Mais uma crónica honrada de MST, que mereceu muitos
doestos de gente, suponho, que pouco o será. Por isso não coloquei esses
comentários, bem ao jeito de perfídia própria nossa.
OPINIÃO
O “fantasma do socratismo despesista”
O socratismo despesista existiu mesmo e
é imperdoável negá-lo, ou andar a fazer ironia com a página política mais
dramática de toda a nossa democracia.
JOÃO MIGUEL TAVARES PÚBLICO, 21 de Fevereiro de
2019
A
expressão que dá título a este texto foi utilizada na quarta-feira por António
Costa na Assembleia da República, durante o debate da moção de censura apresentada pelo
CDS. Em resposta
a uma intervenção do PSD sobre os baixos níveis de investimento em Portugal, o
primeiro-ministro invocou o “fantasma do socratismo despesista”. Mais
precisamente, saudou com ironia o PSD por hoje em dia considerar o
investimento público “algo que é essencial ao desenvolvimento da nossa
economia, à cidadania dos portugueses e à coesão territorial”, em vez de
adoptar a posição de antigamente, quando tinha a mania de implicar com o
despesismo socrático – esse diáfano “fantasma”.
Se
por acaso algum leitor estiver, neste momento, a pensar utilizar o argumento
“lá vai ele falar outra vez do Sócrates”, espero que antes de proferir tais
palavras conclua que não sou eu que estou em modo de repetição, mas António
Costa que continua em modo de negação. Sócrates e o seu legado têm de ser
falados e falados e falados enquanto houver um primeiro-ministro em exercício
que se atreva a formular a frase “fantasma do socratismo despesista”. Não é
admissível. Não é desculpável. Não é sério. Não houve fantasma nenhum – o
socratismo despesista existiu mesmo, teve implicações catastróficas para o
país, e é imperdoável negá-lo, ou andar a fazer ironia com a página política
mais dramática de toda a nossa democracia.
A
dívida pública portuguesa passou de 96 mil milhões no primeiro trimestre de
2005 para 195 mil milhões de euros no primeiro trimestre de 2011. Em apenas seis anos, o governo de José Sócrates
agravou a dívida em 100 mil milhões de euros, cerca de 44 pontos percentuais do
PIB (de 67,4% em 2005 para 111,4% em 2011). São números estratosféricos.
Na verdade, nem sequer foi bem em seis anos – foi em pouco mais de três,
porque entre 2005 e 2008 a dívida nem sequer cresceu por aí além. O descalabro
total das contas ocorreu a partir de 2008, o tempo da famosa “crise
internacional”, à qual Sócrates respondeu com aumentos de 2,9% na função
pública (em 2009), mais as obras da Parque Escolar, o TGV e negociatas
sem fim.
Justiça
lhe seja feita: José Sócrates dispunha do dinheiro do país com o mesmo
cuidado que dispunha do seu próprio dinheiro – nenhum. Era gastar e gastar,
independentemente dos rendimentos e do saldo da conta. Só que Portugal, tristemente,
nunca pôde contar com um amigo tão dedicado como Carlos Santos Silva. Quando
chegou a hora de pedir emprestado aos amigos foi preciso pagar com juros altos,
pois a troika nunca perdoou, nem apontava os empréstimos em papéis de
deitar fora. Ainda hoje estamos a pagar por isso, e vamos continuar a
pagar durante décadas, porque com um crescimento miserável ninguém consegue
prever quando a dívida irá regressar aos números de 2005.
A inconsciência de José Sócrates, e a incompetência do seu governo,
comprometeu a vida dos portugueses durante pelo menos uma geração. Pode
fazer-se piadinhas com isto e dar bicadas no PSD enquanto se ironiza com o
“fantasma do socratismo despesista”? Poder
pode-se, com certeza. Mas eu fico absolutamente estupefacto. É evidente que
António Costa tem perfeita consciência de quem José Sócrates foi – o caminho
das cativações que tem seguido não pode estar mais distante das políticas do PS
socrático. Mas a retórica baixa e a defesa do clube insistem em
vir ao de cima nas piores ocasiões. Não pode ser. Costa fartou-se de defender
Sócrates entre 2005 e 2014. Já chega, não?
Jornalista
COMENTÁRIOS
Liberal, assinante do Observador desde 18
de Dezembro21.02.2019 : Oh João
Miguel Tavares, se dá votos, por que haveria de chegar?! Essas pessoas que
receberam os votos que lhes permitiram, ardilosamente, tomar o poder executivo
de novo, são não só as mesmas que deixaram a cada português 10.000 euros de
dívida nova no sapatinho, como ainda por cima passaram quatro anos a sabotar,
literalmente, os esforços do país para voltar à tona de água. Tal como Adolf
Hitler, eles sabem que nada lhes será realmente cobrado. A diferença é que
Hitler sabia que só escaparia morrendo.
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