sábado, 16 de fevereiro de 2019

Revendo o “… passado em Marienbad”



Foi um filme que vi em tempos, na televisão, e me causou muita impressão, a impressão de sonho pela beleza, de pesadelo pela irrealidade. Chamou-se – chamou-lhe Alain Resnais –“O ano passado em Marienbad”, um filme da Nouvelle Vague francesa. Lembrei-me deste nome, não pela analogia de momentos – embora muito do que se viva hoje tenha foros de irrealidade (como em todos os tempos os houve, aliás) – nem pela desconstrução, (em relação ao cinema de função comercial, visando interesses culturais mais votados a sentimentalismo, ou divertimento ou informação), o nome “Marienbad” apenas funcionando no seu simbolismo, não impregnado de mistério e poeticidade, como no filme, mas no seu som estranho, (embora constitua uma tradução alemã de uma cidade checa, leio na Internet), adaptável a qualquer destes tempos de tantas estranhezas.

Entre os comentários de apreço que recebeu o texto de Salles da Fonseca, aqui colocado em 14.02.2019, - «DA INFINITA BONDADE DE ALÁ» - apreço pela sua clareza e simplicidade no recontar da história que todos vivemos, sobretudo através dos media, um deles se distinguiu pela precisão argumentativa. Foi o de Adriano Lima, que transcrevo, pela lição de história contemporânea que vivemos, em torno de religiões, muito responsáveis pelos males do mundo, incluindo a católica – que o foi não só na questão dos ratos medievais causadores da peste bubónica (que a morte dos gatos pactuantes com o demónio, segundo o preceito católico, fez proliferar, extintos os seus caçadores), mas também na questão dos “ratos” contemporâneos, pestes no poder de tirar a vida em gratuito espectáculo impune, como se fez, aliás, nos autos-de-fé de outrora.
Os meios mediáticos são, de resto bem responsáveis pelo alastrar da insensibilidade, com os filmes de violência que promovem, para públicos gradualmente mais jovens, impregnando os espíritos das crianças, paulatinamente, de convicção de realidade aquilo que é ficção, todo um mundo de proliferação mediática assassinando ocultamente e cada vez mais cedo o bom senso e os valores da racionalidade e da ética.
Mas o comentário de Adriano Lima despertou-me também o desejo de rever, na Internet, a lição sobre a tal Primavera Árabe causadora de tanta violência, em nome de radicalismos religiosos, que o Ocidente, e sobretudo os Americanos, se esforçaram por contrariar, não sei se só por via da religião a combater, ou também por outros motivos de domínio. E a Internet serviu-me de meio de consulta e nisso lhe reconheço a dimensão da eficácia.
I – COMENTÁRIO ao texto “DA INFINITA BONDADE DE ALÁ


Por: Adriano Lima
«Excelente, excelente! Eu não podia estar mais de acordo. Mas então temos de, mais uma vez, atribuir às culpas ao Ocidente por amiúde não acertar com a visão correcta da realidade. Como foi possível ao Obama e à Hillary Clinton acreditarem nessa tolice da Primavera Árabe e assim ajudarem a abrir caminho ao caos? 
O problema de fundo tem a ver com a existência de religiões, e nenhuma escapará à sentença que interiorizo. Nem mesmo a Católica. Por exemplo, e como sabemos, a peste bubónica, também conhecida como peste negra, é provocada por um micróbio que se desenvolve na pulga do rato, transmitido ao ser humano por picada que o injecta no sangue da vítima. Ela atacou a Europa em 1346 matando cerca de metade da população, desconhecendo-se, na altura, a causa da doença, que só viria a ser identificada cerca de cinco séculos mais tarde. Veio então a saber-se que o que a desencadeou foi um preconceito religioso que levou à liquidação de gatos, suspeitos de ligação diabólica, o que levou à proliferação descontrolada de ratos. 
É claro que a Igreja Católica evoluiu e o Islamismo não. Mas, cuidado, em matéria de fundamentalismo tem de olhar-se para o fenómeno na sua mais ampla latitude temporal. Não se pode desligar a actualidade do curso das incidências do passado. Não se pode esquecer que as guerras mais mortíferas do planeta foram protagonizadas por cristãos.

II - Primavera Árabe
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Primavera Árabe como é conhecida mundialmente, foi uma onda revolucionária de manifestações e protestos que ocorreram no Oriente Médio e no Norte da África a partir de 18 de Dezembro de 2010. Houve revoluções na Tunísia e no Egipto, uma guerra civil na Líbia e na Síria; também ocorreram grandes protestos na Argélia, Bahrein, Djibuti, Iraque, Jordânia, Omã e Iémen e protestos menores no Kuwait, Líbano, Mauritânia, Marrocos, Arábia Saudita, Sudão e Saara Ocidental. Os protestos compartilharam técnicas de resistência civil em campanhas sustentadas envolvendo greves, manifestações, passeatas e comícios, bem como o uso das mídias sociais, como Facebook, Twitterm e YouTube, para organizar, comunicar e sensibilizar a população e a comunidade internacional em face de tentativas de repressão e censura na Internet por partes dos Estados.

Zine El Abidine Ben Ali, o primeiro chefe de estado a ser deposto, em janeiro de 2011.

As redes sociais desempenharam um papel considerável nos recentes movimentos contra a ditadura nos países árabes. A propagação do movimento conhecido como Primavera Árabe, que começou em 2010 na Tunísia, para todo o Norte da África e Oriente Médio não teria sido a mesma sem os recursos proporcionados pela internet. Foi na Internet que os sectores mais inconformados da sociedade encontraram o instrumento ideal para exercer o ciber activismo, de onde eles puderam canalizar as críticas contra os abusos do poder das autoridades, agendar e realizar acções de protesto.

Em Dezembro de 2010 um jovem tunisino, Mohamed Bouazizi, ateou fogo ao próprio corpo como forma de manifestação contra as condições de vida no país que morava. Ele não sabia, mas o acto desesperado, que o levaria à própria morte, acabaria culminando no que, mais tarde, viria a ser chamado de Primavera Árabe. Protestos se espalharam pela Tunísia, levando o presidente Zine el-Abdine Ben Ali a fugir para a Arábia Saudita apenas dez dias depois. Ben Ali estava no poder desde novembro de 1987.
O termo Primavera Árabe, como o evento se tornou conhecido apesar de se ter iniciado durante o inverno do hemisfério norte, é uma alusão à Primavera de Praga. Começou com os primeiros protestos que ocorreram na Tunísia em 18 de Dezembro de 2010, após a auto-imolação de Mohamed Bouazizi, em uma forma de protesto contra a corrupção policial e os maus tratos. Com o sucesso dos protestos na Tunísia, a onda de protestos atingiu Argélia, Jordânia, Egipto e Iémen, com as maiores e mais organizadas manifestações de um "dia de fúria". Os protestos também provocaram manifestações semelhantes fora da região.
Até à data, as manifestações resultaram no derrube de três chefes de Estado: o presidente da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, fugiu para a Arábia Saudita em 14 de Janeiro, na sequência dos protestos da Revolução de Jasmim; no Egipto, o presidente Hosni Mubarak renunciou em 11 de Fevereiro de 2011, após 18 dias de protestos em massa, terminando seu mandato de 30 anos; e na Líbia, o presidente Muammar al-Gaddafi, morto em tiroteio após ser capturado no dia 20 de Outubro e torturado por rebeldes, arrastado por uma carreta em público, morrendo com um tiro na cabeça. Durante este período de instabilidade regional, vários líderes anunciaram sua intenção de renunciar: o presidente do Iémen, Ali Abdullah Saleh, anunciou que não iria tentar se reeleger em 2013, terminando seu mandato de 35 anos. O presidente do Sudão, Omar al-Bashir também anunciou que não iria tentar a reeleição em 2015, assim como o premiê iraquiano, Nouri al-Maliki, cujo mandato terminou em 2014, embora tenha havido manifestações cada vez mais violentas exigindo a sua demissão imediata. Protestos na Jordânia também causaram a renúncia do governo, resultando na indicação do ex-primeiro-ministro e embaixador de Israel, Marouf Bakhit, como novo primeiro-ministro pelo rei Abdullah..
A volatilidade dos protestos e as suas implicações geopolíticas atraíram a atenção global, e cogitou-se que algumas lideranças do movimento poderiam ser indicadas ao Prémio Nobel da Paz de 2011.

Ellen Johnson Sirleaf, Leymah Gbowee and Tawakkul Karman win Nobel prize (2011)
Three women – two Liberian, one Yemeni – are awarded peace prize for their work campaigning for women's rights


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