quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Pois! A paz!


José Milhazes é muito crítico a respeito de Putin e das intenções deste, em relação aos países que o cercam, como a Ucrânia, e repete as histórias de violência interna de ditadores como ele, e que têm o seu apoio, histórias actuais passadas na Bielorrússia, além das mais antigas -  por exemplo as da Polónia, do Solidariedade, quando Putin ainda não fazia parte, e que gostámos de rever, na Internet. É claro que há opiniões diversas, a mim as de José Milhazes parecem bem fundadas … e sobretudo rectas, de antevisão, naturalmente, preocupada...

As ditaduras não são eternas

13 de Dezembro de 1981, Jaruzelski impõe o estado de sítio na Polónia e bane o “Solidariedade”.  Mas se se pode combater com baionetas, é impossível sentar-se nelas. Oito anos depois o comunismo ruiria

JOSÉ MILHAZES , Colunista do Observador. Jornalista e investigador

OBSERVADOR; 15/12/21

As ditaduras de Alexandre Lukachenko e de Vladimir Putin parecem estar para durar, mas a experiência histórica mostra que não há nada eterno, até mesmo os regimes que vivem do determinismo marxista-leninista ou prometem “impérios milenares”.

Na Bielorrússia, um tribunal condenou, no dia 14 de Dezembro, Serguei Tikhanovskii, um dos líderes da oposição bielorrussa, a 18 anos de prisão numa cadeia de alta segurança, bem como mais quatro opositores que trabalhavam com ele a penas que vão dos 14 aos 16 anos em locais semelhantes.

Tikhanovskii foi detido quando fazia campanha eleitoral a favor da esposa, Svetlana Tikhanovskaia, que se candidatara ao cargo de Presidente da Bielorrússia por o marido ter sido impedido de o fazer. Serguei não pôde apresentar os documentos necessários porque foi posto em prisão preventiva durante a inscrição dos candidatos.

As acusações foram as usuais na Bielorrússia e Rússia: “organização de desordens em massa”, “atiçamento de inimizade pessoal”, “dificultação do trabalho da Comissão Eleitoral Central”.

Além destes opositores, há centenas de activistas, que participaram nos protestos contra a falsificação das eleições presidenciais em Agosto do ano passado, nas prisões bielorrussas que nem sequer foram julgados.

Na Rússia a situação é muito idêntica, podendo-se concluir que, em ambos os casos, a oposição política foi, pelo menos temporariamente, neutralizada.

Mas gostaria de lembrar um acontecimento político que teve lugar há 40 anos. No dia 13 de Dezembro de 1981, o general Wojciech Jaruzelski impôs o estado de sítio na Polónia, proibiu as actividades da oposição, principalmente dos sindicatos “Solidariedade”, matou dezenas de pessoas e cerca de 10 mil foram encarceradas.

Nessa altura, as tropas soviéticas não invadiram a Polónia pois já estavam envolvidas no Afeganistão e Moscovo encarregou os comunistas polacos da solução do problema.

Mas, como se costuma dizer: pode-se combater com baionetas, mas é impossível sentar-se nelas. Oito anos depois, o regime comunista na Polónia ruiu rápida e estrondosamente.

A história está cheia de casos como estes, mas alguns teimam em não prestar atenção, considerando que isso não lhes diz respeito. No caso de Putin e Lukachenko, é preciso lembrar-lhes também que, há precisamente 30 anos, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas se desintegrou. Muito poucos eram os que esperavam que uma superpotência colapsasse tão rapidamente, mas aconteceu, e não foi por acção da CIA norte-americana ou da Mossad israelita. Colapsou porque era um gigante com pés de barro, sem uma economia capaz de sustentar as aventuras militares em numerosas regiões do globo.

A história pode repetir-se caso, por exemplo, Putin invada a Ucrânia. As tropas russas não serão recebidas com flores, beijos e abraços se decidirem marchar até Kiev ou até às fronteiras entre a Ucrânia e a Polónia. Não digo que as tropas ucranianas estão em condições de derrotar as russas, mas o avanço destas últimas terá de enfrentar não só os militares ucranianos, mas também a resistência da esmagadora maioria da população ucraniana. Vladimir Putin transformou a Ucrânia no seu principal inimigo ao ocupar parte do território desta e ao limitar a sua soberania.

Nesta nova “guerra fria” entre o Ocidente e a Rússia, a luta ideológica é de primordial importância, sem, por exemplo, nunca confundir o país e os seus povos com o “czar”. Daí ser importante continuar a manter as portas abertas para aqueles que querem vir visitar, trabalhar ou viver nos países da União Europeia.

É necessário lembrar que foram também os muitos erros cometidos pelo Ocidente face à Rússia nos anos de 1980 e 1990 que contribuíram para Vladimir Putin entrar no Kremlin. Por exemplo, é perigoso humilhar e desprezar os vencidos. No lugar de criarem um Plano Marshall para apoiar a transição dos países da URSS para a economia de mercado, a UE e os Estados Unidos deixaram avançar o capitalismo selvagem que neles se instalou, oligarquias corruptas que se aproveitaram da situação para pilharem as riquezas nacionais num processo de privatização completamente opaco.

Os resultados estão à vista e devem ser levados em conta na reformulação das relações entre os países da UE e a Rússia num momento em que se fala mais de confrontos e guerras do que de diálogo e paz.

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COMENTÁRIOS:

bento guerra: Não me parece que a Rússia faça uma invasão da Ucrânia, tem outros meios para os apertar.A verdade é que Putin marcou pontos, juntou-se ao Xi e calou a UE, perante o caquético Biden          Francisco Tavares de Almeida: Gostei de ler a parte final do artigo. Nem a Europa, por limitações económicas, nem os EUA por limitações políticas, poderiam ter aprovado um novo plano Marshall para os países de leste incluindo Rússia. Mas a consequência está à vista: a Rússia foi capturada por gangsters e Putin, com admiráveis qualidades pessoais para isso, é o "capo" mafioso. Pessoalmente lamento, porque a não ser por essa circunstância, a política mais desejável para a Europa, seria uma terceira força face à China e aos EUA.           Milhazes JoséAUTOR >Francisco Tavares de Almeida: Naquela altura, tinham meios, mas decidiram enfraquecer a Rússia e esse foi o grande erro.          PortugueseMan: ...A história pode repetir-se caso, por exemplo, Putin invada a Ucrânia. As tropas russas não serão recebidas com flores, beijos e abraços se decidirem marchar até Kiev ou até às fronteiras entre a Ucrânia e a Polónia... Não há dúvida que você está preso ao passado, sem conseguir compreender o presente e muito menos o futuro que se avizinha. Mas para que é que a Rússia vai enfiar tropas para entrar em Kiev ou avançar até à fronteira com a Polónia? Os custos, as mortes (imensas) desnecessárias, o atrito causado por tal situação iria colocar a Rússia numa posição bastante precária. Para quê é que a Rússia faria tal coisa? Não precisam! Linha vermelha: A Ucrânia não pode passar a linha de contacto que está no tratado de Minsk. Até agora não passou. Porque isto sim, irá desencadear uma resposta russa. Será uma invasão? Não. A Rússia tem todas as condições, para destruir SEM entrar no pais, todos os alvos militares que bem entender. Pode destruir toda a aviação, as bases, os quarteis, paióis, bases navais, embarcações, centros logísticos e de reparações de material militar, etc. E claro, atacar centros de decisão, incluindo políticos. Enquanto a Ucrânia não se decide a atacar as regiões separatistas e está a ver que não consegue arrastar os americanos e europeus nesse ataque, o país vai afundando cada vez mais, pois nem dinheiro tem para comprar gás ao preço que está actualmente. A Rússia sem se mexer, está a encaixar quantidades absolutamente incríveis de dinheiro neste momento. A Europa está atrofiada por falta de gás, mas não pode usar o nord stream 2 agora devido a questões políticas. A Rússia continuar a vender e a vender cada vez mais. Esta situação de impasse, sem "invasão", está a injectar valores astronómicos na economia russa, enquanto a Ucrânia se atola cada vez mais no pântano, a Europa agoniza e os americanos deixam exposto a sua impotência de conseguir mudar o curso da coisa. Invasão para quê?                Milhazes JoséAUTOR > PortugueseMan: Eu sempre considerei que não faz sentido a Rússia invadir a Ucrânia, mas sabe-se lá o que vai na cabeça de Putin??          PortugueseMan > Milhazes José:  ...Quanto a ser uma invasão ou não, não há dúvidas de que será mesmo uma invasão militar... Não há dúvidas para si. Em que se baseia para tal afirmação? ...Kiev não pode defender a sua integridade territorial?... Pode sempre. ...Além disso, Putin diz que a Rússia não é parte do conflito. Em que ficamos?... E não é. A Rússia é um dos mediadores no Tratado de Minsk, tal como é a França e a Alemanha. E é sempre nesta base a retórica da Rússia. Está ainda em vigor o tratado, é para ser cumprido, e a linha tem que ser respeitada. Quando a Ucrânia disser que rasga o tratado, aí entramos noutra conversa. Mas até agora não se atreveu a tal. Milhazes JoséAUTOR > PortugueseMan: Esqueceu-se da Chechénia? A Rússia invadiu a Crimeia e ocupou parte do leste da Ucrânia, será que eram marcianos?              PortugueseMan > Milhazes José: Não esteja a meter no mesmo saco as várias situações. O que estamos a falar aqui são das regiões separatistas.

 

 

NOTA DA INTERNET:

Solidarność

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Solidarność (pronúncia: [sɔliˈdarnɔɕt͡ɕ] (Sobre este somescutar (ajuda·info)), em português Solidariedade (do nome completo, em polonês, Niezależny Samorządny Związek Zawodowy "Solidarność; em português, Sindicato Autónomo "Solidariedade") é uma federação sindical polaca fundada em 17 de Setembro de 1980 nos Estaleiros Lenin, em Gdańsk, sendo originariamente liderada por Lech Wałęsa.[1]

História

Na década de 1970, o governo da Polônia elevou os preços dos alimentos, enquanto os salários estagnaram. Este e outros motivos levaram aos protestos de junho de 1976 e a subsequente repressão do governo aos dissidentes. Logo começaram a se formar redes clandestinas como os grupos KOR e ROPCIO para opor-se ao comportamento abusivo do governo, sendo os sindicatos uma parte importante dessas redes.

Greve no estaleiro Vladimir Lenin em agosto de 1980

A primeira metade do pontificado de João Paulo II ficou marcada pela luta contra o comunismo na Polónia e restantes países da Europa de Leste e do mundo. Muitos poloneses consideram que o marco inicial da derrocada comunista foi o discurso de João Paulo II em 2 de junho de 1979, quando falou a meio milhão de compatriotas em Varsóvia e destacou o trabalho do Solidarność. "Sem o discurso de Wojtyla, o cenário teria sido diferente. O Solidariedade e o povo não teriam se sentido fortes e unidos para levar a luta adiante", acredita o escritor e jornalista Mieczylaw Czuma. "Foi o papa que nos disse para não ter medo." Dez anos depois, as eleições de 4 de junho de 1989 foram uma "revolução sem sangue" e encorajaram outros países do bloco comunista a se liberar de Moscovo. A data tornou-se simbólica do fim do socialismo real. O movimento sindical Solidariedade, liderado por Lech Walesa, obteve a vitória nas primeiras eleições parcialmente livres de todo o bloco comunista.[5]

João Paulo II foi creditado como sendo fundamental para derrubar o comunismo no Centro e Leste europeus, mesmo antes de ser papa, Wojtyła já tinha uma posição inflexível contra o regime comunista. por ter sido a inspiração espiritual por trás de sua queda, e um catalisador para "uma revolução pacífica" na Polônia. Lech Wałęsa, o fundador do movimento sindical Solidarność, creditou, a João Paulo II, a coragem dos poloneses de se levantarem. De acordo com Wałęsa, "Antes de seu pontificado, o mundo estava dividido em blocos. Em Varsóvia, em 1979, ele simplesmente disse: 'Não tenham medo, mudem a imagem desta terra'".

Em 1979, a economia polaca encolheu pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, em 2 por cento. A dívida externa do país chegou a aproximadamente 18 bilhões de dólares estadunidenses em 1980.

O Solidariedade surgiu em 17 de Agosto de 1980, em Gdansk, nos Estaleiros Lenin, quando o governo comunista da Polônia assinou o acordo que permitiu a sua existência. Em 17 de setembro de 1980, mais de 20 comitês de sindicatos livres fundiram-se em uma organização nacional denominada NSZZ Solidariedade,[3] sendo oficialmente registrado em 10 de novembro de 1980.

Lech Walesa e outros formaram um amplo movimento social antissoviético que incluía pessoas associadas com a Igreja Católica e membros da esquerda antissoviética. O Solidariedade defendia atividades de não violência dos seus membros.

O governo tentou destruir o sindicato com a lei marcial de 1981 e muitos anos de repressões, mas, por fim, começou a negociar com o sindicato. As conversas de mesa-redonda entre o governo enfraquecido e a oposição do Solidariedade levou às eleições semiabertas de 4 de junho de 1989. Pelo fim de agosto, uma coligação liderada pelo Solidariedade foi formada para participar das eleições e, em dezembro, Wałęsa foi eleito presidente.

A Igreja Católica apoiou o movimento Solidarność e, em janeiro de 1981, Wałęsa foi cordialmente recebido pelo Papa João Paulo II no Vaticano. O próprio Wałęsa sempre considerou o catolicismo como sua fonte de força e inspiração. Em 1983, na segunda viagem do papa para a Polônia, foi concedida uma audiência do papa com Wałęsa nas Montanhas Tatra. Como resultado da reunião, Wałęsa diminuiu sua atividade política para aliviar a situação interna na Polônia. Em agosto de 1983, a lei marcial que proibia o Solidariedade foi retirada e, no mesmo ano, Wałęsa recebeu o Nobel da Paz.

No dia 4 de junho de 1989, houve eleições para o senado na Polônia. Pela primeira vez depois de quase meio século de ditadura comunista, os poloneses tinham a chance de votar. O resultado das urnas foi que, das 262 cadeiras do senado, 261 ficaram para o partido de oposição, o Solidariedade. O governo comunista cairia dois meses depois. Era o fim do comunismo na Polônia. "A culpa é da Igreja", disse o ditador derrotado, general Wojciech Jaruzelski. O primeiro ato do líder do Solidariedade, Lech Wałęsa, foi ir para Roma, para agradecer a João Paulo II.

Desde então, tornou-se um sindicato mais tradicional, e teve relativo pouco impacto na cena política da Polónia no início da década de 1990. Um ramo político foi fundado em 1996 quando a Ação Eleitoral Solidariedade (Akcja Wyborcza Solidarność, AWS) ganhou a eleição parlamentar, 1997, mas perdeu a seguinte eleição parlamentar, em 2001.

 

 

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