Uma vasta panorâmica em torno
das nossas mazelas sociais, económicas, políticas, pessoais…. E, notícia-mor na
nossa panorâmica de irracionalidade, ou de faz-de-conta, a merecer palmatoadas,
pois não tem razão de ser - a candidatura
de Tino de Rans. Um vómito.
OPINIÃO
É com certeza uma fria casa portuguesa
A
média de casas mal aquecidas na União Europeia anda em torno dos 8%. Em
Portugal temos o dobro das casas frias: 22%.
PÚBLICO, 4 de Fevereiro de 2019, 6:35
Não é preciso consultar os dados do
Eurostat para confirmar o que sentimos nos ossos, mas cá vai: Portugal é um dos
países europeus onde se passa mais frio dentro de casa. Pior do que nós, só Bulgária, Grécia e Chipre. A
média de casas mal aquecidas na União Europeia anda em torno dos 8%. Em
Portugal temos o dobro das casas frias: 22%. Qualquer estrangeiro ou português
emigrante nos dirá o mesmo: nos países frios as casas estão (têm de estar, é
claro) bem aquecidas. Em Portugal o tempo até pode estar mais morninho lá fora,
mas enregela-se dentro de casa. E há outros países do Sul, como a Espanha, que
estão na média da União Europeia com apenas 8% de casas onde se passa frio.
Será
passar frio dentro de casa uma fatalidade nacional? Não; trata-se apenas de
mais um dos legados do nosso passado que se revela extraordinariamente árduo de
superar. Não é difícil entender que as nossas casas não tenham sido pensadas
para um frio que não é a regra da maior parte do ano no nosso país. Mas isso
não nos impede de perceber que com algum trabalho ao nível do isolamento e da
eficiência energética as nossas casas — e não só as casas, também as escolas,
hospitais, locais de trabalho e edifícios públicos — se possam tornar mais
habitáveis durante os meses frios no nosso país. O frio afeta especialmente as
populações sénior e abaixo da linha de pobreza, que gastam uma parte
desproporcionada dos seus parcos rendimentos a tentarem manter-se aquecidos,
mas que não têm fundos disponíveis para investir no tipo de isolamento e
aquecimento das casas que lhes permitiria viver de forma mais confortável,
pagando até menos a longo prazo. Por sua vez, este estado de coisas também não
sai barato ao país, se pensarmos nos efeitos para a saúde pública, para a
produtividade, no desperdício energético, e nos gastos excessivos em tentativas
pouco eficientes para viver de forma menos desconfortável. Perdemos dinheiro,
ou gastamo-lo mal, como famílias e como país, a viver mal durante o inverno.
Noutra
fase do nosso ciclo orçamental e económico a ideia de trazer considerações como
esta para as nossas políticas públicas poderia ser entendida como inoportuna.
Mas acontece que agora temos uma conjunção de dois fatores que podem fazer
deste o momento ideal para algum investimento público nesta área. Por um lado,
o estado tem agora um superavit orçamental — o que, por si só, não significa
que o devamos gastar por gastar. Por outro lado, a economia dá sinais de
abrandamento ou até recessivos. Um plano de investimentos na eficiência
energética e no isolamento das casas e outros edifícios, nomeadamente locais de
trabalho, aprendizagem e convalescença, poderia incluir algumas obras públicas
e eventualmente alguns créditos fiscais para obras privadas; pela disseminação
e distribuição geográfica de tal plano, estimularia o emprego e a economia a
partir de baixo. Argumento decisivo, tal investimento significaria gastar algum
dinheiro agora para poupar depois. Casas bem isoladas são mais baratas de
aquecer. Locais de trabalho bem aquecidos durante os meses frios ajudam a
aumentar a produtividade. Aquecer as casas e locais de trabalho dos portugueses
não só conforta como compensa.
É
verdade que a capacidade de investimento do Estado português ainda é
relativamente reduzida; mas há fundos da UE disponíveis precisamente para
aumentar a eficiência energética dos aquecimentos nos edifícios europeus. Esses
fundos foram criados para apoiar os países do Leste como a Polónia a
substituirem os seus sistemas de aquecimento muito poluentes, baseados no
carvão, por outros sistemas mais eficientes e menos poluentes que ajudem a
Europa a cumprir com as suas metas na luta contra as alterações climáticas.
E
aqui entra um elemento mais geral, e para mim decisivo, para justificar medidas
públicas numa área como esta. Todos sabemos que estamos hoje perante uma crise
ecológica. Cada vez mais pessoas concordam que essa crise ecológica
justificaria um Green New Deal, ou seja, um novo contrato social e
ecológico para salvar o planeta, passando por um grande plano de investimentos
nas infraestruturas e nos empregos do futuro, de dimensões semelhantes ao New
Deal original durante a Grande Depressão ou ao Plano Marshall no
pós-guerra europeu (e há, pelo menos na UE, fundos disponíveis para o fazer,
seja através do orçamento da União, do Fundo Europeu de Investimentos, ou
através dos recursos que se perdem no planeamento fiscal agressivo ou na fraude
chamada “do IVA em carrossel”). O problema com o Green New Deal é que
ele não pode ser um plano abstrato nem longínquo. Um “novo contrato verde” não
pode ser só taxação — o grande erro que cometeu Macron, por exemplo —, tem de
ser em primeiro lugar um plano de investimento público implementado perto das
pessoas e com benefícios tangíveis para elas.
Neste
momento, em Portugal, vejo pouco benefícios mais tangíveis do que ajudar as
pessoas a estar mais quentes em casa, estimulando a economia e o emprego,
poupando dinheiro a longo prazo, e ajudando a combater a crise ecológica. A
qualidade de vida não pode ser uma preocupação menor das políticas públicas. O
conforto não deve ser um luxo.
Historiador; fundador do Livre
ALGUNS COMENTÁRIOS
amora.bruegas, Tomar 04.02.2019: O relatório
começa por ser fantasista pois não tem em conta o grau de conforto exigido, nem
a mínima absoluta em cada país. E os portugueses nunca tiveram o grau de
exigência de conforto como nos países nórdicos, pois o frio não é tanto e o
pior é outro e chama-se corrupção, endividamento. Cómico ler um elemento de
esquerda, que tal como na Venezuela só oferecem fome e violência, mostrar-se preocupado
com o conforto térmico dos autóctones.
Mada Faca, 04.02.2019: A afirmação de
que os nórdicos têm maior exigência de conforto é absolutamente gratuita, para
não dizer absurda... Mesmo que o autor fosse um entusiástico apoiante de Kim
Jong-un, continuaria a fazer sentido preocupar-se "com o conforto térmico
dos autóctones" que é de facto inaceitavelmente baixo.
nelsonfari, Portela-Loures 04.02.2019:
articulista
voltou-se para as questões materiais. A questão que aponta é uma entre muitas. É
uma sub-desigualdade, que, a exemplo de outras, entronca no grande mar da
desigualdade total. Isto a propósito de, em França, os "Gilets
Jaunes" terem desencadeado o aumento do Smic em 100 euros e o próprio
Macron ter convidado os patrões a fazerem crescer os salários por sua conta,
sem cotizações obrigatórias. Em Itália existe o diferendo com Bruxelas, no
tocante ao aumento da despesa pública, tendo as negociações feito crescer a
melhoria da despesa em apoios sociais. Em Espanha, o Governo no Orçamento
promove o aumento do poder de compra e de outras variáveis: o salário mínimo
aumentou 22% para 900 euros; a ajuda às pessoas dependentes aumentou
40%,;aumento do rendimento mínimo vital. E Portugal está preso ao discurso da
"recuperação de rendimentos".Como se vê, os três grandes países do
Sul referidos (Espanha, França e Itália) negoceiam e mitigam os males
sociais. Por cá temos a CIP a dizer que o Governo prometeu demais e, por
isso, existe instabilidade social (o representante dos patrões, Saraiva de
seu nome, é uma personagem incompreensível e que não se impressiona com gente
que vive em casas gélidas). A esquerda definida como PCP e BE caiu nesta
armadilha de, à beira das eleições, se ter de contentar com pouco, depois de
mais três anos de colaboração com quem se vai banquetear com o saco dos votos. Um
jogo cego. com personagens de nível duvidoso, como, por exemplo, Centeno, que
ostenta o penacho cristalizado no Eurogrupo que impede muitas coisas - a
melhoria da vida das pessoas.
Nuno Silva, 04.02.2019 Uma das medidas
mais urgentes (que eu nomeei como o 'Desígnio Nacional 2019'), seria baixar o
IVA e as rendas excessivas na electricidade e no gás. Portugal tem poucos meses
frios, mas quando acontecem, aguenta, ai, aguenta...
joorge, 04.02.2019: Um amigo meu
austríaco esteve cá a passar uns dias e disse-me que nunca rapou tanto frio na
vida. Ele não percebe porque é que nós não aquecemos convenientemente as casas.
Lá tive eu de lhe explicar a brilhante tese lusa que já ouvi repetir "ad
nauseam": se se estiver muito quente em casa, quando se sai à rua
apanha-se uma constipação!!!
Francis Delannoy, 04.02.2019: temos o dobro de
sol dos outros países e a metade de aquecimento nas casas...as casas das
cidades não adaptadas ao aquecimento a lenha também não foram adaptadas aos
aquecimentos solares o tipo de aquecimento ideal para as casas das cidades é o
aquecimento eléctrico só que a electricidade é cara e há de ser cada vez mais
cara visto que são os chineses os donos da nossa energia..temos que agradecer
aos idiotas úteis dos tubarões chineses
ana cristina, Lisboa et Orbi 04.02.201:
falando dos locais de trabalho, só no estado
se vêem ainda funcionários colados a aquecedores eléctricos estrategicamente
colocados debaixo das secretárias, com mantinhas nos joelhos e a evitarem a
todo o custo atravessar os corredores-câmaras frigoríficas. as empresas há
muito tempo perceberam que essa panorama dos anos 50 não era bom para a
produtividade. no estado, a produtividade não interessa, quanto mais a
qualidade de vida no trabalho ou a crise ecológica. por favor, alguém faça uma
reportagem sobre como por esse país fora os funcionários públicos se aquecem
nas escolas, nos tribunais, nas câmaras municipais.
Borda d'Água, Angra 04.02.2019: Em Portugal sempre se deu prioridade ao que se vê (a
mármore e afins) do que ao que se não vê e o resultado são casas mal isoladas,
frias no inverno e quentes no verão. Felizmente que, por enquanto, o país não
sofre temperaturas muito extremas.
04
de Fevereiro de 2019
27 de Janeiro de 2019
E, cereja em
cima do bolo da nossa parvoiçada de ficção política:
4.02.2019: Diogo Camilo:
O partido Reagir, Incluir e Reciclar (RIR),
presidido por Vitorino Silva - conhecido
como Tino de Rans - vai entregar as 7.500 assinaturas para formalizar o
pedido de formação partidária no Tribunal Constitucional.
"O RIR é um
partido político que nasceu com o propósito integrador de aproximar os cidadãos
da política e vice-versa. A sigla do partido é por si só uma mensagem de acção
política", refere em comunicado o Reagir, Incluir e Reciclar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário