KursK, lugar importante na história das
guerras, como assinala JNP, contando da outra guerra, e lembrando os outros “heróis”
da destruição da Terra e seus povoadores, para nos lembrarmos de que a “mudança”
é repetitiva. E os “heróis” dela também, embora existam sempre os “autênticos”,
como Zelensky. Que os outros são apenas chefões, mandatários do “Maligno” e das suas forças do Mal.
Há 81 anos - A Outra batalha de Kursk
A “outra batalha de Kursk”, há 81
anos, foi o momento decisivo da II Guerra — e também a maior batalha de
blindados da História. Estaline e Hitler conheciam-se bem e eram agora inimigos
mortais.
JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do Observador
OBSERVADOR, 31 ago. 2024, 00:4329
A ofensiva ucraniana do início de Agosto na região de Kursk,
ofensiva que continua há quase um mês, lançou confusão e choque entre os
responsáveis políticos e militares russos. Mas ao mesmo tempo que parecem
incapazes de parar a ofensiva ucraniana no seu território, os russos foram
progredindo na Ucrânia Oriental, na região do Donetsk, pondo em risco a
estratégica cidade de Pokrovsk.
Os combates continuam, e nesta circunstância
parece interessante lembrar essa outra
batalha de Kursk que, há 81 anos, no Verão de 1943, no chamado “Saliente
de Kursk”, foi decisiva para o
desfecho da II Guerra Mundial. E que foi também a maior batalha de blindados da
História.
Recordemos a situação: no Inverno de 1942-43, as tropas alemãs
na Frente Leste tinham conhecido a derrota e humilhação de Estalinegrado, com a
rendição do Sexto Exército de von Paulus. Hitler, responsável pela estratégia
e decisão da campanha, na medida em que ditara especificamente as instruções
aos seus generais, ficara abalado pela
derrota, como documentam as memórias de alguns dos colaboradores que o
visitaram então nos seus quartéis da Prússia Oriental.
Mas passado o degelo da Primavera russa,
que tornava a guerra impraticável nas terras alagadas, alemães e russos
prepararam a campanha de Verão, naquelas
planícies onde se jogava, outra vez, o destino da Europa e do mundo. Os dois
líderes em confronto, Estaline e Hitler, conheciam-se bem, embora nunca se
tivessem cruzado presencialmente. Eram agora inimigos mortais, mas tinham
sido por algum tempo , entra Agosto de 1939 e Junho de 1941, aliados
objectivos; e de certo modo tinham-se avaliado e considerado como oficiais do mesmo ofício.
Estaline,
já no poder há mais tempo, seguira com muita atenção os detalhes da “Noite das
Facas Longas”, em que Hitler se livrara, numas horas, de umas centenas de
inimigos, da “esquerda” das SA à direita nacional conservadora e católica. Hitler
seguira também com atenção as grandes
Purgas estalinistas, a partir de 1937
e 1938, e o modo como nas purgas e
processos de Moscovo o seu homólogo soviético eliminara cerca de um milhão de
pessoas e acabara com a concorrência dos velhos bolcheviques no Comité Central. Mesmo assim, embora nesta leva fossem
liquidados os principais judeus do Partido Comunista, Hitler continuaria a
achar que comandavam o jogo. Como também pensava que estavam ao leme
na América.
Desta visão em que o realismo geopolítico cedia à paixão ideológica,
tinham vindo muitos dos erros que
levariam na guerra à derrota da Alemanha.
Como atacar a Rússia no Verão de
1941, com a Inglaterra, ajudada pela América, do outro lado do mar.
O Inverno de 1941 parara o Exército
alemão à porta de Moscovo; a questão do combustível para uma guerra mecânica
condicionara Hitler no Verão de 1942, levando-o para o Cáucaso. Agora, frente a
frente, ao longo de toda a frente Oriental estavam dois exércitos gigantescos: os russos juntavam então, apesar das perdas
sofridas, 6.500 000 homens; a Wehmarcht, a Ostheer, 3.100 000,
180 divisões.
Mas a grande superioridade dos
soviéticos estava no material: tinham
muito mais tanques, muito mais peças de artilharia, muito mais aviões de
combate. Tinham e produziam nas
fábricas para lá dos Montes Urais, além do que recebiam dos americanos. Parte das
suas forças estavam situadas no Saliente de Kursk, num espaço de 250 Kms no
sentido Norte-Sul, e 160 no sentido Este-Oeste, ou seja, no total 40.000 Km2 .
A
ofensiva alemã, Unternehmen Zitadelle, foi sendo sucessivamente adiada
por Hitler, pela necessidade de reforçar os meios de ataque perante as forças
na defensiva. Não se
pode esquecer também que, com uma guerra em outras frentes e com a “fortaleza Europa” a ser atacada pelo Mediterrâneo, impunha-se
a Leste uma batalha decisiva que restaurasse o prestígio das tropas alemãs e
quebrasse as forças soviéticas.
Os chefes militares na frente de
Kursk eram também de peso e prestígio: Erich von Manstein e Walter Model pelos Alemães, Gyorgy Zhukov,
Konstantin Rokossovsky e Ivan Konev pelos russos.
Para a batalha de Kursk, os alemães dispunham de meia centena de
divisões, das quais 19 blindadas e motorizadas, com cerca de 2.700 carros de
combate. Os efectivos andariam pelos 700.000 combatentes.
Os soviéticos contavam, como se
disse, com mais homens (cerca de 1.400 000 no Saliente de Kursk) e, além disso,
quase o dobro de blindados, e dispunham de grandes reservas. Assim,
apesar de terem sofrido grandes perdas, puderam aguentar os ataques alemães e
através dessas contra-ofensivas – baptizadas Kutuzov no Norte do Saliente e
Rumyantsev no Sul – lograram forçar os alemães a regressar ao ponto de partida. Von
Manstein pediu reforços a Hitler que, em 13 de Julho, visitou a frente. Para a
reunião, Manstein exigiu a presença de estenógrafos, que
registaram a conversa com o Führer.
Considerando a situação no terreno,
mas também as novidades do Ocidente, onde os Anglo-Americanos tinham invadido a
Sicília, Hitler decidiu parar a
ofensiva.
Os russos, na contra-ofensiva, avançaram e tomaram várias cidades.
Em finais de Agosto, tudo estava consumado – os alemães retiraram em
profundidade e os russos avançaram. E Heinz Guderian, o grande estratega da
Blitzkrieg, podia mais tarde escrever:
“Com o fracasso da Zitadelle,
sofremos uma derrota decisiva. As unidades blindadas, refeitas e reequipadas
com tanto esforço, tiveram perdas pesadas em homens e material e ficariam
inoperacionais por muito tempo (…) A partir daqui o inimigo ficou senhor
absoluto da iniciativa.”
Kursk entrou, como outras
batalhas decisivas da História, naquela lista interminável de acontecimentos
sobre os quais ainda hoje os historiadores militares debatem se a
solução poderia ter sido outra. Do
lado alemão e a partir do próprio von Manstein, a tendência é culpar Hitler
pela demora a atacar – e pela pressa em ordenar a retirada.
De qualquer modo, Kursk, a
outra batalha de Kursk, tem um lugar na História, não só como a maior batalha
de blindados do século XX (e antes eles não existiam), como uma viragem
decisiva da II Guerra Mundial. A partir dela, os alemães vão sempre a retirar e
os soviéticos a avançar. Até Berlim, na Primavera de 1945.
II Guerra Mundial História Cultura
COMENTÁRIOS (de 29)
João Floriano: Kursk ficará também na História como o submarino
que em 2000 se afundou devido à explosão de um torpedo. O governo russo
recusou a ajuda internacional e deixou morrer cerca de 120 tripulantes. Também
nunca saberemos se alguns desses tripulantes poderiam ter sido salvos. Fernando CE: Outra lição, desta vez de Historia. Maria Nunes: Excelente lição de História. Obrigada. Manuel Lisboa: Interessante recordar os tempos da II Guerra Mundial e
um momento particular em que as mais
impiedosas e sanguinárias ditaduras (em conjunto com a maoista) da História se
digladiaram com tanques. Todavia e como todos sabemos, a História nunca
se repete e a actual ofensiva ucraniana na região russa de Kursk nada tem de comparável com a
batalha blindada de Kursk em Agosto de 1943. Há um pequeno denominador
comum, continua a ser um complexado autocrata a governar a Rússia, muito
tristemente para os russos e para o mundo em geral. Coronavirus corona: O revés da guerra dá-se no rio Volga, na cidade de
Estalinegrado. E já aí estavam em grande esforço. A partir do momento em que
não conseguiram alcançar Moscovo, a coisa ficou difícil. O inverno de 42
para 43 foi fatídico. Os ingleses e norte-americanos já tinham desembarcado
no norte de África e quebrado a oposição alemã na batalha de El Alamein, para
assim se poderem aproximar do Cáucaso (caso caísse em mais germânicas) pelo sul
do mediterrâneo. Com a operação Saturno a derrota alemã era uma questão de tempo
em Estalinegrado e os ingleses e norte-americanos decidiram começar a entrar
pela Europa, iniciando na Sicília. Em fevereiro de 43 a Alemanha via a sua
força derrotada e dizimada em Estalinegrado e os ingleses já com a bacia do
mediterrâneo consolidada. A partir daí estava feito. Kursk foi apenas o
inevitável.
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