segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

E retomando o tema

 

Em bases mais historiográficas. José Milhazes tenta abrir-nos os olhos, julgo que com certezas de quem viveu na Rússia, sem se deixar influenciar pelos doutrinários por vocação, mas a Rússia tem bastantes defensores por cá, há longos anos. E assim vamos aprendendo, até ver… É sempre gostoso ler.

Será que a União Soviética se desintegrou mesmo há 30 anos?

Alexandre II, depois da derrota na guerra da Crimeia, concentrou todos os esforços em reformas para modernizar o Império Russo. Putin simpatiza mais com Nicolau I, conhecido como o “polícia da Europa

JOSÉ MILHAZES, Colunista do Observador. Jornalista e investigador

OBSERVADOR, 25 dez 2021, 00:1550

É muito pouco provável que a União Soviética ressuscite 30 anos depois do seu desaparecimento físico, mas estamos a assistir ao ressurgimento em força da sua política externa, que, por sua vez, foi herdada do Império Russo.

Quando estudei História na Universidade de Moscovo (1977-1984), havia numerosos enigmas de que só consegui esclarecer alguns depois de Mikhail Gorbatchov, primeiro e último Presidente da URSS, chegar ao poder e permitir o acesso a muitos dos livros e documentos que não alinhavam com “verdade ideológica” do Partido Comunista da União Soviética.

Nem Marx, nem Engels, nem Lenine escaparam à censura dos seus seguidores e camaradas. Por exemplo, os soviéticos não podiam saber o que pensavam os dois primeiros clássicos do marxismo sobre a política externa do Império Russo.

Um dos artigos de Friedrich Engels proibidos na URSS foi escrito em 1890 e chamava-se: “A política externa do czarismo russo”. Ao abordar a possibilidade de deflagração de um conflito mundial no continente europeu, ele afirma: “Todo este perigo de uma guerra mundial desaparecerá no dia em que as coisas na Rússia tomarem um rumo tal que o povo russo possa pôr fim à política tradicional de conquista dos seus czares e, no lugar de fantasias sobre o domínio mundial, ocupar-se dos seus próprios interesses vitais no interior do país, interesses ameaçados por um extremo perigo”.

Pelos vistos, os camaradas soviéticos de Engels não gostaram deste parágrafo do artigo, pois, como é sabido, a política tradicional de conquistas e as fantasias sobre o domínio mundial continuaram a dominar na era soviética (1917/22-1991), mudando apenas o rótulo para “internacionalismo proletário”.

Verdade seja dita, a política externa soviética fez com que a influência da URSS chegasse mais longe do que a do Império Russo, a todos os continentes do planeta. Porém, essa ânsia de expansão foi uma das causas da queda de um império que controlava metade da Europa. A União Soviética não conseguiu atingir níveis económicos e financeiros capazes de manter a sua política externa expansionista.

A política externa de Mikhail Gorbatchov visava precisamente pôr fim às fantasias expansionistas com vista a libertar meios económicos e financeiros para resolver os graves problemas internos do seu país. Porém, eram tantas as dificuldades e obstáculos difíceis que se colocavam perante ele que o seu país acabou por sucumbir a 25 de Dezembro de 1991. Nesse dia, Gorbatchov renunciou ao cargo de Presidente da URSS perante as câmaras de televisão e a bandeira vermelha soviética foi substituída pela tricolor russa no Kremlin. Nas palavras, era isso que Boris Ieltsin pretendia fazer depois de a Rússia se tornar independente, mas, na prática, observámos uma política que levou o país à bancarrota. As experiências económicas, muitas delas incentivadas pelo Ocidente, tiveram resultados catastróficos, foi perdida uma oportunidade para aproximar a Rússia da União Europeia e da NATO.

Foram muitos os russos que ficaram desencantados com a política dos países ocidentais, considerando que eles não só queriam humilhar o seu país, mas também fazer dele uma potência de segundo ou terceiro grau.

Estava lançada a passadeira vermelha para que Vladimir Putin, coronel do KGB soviético, entrasse no Kremlin e começasse a erigir um regime totalitário que parece não ter fim.

Em prol da verdade, após a chegada de Putin ao poder, a política de aproximação entre a Rússia, por um lado, e a NATO e a União Europeia, por outro, continuou até 2014 e com resultados visíveis. Porém, a anexação da Crimeia e a invasão militar do Leste da Ucrânia pelas tropas russas fizeram recuar as relações aos tempos mais dramáticos da guerra fria.

Vendo-se perante vitórias fáceis e enfrentando uns Estados Unidos e uma União Europeia mergulhados em fracassos militares significativos no Iraque, Síria, Líbia e, especialmente, no Afeganistão, Vladimir Putin tenta reforçar as suas posições no mundo e apresenta aos seus potenciais adversários um verdadeiro ultimato, que, a ser aceite, significaria um aumento abismal das suas zonas de influência.

Resta saber até onde o autocrata russo poderá ir para alcançar objectivos claramente inatingíveis. A julgar pela propaganda russa, os desideratos são faraónicos. Piotr Akopov, comentador político da agência oficial russa Ria/Novosti, publicou um artigo com um título muito sintomático: “A vergonha espera os Estados Unidos: terão de pedir perdão à Rússia”.

Entre outras coisas, ele descreve as regiões onde a Rússia tem interesses: “A Rússia tem interesses não só no espaço post-soviético, simplesmente em relação a ele nós traçamos com a máxima rigidez as linhas vermelhas. Temos interesses praticamente em todas as regiões do mundo e, se tivermos em conta a nossa localização geográfica, essas regiões são, na sua maioria, nossos vizinhos. Na realidade, a Rússia não é simplesmente uma potência euro-asiática, que faz fronteira com a Noruega e a Mongólia, mas também pacífica. Por outras palavras, não só a China e o Japão, mas igualmente toda a região do Sudeste Asiático – países da ASEAN estão próximos de nós”.

E os apetites do propagandista não se ficam por aqui: “O Médio Oriente é mesmo uma região fronteiriça, porque somos vizinhos do Irão no Cáspio. Longe das nossas fronteiras estão apenas a América do Sul (embora sejamos separados apenas pelo Oceano Pacífico) e a África, mas lá temos interesses e laços históricos sérios”.

Propaganda à parte, seria importante saber com que meios económicos e financeiros irão os dirigentes russos realizar semelhantes “fantasias”. Claro que a Rússia é uma potência militar capaz de pôr fim à Terra com as suas armas nucleares, mas, em termos económicos, continua a ser um gigante com pés de barro. Segundo dados do Banco Mundial, o seu Produto Interno Bruto é cerca de vinte vezes menor do que o dos Estados Unidos, aparecendo no 12º lugar atrás de países como a China, Índia, Itália, etc.

Por conseguinte, a história ameaça repetir-se e a Rússia poderá ter o mesmo destino da União Soviética.  É verdade que o país obtém fortes rendimentos com a exportação de gás e petróleo, mas estes meios são gastos na corrida aos armamentos, desaparecem nas “areias” da corrupção, restando apenas migalhas para melhorar o nível de vida população e investir na modernização.

Nunca é demais recordar a política do czar russo Alexandre II que, depois da derrota da Rússia na guerra da Crimeia (1853-1856), concentrou todos os esforços nacionais na realização de reformas com vista a modernizar o gigante Império Russo. Vladimir Putin simpatiza mais com Nicolau I, que ficou conhecido como o “polícia da Europa”.

URSS   MUNDO   RÚSSIA

COMENTÁRIOS:

Antes pelo contrário: De facto não há como o tempo para pôr as coisas no seu lugar. Quando estamos perto dos acontecimentos - e há quem fique preso neles várias décadas, impedidos de evoluir, como é o caso do autor destas crónicas - interpretamos os acontecimentos segundo os nossos desejos ou frustrações, e tudo o que vemos são sombras ou miragens, como na caverna de Platão. A realidade é que ao longo da História e até à Revolução Francesa, vigoraram as leis do Universo, a saber as duas principais, que são a razão pela qual a Terra não é um cubo, e é ela que gira em volta do Sol e não o contrário. São a lei do mais forte, e a lei do menor esforço. Foi assim que desde o Paleolítico, e graças ao aquecimento do Planeta, os homens deixaram de caçar animais selvagens e descobriram a agricultura que lhes assegurava o sustento com muito menor esforço, e durante o inverno onde antes disso passavam uma fome do caraças. E foi assim que graças à agricultura foi possível domesticar animais e começou imediatamente o Capitalismo, que é baseado não na "multiculturalidade" nem na diversificação, mas na identidade e na especialização, pois logo de início as trocas só faziam sentido se uma comunidade tivesse peles, sílex e presas de animais selvagens para fazer utensílios que eles não sabiam fazer, mas que os outros sabiam, e lhes pagavam tudo isso com grão que os caçadores não sabiam cultivar, porque os cultivadores não sabiam caçar. Ou seja. o capitalismo baseia-se no desejo do que não se tem, e não funciona quando se tem tudo. Pois quando se tem tudo, entra a "concorrência", que é quando toda a gente quer o mesmo.E isso, destrói imediatamente riqueza: veja-se a Ryanair e a TAP. O irlandês enriquece, porque o português empobrece. Graças à "multiculturalidade" e á ausência de fronteiras: uma desgraça! Mas foi o capitalismo, ou seja, como diria Marx, a "acumulação primitiva do capital", que permitiu o aparecimento de cidades, primeiro no Crescente Fértil, que a seguir se uniram, na Suméria, e surgiu o poder político alargado e identificado com um território, ao qual correspondia uma cultura que era diferente consoante as cidades, o que levou à perda de Ur e à ascensão de Babilónia, que inventou segundo parece a indústria da Guerra, que era a maneira de exercer a lei do mais forte para obter riqueza com menor esforço. Até 1789, e um pouco depois disso... Pois em 1789, entra a ideologia, a  lei do mais forte foi assumida pelo proletariado avant la lettre, que pela lei do menor esforço que tinha tão bem servido a aristocracia, que vivia do trabalho dos outros, passou de quem tinha, para quem não tinha pão - que passou a viver da riqueza acumulada por quem não trabalhava. E entra Marx. Todavia, poucos anos depois, em termos de História do Mundo, aliás, uma fracção de segundo depois... o "proletariado" assume graças ao Estado Social que - convém sempre recordar - não foi criado pela esquerda, mas por Bismarck que era de direita, o papel da aristocracia. Ou seja: para quê trabalhar se se podem ter benefícios com menor esforço?!? E a ideologia veio, graças ao contributo importantíssimo das religiões, em especial a cristã, baseada na "culpa", fazer do mais fraco, o mais forte: o proletariado passou a ter direitos e a ditar leis, enquanto os banqueiros são perseguidos até à África do Sul!!!    Antes pelo contrárioAntes pelo contrário: O que é mais interessante, é que as leis do Universo são "universais"... E como a lei do mais forte vinga sempre, a par da lei do menor esforço, a URSS depressa passou do "paraíso dos trabalhadores" a um regime com uma nova aristocracia que vivia do trabalho dos outros. Porquê?!... Porque sempre foi assim!!! E sempre será!!! Agora a questão, vista à distância, é outra: é que na realidade os Comunistas conseguiram tudo o que Hitler queria, excepto a Áustria... Mas vamos mais devagar: Aquilo que muita gente não sabe, é que a Polónia não existiu enquanto entidade política entre 1795 e 1918. Ou que antes disso tinha sido um dos grandes potentados europeus e uma potência agressora envolvida numa série de guerras. E a Checoslováquia, também não existia antes de 1918. Era parte do Império Austro-Húngaro, que ficou com aqueles territórios desde que teve de repelir os Otomanos, que tentaram conquistar Viena de Áustria no século XVIII. E antes disso no XVII. E no XVI... Idem para a Rússia, que ficou com a Crimeia quando teve de repelir os turcos. E com a Ucrânia, que nem sequer existia como país, pois era o Khanato de Kiev, ou seja uma província com um governador militar, parte do Império Otomano... depois de ter feito parte do Império Mongol. Ora bem: a "rationale" de Hitler, quando reclamava pacificamente, junto da Sociedade das Nações, que fossem devolvidos à Alemanha os territórios que lhe tinham sido retirados com o Tratado de Versailles, designadamente a Prússia Oriental, que passara a fazer parte da Polónia 21 anos antes, ou os Sudetas, parte da Checoslováquia que antes de 1918 faziam parte da Alemanha, é de facto a mesma razão pela qual Putin reclama territórios onde vivem russos desde pelo menos o século XVIII, altura em que a Ucrânia nem sequer existia enquanto Estado. Mas é preciso não esquecer, que pela lei do menor esforço e pela lei do mais forte... quem ganhou a 2ª Guerra Mundial não foi o Ocidente! Foi a URSS, que ficou com tudo o que Hitler queria, ou seja a Polónia, mais a Prússia Oriental, a Letónia a Estónia e a Lituânia, mais a Hungria, a Bulgária e a Roménia, a Checoslováquia e os Balcãs, etc. etc.!!! E agora?!       Antes pelo contrárioAntes pelo contrário: Agora... a URSS de facto desapareceu, a Rússia perdeu todos os territórios que tinha conquistado na 2ª Guerra, a Ucrânia quer ficar com territórios que sempre foram russos desde que foram conquistados aos turcos, e no fim de contas, quem tem a perder com tudo isso... é de facto a Ucrânia, a UE, e os EUA. A primeira, porque depende do gás russo e julga que vai conseguir ser mais esperta do que os americanos que, por seu lado, se servem dela para continuar uma guerra fria a meu ver completamente idiota. E a UE, porque ao antagonizar Putin se está a enfraquecer a ela própria, quando devia assumir o seu papel no Mundo a par dos EUA, voltando a integrar a Rússia na família europeia, pois o principal adversário de todos estes países não é a Rússia: é a CHINA. No fundo, no fundo, o próprio proletariado é vítima da "concorrência", pois o dinheiro obtido sem esforço não chega para todos, e a globalização destrói a especialização que é a base do capitalismo, aumentando a concorrência não apenas no seio de cada sociedade, mas "graças" ao globalismo, entre sociedades que nem sequer se conhecem, ou no interior de cada uma delas, entre "comunidades" que competem umas com as outras, como nos EUA, entre brancos e "african-american", que apesar de serem apenas 13% da população, acham que têm o direito de impor as suas regras a todos os outros. Ora isto, não pode durar... mais tarde ou mais cedo tudo voltará às leis do universo... A única coisa que pode impedir uma catástrofe são as fronteiras!!! E o vírus, é a prova disso.  Antonio Mendes > Antes pelo contrário: Tanta ignorância santo deus. Então o esclavagismo e o feudalismo não existiram e o capitalismo já existia antes do século XVIII?          César Fernando Diniz das Neves: Porque insiste em diabolizar a Rússia!? Será pago para o fazer!? É que de facto a Rússia não é flor que se cheire: mas os EU e a UE são muito piores. É que desde a queda do regime comunista, a Europa a mando dos EU, não tem feito outra coisa que não ameaçar e provocar a Rússia. Lembra-se da crise de Cuba, que quase deu origem a uma Guerra Mundial? Crise despoletada, porque os EU não aceitaram a colocação em Cuba de mísseis nucleares russos. Pois agora os EU já colocaram misseis muito mais potentes a muito menor distância da Rússia, e não contentes com isso, querem colocar ainda mais e mais próximos. Ainda tem dúvidas que os EU têm a Europa bem abocanhada pelo cachaço, e em resultado a UE faz  tudo e mais alguma coisa para agradar ao dono, provocando a Rússia e depois armarem-se em vítimas? Espero que sim.          josé maria: José Milhazes, faça um parêntesis em Putin e fale-nos de Alain Badiou. Há mais vida e filosofia política para além de Putin. O comunismo, visto pela perspectiva de Badiou, é um excelente tema de conversa.           Carlos Quartel: Penso que o autor não fala do que interessa. O comunismo deixa uma marca na qualidade da cidadania. um espírito de rebanho. uma falta de ambição e de autonomia individual, uma dependência do Estado. Gente que não sente a falta da liberdade, que toleram um ditador, toda uma máquina ditatorial, que se serve do papão do "inimigo externo" para manter as massas tranquilas, com o auxilio do camarada vodka. Querem controlar os países alheios e Putin vê a Ucrânia como uma quinta que só pode fazer amizades com quem ele decidir. Só os russos resolverão a questão, quando e se despertarem do letargo comunista.          J T > Carlos Quartel: O Putin se invadir a Ucrânia está a seguir a cartilha de qualquer ditadorzeco: em caso de problemas internos (e a Rússia tem um problema económico agravado pela Covid) descobre-se um inimigo externo e a Ucrânia está ali mesmo à mão de semear.          Alberto Vaz: Se Putin simpatiza mais com Nicolau I, é natural que as suas ambições passem por um aumento da repressão interna e externa. As receitas dos combustíveis são de facto o seu “calcanhar de Aquiles”.        Censurado Censurado: Afinal o Milhazes não é o pai natal russo...Que desilusão. A não ser que tenha conseguido despachar o trabalho e as renas mais cedo este ano.  Realmente o maior problema do Mundo nos últimos 30 anos foi a ânsia da expansão de Moscovo. Pelo menos para o Milhazes que está impedido de pensar noutra coisa desde que enfrentou o problema da escassez de papel higiénico em Moscovo. Uma verdadeira tragédia só comparável à invasão do Iraque ou ao último crash de Wall Street.           Marta Calado: Não consigo responder ao Sr. Manuel Carvalho. Vai um comentário à parte. Se não lhe interessa, não leia. O texto é explicativo e elucidativo. Para além disso espelha a realidade. Só não vê quem não quer.          Manuel Carvalho: O homem não sabe escrever sobre mais nada? Rússia, Putin, Putin, Rússia, União Soviética, vira o disco e toca a mesma.         João Afonso > Manuel Carvalho: O sr tem sempre a possibilidade de ver/ouvir/ler as análises dos "especialistas" que costumam ter assento garantido nos estúdios das tv's. O facto de nenhum deles conhecer a Rússia, o povo, a língua, a história e sua cultura, é coisa de somenos. Afinal são "especialistas", alguns académicos, e todos de esquerda.       J. Saraiva > Manuel Carvalho: Não se percebe é porque é que não existem mais pessoas, a falar da Rússia e do Putin. Actualmente em 2021, Putin está a seguir uma política expansionista, em que a Bielorrússia é um dos seus braços. Putin utiliza Lukashenko, para provocar a Polónia, o que implica provocar a União Europeia dos 27. A Rússia também quer atacar a Ucrânia, que é um País que vai entrar a médio prazo, para a UE dos 27. É mais do que altura de a União Europeia dos 27, discutir seriamente, o que se vai fazer quando atacarem um dos nossos militarmente. A Comunicação Social dos outros Países, já está a fazer este debate. Só cá em Portugal, é que se anda a discutir se o Vice-Almirante vai salvar Portugal.          ………klaus muller > PortugueseMan: Man, não te esqueças que na década de 50 a URSS também estava anos e anos adiantada em relação aos States. Depois, em mais ou menos dez anos, foi o que se viu. E, nessa altura, o atraso era mesmo real. Agora, não se percebe bem qual a situação real do armamento "hipersónico" russo, temos de conformar com o que eles vão deixando escapar como propaganda. Já sobre os americanos, até os falhanços não são escondidos.         Portuguese > Man klaus muller: Klaus, Todas as nações têm os seus bons momentos e maus momentos. E isto também pode acontecer com os states. A situação real do armamento russo, é que ele funciona. Também muita gente duvidou dos novos mísseis de cruzeiro guiados por GPS. GPS russo claro. Foi possível duvidarem até serem lançados por navios e submarinos no Mar Cáspio e Mediterrâneo a atacar alvos na Síria. Já sobre os americanos, até os falhanços não são escondidos. Nem com os russos. A questão dos falhanços americanos é que eles começam a ser desconfortáveis.  Os EUA estão com sérios problemas em avançar e tem muita gente de olhos postos neles. Quanto a falhanços russos, eles são conhecidos e o José Milhazes nunca perdeu uma oportunidade para os dar conhecer para assim dar mais força aos seus argumentos.        Mario Silva > PortugueseMan: Tenho menos conhecimentos que você sobre a Rússia, mas parece-me que ter poderio militar sem uma economia sólida como o autor refere de pouco serve. Os russos não vivem muito bem (com algumas excepções, claro). Putin pode até ter armas mais avançadas que os EUA mas estes ainda têm uma economia mais pujante. No tempo da Guerra Fria foi esta expansão militar com uma economia debilitada que levou ao fim da URSS. Já a China foi muito mais inteligente, primeiro fomentou a criação de uma economia pujante e em seguida tem usado os frutos disso para aumentar o seu poderio militar. Muita gente diz que este vai ser o século chinês, penso que terão razão. O que não é nada bom para nós europeus...       Mario Silva > PortugueseMan: Ter reservas elevadas não significa praticamente nada. Sabia por ex. que Portugal está no top 15 dos países com reservas de ouro mais elevadas? Ainda assim somos uma das economias mais fracas da Europa. Também me parece que os EUA estão em declínio relativo. A meu ver porque o sector militar tem um peso demasiado elevado na economia norte-americana, consumindo recursos que podiam ser utilizados em investimentos mais produtivos, gerando demasiada dívida, etc. Foi esse o caminho que arrasou com a URSS e que quer a Rússia e os EUA têm seguido ultimamente. Seguir esta estratégia tem levado ao declínio e eventual queda de impérios desde há largos séculos. Basta ver o que aconteceu no passado desde o Império Romano, até aos dias de hoje, passando pelos nossos "hermanos" por ex. Aliás, é preocupante ver que a Rússia está a acumular reservas com as receitas do petróleo e outras matérias primas para uma corrida ao armamento em vez de investir em outras coisas que poderiam tornar a economia russa mais diversificada, melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos, apostar em produtos de maior valor acrescentado que não dependam do sector militar. Os russos têm excelentes cientistas, engenheiros que podem e devem colocar os seus talentos ao serviço de outras causas que não a militar. Quantos milhares deles estão nos EUA em iniciativas variadas que aumentam a capacidade de inovação do país, aumentando a produtividade de diversos sectores da economia e consequentemente a sua resiliência? E não é só nos EUA que encontramos russos, na Alemanha, França, Reino Unido passa-se o mesmo.        PortugueseMan > Mario Silva: Sabia por ex. que Portugal está no top 15 dos países com reservas de ouro mais elevadas? As reservas russas, incluindo a parte do ouro, foram constituídas nos últimos 15 anos. Mesmo debaixo de sanções. Não os impediu de investirem na modernização de vários sectores da economia. Aliás, é preocupante ver que a Rússia está a acumular reservas com as receitas do petróleo e outras matérias primas para uma corrida ao armamento em vez de investir em outras coisas que poderiam tornar a economia russa mais diversificada... A Rússia não investiu apenas em armas. Mas mesmo esse investimento permite retorno. A Rússia é o 2º maior exportador de armas do mundo. É o maior construtor mundial de centrais nucleares, com encomendas em vários pontos do globo. Os franceses não lhe chegam perto e os americanos estão praticamente parados. Têm o domínio do sector espacial. Novo cosmódromo, novos foguetões, capacidade de construir estações espaciais, tanto a Europa como os EUA usam foguetões ou motores russos. Não há telemóvel hoje no mundo que não seja compatível com  o sistema gps russo. Tornou-se num dos maiores produtores de trigo. Há uns 5 anos ultrapassaram os EUA e neste momento caminham para produzir o dobro destes. Estão no top 10 dos maiores produtores de leite. Com a guerra das sanções com a Europa, deixou de importar leite europeu e passou a produzir. A capacidade aumentou de tal forma que passou a exportar. O mesmo se passa na suinocultura. Os camiões Kamaz já ganharam o Paris Dakar quase 20 vezes. Na indústria farmacêutica com a vacina sputnik preparam condições para produzir num contexto planetário. Dentro de uns 2 anos vão estar a produzir em grande escala. Há muitos sectores em desenvolvimento e a percentagem da venda de energia no PIB         baixa a cada ano que passa. Já anda inferior a 40%.      Mario Silva > PortugueseMan: "A Rússia não investiu apenas em armas. Mas mesmo esse investimento permite retorno. A Rússia é o 2º maior exportador de armas do mundo." Sim, o sector militar, as guerras sempre deram muitos lucros...a poucas pessoas. Pelo caminho foram devastando países e povos. Será esse o caminho para o progresso? A maioria dos economistas pensa que não. O PortugueseMan está a dar-me razão: as reservas foram acumuladas nos últimos anos com o dinheiro que a Rússia recebe das suas exportações: mais de 60% são petróleo, gás e outros minérios extraídos do seu vasto território (dados de 2019, fonte: MIT). Outra parte importante são produtos agrícolas. Mas como referi, a % de produtos de valor acrescentado é muito baixa quando comparada com os EUA, Alemanha ou Japão. A Rússia em sectores de elevado valor acrescentado é bastante fraca, apesar de ter tido sempre excelentes cientistas e engenheiros.  Os sectores que você refere como o aeronáutico ou os camiões KAMAZ são uma percentagem írrisória das exportações russas. No sector das TI ainda menos (falo de empresas em território russo. "Há muitos sectores em desenvolvimento e a percentagem da venda de energia no PIB baixa a cada ano que passa. Já anda inferior a 40%." Quais sectores além do agrícola e mineral se têm desenvolvido fora do alcance do Estado Russo? E qual a fonte dessa informação (energia inferior a 40%)?        PortugueseMan > Mario Silva: ...A maioria dos economistas pensa que não... A meu ver, é irrelevante o que os economistas pensam sobre o caso. Nenhuma potência vai deixar de fabricar as suas próprias armas, desde que tenha essa capacidade. A melhor maneira de compensar esse investimento é pela exportação. Todos os que podem fazem-no. Nenhuma grande potência pode permitir dependência de outros. O PortugueseMan está a dar-me razão: as reservas foram acumuladas nos últimos anos... ...Porque podem. O facto é que no início deste século estavam com uma dívida ao FMI que se dizia que não conseguiriam pagar. Pagaram e nunca mais se endividaram. Estão a fazer o seu caminho de acordo com os interesses deles. Pagam bem por isso, têm andado a modernizar vários sectores e ainda conseguem fazer um grande pé de meia. ...Mas como referi, a % de produtos de valor acrescentado é muito baixa quando comparada com os EUA, Alemanha ou Japão... E no entanto progridem. E aceleram em vários sectores....A Rússia em sectores de elevado valor acrescentado é bastante fraca, apesar de ter tido sempre excelentes cientistas e engenheiros... Uma coisa é capacidade de fazer, outra é de vender. Têm o mais importante, a capacidade de fazer. O resto virá depois. ...Os sectores que você refere como o aeronáutico ou os camiões KAMAZ são uma percentagem írrisória das exportações russas... Mas continua a aumentar. A cada ano que passa aumenta. É esta a tendência da Rússia, crescimento em vários sectores.  ...Quais sectores além do agrícola e mineral se têm desenvolvido fora do alcance do Estado Russo?... Fora do alcance o Estado Russo? isso não é tema para mim, cada país tem as suas características, a Rússia tem as suas estratégias, tal como qualquer grande potência tem…………

Xico Nhoca > bento guerra: O principal desiderato da constituição da CEE, agora UE, é justamente ganhar dimensão para não ser atropelado pelos outros candidatos hegemónicos: EUA, Rússia, China. Os tempos em que um único país europeu, a Inglaterra, dominava o mundo terminou quando este país atacou o outro país europeu, a Alemanha, que ameaçava tomar-lhe o lugar. Destruídos estes dois países europeus e arrasada a Europa pelas primeira e segunda guerras mundiais, emergiram como hegemonias os EUA e a URSS. Só assim a Europa aprendeu que andar permanentemente envolvida em guerras só era bom para os outros.

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