Não, o Pai Natal não existe. Por isso,
embora agradecendo o esforço despendido pela boa vontade de Helena Garrido na sua revisão de dados e de factos, que ela sabe inultrapassáveis, prefiro
desviar-me para esses poetas do não irremediável, tão aplicável, subjectivamente
a si próprios, como objectivamente, nas suas variantes interpretativas, a
outros mundos mais positivos – o nosso em especial. O resultado sentimental é
idêntico, embora mais grave – porque mais universal – o íntimo pessoano,
habituados que estamos, afinal, à banalidade da nossa corriqueira frustração:
Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
Carta ao Pai Natal. Simplificar e melhorar
a justiça
Sim, sabemos que o Pai Natal não existe. Mas uma carta
é sempre um bom pretexto para manifestar desejos.
HELENA GARRIDO
O
primeiro pedido é, obviamente, o fim da pandemia. Temos de nos reconstruir individualmente e colectivamente.
Na sociedade, na economia, mas especialmente no equilíbrio de cada um. Entre os mais jovens o desequilíbrio atinge já, se não
a maioria, uma boa parte deles, como quem contacta com eles facilmente vai
verificando. Os mais velhos dos mais velhos enfrentam uma solidão ainda mais
grave. Têm sido dois anos brutais para todos, com efeitos que só mais tarde
vamos perceber em toda a sua dimensão.
A
caminho de eleições legislativas, os principais pedidos ao Pai Natal têm
forçosamente de estar relacionados com o novo Governo que teremos algures no início de Fevereiro. António Costa ou Rui Rio serão os líderes desse
executivo que, neste momento, se perspectiva como pouco duradouro. Embora,
verdadeiramente, ninguém saiba.
Um
pedido geral. Seja qual for o modelo, ao Pai Natal o que se pede
é que inspire a governação de bom senso e pragmatismo. Que, perante cada problema, se perguntem: qual a
melhor solução, qual a solução que melhor serve as pessoas? Em vez de, como por vezes acontece, irem primeiro
ver o que diz a sua bíblia e depois escolherem um caminho que, embora nada
solucionando, segue os seus dogmas.
Um pedido de esquecimento. Para o Pai Natal fica também o pedido que faça esquecer a Regionalização, que tem potencial para criar mais problemas do que
para os resolver. Mais importante do que regionalizar é descentralizar
e entregar mais poderes às autarquias. Isto
sim, criava condições para se gerirem melhor os recursos escassos que a
administração pública tem. Porque o que vemos em muitas
autarquias é que têm dinheiro a mais para as funções que desempenham, razão
pela qual as vemos a gastar dinheiro em iniciativas e projectos discutíveis. Já se fez algum trabalho nesse sentido na Educação.
Mas é preciso ir mais longe na Saúde, para não vermos os centros de saúde no estado em que
alguns estão, ou até na segurança, que permitiria dar melhores condições de trabalho à
polícia.
Um
pedido para a prioridade
das prioridades. Todos
sabem que o grande desafio está no aumento da produtividade. Face ao que vamos observando, há medidas que
poderiam ter aquele efeito de 20% de esforço para 80% de impacto, porque hoje o
“diabo está nos detalhes”. Prioridade das prioridades deve ser, por isso, simplificar as regras que enquadram o funcionamento
das empresas e garantir a sua estabilidade. É um exercício que se pode fazer com as associações
empresariais, que deviam estar bastante preocupadas com este tema.
A simplificação passa por revisitar
a legislação e os mil e um regulamentos que as entidades autónomas agora também
definem e perguntar para que servem, que custos têm para as empresas e que
benefícios trazem para a comunidade. E fazê-las desaparecer sempre que
não se identifiquem benefícios. Esta simplificação deve igualmente abranger sectores como a Educação e a Saúde. Quem tem memória de como se trabalhava, sabe que o Estado exige hoje o preenchimento de tanta papelada,
no ensino como na saúde, que acaba por ocupar boa parte do tempo dos
profissionais nessas tarefas burocráticas quando deviam estar com os alunos ou
com os doentes.
Finalmente
a Justiça. Os casos mediáticos têm gerado uma imagem
lamentável da Justiça. É fácil responsabilizar procuradores e juízes, mas antes
de avançarmos por aí valia a pena perceber que condições têm para trabalhar e
para fazerem de facto a Justiça funcionar. As condições passam por
recursos humanos e por legislação que equilibre melhor a balança entre os
direitos dos arguidos e a eficácia da Justiça. Aquilo a que assistimos
neste momento parece indicar que os arguidos com dinheiro têm
demasiadas possibilidades de recursos, empatando os processos, o que acaba por
fazer com que se culpe procuradores e juízes.
Dentro
da Justiça há uma área que devia ser eleita como prioridade, caso se
queira levar a sério o desafio de crescermos mais. São os tribunais
administrativos e fiscais. É urgente
perceber o que é preciso fazer para resolver esse problema.
A Regionalização, que esperemos que o Pai Natal consiga que caia no
saco das promessas não cumpridas da classe política, é exactamente o oposto do
que precisamos de fazer. Com
a Regionalização virá mais um nível de autorizações, procedimentos e papéis
para preencher.
Quando
se completou a autoestrada entre Lisboa e Porto, o transporte de mercadorias
entre as duas cidades, que se tinha de fazer em dois dias, passou a poder
realizar-se num dia. Imaginam o salto de produtividade que isso gerou? Pois
bem, temos agora a oportunidade de dar um novo salto, se libertarmos as empresas e as pessoas em geral de
regras, procedimentos e papéis desnecessários. Perguntem a qualquer pequeno empresário, sem contactos
nos corredores do poder, que ele explica – se não tiver medo de represálias dos
organismos onde precisa de ir para tratar das “autorizações”.
Há
muitas outras matérias que mereciam um pedido ao Pai Natal. Mas estas parecem ser as fundamentais. Se conseguirmos simplificar
a legislação económica e fiscal e pôr os tribunais administrativos e fiscais a
funcionarem mais rapidamente daremos seguramente um salto em matéria de
produtividade. Basta pensar
no tempo e dinheiro que se vai libertar, que poderá ser usado para realizar
outras tarefas, para perceber como só estes pequenos passos podem fazer
aumentar a produtividade, gerando mais crescimento e criando condições para a
subida dos salários.
E
aqui ficam os desejos de Boas Festas!
JUSTIÇA REGIONALIZAÇÃO PAÍS EMPRESAS
COMENTÁRIOS:
joão Melo: Keep on
dreaming.... A senhora jornalista já tinha idade para ter juízo. Onde eles
puderem complicar, acredite, ainda vão complicar mais. Não conhece o seu país? Ainda acredita no pai
Natal? Manuel Martins: Sem uma justiça eficaz não há como ter segurança,
uma economia a funcionar, investimento. Em minha opinião, só retirando
aos deputados/advogados a elaboração das leis da justiça (pedindo antes
aos juízes, procuradores, polícias, universidades,
associações civis que as elaborem) é que se conseguem leis funcionais Joaquim
Moreira: Embora me encontre mais vezes na situação de Pai Natal, do
que propriamente na condição de beneficiário, deste personagem lendário, não
posso deixar de, na circunstância, lhe fazer um pedido com substância! Que o
próximo PM de Portugal, seja capaz de satisfazer este pedido de HM ao Pai
Natal. E devo dizer, sem receio de errar, que só Rui Rio é capaz de o executar!
Por isso, e antes de mais, peço ao Pai Natal que deixe já claro que a 30 de
Janeiro é ele que vai ganhar. E, já agora, que o faça de forma tal que não precise do PS
para governar. Já que este, depois de perder, não vai voltar a aliar-se à
esquerda para ser poder! E por uma simples razão: o muro que antes foi “derrubado”,
voltou a ser levantado. E o responsável por o ter “derrubado” agora só está
preocupado, em arranjar um lugar noutro lado. Até porque sabe muito bem a
difícil situação em que deixou o Estado! Dra Helena: Artigo excelente .
Obrigado Maria Rita Menezes: Muito bem! M Cpts e muito
obrigada. Boas-festas também para a HG. E o meu pedido ao pai natal que
respeita aos opinion makers é mais singelo. Que tenham ao menos o bom senso de
deixar de fazer balanços no meio de uma pandemia. Ainda por cima redundantes.
Já todos sabíamos - como o pp Obs nunca se cansou de noticiar - que o
SNS já estava cair de podre antes da pandemia. De modo que a opinarmos alguma coisa sobre o SNS, só se
for para agradecer o autêntico milagre. Lá fora não se vê nenhuma saúde
sobrelotada. Quanto aos Tribunais Administrativos e Fiscais além de não serem
de longe o maior problema da Justiça, até a HG já teve oportunidade de comentar
aqui a reforma em curso via bazuca. Assim como os seus benefícios para a
economia real. Mas hoje o maior problema da Justiça em Portugal são os tempos
da Justiça Penal. Com implicações para a própria Democracia. E da
minha parte já ficava satisfeito se todo os operadores judiciais fossem
obrigados a cumprir os prazos estipulados no CPP e na lei em geral. Para acabar
com os pelourinhos de uma vez por todas em pleno Sec. XXI. josé maria: Concordo e subscrevo. maria
ribeiro: Condenar em dez minutos através da aliança com os media, e
julgar dez anos depois. maria ribeiro: O Ded Moroz é um troll que vive nas
montanhas entre a Carélia e a Lapónia, leia-se o poema épico finlandês Kerala ,
de Elias Lonnrot. Entra nos tupis dos samis pela abertura central por onde saem
os fumos da fogueira, onde estão a secar as meias húmidas. Os xamãs usam o
Amorita muscata como psicotrópico. por isso o seu trenó voa no céu. Miguel Eanes: Quando
temos a justiça a fazer politica, tudo se espera. Investigações de crimes com
15 anos de duração; construção de mega processos, com toneladas de papel e
centenas de envolvidos; arquivamentos céleres de processos com provas
irrefutáveis. Esta é a política da justiça em Portugal. Troca
Tintas: Olha, olha, ainda acredita no pai
natal. Ahahahahahhahahaahah Clarisse
Seca: O nosso sistema de justiça ainda é medieval citando
Nuno Garoupa na Radio Renascença. Privilegiam-se os "Doutores"
sejam eles com altos cargos na justiça ou fora dela". Os garantismos para
os prevaricadores são imensos prejudicando-se a vítima. É Kafkiano, e parece que a
justiça não sabe o quanto custa a vida com calhamaços e calhamaços de papel
enviados ao cidadão coitado, a demorar mais de 10 anos para um simples
caso ou mentira de um "doutor" que se transforma em culpa para o coitado
do cidadão comum. Há que mudar de-alto-a-baixo, incluindo mentalidades. Não
pode a mentira e a lentidão, prevalecer, para nada se resolver ou se culpar a
vítima. É difícil? É, mas assim não há justiça. Também é possível haver
ciladas, difíceis de provar, quando a ética e a moral não é levada em conta na
justiça, citando a Dra. M.J. Morgado. Assim ganha quem não tem
escrúpulos. Pontifex Maximus: Por paradoxal que pareça, simplificar a justiça é
simultaneamente a coisa mais fácil e a mais difícil do mundo. Difícil
porque há um lobby que nunca o permitirá pois os atalhos e as complicações são
o seu ganha-pão; fácil pois basta copiar e adaptar o que de bom existe por aí. Mas isso também é
uma ilusão, basta-me lembrar de em 1986 (!!!) ter ouvido o Figueiredo Dias em duas
conferências dizer, a propósito do ante-projecto do Código de Processo Penal da
sua autoria que entre muita gente falou com um professor catedrático holandês
que lhe disse que o Código de lá tinha pouco mais que 150 artigos e perante uma
pergunta óbvia da plateia não foi capaz de dar uma explicação racional para o
facto de o nosso vir a ter quase 600… Nunca mais me esqueço da expressão dele
perante a resposta do holandês “e icho funchiona?”, disse ele que perguntou ao
holandês, que respondeu “claro que funchiona!”… Francisco Tavares de Almeida: De uma mais frequente discordância com os artigos de Helena Garrido,
tenho-me visto a uma mais frequente concordância nos últimos tempos. Eu sou demasiado velho para ter mudado, por isso... Susbcrevo a 110% o pedido de esquecimento da
regionalização e concordo na generalidade com a ideia de descentralização baseada nos
municípios que temos e que são a tradição histórica nacional. Apenas acho que a perspectiva financeira é importante mas
insuficiente e algo teria ser feito na transferência de quadros. Por exemplo,
dada a enorme quantidade de juristas e mesmo advogados desempregados ou
subempregados, uma espécie de secretários municipais, fora de nomeações partidárias
e controlados eticamente pela Ordem, poderia evitar os infindáveis atropelos
legais que alguns caciques locais eleitos, decidem porque sim. Também tenho
algum reparo à Justiça. Tudo bem com os Tribunais Administrativos que é o que
mais importa às empresas, também com a mediática justiça penal que, sabemos, é
garantística para os acusados mas esquece frequentemente as vítimas. Só esqueceu a justiça cível que é hoje outro pesadelo
temporal e, na prática, uma ditadura casuística e imprevisível de
juízes. A mero
título de exemplo, ganhei na maior parte um processo cujos factos remontavam a
1991/1993 mas que por razões técnicas só pôde ser instaurado em 2000. O Acórdão
do STJ saíu em Março de 2021 e recebi (estava há anos depositado no Tribunal) em
Outubro. José Tomás: "É urgente perceber o que é preciso fazer para resolver" o
problema dos tribunais administrativos e fiscais. Fico
estupefacto quando vejo uma jornalista prestigiada fazer esta pergunta. Não
conhece nenhum juiz, advogado ou escrivão de direito que a pudesse ter
informado? É que qualquer um lhe diria que os processos duram décadas nos
tribunais administrativos e fiscais porque estes não têm quadros. O Estado,
ciente que perde 75% ou mais dos processos que correm nestes tribunais,
intencionalmente, mantém os quadros de juízes e funcionários muito abaixo do
necessário para as causas serem decididas em tempo útil. Enquanto o pau vai e
vem, folgam as costas. E, como se isso fosse pouco, acresce, agora, o negócio
da arbitragem administrativa e fiscal, que, obviamente, tendo um custo muito
maior, só tem mercado porque um processo no CAAD, em vez de durar dez anos,
dura um. Clarisse Seca
> José
Tomás: Só de pensar que o caso Sócrates ainda não foi julgado, dá arrepios
sobre o mau sistema de justiça. Sendo leiga, para que serve instrução, ou coisa
que o valha e não se vai ao assunto directamente para dar emprego a advogados
que safam os grandes com os buracos ou falta de algum formalismo na lei?
Para que servem dezenas e dezenas de testemunhas, por vezes até que nada
sabem, e perdem dias de trabalho, sem estarem ligadas ao assunto, sendo
só para fazer número e atrasar processos? bento guerra: E os advogados, classe que domina a
nossa sociedade, de que viviam? FernandoC: Boas festas e feliz natal para si e os seus. 3h. ONU quer pagar milhões aos talibã por protecção.
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