sábado, 23 de fevereiro de 2019

Falamos de vida



Eterna, para Sequeira Costa. Morreu ontem, conheci-o quando aos alunos eram distribuídos bilhetes para os concertos integrados no Círculo de Cultura Musical, em Lourenço Marques. A sensação de impecabilidade e educação de gentleman perdurou sempre em nós, leigas que éramos. Não posso deixar de transcrever a homenagem que outros lhe prestaram, Artur Pizarro em sentida Crónica.
Também morreu ontem Arnaldo de Matos e Alberto Gonçalves lhe traça o perfil, juntamente com outros perfis da sua mordacidade sem mancha – BRUTAL – segundo um seu comentador: A. Costa e o vergonhoso dos seus conluios nepóticos, Sócrates e o vergonhoso do seu carisma de infantilidade despótica.  E, last but not least, o nosso PR com o seu estatuto parolo de omnipresença.
I - GOVERNO
A famiglia não se escolhe? /premium
ALBERTO GONÇALVES           OBSERVADOR, 23/2/19
Se ainda não se restringiu o executivo aos parentes consanguíneos ou afins do dr. Costa, eventualidade que defenderia com empenho, a verdade é que se realizaram amplos progressos na área do nepotismo
O dr. Costa aproveitou a remodelação do governo para estreitar laços familiares. No Twitter, Nuno Sá (que desconheço em absoluto) deu-se à trabalheira de elaborar um gráfico com as relações de parentesco entre governantes nacionais e regionais, deputados e funcionários da câmara de Lisboa. No final, exausto após considerável gatafunhada de nomes e setas, confessou já ter desistido de actualizar o gatafunho e já se ter perdido sobre quem é quem. O prof. Marcelo, que no fundo aceita tudo, acha que tamanha promiscuidade advém do “mérito próprio” dos envolvidos. É uma perspectiva. Uma segunda perspectiva entende que o favoritismo é uma miséria típica dos trópicos, um descaramento digno da Coreia do Norte ou uma garantia de fidelidade habitual na Camorra. A minha visão é como sempre intermédia e moderada.
Basta contemplar as carreiras, as proezas, as caras e, haja misericórdia, o aspecto das personagens em causa. Se fizerem muita questão, contemplem os resultados. É evidente que o governo – e respectivas metástases – é uma calamidade, uma anedota sem graça que, à conta da inépcia, da manha e de ambições pelintras, não tarda devolverá o que sobrar do país aos braços do FMI ou, se os alemães se aborrecerem, de Deus nosso senhor. Para qualquer pessoa medianamente civilizada, pertencer a semelhante bando constitui uma mancha no currículo insusceptível de apagar através de uma lixa tipo 40. Seria um embaraço, uma fraude íntima, uma traição à consciência: ninguém com um pingo de vergonha aceitaria o convite. Por coincidência, sucede que o dr. Costa também jamais convidaria alguém assim, preferindo distribuir o “prestígio” (digamos) por irrelevâncias de escassos princípios, as exactas irrelevâncias que sentaria para jantar lá na sala – na presunção de que a habilidade do primeiro-ministro para negócios imobiliários lhe permite uma mesa do tamanho de um hangar.
E isso é bom ou mau? Ambas as coisas. É mau porque não é bom estarmos nas mãos de gente tão deplorável. É bom porque não é mau que a peçonha fique limitada a uns poucos eleitos (ou nomeados, para sermos rigorosos). Na sua infinita – e assaz discutível – sabedoria, o povo explica as vantagens de duas cavalgaduras se juntarem para uma vida em comum: assim só se estraga uma casa. Se ainda não foi possível restringir o executivo aos parentes consanguíneos ou afins do dr. Costa, eventualidade que eu defenderia com empenho, a verdade é que se realizaram amplos progressos no sector do nepotismo. Neste momento, o enxovalho de partilhar o ranço do governo só estraga seis ou sete casas. Claro que estas serão responsáveis por estragar, por diferentes vias, os milhões de casas restantes. Mas esse é assunto com o qual os portugueses estão, ou deviam estar, familiarizados.
Notas de rodapé
1. Em entrevista à conhecida publicação Azul-Ericeira Mag, o conhecido “eng.” Sócrates discorre acerca da terra que recentemente adoptou como sua: “Eu gosto deste mar bravo, forte da Ericeira. Há quem prefira os mares mais calmos e quentes, o que não é a minha preferência. Eu gosto dos mares fortes, agitados, ameaçadores! Não tomei ainda banho neste mar, mas gosto da Ericeira nos dias de Inverno”. Afirmou o ainda mestre em Ciência Política que a vila convida à “introspecção, à reflexão, ao passeio e à contemplação”. Deste paraíso, onde “introspecta”, reflecte, passeia e contempla, o ex-arquitecto (estilo contemporâneo) lamenta “alguns exageros arquitectónicos que foram cometidos nas décadas de 80 e 90” que “não são de muito bom gosto”. No geral, porém, o popular escritor garante que aquilo está repleto de “identidade” e de “sentadas nos bancos a lerem livros e a olharem para o mar”, proezas dificílimas de realizar em simultâneo e propiciadoras de uma “fuga”, rumo a “um certo equilíbrio interior e a convivência connosco próprios”. E tudo isto “por acaso”, jura o pioneiro das ventoinhas em Portugal: “Vim porque o meu primo tinha aqui uma casa desabitada e me convidou a vir viver para aqui. E eu aceitei. É uma boa casa, aprazível”. O primo, que recebeu a casa de um empresário angolano também arguido na Operação Marquês, “é muito querido”. Mas não tanto quanto o “eng.” Sócrates.
2. Morreu Arnaldo de Matos. Certos democratas achavam-lhe graça, sobretudo desde que o sujeito desatou a disparar insultos para os antigos camaradas ou para os eternos concorrentes das fascinantes catacumbas marxistas. Eu não. O tom burlesco e desprendido não escondia, muito pelo contrário, o que ali estava: um fanático que, se pudesse, despacharia um mundo de “inimigos” a tiro – ou método pior. Na hora da morte, o prof. Marcelo chamou-lhe “um defensor ardente da liberdade”. Por acaso, era exactamente o oposto: como de costume, o prof. Marcelo falhou por pouco.
COMENTÁRIOS
Professor Pardal: Claro que não se escolhe. Já nomear, isso é outra conversa. E muita abundância. São as virtudes do socialismo. Aquelas virtudes que, invariavelmente, descambam em "Venezuelas" ou em "Coreias do Norte". Ironicamente, se uns reprimem quem lhe quer dar ajuda, os outros desesperam por ela. 
Tentei arranjar, cá no burgo, a Azul-Ericeira Mag. Nunca ninguém ouviu falar em tal coisa. Isso resume a importância actual da personagem. Ou então a Maria Narciso esgotou a tiragem.
O grande educador faleceu, paz à sua alma. Having said that, estou com o Alberto. A um gajo que era capaz de me fuzilar por não pensar como ele não acho graça nenhuma. Good riddance
Rui Krull: BRUTAL!
Tokugawa Ieyasu: Pois é. O Povo está farto. Farto a uma escala nunca vista. Até mesmo muitos funcionários públicos (por muita gente vistos como a "guarda pretoriana" do actual sistema político estão já fartos do colossal nível de corrupção e banditismo que grassa neste país. Muitos desses funcionários, infelizmente, são também reféns deste estado de coisas.
Já conheci casos de funcionários de câmaras municipais que, por ousarem criticar as decisões do "glorioso líder" Costa sofreram vários níveis de pressão ou humilhações, chegando mesmo ao ponto de serem ostracizados e evitados por outros colegas de trabalho. A "chibaria" e "bufaria" é uma constante nos organismos públicos. Mas muita gente está farta, repito. E não só neste país. As próximas eleições europeias vão abalar a actual UE. E as legislativas portuguesas em Novembro serão extremamente interessantes de assistir. Isto, se ainda houver eleições. Porque, com o rumo que isto está a levar, não é de descartar a hipótese de em Novembro estarmos sujeitos a um Estado de Emergência e nas mãos de uma nova Junta de Salvação Nacional.
Artur Campos: Ó Elvas, ó Elvas, família á vista... O sexta à noite explica como numa câmara, curiosamente socialista se consegue colocar tantos familiares...um fartote de ética republicana e socialista.
Rui Krull: ... E achando-se diante do CRIADOR, Este disse-lhe:  - ...Oh Arnaldo, andavas armado em THOR, tanta ameaça contra o CAPITAL, tanto barulho, tanto tempo perdido, ...,tinhas-te aliado àquele ali ao canto que aguarda pelo Grande Embarque e que diziam que era "FIXE" e tinhas antecipado e assegurado um CAVIAR GERINGONCEIRO de tipo mais CHOP-SUEY e LICHIAS ,...,  ,...,deita a tua foice e o teu martelo ali na forja e vai-te sentar ao lado dele...
victor guerra: Mas.é preciso ir à sede do PS e preencher uma ficha.
II - NOTÍCIA:
Morreu Sequeira Costa, pianista “sem décadas nem séculos” O pianista morreu aos 89 anos, nos Estados Unidos. Foi um dos nomes mais significativos do piano português no século XX, tendo fundado o Concurso Internacional Vianna da Motta. O pianista português José Carlos Sequeira Costa morreu nos Estados Unidos, onde residia, aos 89 anos, vítima de cancro, confirmou hoje à Lusa fonte próxima da família
MIGUEL A. LOPES/LUSA, Autores
O pianista português José Carlos Sequeira Costa morreu nos Estados Unidos, onde residia, aos 89 anos, vítima de cancro, confirmou hoje à Lusa fonte próxima da família.
Distinguido em 2004 com a Grã-Cruz da Ordem Infante D. Henrique pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, Sequeira Costa foi um dos nomes mais significativos do piano português no século XX, tendo fundado o Concurso Internacional Vianna da Motta, de quem foi aluno.
Em 1951, Sequeira Costa venceu o Grande Prémio de Paris no Concurso Internacional Marguerite Long, tendo desde então sido um dos nomes de maior projecção nos palcos internacionais. A convite de Dimitri Chostakovitch fez parte do primeiro júri do Concurso Internacional Tchaikovsky, em Moscovo, no ano de 1958. A partir daí integrou sempre o júri dos mais prestigiados concursos internacionais de piano e orientou numerosas masterclasses de piano um pouco por todo o mundo. Muitos alunos seus distinguiram-se de forma notável em competições pianísticas e em áreas de ensino. Desde 1976 que era professor de piano na Universidade do Kansas, nos Estados Unidos. Em 2004, disse à jornalista Ana Sousa Dias, em entrevista na RTP, que, por ter “abraçado inteiramente o espírito de Beethoven” ao dedicar-se à interpretação da integral das sonatas do compositor alemão, se sentia “para além da vida humana já”.
Sequeira Costa classificava Bach como o “sol de todos os compositores” e destacava Liszt como estando entre os seus criadores preferidos, por ter sido seu “avô espiritual”, ao ter ensinado Vianna da Motta. Como intérprete, actuou com múltiplas orquestras de prestígio, e lançou discos tocando obras de muitos compositores, entre os quais as integrais de piano e orquestra de Schumann, Chopin e Rachmaninov.
“A chamada inspiração não existe. A inspiração é o resultado de um trabalho afincado, premeditado. Talento há, felizmente que é raro. Porque hoje em dia há milhares de pianistas, então os asiáticos estudam 25 horas por dia e não serve para nada, porque não têm o talento necessário como têm os europeus, mas isso é normalíssimo porque a nossa cultura de Beethoven, Bach, Chopin, era no centro da Europa”, disse à RTP, na altura. O anúncio da morte do pianista foi feito na página do Facebook de Artur Pizarro, que foi aluno do pianista e pedagogo.
II - CRÓNICA
"Oiço frequentemente a sua voz nos meus pensamentos" Sequeira Costa (1929-2019), um dos poucos últimos exemplos do que é ser Artista num mundo de entertainers.
PÚBLICO, CULTURA-ÍPSILON, 23/2/19 - Estoril, 22 de Fevereiro de 2019
22 de Fevereiro de 2019: A minha relação com o pianista Sequeira Costa começou em 1974, quando lhe fui apresentado como possível aluno. Aceitou-me como o seu mais jovem aluno de sempre e aí começou uma relação que continuará até ao dia em que eu próprio respirarei pela última vez.
As primeiras experiências como ouvinte de Sequeira Costa, pianista, foram em Lisboa, em locais como a Fundação Calouste Gulbenkian e Teatro Municipal São Luiz. Mais tarde teria a oportunidade não só de o ouvir em vários palcos pelo mundo fora, mas também de partilhar palcos em concertos e recitais a dois pianos, inclusive duas gravações comerciais que efectuámos juntos.
Um pianista que ainda hoje é celebrado nas salas de concerto e escolas de música mais relevantes do mundo, muitas das suas interpretações continuam sendo referência. O seu Carnaval de Schumann, 24 Estudos de Chopin, Sonatas para piano de Beethoven, alguns andamentos da Suite Ibéria de Albéniz, estudos transcendentes de Liszt, sonata e lendas do mesmo compositor, obras do seu querido mestre, Vianna da Motta, mostram-nos um fiel músico totalmente dedicado à sua Arte, encontrando a excelência e o sublime na sua produção pianística e musical.
A minha época formativa como discípulo de Sequeira Costa, pedagogo, começou quando eu tinha cinco anos e, apesar de algumas interrupções, continuou até aos 21 anos.
Ensinou-me desde o mais básico saber como colocar as mãos no piano, independência digital, escalas e harpejos, até ao repertório mais avançado como a sonata em si menor de Franz Liszt ou o terceiro concerto de Serguei Rachmaninoff. A sua metodologia técnica e musical são lendárias pela sua riqueza, inteligência e também exigência. Nenhum passo era dado ou tolerado sem que o passo anterior estivesse construído e compreendido de forma sólida e completa! Não nos dava meramente os resultados pretendidos, mas mostrava aos seus alunos como seguir e procurar o caminho que nos levasse a esses mesmos resultados. Um respeito, método e disciplina que hoje em dia já não são tolerados, aceites ou entendidos...
Hoje, não só quando dou aulas, mas também quando eu próprio toco em casa ou em palco, oiço frequentemente a sua voz nos meus pensamentos, repetindo ensinamentos que continuam a amadurecer dentro de mim. Sorrio quando vejo instruções suas nas minhas partituras, escritas nos anos 70 e 80, prevendo que mais tarde necessitariam de ser adaptadas de maneiras diferentes, adivinhando já nessa altura o que efectivamente hoje faço... É uma voz que me acompanha e me mantém interessado, entusiasmado, motivado, seguindo os seus ensinamentos e adaptando-os ao meu presente e futuro! É esse o legado do verdadeiro Mestre! Ontem não só faleceu uma pessoa muito importante no meio musical internacional, morreu um dos poucos últimos exemplos do que é ser Artista num mundo de entertainers ... Pianista (COMENTÁRIO: joorge,  22.02.2019 :A prova de que para falar de artistas só artistas. O resto é palha.

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