sábado, 7 de setembro de 2024

Complemento

 

O corajoso texto «O dilema de Israel e o "finca-pé"» de JOSÉ ANTÓNIO RODRIGUES DO CARMO Coronel "Comando", aqui postado anteriormente, trouxe-me à memória um “escrito” antigo, guardado na gaveta dos “escritos” com que fui entretendo os intervalos do labor diário, em leituras do meu aprazimento cultural espaçado, mas enriquecedor, na ignorância desejosa de esclarecimento e com a respectiva gratidão pelo transmissor daquele. Tal foi o caso deste texto que tenho “arrumado” na gaveta e que recordei, com data de 2007, estando eu já reformada e mais liberta dos trabalhos profissionais: “DUAS PEÇAS DE TEATRO: «O JUDEU» de BERNARDO SANTARENO - «GUERRAS DO ALECRIM E MANJERONA» do JUDEU.

Começo por transcrever a sua “NOTA PRÉVIA”, em parte justificativa do tema que me traz:

«As características de uma sociedade de grandes desníveis económicos e sociais são bem traduzidas na “narrativa” dramática “O JUDEU” (1966) de Bernardo Santareno, cuja acção, situada temporalmente ao longo da primeira metade do século XVIII, se propõe destacar, em paralelo, a situação política e social do século XX salazarista.

Por esse motivo, nos propusemos sintetizá-la, não só para efeitos de uma melhor descodificação de uma acção dramática complexa em torno do jovem dramaturgo António José da Silva, o Judeu, mas para, por meio dela, melhor contextualizarmos a época em que se integra esta figura, cuja arte dramática de humor satírico apontamos seguidamente através da sua “ópera” “GUERRAS DO ALECRIM E MANJERONA”, considerando quanto as aberrações do despotismo podem cercear talentos ou impedir as criações do espírito.»

Ao usar a figura do JUDEU como representante de um determinado comportamento específico de uma época que condena, é no fito condenatório da própria época em que viveu Santareno, como se comprova no passo seguinte da INTRODUÇÃO:

“Foi no século XVIII que viveu o Judeu António José da Silva, autor de peças teatrais cheias de humor – muito particularmente “Guerras do Alecrim e Manjerona” (1737) – é sobre esta época que se situa a acção da peça de Bernardo Santareno, “O JUDEU” (1966), onde se ataca o regime de força, que condenou aquele à fogueira e conjuntamente se ironiza idêntico regime ditatorial, do ESTADO NOVO (1926-1974), de conhecimento vivencial de Santareno, pseudónimo do médico psiquiatra António Martinho Rosário, nascido em Santarém, que nessa obra “transpõe para o século XVIII a sua própria condição de escritor silenciado pelo fascismo” (in DICIONÁRIO DE HISTÓRIA DO ESTADO-NOVO”, op. Cit.).

Sim, esse foi talvez o motivo específico da escolha dessa temática da peça de Santareno – a da incriminação implícita, através do paralelismo analógico das situações epocais. Mas, se Santareno (1929/1980) fosse hoje vivo, não seria Salazar o seu ponto de referência crítica, esse há muito renegado para o lugar do sumidouro físico, embora “não liberto da lei da morte”, por muito que tal custasse a Santareno. Porque o que está na moda hoje, são os palestinianos, que o mundo, pelos vistos idolatra, excepto Joe Biden, mais isento, que por essas e outras foi posto de parte na governação, pese embora o peso da idade que lhe atribuíram, disfarçando, com isso, – e palmadinhas nas costas - o peso da sua generosidade, manifesta com a Ucrânia, com Israel, e mesmo com Taiwan.

Sim, Santareno seria hoje, antes, dos marchantes em prol dos palestinianos, pese embora as entifadas várias, de que me lembro, com os garotinhos palestinianos à pedrada contra os judeus. Para não falar do HAMAS provocador por excelência, como se tem visto.

Não, do que eu me lembro mesmo é do meu tio Manuel a rir-se das minhas gracinhas de miúda, com a expressão “Tu és muito judia!”, o que no meu espírito permaneceu como sinónimo de esperta. Daí que sempre tenha considerado o povo judeu, sempre perseguido,  – até mesmo por cá, no nosso pequeno país: lembremos os Estrangeirados expulsos, Ribeiro Sanches, Jacob Sarmento, Verney – motivo da inveja dos povos mesquinhos. De tal modo que até mesmo o povo menos letrado dera por isso, ao usar a metáfora, embora o meu tio Manuel não fosse dos menos letrados. Mas Bernardo Santareno seria dos que acudiriam hoje pelo povo palestiniano, mau grado a sua peça “O JUDEU”, tenho a certeza, que é o que está a dar por estes tempos semeados de bons sentimentos, como informa, segundo vimos, JOSÉ ANTÓNIO RODRIGUES DO CARMO Coronel "Comando, no seu texto O dilema de Israel e o "finca-pé".


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