Mais um artigo revelador
de quanto João Miguel Tavares é sábio e
conhecedor
das fraquezas dos homens,
- tomado o termo “homens” na sua
dimensão de globalidade
como antigamente
e não de especificidade como hoje é
frequente,
importunados que somos com a exigência
de transparência
nas designações,
falando-se de sexo só para as certas
ocasiões
da meladice prazeirosa,
pois que o que está a dar agora
na nossa horta,
é o género, como se convencionou,
e dentro do respeito por tudo quanto
mexe.
Distingamos, pois, a fêmea do macho
- e eu diria que mesmo do neutro,
que tem o mesmo direito, embora
nunca tal fosse posto em dúvida na nossa
cidade.
Quando falo, pois, em Homens, é mesmo
segundo o modelo abrangente
de antigamente
envolvendo toda a gente,
- ou seja, a humanidade.
Assim, João Miguel Tavares, com muita
clareza,
Desdenha da tibieza do Paulo Rangel
Que ainda se não desligou dos complexos
que logo surgiram aquando dos Cravos
em que mais ou menos todos
se solidarizaram
a desfazer no antigamente,
para poderem seguir em frente.
Mas João Miguel Tavares lá vai
ziguezagueando
entre a esquerda e a direita,
democraticamente,
contornando os impasses,
a mim essencialmente parecendo
um homem com bastante pinta,
nas suas lições de coragem
e fervor,
com que assume princípios
de rectidão
na sua escrita dramática,
quer os seus comentadores o apreciam ou
não.
Quanto a Paulo Rangel,
Parece-me que também ziguezagueia,
Mas tudo isso é natural
E não deixo de gostar dele.
OPINIÃO
Olha, o Paulo Rangel também não é de direita
Eu gosto de Paulo Rangel e há boas
probabilidades de vir a votar PSD nas próximas europeias. Mas continuar com
vergonha da palavra “direita” 45 anos depois do 25 de Abril tira-me do sério.
JOÃO MIGUEL
TAVARES
PÚBLICO, 19 de Fevereiro de 2019,
A
sério, isto começa a ser ridículo: a quantidade de gente que pertence ao PSD
que faz questão de dizer que não é de direita é totalmente absurda, e mostra
bem o desequilíbrio do sistema político português e o complexo salazarista que
ainda paira na cabeça da direita-que-não-o-é. Desta vez a negação coube a Paulo
Rangel, cabeça de lista do PSD às eleições europeias. Vinha na primeira página
do Expresso: “Nunca disse que era de
direita.” Lá dentro, as explicações: “Posso garantir que nunca disse que era de
direita, mas do centro ou centro-direita. E com posições sociais muito fortes,
muitas vezes a chegar ao centro-esquerda em algumas matérias.”
Não
há pachorra. Nem sequer faltou a Rangel explicar que isto da esquerda e da
direita são só “rótulos” e que “os cidadãos querem é respostas para os seus
problemas” – sempre a forma cobardolas de nunca assumir uma identidade
ideológica, que isto das ideologias, como diria o doutor Salazar, só serve para
criar confusão. Atenção: eu gosto de Paulo Rangel e há boas probabilidades de
vir a votar PSD nas próximas europeias (o que dificilmente acontecerá nas
legislativas). Mas continuar com vergonha da palavra “direita” 45 anos depois
do 25 de Abril tira-me do sério.
A
ver se nos entendemos. A não ser que sejamos de extrema-direita (tipo PNR) ou
de extrema-esquerda (tipo PCP), é verdade que ser de direita ou de esquerda
pode variar consoante a época e o lugar. Por exemplo, hoje em dia, nos
Estados Unidos da América, eu seria sempre um democrata. Donde, se
escrevesse no New York Times,
assumir-me-ia como uma pessoa de esquerda. Da mesma forma, se vivesse no tempo
do Estado Novo, o salazarismo paternalista e censório ser-me-ia certamente
insuportável, e, portanto, de esquerda seria.
Esquerda
e direita dependem do contexto, tanta na relação entre os valores da igualdade
e da liberdade, como na relação entre os pesos do Estado e da sociedade civil. Para voltar ao exemplo americano: como certamente se
recordará quem viu o filme de Michael Moore sobre o sistema de saúde dos EUA, não é aceitável viver num país
supostamente civilizado onde um homem que perdeu dois dedos numa serra
eléctrica é obrigado a escolher se fica com um ou com o outro, porque o seu
seguro de saúde não lhe permite salvar os dois dedos em simultâneo. Em
2010, eu estaria entusiasmadamente ao lado do Obamacare, porque o sistema de
saúde americano deixava dezenas de milhões de pessoas sem qualquer protecção.
Mais Estado ou menos Estado varia, de facto, de país para país. Às vezes é
preciso mais, outras vezes é preciso menos – depende do lugar onde vivemos.
Tanto
eu, como Paulo Rangel, vivemos em Portugal, no ano de 2019. Enfim: Rangel
também vive em Bruxelas, mas na Europa continental as coisas não são assim tão
diferentes. Quando dizemos que somos de direita ou de esquerda estamos a
falar de um espaço e tempo concretos, e nesse contexto essas categorias
tradicionais têm, de facto, um valor operativo e ajudam à clarificação
política. Dizer que se é de esquerda ou de direita serve para que as pessoas
saibam onde estamos e ao que vimos. Quando me declaro de direita estou
apenas a resumir numa palavra estas convicções: que a liberdade, no Portugal de
hoje, deve ser favorecida face à igualdade, e que o peso da sociedade civil
precisa crescer face ao peso do Estado. É só isto, é bastante simples, e penso
que Paulo Rangel acredita no mesmo – só não percebo por que raio lhe custa
tanto admiti-lo.
COMENTÁRIOS
Luis Morgado, Lisboa: Por acaso acredito que João Miguel Tavares seria dos
poucos jornalistas que por aí andam com coragem para afrontar a ditadura.
Recorde-se a coragem dele quando era quase o único a falar dos desmandos de
Sócrates, numa altura em que todos os outros se calaram durante tanto tempo.
mário borges: Atente-se nas seguintes frases de JMT: "como diria
o doutor Salazar" e "se vivesse no tempo do Estado Novo, o
salazarismo paternalista e censório ser-me-ia certamente insuportável"
Reparem na reverência: "Doutor Salazar"!!! Como toda a gente sabe só
simpatizantes da ditadura usam tal designação. E depois a pérola escondida à
vista: "ser-me-ia certamente insuportável..." Ser-lhe-ia...
Hipoteticamente, talvez, não sabe bem, depende tal como ele diz do contexto
dessa mesma ditadura. Para quem ainda tinha dúvidas... Era muito mais útil se
em vez de andar a pedir que o Paulo Rangel saia do armário, saísse sim o JMT e
se assumisse de vez de direita radical.
PdellaF, Terra .: Na direita,
na tradição política pós 1789, situam-se os conservadores e, na sua extrema, os
reaccionários. Quem é reaccionário? Os salazaristas, os nazis, etc.. Mas também
os estalinistas do PCP, que são da reversão de tudo. Na direita moderada
estarão os democrata-cristãos, amáveis conservadores. Ao centro, o PSD, que nem
para um lado, nem pelo outro, antes pelo contrário. O PS é a mexicanização do
país, é o Partido Institucional Revolucionário cá do rectângulo, à direita,
quando governa, à esquerda, quando discursa. Temos o BE, que em termos
económicos está entre o reaccionarismo populista da direita neomarxista; já em
termos de costumes é muito à frente e, portanto, extrema-esquerda. À esquerda
estão os verdadeiros liberais, cuja ideologia é a grande ruptura
esquerdista/revolucionária.
Joao Mamede: Tem de ser de direita pq o PSD faz parte do PPE e não
da ALDE como já o foi. O PSD já foi de centro e social democrata. Desde o
Barroso que é um partido popular (tal como o assume fazendo parte do PPE). E é
por isso que não tem levado o meu voto.
AndradeQB, Porto: Noblesse
oblige, meu caro. Não se pode ser candidato a representar a maioria dos
portugueses, apresentando-se alheio ao sentir que lhes vai na alma. Um sentir
que se baseia numa curiosa compaixão esquerdista. Uma compaixão, não para dar
resposta com o que é seu, mas para satisfazer à custa de outros. Um sentir
esquerdista como o que os leva a criticar Guantánamo, mas no primeiro momento
em que Trump perguntou o que querem fazer aos seus 800 terroristas presos na
Síria, nenhum os quer alojar no andar de baixo. A Paulo Rangel já lhe chega o
que os outros pensam dele, não é de esperar que cave a sua própria cova
afirmando-se de direita. Abre Núncio, Satanás … de direita nunca. Todos temos
um coração de pomba que só é ultrapassado em bondade por Maduro.
Nuno Silva: Ser de
esquerda ou direita não são simples rótulos, como querem hoje a extrema-direita
(neoliberal pré-fascista, e a fascista) impingir às pessoas, como se não
houvessem alternativas. E não varia consoante a época e o lugar. Pode sim
variar ao longo da vida, e isso é normal. Nem acho que o PCP (ou o Bloco) são
de extrema-esquerda, porque se repararem, são quem mais defende na prática
ideais sociais-democrátas de centro-esquerda. E além disso são democráticos e
defendem os Direitos Humanos. Mas ser de direita não é vergonha. É um ideal
como outro qualquer (desde que democrata e humanista), porque no fundo ser de
direita é ser realmente "livre", independente do meio, individualista
e sem necessitar do estado para o seu próprio nascimento, na doença, no desemprego,
na velhice, etc...
JDF, Portugal: Bem, nuno, se
são essas as suas conclusões, então força, que estamos num país livre. Agora a
história de extrema direita ser obrigatoriamente o mal encarnado, e extrema
esquerda, tão pacifica que quase parece de centro, é que é boa.... E velha...
Já avançávamos um pouco mais o raciocínio...
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