segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Uma temática só aparentemente variada



De facto, tudo se reduz a uma nossa conhecida tendência de “Gira o disco e toca o mesmo”, ou de “muito barulho para nada”, nestas golfadas de… assinaturas, de aparente renovação política, que refere João Miguel Tavares, e que não passa de um ensaio geral de uma peça de teatro só aparentemente outra, pois há muito assistida, em toda a balbúrdia dos tempos que passaram, surgindo sempre como gesto de nobreza, e não passando de mais uma arremetida para o “osso”, afinal, como cisão para futura promoção apenas, sob a aparência de virtuosas entranhas de cumplicidade solidária com a vila morena…
OPINIÃO: O Berloque de Esquerda
Nos próximos meses, manter António Costa à distância certa vai ser uma tarefa árdua. Bloco ou Berloque, eis a questão.
JOÃO MIGUEL TAVARES           PÚBLICO, 16 de Fevereiro de 2019
Há tempos, um dos meus filhos estava a tentar comentar uma notícia do Telejornal e enganou-se a pronunciar o nome do Bloco de Esquerda – chamou-lhe “Berloque de Esquerda”. A expressão é óptima, e fiquei encantado com o talento involuntário do miúdo para a política, capaz de transformar o tropeção numa palavra numa magnífica análise do panorama partidário português em 2019. Afinal, o que tem sido o período 2015-2019 se não a lenta transformação do incisivo Bloco de Esquerda no decorativo Berloque de Esquerda, como a violenta carta de saída de 26 militantes desiludidos (incluindo Sérgio Vitorino e dois manos de Francisco Louçã) vem agora tão bem demonstrar?
E sabem o que é mais interessante naquela carta? É que é tudo verdade, enquanto denúncia de uma cisão ontológica entre aquilo que o Bloco é e aquilo que ele diz ser. Uma e outra coisa nunca coincidem na perfeição, nem em partidos, nem em pessoas, mas no caso do Berloque de Esquerda a distância começa a ser demasiado grande, e nem todos os militantes têm a elasticidade necessária para tão exigente espargata. É o caso dos 26 signatários da carta, que finalmente se deram conta de que o partido revolucionário e radical em que eles militavam sucumbiu à influência moderadora do PS e ao desejo (perfeitamente legítimo e saudável, sublinhe-se) de ocupar um lugar no governo da nação.
Como é óbvio, para concretizar esse desejo de poder é preciso fazer compromissos, e os verdadeiros radicais não fazem compromissos. Por isso, os 26 signatários afirmam a necessidade “da clarificação política entre uma esquerda com um projecto radical para a sociedade e outra paliativa em que o resultado da sua acção é a integração no sistema que deveria combater”. Denunciam “o caminho de institucionalização dos últimos anos” que obrigaram o partido ao “tacticismo de decisões” e ao “jogo da comunicação na sua forma burguesa”. Um tacticismo que tem naturalmente levado o Bloco a “abdicar de posições claras”, com destaque para “a questão da renegociação da dívida externa, que era central e incontornável com o governo anterior”, e que agora foi “transformada em mero pormenor retórico que não perturba o apoio a um governo que perpetua a austeridade”. Tudo isto é verdade e já foi dito muitas vezes pela direita – tem muito mais graça quando é confirmado pela esquerda.
É particularmente divertido ver ex-militantes do Bloco acusarem o partido de varrer “o projecto revolucionário para debaixo do tapete, numa tentativa de ganhar respeitabilidade”, e não lhe perdoarem a adopção de um “conformismo fatalista que transforma o capitalismo no único sistema possível e a sua alternativa socialista em utopia alucinada”. A carta – que, de resto, é consequência natural de uma moção apresentada no último congresso, intitulada “Um Bloco que não se encosta” – mostra basicamente que o Bloco se encostou. Ou seja, que o Bloco de Esquerda se transformou, para grande infelicidade destes militantes, no Berloque de Esquerda. Um berloque que eles não querem usar.
A médio prazo, esta atitude pode ter uma consequência curiosa: o aparecimento de novas formações de esquerda radical, em mais uma fragmentação do espectro partidário português, só que agora na ponta oposta. Ainda que por enquanto seja apenas uma hipótese teórica, ela pode ser suficientemente forte para marcar a estratégia dos partidos à esquerda do PS. Nos próximos meses, manter António Costa à distância certa vai ser uma tarefa árdua. Bloco ou Berloque, eis a questão.
COMENTÁRIOS
luis.duarte109, 16.02.201: Esquerda caviar, quer ser revolucionária mas apoia o capitalismo com extrema austeridade para poder ter cargos de governo, tanto falaram do Syriza que era um modelo da esquerda revolucionária e agora nem uma palavrinha, vejam bem onde os gregos revolucionários andam...
Mario Coimbra, 16.02.2019 É o caminho da Catarina e afins. Já o Rosas, mesmo o João Semedo, tinham esta vontade de ser poder e assim participar na transformação da sociedade. Mas é a sociedade que está a tranformar o Bloco.
João Coutinho Lima, Arraiolos 16.02.2019 : São os queques da esquerda, ou como eram apelidados nos anos 70, os "friques", ou os Yupies do Seculo XXI!!! Tudo gente de boas familias....

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