quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Será que são só 5%?


Uma homenagem merecida, uma preocupação em termos da nossa qualidade escolar, nos textos que seguem – de Salles da Fonseca e de Alexandre Homem Cristo, que os seus comentadores corroboram.
FIGURAS RELEVANTES D. ANTÓNIO ALVES MARTINS
 HENRIQUE SALLES DA FONSECA                A BEM DA NAÇÃO  13.02.19
 (1808, Alijó - 1882, Viseu)
«A religião deve ser como o sal na comida: nem muito nem pouco, só o preciso» - inscrição na estátua que lhe foi erigida em Viseu.
António Alves Martins, O.F.M.[1], foi Bispo de Viseu desde Julho de 1862 até à sua morte em 1882.
Entrou para a Ordem de São Francisco aos dezasseis anos indo pouco depois para a Universidade de Coimbra donde foi expulso por ter sido acusado de participar na Revolução Liberal do Porto que se dera a 16 de Maio de 1828.
Como dirigente liberal, foi condenado à morte pelos miguelistas mas conseguiu sempre escapar. Após a rendição dos miguelistas na Convenção de Évora Monte, foi eleito deputado em 1842. 
Em 1852 foi professor universitário e em 1861 foi nomeado enfermeiro-mor do Hospital de São José, funções que suspendeu por ter sido nomeado Bispo de Viseu em 1862.
Assume-se dirigente do Partido Reformista em 1868 e foi aclamado Ministro do Reino nesse ano e, posteriormente, em 1870.
Após o desempenho das funções governativas, regressou a Viseu onde viria a falecer em 1882.
É o patrono da Escola Secundária Alves Martins, em Viseu.
Resumo biográfico:
Bispo de Viseu: 1862 – 1882. Ministro e Secretário de Estado do Reino: 1868 — 1869 (XXIX Governo da Monarquia Constitucional). Secretário de Estado da Justiça: 1868 (XXIX Governo da Monarquia Constitucional). Ministro e Secretário de Estado do Reino: 1870 — 1871 (XXXII Governo da Monarquia Constitucional). Ministro e Secretário de Estado da Instrução Pública: 1870 (XXXI e XXXII Governos da Monarquia Constitucional)
* * *
E, apesar dos esforços deste e de outros Ministros da Instrução Pública, chegámos à República com cerca de 90% de analfabetos adultos. Descontando os membros do Clero que presumo serem já então todos alfabetizados e alguns militares que saberiam ler, escrever e contar, a taxa de analfabetismo rondaria a quase totalidade da «sociedade civil».
Como era possível sermos um país minimamente esclarecido?
E as estatísticas continuam a dizer-nos que chegámos ao 25 de Abril de 1974 com uma taxa de 25% de analfabetos adultos e que no último recenseamento geral da população (2011), essa taxa ainda era de uns miseráveis 5%.
Como terá D. António encontrado a instrução pública quando assumiu a pasta? Terá tido tempo para fazer alguma coisa no escasso ano que lá esteve? De uma coisa tenho a certeza: o cenário que encontrou foi certamente desolador. Creio que não tenha conseguido fazer nada de muito relevante por evidente falta de tempo e por certo que o cenário que deixou não terá sido muito diferente daquele que recebeu.
Apesar de tudo, foi homem desempoeirado e por isso o homenageio nestas linhas.
BIBLIOGRAFIA: - Wikipédia
 [1] Ordem dos Frades Menores, ou seja, franciscano
Acabar com os exames do 9º ano? Mais um erro /premium
ALEXANDRE HOMEM CRISTO           OBSERVADOR, 11/2/2019
A forma como o BE propõe alterações ao sistema educativo é irresponsável e movida por uma visão ideológica que não encontra adesão nas evidências internacionais. É uma ameaça às políticas públicas.
Em debate parlamentar, o BE anunciou a sua intenção de extinguir os exames nacionais do 9.º ano – que qualifica de “anacronismo”. Poder-se-ia ignorar a ligeireza com que o BE “pensa” a educação, neste episódio associando erradamente os exames nacionais à retenção e exclusão social. Contudo, nos últimos anos, ficou provado que ignorar certos devaneios do BE não é um luxo a que nos possamos dar. Porque, fazendo parte da geringonça, o BE já evidenciou o seu poder de influência, por vezes até em confronto com a posição inicial do governo – como aconteceu na redução do valor máximo das propinas, que por pressão do BE passou de não-assunto a facto consumado. E porque, vale a pena lembrar, a extinção das provas finais do 4.º ano aconteceu por iniciativa legislativa do BE, aprovada com efeitos imediatos na primeira manhã de vida do actual governo e da geringonça – deixando um vazio na avaliação externa e lançando o caos em pleno ano lectivo 2015/2016. Portanto, há que levar a ameaça do BE a sério. E, como tal, importa desde já explicar o porquê de a sua iniciativa ser um erro.
Primeiro, é falacioso associar a existência de exames nacionais com aumentos da retenção escolar. Infelizmente, a retenção em Portugal sempre foi muito elevada, com ou sem exames nacionais nos correspondentes ciclos do ensino básico. Felizmente, até tem melhorado nos últimos 10 anos. Por exemplo, no 3.º ciclo do ensino básico (que é o que aqui está em causa), a taxa de reprovação evoluiu muito positivamente, sempre com exames nacionais: era de 18,4% em 2006/2007 e de 8,5% em 2016/2017. Ora, o problema da retenção tem outra raiz: existe uma extensa literatura, incluindo uma importante recomendação (2015) do Conselho Nacional de Educação (CNE), que aponta para a existência de uma “cultura de retenção” nas escolas portuguesas – que importa sem dúvida contrariar mas que é independente da existência de exames nacionais. Aliás, em parecer recente sobre a avaliação externa (2016), o CNE apontou explicitamente à manutenção dos exames no 9.º ano.
Segundo, é falso que os exames sejam um factor específico de ansiedade nos alunos. A OCDE, de resto, até já dedicou atenção ao assunto, procurando perceber se demasiada avaliação afecta o desempenho e o bem-estar dos alunos. As respostas a que chegou, baseadas na extensa base de dados do PISA 2015, são esclarecedoras. Para começar, é ilusória a percepção de que existem muitas avaliações externas e/ou padronizadas – são pouco usadas pelas escolas e, no caso português, neste momento os exames do 9.º ano são os únicos exames que os alunos fazem no seu percurso do ensino básico. Depois, a ansiedade causada pela avaliação existe de facto, mas tem que ver com a realização dos testes normais e com o receio de ter más notas – segundo a OCDE, 59% dos alunos dizem-se preocupados antes da realização de testes, 66% receiam obter más notas e 55% ficam nervosos com os testes mesmo quando se sentem bem preparados. Por fim, nem a ansiedade nem os desempenhos dos alunos parecem estar relacionados com a frequência das avaliações – ou seja, menos exames ou testes não reduzirá a ansiedade, porque esta existirá sempre que houver algum tipo de avaliação em sala-de-aula.
Terceiro, se olharmos para o contexto internacional, é comum a existência de exames ao nível do 3.º ciclo. Sim, alguns países optam por provas de aferição – isto é, provas que servem apenas para monitorização do sistema e que não têm influência na progressão dos alunos. Mas são muitos os que têm exames nacionais: de acordo com dados de 2015 da OCDE, aqui recuperados pelo CNE, para além de Portugal, é assim na Bélgica, Dinamarca, Estónia, França, Alemanha, Irlanda, Holanda, Polónia e Noruega. E, acrescente-se, em Portugal apenas se avaliam duas disciplinas (português e matemática), opção minoritária visto que nos restantes países são cobertas mais disciplinas (por vezes, 5 ou mais). Ou seja, no contexto europeu, nada no caso português evidencia algum tipo de excesso nas avaliações.
Quarto, a monitorização do desempenho dos alunos em avaliações externas, como exames nacionais, é fundamental para orientar as políticas públicas. São essas avaliações que indicam a evolução dos alunos, que diagnosticam problemas a corrigir no sistema educativo, que permitem compreender o impacto de reformas e medidas políticas – por exemplo, alterações no currículo nacional. É graças às avaliações externas que hoje temos dados e investigação em Portugal que nos ajuda a perceber o que funciona e o que não funciona. Pôr em causa esta importante ferramenta é, portanto, muito mais grave do que um mero erro político: é colocar o sistema educativo a navegar às escuras, sem se poder guiar por evidências e sujeito apenas à força da influência dos agentes políticos, que tentam impor o seu enviesamento.
Muitas outras evidências existem para sublinhar o papel importante das avaliações externas num sistema educativo – por exemplo, nos domínios do incentivo à aprendizagem ou da prestação de contas das escolas. Mas o ponto fundamental aqui é mesmo político: a forma como o BE propõe alterações estruturais ao sistema educativo é irreflectida, irresponsável e movida por uma visão ideológica que não encontra adesão nas evidências internacionais. Até há uns anos, isso era uma mera curiosidade do debate parlamentar. Agora, é uma ameaça séria às políticas públicas.
COMENTÁRIOS
maria perry: É incrível o mal que o BE está a fazer ao futuro dos jovens das classes mais desfavorecidas. Vão continuando a passar de ano até esbarrarem contra a parede. As crianças iludem-se a pensar que a vida é fácil e no fim não conseguem tirar nenhum curso de jeito. Vão ser escravos toda a vida em call centers, etc. 
Ze do Kaneco Kaneco > maria perry: Provavelmente nem sequer nos call centers terão emprego. Mas os exames do 9 º ano são mais para fazer de conta do que para avaliar realmente os conhecimentos dos alunos, aliás como já acontece em quase todo o ensino básico e secundário. Hoje um aluno completa o 12º ano sem sequer saber distinguir unidades de pressão das de força no sistema SI e quando se trata de conversão de unidades de grandezas físicas é um desastre. Numa aula (12º ano )existia um problema que consistia em fazer um programa em C para fazer conversão entre psi, bar e pascal. Primeiro foi necessário fazer uma explicação de que unidades físicas se tratava e sua relaçao. Isto explica muita coisa. E quando uma professora primária nao sabe ensinar aos alunos da 4ª classe como calcular um volume de um recipiente tronco cónico e outro do 9º ano também nao sabe, que mais a dizer?
Maria Emília Santos Santos: A única forma de as pessoas serem livres, é estudando! Quem não quer pessoas instruídas é porque não é amigo! 
4Responder
Ze do Kaneco Kaneco > Maria Emília Santos Santos: Mas isso era antigamente quando se tinha de estudar muito e mesmo assim não chegava para passar! Hoje a rapaziada já sabe tudo, para quê estudar? 
Boaventura Marrafa: Só falta os políticos "irresponsáveis" proporem a não obrigatoriedade de avaliações e no final dos anos, dar  o diploma de Dr. ou de Eng.º, de forma transversal.  
Mais, esta é a minha opinião desde que tive de acompanhar as minhas filhas nos estabelecimentos de ensino, os políticos deram cabo do sistema.
Vejamos quantos se intitulam de Dr(s) e Eng(s) sem terem estudado para obter essa distinção. 
Paulo Reis > Boaventura Marrafa: Os diplomas de Dr ou Eng já foram dados, mas por enquanto só aos politicos.
ProtoTypical: E a cereja no topo do bolo tem sido congeminada entre portas: a reducao da idade do voto para 16 anos. Eu disse que esta gente so aprende com porrada.
Joaquim Zacarias: Estas propostas do Bloco, devem surgir entre dois charros.
Jose António: Estamos a ser conduzidos para o período do prec, onde os exames eram administrativos. Muitos ainda hoje exercem funções de chefia conseguindo os seus cursos  por passagem administrativa
Ze do Kaneco Kaneco > Jose António: Como eu o sei e assisti nesses tempos de rebaldaria que foi o ensino. Nesse período foram os Agentes Técnicos a conseguirem passar para Engºs Técnicos, os Regentes Agrícolas ( curso equivalente ao 5º ano dos liceus), os filhos dos lavradores que não tinham aptidão para estudar no liceu nem no ensino superior,  a passarem a bacharéis e a chamarem-se também Eng.os Técnicos Agrários. Enfim foi um fartote: sanearam-se os melhores professores na universidade, a maioria oportunista passava de ano por via administrativa ou por apto e não apto. Ainda lembro que um dia fui com um amigo ao ISCEF ( hoje ISEG) que se tinha matriculado no 1º ano de economia mas nunca mais frequentou, foi à secretaria e disseram-lhe que já estava no 4º ano do curso. Nunca me lembro de tanta vigarice e oportunismo. Muitos com cursos tirados á balda, inscreveram-se nos partidos em 1974/5 e andam por aí ocupando altos cargos. Na portaria da empresa em Alverca, onde trabalhava, aparecem um dia uns rapazinhos com umas boinas à Guevara a distribuir panfletos do MRPP e entre eles estava o Durão Barroso, o grande dirigente da classe Operária. A única coisa boa do 25 Abril foi o fim da guerra colonial, tudo o resto é oportunismo, vigarice e sacar o máximo que se possa da forma mais fácil.
António Sennfelt: Quanto mais estúpidos e ignorantes houver, melhor para o BE! 
Paulo Reis >António Sennfelt: Melhor para este regime "democrático", que de democracia nada tem. Socialistas corruptos há aos montes, mas agora até os "imaculados" comunistas também são apanhados nas teias dos interesses.
Vitor Santos: se todos os alunos passarem sem exames prova que qualquer um pode ser professor, tenha qualidade ou não.

Nenhum comentário: