto (JNP) merece três notas. Como habitualmente, procurarei comentar com um intuito de esclarecimento a quem nos lê, neste caso especialmente justificado porque acompanhei pessoalmente vários dos eventos em causa e, por isso, tenho conhecimento dos mesmos em termos que vão além das leituras ou audições de testemunhos ou conclusões alheias. 1. Revolução Comunista em Portugal. Considero que, com a tomada de posse de Vasco Gonçalves para primeiro ministro do segundo governo provisório, em 18jul1974, se iniciou a revolução comunista em Portugal, primeiro de uma forma insidiosa e, depois do 28set1974, de uma forma descarada. Esta revolução comunista visava não só impedir a implantação de um regime democrático em Portugal como igualmente a entrega de Angola aos (então) comunistas do MPLA. Eram os dois objetivos principais. Outros havia. Uns atingidos outros impedidos. Quanto aos outros territórios ultramarinos, a sua entrega a forças políticas comunistas não constituía objetivo principal, mas, sobretudo Moçambique, tinha também importância estratégica. Não deixa de ser curioso que o fim da mesma revolução comunista se tenha dado em 25nov1975, só após a independência de Angola, proclamada em 11nov1975, poucos dias antes. Ou seja: o segundo objetivo principal da revolução comunista em Portugal foi integralmente atingido. Esta revolução comunista teve a primeira contrariedade com a realização das eleições para a Assembleia Constituinte, em 25abr1974 (embora não completamente livres, quer pela imposição revolucionária e anti democrática de um Pacto MFA / Partidos quer por impossibilidade de concorrerem partidos do centro e direita, excepto do CDS, mesmo este limitado por ilegalização do PDC – Partido da Democracia Cristã do “capitão de abril” Sanches Osório, com o qual se encontrava coligado). Depois, foi combatida pelo povo português, sobretudo a Norte, durante o Verão de 1975 e foi vencida em 25nov1975, que restituiu e retomou o essencial do objetivo inicial do 25abr1974: a implantação de um regime político democrático em Portugal. Muito haveria a dizer sobre esta revolução comunista e suas consequências, algumas delas que permanecem durante dezenas de anos. Basta pensar que, só decorridos mais de 40 anos, podemos ver em normal actividade partidos oriundos do espectro político do centro direita e direita, então impedidos de existir, destruídas as suas sedes, perseguidos e presos os seus dirigentes, como em 28set1974 e daí para diante sucedeu. Recomendo vivamente a leitura completa do documento conhecido como “Relatório das Sevícias” – Relatório da Comissão de Averiguação de Violências sobre Presos Sujeitos às Autoridades Militares, com acesso on line informado no artigo em comentário. Este documento é de uma importância superior para alguém que queira conhecer o ambiente e as violações dos mais básicos princípios dos direitos humanos, praticadas durante a revolução comunista que se desenvolveu em Portugal em 1974/1975. 2.    Factos narrados no artigo. Começo por confirmar os factos narrados quanto aos acontecimentos ocorridos no período imediatamente anterior, no período contemporâneo e no período imediatamente posterior ao 28set74  A manifestação da chamada “maioria silenciosa” foi pedida, incentivada e até pressionada pelo Presidente da República em funções, Gen. Spínola. Nada de mais natural numa democracia – uma manifestação de apoio ao PR! O que se passou efectivamente foi uma batalha de poder entre o Gen. Spínola e a maioria comunista da Comissão Coordenadora do Programa do MFA. Com vários ataques e contra-ataques, ocorridos sobretudo entre 26 e 29set1974. Que a segunda ganhou, provocando a demissão do primeiro em 30 de setembro de 1974. Spínola procurava – à semelhança do que fez o Gen. De Gaulle, nos acontecimentos que precederam a implantação da V República em França, regime que ainda hoje permanece – obter um reforço da sua força política com uma manifestação que supunha seria grandiosa. Tendo condições objectivas e força política e militar para tal, não foi capaz de o fazer e, com a sua incapacidade, não só perdeu a batalha como abriu o caminho a um reforço e aceleração da revolução comunista que queria contrariar. Especificamente sobre o 28set1974, seus antecedentes, os acontecimentos desses dias e suas consequências, recomendo a leitura também completa de um livro de quem os viveu de um lado e do outro das grades de Caxias – “A Burla do 28 de setembro”, por António Maria Pereira, ed. Livraria Bertrand, Lisboa 1976. 3.    João-Jacques Marques Valente, natural de Lisboa, freguesia de S. Sebastião da Pedreira – o médico assassino, destacado dirigente da ARA (Ação Revolucionária Armada) – ala clandestina e armada do PCP. Um centro estratégico da revolução comunista em 1974/1975 (menos publicitado) estava constituído na Comissão de Extinção da PIDE/DGS e LP, sediada no Forte de Caxias. Oficialmente, em Caxias, estavam em funcionamento apenas a Repartição de Análise e Investigação Documental desses oficialmente designados por “Serviços de Coordenação da Extinção da PIDE/DGS e Legião Portuguesa”, criados por despacho de 7jul1974 do então CEMGFA (Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas), Gen. Costa Gomes. Para quem queira informar-se melhor sobre estes Serviços, recomendo a consulta no site da Torre do Tombo, em acervo documental facilmente encontrado sob o seu nome oficial acima referido. Mas, na realidade, esta Comissão em Caxias desempenhava um papel muito mais relevante do que seria suposto pelos documentos que a criaram. Desde logo, o acesso a esta Comissão era muito exclusivo: entre setembro e dezembro de 1974 só vi lá, com peso determinante, membros da ARA (já acima identificada), da LUAR (grupo armado do Palma Inácio, que veio a assumir-se como ala armada do PS) e das Brigadas Revolucionárias /Partido Revolucionário do Proletariado, do Carlos Antunes e da Isabel do Carmo e que constituíram mais tarde a única rede bombista reconhecida, julgada e condenada em tribunais portugueses, conhecida sob a designação de FP-25. Grande parte do público ouviu falar pela primeira vez das BR/PRP por causa do episódio de entrega de 1.000 G3, em setembro de 1975, pelo capitão Álvaro Fernandes a Isabel do Carmo e a Carlos Antunes, que teve destaque na imprensa da ápoca. É curioso como um serviço oficial, declaradamente de investigação documental, tinha tanta preponderância de elementos operacionais de perfil guerrilheiro ou paramilitar e pertencentes ou aliados a partidos políticos, dois deles que faziam parte do Governo de então… Ora, o JJ Valente (JJV) era o verdadeiro comandante de tal estrutura. Para além do destino que deu a grande parte dos arquivos da PIDE/DGS - que apareceram uns anos mais tarde nos arquivos do PCUS - União Soviética, quando esta se desmoronou em 1989/91 - dele, com ele e sob as suas instruções eram presos sob a acusação de “suspeitos de pertencerem a uma associação de malfeitores” inúmeros portugueses, muitas vezes sem qualquer actividade política. Estes detidos eram conduzidos quer ao então RAL 1 (Regimento de Artilharia 1, considerado de confiança revolucionária) quer ao Forte de Caxias e aí permaneciam detidos por largos meses, alguns por mais de um ano, sem serem ouvidos por qualquer autoridade judiciária e, apenas alguns, sujeitos a interrogatório, várias vezes com tortura ou sevícias, pelos elementos dessa Comissão, sob a orientação, chefia ou participação directa do próprio JJV. Como curiosidade, vários dos famosos “Mandados em branco”, isto é, assinados pela “autoridade” ordenante (habitualmente o COPCON, então de Otelo Saraiva de Carvalho) e com o espaço a preencher com nome da pessoa a deter em branco, foram preenchidos por este JJV ou sob sua indicação, sendo ele que, na prática, detinha o poder discricionário de escolher quem prender. Pelo menos, durante o período em causa, de setembro a dezembro de 1974. 4. O Partido Socialista durante o ano de 1974. Ao longo dos meses que se seguiram ao 25abr74 o PS esteve e comportou-se muitas vezes duma forma mais "progressista" ou revolucionária do que o PC institucional. Quer no governo gonçalvista quer na defesa e participação das acções "revolucionárias" do dia a dia, fora de qualquer controlo ou legitimidade democrática. Mário Soares chegou a defender uma frente popular PS/PC para governar Portugal, baseado no exemplo francês e esquecendo que o PCF não era estalinista, ao contrário do PCP. No número 1 deste comentário, já apontei a presença da LUAR / PS na Comissão em Caxias. Mas acrescento outro exemplo: nas barricadas ditas "populares" para impedirem o acesso a Lisboa por alturas da manifestação de apoio ao PR em funções, marcada para a tarde do 28set, o PS mostrou-se tão mobilizador e activo como os grupos de esquerda radical. Na verdade, só com os episódios da "unicidade sindical", como lhe chamou Salgado Zenha no início de 1975, e da ocupação do jornal "República" do socialista Raúl Rego, é que o PS começou a distanciar-se primeiro e a combater depois o PC e a revolução comunista em marcha então. A partir daí, o PS e Mário Soares perceberam onde a revolução comunista poderia levar o País e as consequências para o PS do eventual êxito revolucionário. Tornaram-se então um dos principais obstáculos a essa revolução e contribuíram para  a sua derrota. Muito mais haveria a escrever. Sendo um comentário a um específico artigo com cujo conteúdo concordo, fico por aqui, renovando os agradecimentos ao autor por trazer estes assuntos á colação.               Gastão Ferreira: Muito bem! Ainda hoje conversei com sobrinhos, quase cinquentões, sobre o tema.  A narrativa oficial da revolução continua no domínio da ficção, e se não fosse trágico teria sido cómico ver a dificuldade em encontrar o que comemorar ao fim de 50 anos                Tim do AJorge Tavares: Infelizmente só mesmo por partilhas na internet. Um modo quase clandestino, enquanto não for censurado...  José Pinto de Sá > Tristão: Não me diga que gosta de comparar o 25 de Abril com a revolução de Outubro de 1917 ou a tomada de poder de Fidel Castro, que não implementaram democracias nenhumas! É que se comparar o 25 de Abril com revoluções democráticas, desde a da queda da ditadura grega dos coronéis à dos coronéis da Argentina e à dos generais do Brasil, mais a de todos os países de Leste, com excepção da Roménia onde a "PIDE" de Ceausescu reagiu em batalha campal, verá que todas essas transições foram pacíficas. E mais, sem perseguições aos funcionários dos regimes depostos, a não ser os culpados de crimes provados, em alguns casos! Viu o filme alemão "A vida dos outros"? Sobre a vigilância pela Stasi dos suspeitos de dissidência? Onde se narra a tortura do sono aos presos mas termina com o antigo polícia político, depois da queda do regime, na rua a trabalhar como carteiro...?               Isabel Amorim > Cisca Implit: Com tantas histórias de injustiça não divulgadas acerca do 25 Abril e o que aconteceu depois só lhes interessam temas que remetem aos nazis. Devem ser financiados pela Netflix... 

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