sábado, 16 de fevereiro de 2019

Esquerda, Direita, Volver!



Mas será que sim? Que existe Direita? Onde estão esses que nos deram a ilusão ainda de uma reviravolta, após as machadadas na pátria e o assalto desregrado aos lugares, assalto que, esse sim, não mais parou, como o tal rabo cortado do lagarto, ”que é rabo para aquém do lagarto remexidamente., única certeza que nos resta, a do “remexidamente”, extintas as convicções antigas, de que Alberto Gonçalves talvez também troce, afinal, homem moderno, evoluído e céptico, apenas acreditando em si. António Nobre soube incluir-se entre as indignidades do mundo - “o orgulho insuportável tal o meu” - mas, risonhamente, Alberto Gonçalves assume o seu pessimismo em relação ao mundo, com a superioridade altiva imparável – e impagável - da sua penetrante visão satírica. O certo é que a abundância de dados implica a recolha abundante de informação. Assim, os seus artigos traduzem, não só plenitude na graça, como seriedade informativa. O seu comentador, Cipião Numantino, ajuda na descodificação dos dados, por nós ignorados, embora peque, por vezes, numa argumentação por excesso.
As direitas a que Portugal tem direito /premium
OBSERVADOR, 16/2/2019
Visto que em Portugal a direita se define por ser tudo aquilo de que a esquerda não gosta, eu defino-me por não gostar de tudo aquilo o que a esquerda é. Quanto à direita, tem dias. E tem direitas.
Em centenas de crónicas, milhares de conversas e milhões de pensamentos (é verdade, penso imenso), julgo que nunca por uma vez me afirmei de direita. Sobretudo porque não sei bem o que a direita é. Definir a esquerda é fácil: vai da moderada, que saqueia os cidadãos para financiar clientelas, destrói quem resistir ao saque e no médio prazo arrasa a economia, à radical, que saqueia os cidadãos para financiar clientelas, destrói quem discordar do saque e no curto prazo arrasa a economia. Para compor o ramalhete, a esquerda acrescenta umas palavras meiguinhas, simpáticas e falsas como Judas.
A direita é uma confusão. Há a direita que se confunde com a esquerda moderada. Há a direita que se confunde com a esquerda radical. Há a direita que combate ambas pelos melhores motivos. Há a direita que combate ambas por motivos duvidosos. Há a direita que só é direita porque se diz direita. Há a direita que só é direita porque a dizem direita. Há a direita que teima não ser direita. Há a direita liberal-conservadora. Há a direita conservadora que não é liberal. Há a direita liberal que não é conservadora. Há direita nacionalista. Há a direita “europeísta”. Há a direita mundialista”. Há a direita autoritária. Há a direita moderna. Há, em suma, balbúrdia bastante para que unicamente os esquizofrénicos se sintam, assim sem mais, de direita.
A situação é global. Em Portugal, é fatalmente pior. O problema começou quando, durante as primeiras quatro décadas de democracia, a direita esteve representada por dois singelos partidos, nenhum, por acaso, assumidamente de direita. Isso não impedia – de facto obrigava – que recolhessem os votos das pessoas que se assumiam de direita, fosse de que direita fosse. E o problema não se resolveu agora, quando cada parcela da direita aparentemente decidiu arranjar o seu próprio partido, numa explosão de representatividade que urge explicar a benefício do eleitor distraído. Por azar, para explicar um fenómeno (ou meia dúzia deles) é aconselhável compreendê-lo antes. E eu não compreendi grande coisa.
O PNR. É certo que o PNR já existe há tempos. Dado que praticamente ninguém reparou, é o mesmo do que ter nascido ontem. Do pouco que sei, o PNR aprecia a pátria, “Os Lusíadas”, um Salazar por esquina ou rotunda, a ordem, a disciplina, a regulação da economia e, corrijam-me se estiver enganado, uma pureza racial (ou as “diferenças entre raças”) cujos fundamentos me escapam. Não sei se o PNR aprecia “skinheads”. Suponho, corrijam-me de novo, que os “skinheads” apreciam o PNR. Avaliação: para saudosistas do progresso experimentado por volta de 1942.
Aliança. A mais recente birra, perdão, projecto de Santana Lopes. Pretende ser a alternativa ao PSD para quem julga, com abundante razão, que o PSD do dr. Rio é uma sucursal, em pousio, do PS. Leio, a título informativo, que o “Aliança é um partido com causas muito próprias que não se confundem com as de outros”. O engraçado é que não distingui nenhuma. O Aliança afirma-se “patriótico” e – fazia falta – de “centro”. Não satisfeito, defende “os princípios, os valores e os costumes que integram a identidade nacional e a sua história multissecular”. Detecto aqui um eventual remoque ao avanço dos delírios do “politicamente correcto”. Não detecto que espécie de “princípios, valores e costumes” da nossa “identidade” devemos preservar com tamanho afinco. Avaliação: o João Gonçalves, das pessoas mais lúcidas que conheço, meteu-se nisto, logo é capaz de haver algum mérito menos óbvio.
Chega. O Chega ergueu-se (não muito) em redor de um senhor que apoia o Benfica em programas televisivos. Para os benfiquistas, será programa suficiente, a que acresce um “justicialismo” popular contra, talvez especificamente, ciganos, beneficiários do rendimento mínimo, abortos e, creio, portistas. Não posso ir longe na análise na medida em que o “site” do Chega não funciona e a página do Facebook parece concebida na Bolívia. Avaliação: chega de internet, vejam a CMTV.
Democracia 21. Disseram-me que, formalmente, o D21 ainda não é um partido. Isso não o impediu de se aliar ao Chega nas “europeias”, embora me impeça de me alargar nos comentários. Deduzo que seja contra a ciganada, os parasitas do RSI, as galdérias que abortam à balda e, quem sabe, os portistas. Avaliação: consta que o D21 é feminista.
Partido Libertário. O Partido Libertário encontra-se em fase de recolha de assinaturas para se constituir oficialmente como tal. Colaborem, por favor: além de eu conhecer por lá gente decentíssima, possui um programa em prol da liberdade com o qual, salvo pormenores, é humanamente impossível discordar. Com sorte, o PL cumprirá o seu destino e nunca chegará a oficializar-se. Avaliação: não se metam nisto.
Iniciativa Liberal. O Carlos Guimarães Pinto é um sujeito brilhante numa terra repleta de “brilhantes” idiotas. E é o presidente da IL. E tem quase sempre razão. E não está sozinho. Lamentavelmente, o IL enfiou-se numa senda pela descentralização que passa pela “valorização das autarquias”, o que afronta os princípios, valores e costumes da minha identidade pessoal. Avaliação: se, entretanto, se lembrarem do magnífico cadastro do “poder local” e agirem em conformidade, prometo votar na IL.
Estes são partidos de direita? Não importa, visto que em Portugal a direita se define por ser tudo aquilo de que a esquerda não gosta. Por mim, defino-me por não gostar de tudo aquilo o que a esquerda é. Quanto à direita, tem dias. E tem direitas.
COMENTÁRIOS:
Ana Silva: Os eleitores (distraídos e os outros) agradecem a análise da "direita" à portuguesa. Com poucas palavras A.G. diz tudo. Esta semana, mais uma vez, temos dois em um: o comentário do Cipião Numantino está um mimo. 
Ahfan Neca: Lembrei-me da anedota que se contava por alturas do PREC --"Então há por aqui muitos comunistas?" --"Só dois ou três que são do PSD"
Cipião Numantino: Hihihihih... o artigo do nosso Alberto fez-me lembrar aquela do Zequinha, que instado a pronunciar-se se era de esquerda ou de direita, confundiu tudo e pensando tratar-se de uma discussão da meninada se era melhor esfolar o galho com a direita ou a esquerda, respondeu taxativamente à professora que, ele, nem pugnava por uma nem por outra, pois já coisava há muito tempo! Assim estou eu. E esta coisa da esquerda ou direita tem dias. Se dá para querer receber algo identifico-me com a esquerda. Por sua vez, se me obrigam a pagar seja o que for, desde logo me identifico com a direita. Porque isto, meus caros, é muito simples de explicar. A esquerda sempre tenta esmifrar o que outros, muitas vezes com muito sacrifício e trabalho, vão afincadamente amealhando. Já a direita, conhecendo de ginjeira a trogloditice dos marmanjões esquerdosos, sabem que estão prestes a serem assaltados e, claro, entram em parafuso e não há meio de não agarrarem com sofreguidão a carteira antes que "legalmente" o depenem. Tais gestos têm para a esquerda uma semântica e paleio deveras curioso, e não querendo admitir que vivem e sobrevivem pela e para a inveja e pelo sistemático esbulho, chamam a tais manigâncias JUSTIÇA SOCIAL. 
Reparem no eufemismo, justiça social!!!  E ai de quem se revele indignado, pois será desde logo apodado de "fascista", traidor, anti-patriota ou de outros nomes que por mero decoro e com medo do corrector automático do Observador, me esquivo por aqui a denunciar.
Em suma, nestes hodiernos tempos, a assaltos pelo braço armado esquerdoso que se convencionou chamar Fisco e a esbulhos com taxas, taxinhas e taxonas, passou a esquerda a designar por justiça social. O paradigma é de tal maneira prolixo, que já nada nem ninguém escapa à rapace voracidade dos esquerdosos que nem sequer sentem quaisquer pruridos mentais na adopção do conceito, como aliás bem explicitou uma das papisas de uma das seitas em questão, uma tal Mortadágua, afirmando que haveria que ir buscar o dinheiro onde o há.
Nem mais, e tal basófia blasfema teve ouvidos absolutamente em transe de aceitação e conformismo, com sôfregas palmas embevecidas da plateia composta por membros e prosélitos do Partido Xuxualista. O que me leva desde logo a explicar que a graduação entre as várias esquerdas é de mero pormenor. E tal como no islão entre sunitas e xiitas, se trata afinal de uma mera diferença de interpretação dos textos sagrados e do respectivo profeta. Mas ambas as correntes respeitam o essencial da religião, exactamente como todas as correntes de esquerda aceitam e perfilham o roubo institucionalizado. Que difiram nos métodos do esbulho, ou na subtileza de propósitos, em nada rigorosamente altera o conceito. Sintetizando, depois de me assaltarem a carteira, pouco me importará a mim, que me venham com umas larachas ou me dêem uma simpática palmada nas costas. Roubo é roubo e, tudo o resto, é mera conversa de ir ao pacote!...
Seguindo as linhas orientativas do nosso estimado AG, passo a glosar também certos partidos da direita. Quer dizer, chamar direita ao que por aqui temos, será provavelmente a mesma coisa que dizer que o genro do Jerónimo é um especialista a atarraxar lâmpadas ou o Mortadágua-pai, ajudou nos assaltos por mero altruísmo e por sentido romantismo, como a filha Marianinha de Olhos Doces, o afirmou numa entrevista aqui há uns largos tempos. Existem pessoas assim e, eu, também tenho perenes certezas e uma delas é que o meu Sporting vai este ano ser campeão!...Mas ala que se faz tarde:
PNR- Não conheço ninguém da trupe. Mas pelo que tem sido dado à estampa, vejo pouca diferença se os compararmos à Juventude Leonina, No Name Boys ou Dragões não sei quê. No mínimo fico desconfiado e desde sempre achei que os extremos se tocam.
ALIANÇA- Passada a fase das discotecas e da prateleira dourada da Santa Casa, o nosso bom do Santana Flopes, quis dar prova de vida. Existem pessoas assim, e lembro-me de um bêbado que conheço que estou convencido que se emborracha porque detesta que não reparem nele. Podia-lhe dar para pior ao Santana e seus Santanetes, mas é o que temos.
CHEGA- Ora aqui está um nome sugestivo. Mas nem sequer chego a perceber se a designação se deverá a que se pretende insinuar se já chega de porrada, se chega de malfeitorias de uns quantos gangues, se chega de sermos tão espoliados ou mal tratados.Convenhamos que o início do papa da trupe é um pouco suspeito. Começar nas discussões futeboleiras e acabar eventualmente em PM, será algo assim como colocar uma raposa a explicar a etiqueta e bons modos num galinheiro pleno de galinhas, mas quem sou eu para insinuar seja o que for?
DEMOCRACIA 21- Nunca ouvi falar. Mas se o Alberto diz que parece tratar-se de um partido assim para o feminista pode trazer água no bico. Não tarda nada, estou por aí a ler que o Zezé Camarinha, tratou de formar um partido opositor com um nome mais que óbvio, ou seja, Democracia-69.
PARTIDO LIBERTÁRIO- Também não conheço. Mas quase me atreveria a dar-lhes um conselho. Juntava-se ao PCP, BE e PNR e, assim, todos em união de facto, desgraçavam todos juntos o país se acham que este já não está suficientemente desgraçado.
INICIATIVA LIBERAL- Já li umas coisitas (poucas) sobre a assunção deste partido. O nome é deveras atractivo, mas pode muito bem tratar-se de muita parra e pouca uva. Seja como for tenho duas breves notícias para lhe dar. A primeira é que seria óptimo que tivessem sucesso. A segunda é que não irão a lado nenhum.
Tentar convencer a tugalhada a perder a visão socializante de que todos podem viver à custa de todos, nunca terá por aqui qualquer tipo de sucesso. Isto a menos que prometam mais, bem mais, do que a malta esquerdosa, o que acho difícil pois se até os reformados desta choldra se vendem ao Costa por 10 euritos de aumento nas pensões! Assim, se nada têm para prometer, dediquem-se à pesca. Ou à caça dos gambozinos de que certamente retirarão superior proveito. Nãã! O povoléu tuga só lá vai mesmo com milongas ou metal sonante. No resto, só se for obrigado, tal como aquele pai que ameaçava o filho que tinha que ser bombeiro voluntário, nem que tivesse que o  obrigar!...
Cristiano Santos: A descentralização é do melhor que a IL tem. O centralismo é uma doença crónica portuguesa.
Professor Pardal: Outra vez? Por amor da santa, que raio escrevi de mal desta vez?
Carlos B: Pois, também não entendo a "descentralização" do IL. Á parte isso, comungo das ideias.


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