terça-feira, 24 de setembro de 2024

Um ditador

 

Que ditou leis e princípios por amor do seu país. Os ditadores de hoje – com excepções, naturalmente – outros amores têm revelado perante a passividade de um povo amante do “paleio de chacha”, que é o que mais se ouve por aí, a respeito de orientação governativa. Mas são de fixar, como modelos imprescindíveis dessa orientação honrada, os tais eixos estruturantes dessa política, que o Dr. Salles se atreve a ofertar à ignorância e má-fé dos que embarcaram nas doutrinas a elas contrárias, e cuja referência reponho, como princípios definidores de um espírito que se admira e que bem previa o desastre em que se tornaria um país sem eles:

«Assentamento Doutrinário do Estado de Direito Corporativo;

Equilíbrio das Finanças Públicas;

Oposição às pretensões soviéticas de domínio da Península Ibérica;

Defesa intransigente do Ultramar como suporte da Soberania Nacional face à cobiça ibérica castelhana.»

E é sobre o acerto de contas que se desenrola esta análise clara do Dr. Salles que bem deveria ser meditada, como estigma humilhante de uma sociedade tão bastas vezes “desmazelada” nos seus princípios.

SALAZAR - 1

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO 22.09.24

 Ou

DILETÂNCIAS E MILITÂNCIAS

 Foram quatro os eixos estruturantes da política do Doutor Salazar:

Assentamento Doutrinário do Estado de Direito Corporativo;

Equilíbrio das Finanças Públicas;

Oposição às pretensões soviéticas de domínio da Península Ibérica;

Defesa intransigente do Ultramar como suporte da Soberania Nacional face à cobiça ibérica castelhana.

***

Diz-se que um Estado é de Direito quando todo o seu quadro legal é do domínio público e de aplicação universal; o mesmo se diga do processo legislativo.

 Falta de rigor no processo legislativo significa fascismo, ou seja governação ao sabor do capricho do ditador.

Católico de capela privativa e Catedrático de Direito em Coimbra, facilmente se perceberia que dificilmente o Doutor Salazar abandonaria convicções e saberes. Teve quarenta anos para provar a sua firmeza e ninguém ficou com dúvidas.

O modelo de Estado Corporativo por que optou pretendia ser uma plataforma (conciliatória?) entre o patronato capitalista e o trabalho marxista com os Grémios a serem dirigidos em partes iguais por representantes de cada lado. Mas havia que adamar o sistema para que o Adamastor não se erguesse nem escuro nem grosso.

Depois de “sugeridos” pela «União Nacional» e passados a pente fino pela PVDE (a antecessora da PIDE já então dirigida pelo Capitão Agostinho Lourenço, “Jimmy” para os seus colegas do MI6), os Directores dos Grémios eram nomeados pelo Ministro das Corporações. Supostamente, todos se comportariam em conformidade com o modelo de serenidade definido pelo Regime, mas se algum ânimo se levantasse, logo alguém lhe atiçava os mastins às canelas e a ordem era reposta de imediato no silêncio monacal nacional. E assim foi durante os 40 anos em que vigorou o Regime do Doutor Salazar: tudo na paz do «faz de conta e, como se veria em 1974, com a solidez estrutural de um castelo de cartas. A militância de alguns, poucos, a contrastar com a diletância dos demais, muitos, …

Contudo, em abono da verdade, há que reconhecer uma certa «democracia» ao Regime do Doutor Salazar na medida em que aceitava no seu seio todas as pessoas de qualquer extracto social, do mais humilde ao mais confortável – desde que não pusessem o Estado Novo em causa.  Todos cabiam desde que não perturbassem a calma do sistema.

* * *

ENIGMAS

A quantos Governos presidiu o Doutor Salazar? – Dizem os salazaristas que apenas a dois: o primeiro, na Ditadura Militar e o segundo depois da Constituição de 1933. Na prática, até se poderia dizer que presidira apenas a um, dada constância das políticas, mas, formalmente, a cada Presidente da República terá cumprido, no início de (cada?) mandato, a nomeação do Chefe do Governo. Assim, temos que contar com Carmona (os 2 já referidos), com Craveiro Lopes (1 ou 2 mandatos) e com Américo Tomaz (2 ou 3 mandatos. Mas, na realidade, foi sempre o mesmo.

O 2º enigma é mais complicado, Os Governos do Doutor Salazar eram compostos por Ministros e por Subsecretários de Estado. Então, o que fez ele aos Secretários de Estado?

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2 COMENTÁRIOS

 Adriano Miranda Lima  23.09.2024  14:28

Li recentemente uma biografia de Salazar escrita pelo historiador britânico Thomas Gallagher, especializado em Europa Moderna e professor emérito da Universidade de Bradford. É uma leitura que se recomenda porque o autor é isento e honesto na sua abordagem. Para ele, Salazar é uma personagem que não tem nada a ver com a mentalidade e a idiossincrasia do português e mesmo do europeu comum. Não considera provável que venha a aparecer um político que se aproxime minimamente do seu perfil mental e psicológico. Pelo menos, quanto a mim, da sua obstinação em não aceitar que a história dos povos é algo demasiado complexo e imprevisível para se conter na unicidade de um visionário. O Dr. Salles da Fonseca faz aqui uma síntese bem conseguida sobre a política de Salazar e do seu Estado Novo. Também sempre me intrigou a existência de subsecretários de estado sem secretários de estado. Um abraço amigo Adriano Lima
 a. pinho cardão  23.09.2024  17:01

Uma boa aproximação do Salles da Fonseca à figura de Salazar. E reveladora de coragem, já que qualquer avaliação mais serena é logo apodada de reaccionária e fascista pelo politicamente correcto.

 SALAZAR - 2

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

 23.09.24

 Ou

 GRÃO A GRÃO…

 O actual slogan socialista das contas certas significa saldos positivos, mas quando há défices nada diz sobre o acerto das ditas. As contas só estarão erradas se tiver havido martelada.

Mas vou aceitar a modernice da linguagem e afirmar que o acerto das contas era um «must» do Doutor Salazar.

Os problemas financeiros do Estado Português já vinham dos tempos da Monarquia e a Primeira República não os resolveu, antes os agravou. Foram disso causa certas despesas de desenvolvimento sem retorno imediato – v.g. a instituição da Universidade de Lisboa e da do Porto, as Escolas Normais de Lisboa e da de Coimbra... - mas sobretudo a participação na Grande Guerra de 1914-18 nas três frentes da Flandres, do sul de Angola (vizinho do Sudoeste Africano, então colónia Alemã) e no norte de Moçambique (vizinho do Tanganica, então colónia Alemã).

Passagem breve pelas Finanças do Governo do General Domingos de Oliveira onde considerou não estarem reunidas as condições para ser útil. Demitiu-se, regressou a Coimbra e esperou… Não tardou muito para que Carmona o convidasse a formar Governo. Aceitou porque sabia o que queria e para onde ia. Assumiu a Presidência do concelho de Ministros acumulando com a pasta das Finanças, decretou o fim das receitas consignadas e dos fundos privativos que pululavam pela Administração Pública. Todas as receitas públicas passavam a entrar exclusivamente no Tesouro e não havia mais dispersão de recursos. E se alguém reclamasse, logo se lhe atiçariam os mastins às canelas. E o Tesouro, grão a grão, logo começou a «botar figura» como se dizia lá pelas bandas de Santa Comba.             Quanto às despesas, impôs uma apertada política de cabimentação em Orçamentos equilibrados: só se gastava o que coubesse na plausibilidade das receitas. O que encolhia ou esticava era a rúbrica do Investimento.  As dívidas foram servidas e liquidadas (por exemplo a tristemente célebre dívida ferroviária cuja Câmara de Falência se situava em Paris). O desenvolvimento não prejudicaria o equilíbrio. Para Salazar, desenvolvimento podia significar também alguma instabilidade social perturbadora do seu ideal ruralista e das “virtudes” da economia de subsistência. Começava o entesouramento que engordaria o Tesouro nos 40 anos seguintes.

Isto, quanto à dívida pública, mas a privada tinha que ser tratada urgentemente e Salazar não hesitou. Não iria a votos, inspirou-se em Dracon.

Notável, a congruência das políticas orçamental, monetária e cambial, todas convergindo para o objectivo supremo da estabilidade.

Cada território ultramarino a seguir a mesma política (salvo o “lapso»” Alves dos Reis) e os respectivos bancos emissores tutelados pelo «Banco de Portugal», todo o espaço português se viu empurrado para uma prática mercantilista e com todos os saldos cambiais a serem contabilizados no «BdP». Se a tudo isto somarmos o acordo com a África do Sul relativo ao pagamento do trabalho dos «magaíças» nas minas daquele país, dá para compreender como grão a grão nasceu a «pesada herança do fascismo». Pesada, sim - só em oiro eram 800 toneladas; fascismo, não - era um Estado de Direito Corporativo.

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