Mas será que sim? Que existe Direita?
Onde estão esses que nos deram a ilusão ainda de uma reviravolta, após as
machadadas na pátria e o assalto desregrado aos lugares, assalto que, esse sim,
não mais parou, como o tal rabo cortado do lagarto, ”que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.”, única certeza que nos resta, a do “remexidamente”, extintas as convicções
antigas, de que Alberto Gonçalves talvez
também troce, afinal, homem moderno, evoluído e céptico, apenas acreditando em
si. António Nobre soube incluir-se
entre as indignidades do mundo - “o orgulho
insuportável tal o meu” - mas, risonhamente, Alberto Gonçalves assume o seu pessimismo em relação ao mundo, com a superioridade
altiva imparável – e impagável - da sua penetrante visão satírica. O certo é
que a abundância de dados implica a recolha abundante de informação. Assim, os
seus artigos traduzem, não só plenitude na graça, como seriedade informativa. O
seu comentador, Cipião Numantino, ajuda na
descodificação dos dados, por nós ignorados, embora peque, por vezes, numa
argumentação por excesso.
As direitas a que Portugal tem
direito /premium
OBSERVADOR, 16/2/2019
Visto que em Portugal a direita se
define por ser tudo aquilo de que a esquerda não gosta, eu defino-me por não
gostar de tudo aquilo o que a esquerda é. Quanto à direita, tem dias. E tem
direitas.
Em
centenas de crónicas, milhares de conversas e milhões de pensamentos (é
verdade, penso imenso), julgo que nunca por uma vez me afirmei de direita.
Sobretudo porque não sei bem o que a direita é. Definir a esquerda é fácil: vai da
moderada, que
saqueia os cidadãos para financiar clientelas, destrói quem resistir ao saque e
no médio prazo arrasa a economia, à radical, que saqueia os cidadãos para financiar clientelas,
destrói quem discordar do saque e no curto prazo arrasa a economia. Para
compor o ramalhete, a esquerda acrescenta umas palavras meiguinhas, simpáticas
e falsas como Judas.
A direita é uma confusão. Há a direita que
se confunde com a esquerda moderada. Há a direita que se
confunde com a esquerda radical. Há a direita que combate ambas pelos melhores motivos. Há
a direita que combate ambas por motivos
duvidosos. Há a direita que
só é direita porque se diz direita. Há a direita que só é direita porque a dizem direita.
Há a
direita que teima não ser direita. Há a direita liberal-conservadora. Há a direita conservadora que não é liberal. Há
a direita liberal que não é conservadora.
Há direita nacionalista. Há a direita “europeísta”. Há a direita
“mundialista”. Há a
direita autoritária. Há a
direita moderna. Há, em
suma, balbúrdia bastante para que unicamente os esquizofrénicos se sintam, assim sem mais, de direita.
A situação é global. Em Portugal, é fatalmente pior. O problema começou quando, durante as primeiras
quatro décadas de democracia, a
direita esteve representada por dois singelos partidos, nenhum, por acaso,
assumidamente de direita.
Isso não impedia – de facto obrigava – que recolhessem os votos das pessoas
que se assumiam de direita, fosse de que direita fosse. E o problema não se
resolveu agora, quando cada parcela da direita aparentemente decidiu arranjar o
seu próprio partido, numa explosão de representatividade que urge explicar a
benefício do eleitor distraído. Por azar, para explicar um fenómeno (ou meia
dúzia deles) é aconselhável compreendê-lo antes. E eu não compreendi grande
coisa.
O PNR. É certo que o PNR já existe há tempos. Dado que
praticamente ninguém reparou, é o mesmo do que ter nascido ontem. Do pouco que
sei, o PNR aprecia a pátria, “Os Lusíadas”, um Salazar por esquina ou
rotunda, a ordem, a disciplina, a regulação da economia e, corrijam-me se
estiver enganado, uma pureza racial (ou as “diferenças entre raças”) cujos
fundamentos me escapam. Não sei se o PNR aprecia “skinheads”. Suponho,
corrijam-me de novo, que os “skinheads” apreciam o PNR. Avaliação: para
saudosistas do progresso experimentado por volta de 1942.
Aliança. A mais recente birra, perdão, projecto de Santana
Lopes. Pretende
ser a alternativa ao PSD para quem julga, com abundante razão, que o PSD do dr. Rio
é uma
sucursal, em pousio, do PS.
Leio, a título informativo, que o “Aliança é um partido com causas muito
próprias que não se confundem com as de outros”. O engraçado é que não distingui
nenhuma. O Aliança afirma-se
“patriótico” e – fazia falta – de “centro”.
Não satisfeito, defende “os princípios, os valores e os costumes que
integram a identidade nacional e a sua história multissecular”. Detecto aqui um eventual remoque ao avanço
dos delírios do “politicamente correcto”. Não detecto que espécie de
“princípios, valores e costumes” da nossa “identidade” devemos preservar com
tamanho afinco. Avaliação: o João Gonçalves, das pessoas
mais lúcidas que conheço, meteu-se nisto, logo é capaz de haver algum mérito
menos óbvio.
Chega. O Chega ergueu-se (não muito) em redor de um
senhor que apoia o Benfica em programas televisivos. Para os benfiquistas, será programa suficiente, a que
acresce um “justicialismo” popular contra, talvez especificamente, ciganos,
beneficiários do rendimento mínimo, abortos e, creio, portistas. Não posso ir
longe na análise na medida em que o “site” do Chega não funciona e a página do
Facebook parece concebida na Bolívia. Avaliação: chega de internet, vejam a CMTV.
Democracia 21. Disseram-me que, formalmente, o D21 ainda não é um
partido. Isso não o impediu de se aliar ao Chega nas “europeias”, embora me
impeça de me alargar nos comentários. Deduzo que seja contra a ciganada, os
parasitas do RSI, as galdérias que abortam à balda e, quem sabe, os portistas.
Avaliação: consta que o D21 é feminista.
Partido Libertário. O Partido Libertário encontra-se em fase de
recolha de assinaturas para se constituir oficialmente como tal. Colaborem,
por favor: além de eu conhecer por lá gente decentíssima, possui um programa
em prol da liberdade com o qual, salvo pormenores, é humanamente impossível
discordar. Com sorte,
o PL cumprirá o seu destino e nunca chegará a oficializar-se. Avaliação: não se metam nisto.
Iniciativa Liberal. O Carlos Guimarães Pinto é um sujeito
brilhante numa terra repleta de “brilhantes” idiotas. E é o presidente da IL. E
tem quase sempre razão. E não está sozinho. Lamentavelmente, o IL enfiou-se
numa senda pela descentralização
que passa pela “valorização das
autarquias”, o que afronta os
princípios, valores e costumes da minha identidade pessoal. Avaliação: se,
entretanto, se lembrarem do magnífico
cadastro do “poder local” e agirem em conformidade, prometo votar na IL.
Estes são partidos de direita? Não
importa, visto que em Portugal a direita se define por ser tudo aquilo de que a
esquerda não gosta. Por mim, defino-me por não gostar de tudo aquilo o que a
esquerda é. Quanto à direita, tem dias. E tem direitas.
COMENTÁRIOS:
Ana Silva: Os eleitores
(distraídos e os outros) agradecem a análise da "direita" à
portuguesa. Com poucas palavras A.G. diz tudo. Esta semana, mais uma vez, temos
dois em um: o comentário do Cipião Numantino está um mimo.
Ahfan Neca: Lembrei-me
da anedota que se contava por alturas do PREC --"Então há por aqui muitos
comunistas?" --"Só dois ou três que são do PSD"
Cipião
Numantino: Hihihihih... o artigo do nosso Alberto fez-me lembrar
aquela do Zequinha, que instado a pronunciar-se se era de esquerda ou de direita,
confundiu tudo e pensando tratar-se de uma discussão da meninada se era melhor
esfolar o galho com a direita ou a esquerda, respondeu taxativamente à
professora que, ele, nem pugnava por uma nem por outra, pois já coisava há
muito tempo! Assim estou eu. E esta coisa da esquerda ou direita
tem dias. Se dá para querer receber algo identifico-me com a esquerda. Por sua
vez, se me obrigam a pagar seja o que for, desde logo me identifico com a
direita. Porque isto,
meus caros, é muito simples de explicar. A esquerda sempre tenta esmifrar o
que outros, muitas vezes com muito sacrifício e trabalho, vão afincadamente
amealhando. Já a direita, conhecendo de ginjeira a trogloditice dos marmanjões
esquerdosos, sabem que estão prestes a serem assaltados e, claro, entram em
parafuso e não há meio de não agarrarem com sofreguidão a carteira antes que
"legalmente" o depenem. Tais gestos têm para a esquerda uma semântica
e paleio deveras curioso, e não querendo admitir que vivem e sobrevivem pela e
para a inveja e pelo sistemático esbulho, chamam a tais manigâncias JUSTIÇA
SOCIAL.
Reparem
no eufemismo, justiça social!!! E ai de quem se revele indignado, pois
será desde logo apodado de "fascista", traidor, anti-patriota ou de
outros nomes que por mero decoro e com medo do corrector automático do
Observador, me esquivo por aqui a denunciar.
Em
suma, nestes hodiernos tempos, a assaltos pelo braço armado esquerdoso que se
convencionou chamar Fisco
e a esbulhos com taxas, taxinhas e taxonas, passou a esquerda a designar por
justiça social. O paradigma
é de tal maneira prolixo, que já nada nem ninguém escapa à rapace voracidade
dos esquerdosos que nem sequer sentem quaisquer pruridos mentais na adopção do
conceito, como aliás bem explicitou uma das papisas de uma das seitas em
questão, uma tal Mortadágua, afirmando que haveria que ir buscar o dinheiro
onde o há.
Nem
mais, e tal basófia blasfema teve ouvidos absolutamente em transe de aceitação
e conformismo, com sôfregas palmas embevecidas da plateia composta por membros e
prosélitos do Partido Xuxualista.
O que me leva desde logo a explicar que a graduação entre as várias esquerdas é
de mero pormenor. E tal como no islão entre sunitas e xiitas, se trata
afinal de uma mera diferença de interpretação dos textos sagrados e do respectivo
profeta. Mas ambas as correntes respeitam o essencial da
religião, exactamente como todas as correntes de esquerda aceitam e perfilham o
roubo institucionalizado. Que difiram nos métodos do esbulho, ou na subtileza
de propósitos, em nada rigorosamente altera o conceito. Sintetizando, depois de me assaltarem
a carteira, pouco me importará a mim, que me venham com umas larachas ou me
dêem uma simpática palmada nas costas. Roubo é roubo e, tudo o resto, é mera
conversa de ir ao pacote!...
Seguindo
as linhas orientativas do nosso estimado AG, passo a glosar também certos
partidos da direita. Quer dizer, chamar direita ao que por aqui temos, será
provavelmente a mesma coisa que dizer que o genro do Jerónimo é um especialista
a atarraxar lâmpadas ou o Mortadágua-pai, ajudou nos assaltos por mero
altruísmo e por sentido romantismo, como a filha Marianinha de Olhos Doces, o
afirmou numa entrevista aqui há uns largos tempos. Existem pessoas assim e, eu,
também tenho perenes certezas e uma delas é que o meu Sporting vai este ano ser
campeão!...Mas ala que se faz tarde:
PNR-
Não conheço ninguém da trupe. Mas pelo que tem sido dado à estampa, vejo pouca
diferença se os compararmos à Juventude Leonina, No Name Boys ou Dragões não
sei quê. No mínimo fico desconfiado e desde sempre achei que os extremos se
tocam.
ALIANÇA-
Passada a fase das discotecas e da prateleira dourada da Santa Casa, o nosso
bom do Santana Flopes, quis dar prova de vida. Existem pessoas assim, e
lembro-me de um bêbado que conheço que estou convencido que se emborracha
porque detesta que não reparem nele. Podia-lhe dar para pior ao Santana e seus
Santanetes, mas é o que temos.
CHEGA-
Ora aqui está um nome sugestivo. Mas nem sequer chego a perceber se a
designação se deverá a que se pretende insinuar se já chega de porrada, se
chega de malfeitorias de uns quantos gangues, se chega de sermos tão espoliados
ou mal tratados.Convenhamos que o início do papa da trupe é um pouco suspeito.
Começar nas discussões futeboleiras e acabar eventualmente em PM, será algo
assim como colocar uma raposa a explicar a etiqueta e bons modos num galinheiro
pleno de galinhas, mas quem sou eu para insinuar seja o que for?
DEMOCRACIA
21- Nunca ouvi falar. Mas se o Alberto diz que parece tratar-se de um partido
assim para o feminista pode trazer água no bico. Não tarda nada, estou por aí a
ler que o Zezé Camarinha, tratou de formar um partido opositor com um nome
mais que óbvio, ou seja, Democracia-69.
PARTIDO
LIBERTÁRIO- Também não
conheço. Mas quase me atreveria a dar-lhes um conselho. Juntava-se ao PCP, BE e
PNR e, assim, todos em união de facto, desgraçavam todos juntos o país se acham
que este já não está suficientemente desgraçado.
INICIATIVA
LIBERAL- Já li umas
coisitas (poucas) sobre a assunção deste partido. O nome é deveras atractivo,
mas pode muito bem tratar-se de muita parra e pouca uva. Seja como for tenho
duas breves notícias para lhe dar. A primeira é que seria óptimo que tivessem
sucesso. A segunda é que não irão a lado nenhum.
Tentar
convencer a tugalhada a perder a visão socializante de que todos podem viver à
custa de todos, nunca terá por aqui qualquer tipo de sucesso. Isto a menos
que prometam mais, bem mais, do que a malta esquerdosa, o que acho difícil pois
se até os reformados desta choldra se vendem ao Costa por 10 euritos de aumento
nas pensões! Assim, se nada têm para prometer, dediquem-se à pesca. Ou à caça
dos gambozinos de que certamente retirarão superior proveito. Nãã! O povoléu
tuga só lá vai mesmo com milongas ou metal sonante. No resto, só se for
obrigado, tal como aquele pai que ameaçava o filho que tinha que ser bombeiro
voluntário, nem que tivesse que o obrigar!...
Cristiano
Santos: A descentralização é do melhor que a IL
tem. O centralismo é uma doença crónica portuguesa.
Professor Pardal: Outra vez? Por
amor da santa, que raio escrevi de mal desta vez?
Carlos B: Pois, também
não entendo a "descentralização" do IL. Á parte isso, comungo das
ideias.
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